Em Brasília, ex-presidente renova sua disposição em se entender com quem admita apoiá-lo, ideologia pouco importa
Por Ricardo Noblat
O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva tem por hábito ouvir antes os que com ele se reúnem para só depois dizer o que pensa sobre o que disseram. Dessa forma ele tem a vantagem de ficar sabendo o que seus interlocutores gostariam ou não de ouvir.
Pelo menos ontem, em Brasília, ele fez questão de falar antes que deputados federais e senadores do PT abrissem o bico. E logo de saída avisou: “Só não conversarei com quem não queira conversar comigo”. Nada a ver com os que o escutavam.
Para marcar posição e não deixar margem a dúvidas, referiu-se a políticos, partidos e setores que venham a manifestar interesse em se aproximar dele, seja para apoiá-lo no primeiro ou no segundo turnos da eleição de 2022, seja por qualquer outra razão.
A reunião com o PT foi de manhã, e ele voltou a repetir que nunca na sua vida sentiu-se tão excitado para disputar uma eleição. Não tocou no nome do presidente Jair Bolsonaro. Advertiu apenas que não se ganha eleição de véspera e que a próxima será difícil.
À noite, encontrou-se com um grupo de embaixadores de países africanos. Hoje será a vez de Gilberto Kassab, presidente do PSD, e de dirigentes do PSB e do PDT. Amanhã, do MDB de José Sarney, Jáder Barbalho, Romero Jucá e Eunício Oliveira.
Encontro ocorreu horas depois de o pedetista ser hostilizado na Avenida Paulista
Por Cássia Miranda
O apresentador José Luiz Datena e o pré-candidato à Presidência Ciro Gomes deram um segundo passo nas conversas sobre a possibilidade de o jornalista ser vice do pedetista na disputa presidencial de 2022. Na noite de anteontem, os dois jantaram na capital paulista. O encontro ocorreu horas depois de Ciro ser hostilizado na Avenida Paulista, durante manifestação pelo impeachment do presidente Jair Bolsonaro.
Este foi o primeiro encontro presencial de Ciro e Datena após o apresentador ser convidado, no mês passado, para se filiar ao PDT pelo presidente nacional da sigla, Carlos Lupi - que também participou do jantar, assim como a mulher de Ciro, Giselle Bezerra. Datena se solidarizou com Ciro pelo episódio da Paulista. De acordo com interlocutores, eles conversaram sobre o futuro do Brasil e possíveis alianças.
Em julho, Datena se filiou ao PSL, e foi lançado pela sigla que elegeu Jair Bolsonaro em 2018 como pré-candidato à Presidência em 2022. No entanto, após o avanço na negociação pela fusão entre DEM e PSL, o apresentador estaria se sentindo "desconfortável" na legenda, segundo disse Lupi ao Estadão. "Ele quer esperar essas definições internas (para definir a filiação)", disse o presidente do PDT. Segundo Lupi, a expectativa é de que Datena tome uma decisão até o fim de novembro.
Em setembro, Lupi disse ao Estadão/Broadcast ter dado ao apresentador a opção de concorrer ao governo de São Paulo ou a uma cadeira no Senado pelo Estado. A proposta foi mantida no jantar. Conforme o dirigente, Datena "topa o que for melhor para o projeto do Ciro".
Procurado, Datena não havia respondido à reportagem até a publicação desta reportagem.
Em ato de SP, o discurso do ex-governador cearense foi recebido com vaias e aplausos, além de gritos de "Lula" e arremesso de objetos
Por Aramis Merki
O ex-ministro Ciro Gomes (PDT) minimizou os ataques que sofreu após discursar na Avenida Paulista no ato que pedia o impeachment do presidente da República, Jair Bolsonaro, no sábado, 2. Ele era o único já declarado pré-candidato ao pleito de 2022 presente no evento, articulado por nove partidos.
"Não vamos dar importância ao que aconteceu ontem. Nosso inimigo é o Bolsonaro. Precisamos proteger nossa democracia. Nós vamos precisar de todo mundo", afirmou em coletiva no período da tarde deste domingo, 3.
Ciro propôs à militância que não dê relevância ao que 'não tem centralidade'. "As diferenças com o PT serão cada vez mais profundas e insuperáveis, mas proponho à militância (do PDT) uma ampla trégua", disse.
Ele comparou a situação do sábado com a participação no protesto promovido pelo Movimento Brasil Livre (MBL), no dia 12 de setembro: "Precisamos da mobilização de todos. Foi com esse espírito que aceitei o convite do MBL. Não superamos nossas diferenças e não fomos tomar cerveja depois do ato."
Depois da participação no ato, o carro em que estavam Gomes e o presidente nacional do PDT, Antonio Lupi, foi atingido por garrafas e pedaços de pau.
Segundo Lupi, os autores do ataque eram militantes com camisas do Partido dos Trabalhadores (PT). Nas redes sociais, ainda no sábado, ele classificou a tentativa de agressão como "infantil, anti-democrática e perigosa". "Fui ministro de Lula e Dilma, mas tenho o direito de construir uma alternativa com Ciro Gomes", escreveu.
Antes, na Paulista, o discurso do ex-governador cearense foi recebido com vaias e aplausos, além de gritos de "Lula" e arremesso de objetos.
Em cima do trio elétrico que também recebeu Fernando Haddad (PT), Guilherme Boulos (Psol), Gomes disse: "O povo brasileiro é muito maior que o fascismo de vermelho ou de verde e amarelo."
Antes, o pedetista havia sido criticado na fala das lideranças do Partido da Causa Operária (PCO), também organizador do protesto.
Outros candidatos da última eleição presidencial, como Guilherme Boulos e Marina Silva (Rede), manifestaram repúdio aos ataques e prestaram solidariedade a Gomes.
Outros políticos, como o presidente nacional do Cidadania, Roberto Freire, também fizeram declarações.
Carta assinada pelos presidentes de entidades sindicais também criticou a hostilidade.
Ex-presidente se reunirá, ao longo desta semana, com parlamentares do PT e de outros partidos
Por Tácio Lorran
O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) desembarcou, na tarde deste domingo (3/10), em Brasília. O petista se reuniu com o governador de Pernambuco, Paulo Câmara (PT), e o senador e ex-ministro da Saúde Humberto Costa (PT-PE).
“Discutimos os novos passos da frente ampla do campo progressista de oposição ao atual governo federal. Diálogo produtivo em favor de Pernambuco e do Brasil”, escreveu o governador pernambucano, em uma rede social.
Nesta semana, Lula terá uma série de encontros em Brasília. Na segunda (4/10), o ex-presidente conversa com as bancadas do PT no Senado e na Câmara. Será um encontro no Hotel Meliá, a partir das 10h.
De acordo com o líder da bancada do partido na Câmara, Elvino Bohn Gass, o encontro será um momento para acertar o trabalho da bancada de forma integrada com a campanha do ex-presidente para a “reconstrução do país”.
Segundo o colunista Igor Gadelha, do Metrópoles, o ex-senador Eunício Oliveira (MDB-CE) oferecerá um jantar ao petista, em Brasília.
Eunício contou que convidará outros caciques do MDB. Entre eles, o governador do Distrito Federal, Ibaneis Rocha, o ex-presidente José Sarney e o senador Renan Calheiros (AL), relator da CPI da Covid.
Lula também visitará uma associação de catadores de material reciclável, na comunidade da Estrutural. Trata-se de uma das regiões mais carentes do Distrito Federal. A visita aos catadores está marcada para a parte da manhã de quinta-feira (7/10).
Manifestantes se dividiram entre vaias e aplausos durante ato contra o governo Bolsonaro na Avenida Paulista
Com Estadão
Em uma sequência de discursos do alto de um trio elétrico na Avenida Paulista, em São Paulo, lideranças políticas da esquerda como os ex-ministros Ciro Gomes (PDT) e Fernando Haddad (PT), além do coordenador do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto Guilherme Boulos (PSOL), ressaltaram a diversidade da oposição e defenderam sua unidade em prol do impeachment do presidente Jair Bolsonaro.
Ciro Gomes foi ao mesmo tempo vaiado e aplaudido durante a sua fala. O discurso incendiou a militância petista: muitas pessoas entoaram o nome do ex-presidente Lula (PT) e fizeram a letra L com as mãos. Outras atiraram objetos em direção ao presidenciável do PDT.
Em seu discurso, Ciro pediu o impeachment de Bolsonaro e defendeu a derrubada da "serpente bolsonarista" no País. O político também disse ser contra o "fascismo" e que a hora de Bolsonaro "está chegando". "O povo brasileiro é muito maior que o fascismo de vermelho ou de verde e amarelo", afirmou.
Fernando Haddad, Eduardo Suplicy e Guilherme Boulos durante ato na Paulista
O deputado federal Paulinho da Força (Solidariedade-SP) também foi vaiado durante sua fala no ato contra Bolsonaro na Avenida Paulista. Seu discurso, curto, foi praticamente inaudível por causa das vaias e xingamentos proferidos contra ele.
Criticado pelos manifestantes por já pertencido à base de apoio de Bolsonaro, Paulinho atualmente defende o impeachment do presidente. Segundo alguns dos presentes, as pautas apoiadas pelo deputado no Congresso tratam de "ações contra o trabalhador."
Lideranças da esquerda
Ex-candidato à Prefeitura de São Paulo, Guilherme Boulos abriu o último bloco do ato na Avenida Paulista destacando a diversidade de pessoas e partidos presentes no ato. Segundo ele, a diversidade política presente hoje nas ruas inclui "gente, inclusive, com quem a gente tem muita diferença", afirmou. Na sequência, disse que as diferenças são menores do que a união para "tirar Bolsonaro".
Fernando Haddad, por sua vez, defendeu que o governo do presidente Bolsonaro chegue ao fim antes das eleições de 2022. "Não podemos perder de vista o que nós estamos fazendo aqui", disse. "Estamos aqui porque o povo quer comer e Bolsonaro não deixa, o povo quer estudar e Bolsonaro não deixa, quer trabalhar e o governo Bolsonaro não deixa", disse.
"Temos que buscar o sentimento comum e o sentimento comum é 'fora, Bolsonaro'", afirmou o deputado carioca Marcelo Freixo (PSB), que também discursou no ato. "As ruas estão pedindo a nossa unidade", defendeu em outro momento.