Mesmo que os desavisados persistam em navegar no desconhecimento, e os que militam na soberba das conveniências, insistam na prevalência do personalismo, o processo histórico da secular luta libertária para a criação do Estado do Tocantins não poderá jamais ser escritoutilizando os traços indeléveis da verdade, sem nele inserir os feitos rebeldes, políticos e culturais de Totó Cavalcante, que moldado politicamente nas escolas da vida e da aculturada Porto Nacional, fez ecoar sua voz soberana na Assembleia Legislativa de Goiás e no Senado Federal
Por Edivaldo Rodrigues
Totó Cavalcante é parte da argamassa e do aço que forjou grandes líderes e jovens revolucionários que frequentavam as escadarias da Catedral de Nossa Senhora das Mercês, as barrancas do rio Tocantins, e as icônicas escolas da secular Porto Nacional, que por décadas moldaram caráter, conhecimento e, naquela e muitas outras gerações, fizeram brotar neles as asas da liberdade e as armas da rebeldia.
Sua liderança foi construída, desse o princípio, alicerçada pelo pragmatismo e sustentada pelas ideias transformadoras. Foi assim que ele se elegeu Presidente do Grêmio Literário do Colégio Estadual de Porto Nacional; Presidente da CENOG – (Casa do Estudante do Norte Goiano); Presidente do Diretório Acadêmico da Faculdade de Direito da Universidade Católica de Goiás; Deputado Estadual, por Goiás e, Senador Federal pelo Estado do Tocantins.
Desde muito Jovem, Totó Cavalcante abraçou a causa libertária do povo do Norte Goiano, sempre liderando as primeiras foleiras dos embates, usando os canais de comunicação disponíveis e, fazendo ouvir sua voz de descontentamento com as migalhas e os grilhões do rico sul Goiás, impostas ao desvalido, abandonado e oprimido povo tocantinense, que quedava em dor, e na desesperança, por ter os sonhos e os ideais aprisionados pelos interesses mesquinhos de parcela significativa dos poderosos, membros da elite goiana.
Totó Cavalcante, então deputado estadual por Goiás
Foi contra tudo isso que o jovem líder do povo portuense subiu o tom. Após um intenso processo de articulação, movimentos políticos espontâneos, e o posicionamento expressivo de várias entidades de classe, o Projeto de Criação do Estado do Tocantins foi por suas vezes aprovado pelo Congresso Nacional, e por duas vezes vetado pelo então Presidente José Sarney. Totó Cavalcante, então combativo deputado estadual por Goiás, fez valer sua força parlamente e então entrou em greve de fome montando trincheira no Plenário da Assembleia Legislativa, contestando, com esse ato extremo, a postura do chefe do executivo brasileiro, que negou libertar o povo do Norte Goiano.
Em “O Principe”, escrito por Nicolau Maquiavel em 1513, há um trecho, compondo alguns parágrafos, em que se alerta a um governante o perigo dele manter em seu entorno de governança, personalidades muito inteligentes, com ideias próprias, e portadoras de conquistas expressivas. Segundo o texto, esses são potenciais usurpadores de tronos, cargos e até de esposas.
Nos parece que muitos mandatários do Tocantins, do passado e de agora, tiveram ou tem essa obra como livro de cabeceira. Olharam, e ainda enxergam Totó Cavalcante como uma ameaça, como uma sombra aos seus interesses. É politicamente inadmissível que um quadro dessa envergadura, com indiscutível preparo político,adquirido numa trajetória brilhante, não tenha participado e nem participa da caminhada administrativa e da consolidação política, social, econômica e cultural do Estado do Tocantins.
Essa postura dos que desenham e moldam o poder, balizada nas métricas das conveniências, se estabelecem no nosso cotidiano como norma. Senão vejamos: em detrimento aos valorosos quadros locais, alguns mandatários preferiram entregar os mais elevados postos governamentais, do recém criado Estado do Tocantins, a múmias políticas de Goiás, que por décadas se lambuzaram nas mais questionáveis ações não republicanas naquela unidade federativa, e que, por incontáveis anos, repetiram suas maléficas atitudes em desfavor dessa gente, ainda desassistida dos valores democráticos e de cidadania prometida.
Nesse novelo de ações governamentais, que desqualifica os qualificados, Totó Cavalcante é um caso emblemático. Mesmo tendo atuações relevantes por onde passou, como a Assembleia Legislativa de Goiás, o Senado Federal, e em muitos outros relevantes cargos, muitos lhe viraram as costas, inclusive parte da imprensa, que não quis enxergar nele suas óbvias qualidades.
Qualidades essas que sempre foram medidas pela metragem da competência, o que possibilitouinserir esse aguerrido líder portuense entre as principais figuras da luta libertária tocantinense, que até hoje, mesmo sendo as pontas dos lápis que escrevem e desenham a história do Tocantins, continuam exilados politicamente em solo pátrio, e privados de participar do caminhar soberano desse Estado, que foi por eles idealizado e emoldurado com o suor, as lágrimas e o olhar da conquista voltado para o futuro de toda uma coletividade,esperançosa numa terra prometida de plena cidadania. Essa é uma história que precisa ser contada.