Editorial publicado no domingo pelo Estadão 

 

De Notas&Informações

 

Considerando tudo o que o PT fez e deixou de fazer ao longo de seus 40 anos de existência – muito especialmente, no período em que Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff estiveram no Palácio do Planalto –, uma nova candidatura petista à Presidência da República não deveria suscitar entusiasmo na população. A legenda que supostamente seria progressista, ética e renovadora da política percorreu um caminho muito diferente, colecionando casos de corrupção, aparelhamento do Estado, apropriação do público para fins privados e políticas econômicas desastradas.

 

No entanto, apesar de todo esse passivo, Luiz Inácio Lula da Silva tem aparecido em primeiro lugar nas sondagens de intenção de voto para presidente da República. Às vezes, com margem de vantagem suficiente para a vitória em primeiro turno. Sabe-se que as eleições ainda estão distantes no tempo e na cabeça do eleitor. As pesquisas de agora não se prestam a prever o que vai ocorrer em outubro nas urnas. Há tempo para muitas mudanças. De toda forma, as sondagens revelam um dado importantíssimo: parte do eleitorado está se esquecendo de quem é Lula. Convém, portanto, resgatar essa memória.

 

Para começar, o líder petista não tem nenhuma credencial para se apresentar como o salvador da democracia. Antes de assumir o governo federal, o PT notabilizou-se por uma oposição absolutamente irresponsável, numa lógica de quanto pior para o País, melhor para Lula. Sem base jurídica, apenas para criar instabilidade, o partido apresentou pedidos de impeachment contra Itamar Franco e Fernando Henrique Cardoso. Sabotou sistematicamente os projetos apresentados pelo Executivo. Fechada ao diálogo, a legenda de Lula tratava tudo o que viesse do governo federal – rigorosamente tudo: Plano Real, modernização do sistema de telefonia, criação das agências reguladoras ou mesmo propostas de melhoria para a educação pública – como ocasião para criar desgaste.

 

Depois de chegar ao Palácio do Planalto, o PT continuou sua tradição antidemocrática. Apenas mudou de lado na mesa. São famosos e variados os escândalos de fisiologismo do partido de Lula. O mensalão é caso paradigmático de perversão do regime democrático, com uso de dinheiro público para manipular a representação política.

 

O petrolão foi ainda mais perverso, ao colocar toda a estrutura do Estado, incluindo estatais e empresas de capital misto, a serviço do interesse eleitoral do partido. Não foi apenas um conjunto de ações para desviar uma enorme quantidade de dinheiro público e privado. Todo o esquema estava orientado a alimentar a máquina eleitoral de Lula.

 

Também nas relações com os grupos políticos divergentes, Lula manteve, uma vez no poder, a mesma trilha antidemocrática. Passou a deslegitimar toda e qualquer oposição ao seu governo, criando uma das mais infames campanhas de incivilidade, intolerância e autoritarismo da história nacional: a do “nós” (os virtuosos petistas) contra “eles” (todos os que não aceitam Lula como seu salvador). O País segue ainda padecendo diariamente dessa irresponsável divisão social, da qual, não por acaso, Lula pretende extrair os votos para voltar à Presidência.

 

A atuação antidemocrática de Lula continuou após a saída do PT do governo federal. Nos últimos anos, o líder petista dedicou-se a desmoralizar, perante o mundo, o Estado Democrático de Direito brasileiro. Em vez de uma defesa técnica nas várias ações penais em que se viu envolvido, Lula promoveu verdadeira campanha difamatória contra o Judiciário, sugerindo que, por trás de cada condenação, mesmo colegiada e amplamente baseada em provas, havia uma conspiração (internacional!) para prejudicá-lo. A decisão do Supremo sobre a incompetência de determinado juízo, que libertou Lula, não torna menos grave o comportamento do ex-presidente e do PT. Ao se apresentar como perseguido político, Lula deixa claro que não acredita nas instituições democráticas do País.

 

Depois do ambiente de ameaças e de ataques à democracia criado pelo bolsonarismo – a exigir uma resposta responsável dos partidos e dos eleitores –, parece piada de mau gosto com o País pensar no PT como eventual solução. Lula nunca tratou bem a democracia brasileira.

 

 

 

Posted On Segunda, 24 Janeiro 2022 15:44 Escrito por

Ao ser nomeado em 2018, o primeiro presidente de Cuba de fora da família Castro, Miguel Díaz-Canel, tinha duas opções: endurecer o regime, agravando a sua condição de pária, como uma Coreia do Norte caribenha, ou abri-lo a mais iniciativa privada e liberdade cultural. A decisão foi inequívoca.

 

Notas&Informações da coluna  Estadão

 

Em julho, milhares de cubanos protestaram nas ruas contra a escassez de energia, comida e medicamentos. Díaz-Canel acusou-os de servirem o “imperialismo americano” e conclamou: “Revolucionários, às ruas!”. Brigadas pesadamente armadas espancaram os cidadãos. Pelo menos um foi morto com um tiro pelas costas. Jornalistas tiveram suas credenciais suspensas. A internet foi derrubada. Agentes de inteligência rastrearam dissidentes, invadiram suas casas e intimidaram suas famílias.

 

Mais de 1,3 mil cidadãos foram presos – entre os quais 45 menores de idade – e lançados nos calabouços cubanos – onde a visita de observadores neutros é vetada. Agora, dezenas deles estão sendo condenados a décadas de prisão. A maioria não tem participação em grupos organizados, muitos protestaram pela primeira vez. Alguns foram condenados simplesmente por filmar os protestos.

 

Além de violar qualquer padrão internacional, as sentenças são discriminatórias e covardes. Elas começaram a ser dadas durante as festividades de dezembro, quando a imprensa e as autoridades internacionais estavam distraídas. A maioria dos condenados é de jovens e negros, de bairros marginalizados, onde o acesso à educação é limitado e a sociedade civil é frágil. “Isso faz com que seja mais fácil ao governo trancafiá-los sem que nada aconteça”, disse Erik Jennische, da Civil Rights Defenders.

 

Muitos familiares perderam seus empregos. Mães que ensaiaram campanhas foram ameaçadas de responder por ações “contrarrevolucionárias”. A repressão em massa em Cuba, a maior e mais brutal desde que os irmãos Castro tomaram o poder, há 60 anos, deixou claro que, se havia alguma esperança de democracia, era mera ilusão.

 

Organizações civis estão conclamando autoridades internacionais. Em contraste constrangedor, o ex-presidente Lula da Silva, entusiasta da ditadura cubana, contemporizou numa entrevista em novembro: “Essas coisas não acontecem só em Cuba, mas no mundo inteiro”. E, claro, fez o que faz de melhor, que é transferir responsabilidades: “Precisamos parar de condenar Cuba e condenar um pouco mais o bloqueio dos EUA”. Ao comentar as prisões ordenadas pelo ditador nicaraguense Daniel Ortega, outro camarada dos petistas, aproveitou para, numa tacada, insinuar a culpa das vítimas, lavar as mãos para seus amigos autocratas e se vitimizar: “Eu fui preso no Brasil. Não sei o que essas pessoas fizeram. Só sei que eu não fiz nada”.

 

Ou seja, se o favoritismo do PT nas eleições presidenciais se confirmar, os ditadores de Cuba, da Nicarágua e da Venezuela podem dormir sossegados porque o Brasil, de quem sempre se espera liderança na defesa dos direitos humanos no continente, vai relativizar os crimes dos compadres de Lula.

 

Posted On Quarta, 19 Janeiro 2022 06:42 Escrito por

 

A notícia de que a inflação no país fechou o ano de 2021 em 10,06% é o sinal mais claro do fracasso do governo na área econômica. O número é o maior dos últimos seis anos e representa quase o dobro do teto da meta, que era de 5,25%.

 

Matheus Leitão –Revista Veja

 

Em um ano eleitoral, esses números vão impactar diretamente os planos do presidente Jair Bolsonaro de se reeleger. Num cenário que já é desfavorável, ele deve perder ainda mais votos porque não conseguiu tornar a vida do brasileiro menos difícil financeiramente.

 

Em 2021, testemunhamos um governo que não conseguiu administrar a economia e nem se antecipar aos problemas. Enquanto o ministro da Economia, Paulo Guedes, viveu numa realidade paralela onde a economia vai muito bem e os inimigos do governo é que são muito pessimistas, o Banco Central lutou sozinho para tentar conter a inflação usando um remédio amargo. Nem mesmo o aumento da taxa de juros foi suficiente para conter os números.

 

Agora, o BC vai ter que explicar por que sua política monetária não funcionou. Se for bem honesto, o presidente do banco pode dizer que trabalhou sozinho e, por isso, não teve sucesso nas suas estratégias.

 

Além da questão econômica, os 10,06% têm um peso político. Inflação alta sempre traz queda de popularidade, afinal o brasileiro vivencia todos os dias a perda do seu poder de compra e descobre que seu dinheiro não está valendo (quase) nada.

 

Um dos responsáveis pela inflação alta foi o combustível, que acumulou alta de mais de 40% no ano passado e afeta tanto a classe média como os mais pobres, já que também altera o preço das passagens de ônibus, por exemplo.

 

O prejuízo político não para por aí. A inflação alta também afasta aliados, já que ninguém quer defender um governo quando ouve da população que o custo de vida está muito alto.

 

Uma ida ao supermercado é suficiente para saber que os preços subiram. O brasileiro sabe disso e vai cobrar de seus representantes uma mudança de postura.

 

No centro de tudo isso, cabe destacar também a disparada do dólar. A instabilidade e as crises institucionais criadas pelo presidente Bolsonaro (um dos tiros que ele deu no próprio pé) impactam diretamente a cotação do dólar que, por sua vez, mexe com os preços de diversos itens, incluindo os combustíveis.

 

É fato que o governo não pode alterar diretamente o preço da gasolina, por exemplo, mas garantir o mínimo de estabilidade seria suficiente para tentar segurar o dólar e, com isso, reduzir os estragos nos combustíveis.

 

A inflação não é apenas um tema econômico. A estabilidade política do país é importante para manter o equilíbrio em todos os setores. Por isso, é fácil descobrir o motivo do descontrole que estamos vivendo. Com um discurso antivacina, negando a ciência e atacando as instituições, Bolsonaro é responsável não só pelos 10,06% de inflação, mas pelo fracasso da economia como um todo.

 

Posted On Quarta, 12 Janeiro 2022 08:36 Escrito por

ARTIGO 

 

Por Paulo Brondi -  Promotor de Justiça/GO*

 

Da Coluna de Juca Kfouri

 

"Bolsonaro é um cafajeste. Não há outro adjetivo que se lhe ajuste melhor.

 

Cafajestes são também seus filhos, decrépitos e ignorantes. Cafajeste é também a maioria que o rodeia.

 

Porém, não é só. E algo que se constata é pior. Fossem esses os únicos cafajestes, o problema seria menor.

 

Mas, quantos outros cafajestes não há neste país que veem em Bolsonaro sua imagem e semelhança?

 

Aquele tio idiota do churrasco, aquele vizinho pilantra, o amigo moralista e picareta, o companheiro de trabalho sem-vergonha…

 

Bolsonaro, e não era segredo pra ninguém, reflete à perfeição aquele lado mequetrefe da sociedade.

 

Sua eleição tirou do armário as criaturas mais escrotas, habitués do esgoto, que comumente rastejam às ocultas, longe dos olhos das gentes.

 

Bolsonaro não é o criador, é tão apenas a criatura dessa escrotidão, que hoje representa não pela força, não pelo golpe, mas, pasmem, pelo voto direto. Não é, portanto, um sátrapa, no sentido primeiro do termo.

 

Em 2018 o embate final não foi entre dois lados da mesma moeda. Foi, sim, entre civilização e barbárie. A barbárie venceu. 57 milhões de brasileiros a colocaram na banqueta do poder.

 

Elementar, pois, a lição de Marx, sempre atual: "não basta dizer que sua nação foi surpreendida. Não se perdoa a uma nação o momento de desatenção em que o primeiro aventureiro conseguiu violentá-la".

 

Muitos se arrependeram, é verdade. No entanto, é mais verdadeiro que a grande maioria desse eleitorado ainda vibra a cada frase estúpida, cretina e vagabunda do imbecil-mor.

 

Bolsonaro não é "avis rara" da canalhice. Como ele, há toneladas Brasil afora.

 

A claque bolsonarista, à semelhança dos "dezembristas" de Luís Bonaparte, é aquela trupe de "lazzaroni", muitos socialmente desajustados, aquela "coterie" que aplaude os vitupérios, as estultices do seu "mito". Gente da elite, da classe média, do lumpemproletariado.

 

Autodenominam-se "politicamente incorretos". Nada. É só engenharia gramatical para "gourmetizar" o cretino.

 

Jair Messias é um "macho" de meia tigela. É frágil, quebradiço, fugidio. Nada tem em si de masculino. É um afetado inseguro de si próprio.

 

E, como ele, há também outras toneladas por aí.

 

O bolsonarismo reuniu diante de si um apanhado de fracassados, de marginais, de seres vazios de espírito, uma patuléia cuja existência carecia até então de algum significado útil. Uma gentalha ressentida, apodrecida, sem voz, que encontrou, agora, seu representante perfeito.

 

O bolsonarismo ousou voar alto, mas o tombo poderá ser infinitamente mais doloroso, cedo ou tarde.

 

Nem todo bolsonarista é canalha, mas todo canalha é bolsonarista.

 

Jair Messias Bolsonaro é a parte podre de um país adoecido."

 

*Paulo Brondi é Promotor de Justiça em Jataí, Goiás

Posted On Quinta, 06 Janeiro 2022 06:01 Escrito por

O anúncio de uma chapa Lula-Alckmin surgiu como um balão de ensaio em círculos petistas e virou um projeto concreto para as eleições de 2022. Para o ex-presidente, é fácil entender os ganhos com a união heterodoxa.

 

Por Marcos Strecker

 

Um dos maiores problemas de Lula é se vender como moderado, de centro, fugindo da marca de polarização e extremismo que o PT conquistou antes de “fazer um pacto com o mercado” em 2002 e durante a crise que levou ao colapso dos 13 anos de governo petista. Lula sabe que precisará romper a barreira dos 30% de simpatizantes que sua legenda tem historicamente desde os anos 1980. E é preciso um fato novo para desviar a atenção sobre a complicada herança do Petrolão, do Mensalão e da recessão patrocinada por Dilma Rousseff.

 

Para Alckmin, o arranjo é bem mais arriscado. O ex-governador teve um desempenho sofrível na eleição presidencial de 2018, quando ficou em quarto lugar com cerca de 5% dos votos. Não ficou isolado apenas dentro do PSDB. Esse desempenho colocou o próprio partido em xeque, sem voz e vez no cenário nacional. No Congresso, os próprios tucanos reconhecem que a legenda se transformou em um braço do bolsonarismo, com caciques que fogem dos holofotes e de investigações constrangedoras e parlamentares em busca de verbas secretas e benesses paroquiais.

 

A melhor chance de renascimento da legenda é resgatar as realizações que fizeram o partido conquistar a Presidência em dois mandatos: ênfase em programas sociais e modernização do Estado. Os fundamentos do Plano Real, que fizeram o País crescer e até hoje são referência para todo o espectro político, foram criados pelo partido. Mas esse debate passa longe das brigas por espaço das velhas lideranças.

 

Alckmin exigiu voltar ao governo de São Paulo e se colocou contra a renovação do PSDB. Ao deixar o partido e tentar transferir ao petismo o histórico de realizações do PSDB, joga uma pá de cal na sua credibilidade e se anula politicamente. É como se tentasse legar ao PT quase 30 anos de governo tucano em São Paulo. Dificilmente o eleitorado vai entender essa metamorfose. Principalmente a população mais conservadora do interior do Estado, que apoiava o ex-governador contra as bravatas petistas. É bom lembrar que Alckmin tem um histórico sofrível em disputadas nacionais, como o fiasco na eleição presidencial de 2006, quando perdeu para o próprio Lula e teve menos votos no segundo turno do que no primeiro.

 

Se sacramentar a chapa com o ex-inimigo, o ex-governador ficará sozinho na batalha de 2022, e no máximo servirá de escada para o renascimento do lulismo e a sobrevida do bolsonarismo, sacrificando o PSDB. É provável que Lula o descarte até o momento da eleição, pois tudo o que o petista não deseja é um vice que ameace sua posição. E Alckmin pode estar acenando com esse casamento exatamente porque já sente que suas chances de voltar ao Palácio dos Bandeirantes, brigando contra o ex-partido, são pequenas. Ao invés de fazer um jogo político esperto e surpreendente para renascer no cenário nacional, o ex-governador estará apenas praticando um suicídio político, rifando a própria biografia e dando mais combustível ao populismo – aquilo que o PSDB dizia combater.

 

 

Posted On Terça, 30 Novembro 2021 15:39 Escrito por
Página 10 de 25