Governador do DF se refere ao presidente do Senado como próximo 'presidente da República' em evento para advogados; no menu, whisky, vinho e paella com camarões

Por Luiz Vassallo - Estadão

 

Uísque, vinho e paella com camarões com um palmo de comprimento compunham o menu de um jantar na suntuosa casa do governador Ibaneis Rocha (MDB), em Brasília, na noite desta terça-feira, 19. O evento, realizado sob pretexto de homenagear integrantes do Conselho Nacional do Ministério Público em fim de mandato, acabou sendo palco do anúncio da campanha do presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, à Presidência da República, em 2022.

 

Na mesma noite, Pacheco comunicou o presidente nacional do DEM, ACM Neto, que deixaria o partido para se filiar ao PSD de Gilberto Kassab. Mais cedo, Ibaneis havia recebido das mãos do presidente da OAB, Felipe Santa Cruz, a medalha Raymundo Faoro. Neste evento, chamou os conselheiros para o jantar, com a promessa de ser um encontro da advocacia. Na porta da residência, os seguranças perguntavam aos convidados: "É da OAB ou do CNMP?". Aliado do presidente Bolsonaro, Ibaneis, que é advogado, foi presidente da Ordem em Brasília. A justificativa do evento era homenagear as conselheiras Sandra Krieger e Fernanda Marinela, representantes da OAB no CNMP que estão em fim de mandato.

 

Durante o jantar festivo, Ibaneis foi ao centro do salão, pegou o microfone e prestou suas homenagens às conselheiras, aproveitando também para chamar ao local Santa Cruz e o presidente do Senado - que é advogado e foi conselheiro federal da OAB em Minas Gerais em 2012. Ao anunciar Pacheco, o emedebista disse que estava passando a palavra ao próximo "presidente da República".

 

O senador não fez discurso em tom de campanha, mas assentiu e falou sobre sua carreira política, desde quando era um deputado discreto de Minas Gerais, muitas vezes reconhecido entre os colegas no Congresso somente por ser do MDB mineiro.

 

O cardápio de frutos do mar foi servido por um ex-chef do Piantella, tradicional reduto de políticos de Brasília, que fechou as portas no ano passado, após 42 anos, e já pertenceu ao criminalista Antonio Carlos de Almeida Castro, o Kakay. Aos convidados, ele contou histórias de Ulysses Guimarães - foi no Piantella que políticos articularam as Diretas Já.

 

A residência luxuosa de Ibaneis costuma ser palco para eventos deste tipo. Foi comprada pelo governador especialmente para grandes jantares. Localizada no Lago Sul, onde moram políticos e ministros do Judiciário, a casa tem dois mil metros quadrados e foi adquirida pelo emedebista no início de 2019, por R$ 24 milhões - sendo R$ 19 milhões com recursos próprios e outros R$ 5 milhões oriundos de um empréstimo do BRB, controlado pelo governo de Brasília.

 

Ao Estadão, Ibaneis afirmou que "torce para um nome mais centro" em 2022, disse que considera Pacheco "um bom nome", mas que ainda "é cedo para qualquer definição."

 

Além do governador, o presidente do Senado receberá o apoio de Felipe Santa Cruz, que deve se filiar também ao PSD em fevereiro do ano que vem, após deixar a entidade. O jantar também serviu para apaziguar a relação entre o do presidente da OAB e o governador, que foram rivais na disputa do comando da Ordem. Dias Toffoli - que também foi homenageado pela OAB naquela tarde - era esperado, mas acabou não aparecendo. /COLABOROU DAVI MEDEIROS

 

Posted On Quinta, 21 Outubro 2021 16:10 Escrito por

A pouco mais de um ano das eleições de 2022, o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (MG), anunciou a aliados que irá deixar o DEM e se filiar ao PSD na semana que vem, em cerimônia em Brasília, o primeiro passo formal para uma possível candidatura à sucessão de Jair Bolsonaro (sem partido) 

 

POR RANIER BRAGON

 

O presidente do PSD, Gilberto Kassab, trata Pacheco como um dos mais fortes postulantes a furar a atual polarização eleitoral entre Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Bolsonaro e há meses fez o convite de filiação ao presidente do Senado.

Publicamente, Pacheco diz que sua decisão ainda não está tomada.

 

"Se ela for tomada, a primeira pessoa a ser comunicada será o presidente do Democratas, ACM Neto, e os companheiros do Democratas, mas essa decisão ainda não está definida. Temos evoluído, [o PSD] é um partido pelo qual tenho muito carinho, muita consideração e estamos evoluindo nessa discussão e vamos tomar a melhor decisão", afirmou nesta terça-feira (19).

 

A reportagem confirmou com integrantes do PSD que a migração já está acertada para a próxima semana.

 

O presidente do Senado é tratado há meses pelo mundo político como candidato à Presidência, inclusive sendo alvo de críticas segundo as quais sua atuação no comando do Senado tem sido pautada mais por influência dessa pretensão eleitoral do que pela análise do mérito dos temas em questão.

 

Diferentemente de Arthur Lira (PP-AL), claro aliado de Bolsonaro, Pacheco tem tomado decisões, públicas e nos bastidores, que contrariam os interesses do Palácio do Planalto.

 

Em setembro, por exemplo, ele mandou devolver ao governo a medida provisória editada por Bolsonaro que limitava a remoção de conteúdo publicado nas redes sociais. O Senado também colocou na gaveta a proposta de reformulação do Imposto de Renda, uma das prioridades de Paulo Guedes (Economia) para tentar destravar o Auxílio Brasil, que deverá substituir o Bolsa Família.

 

Pacheco tem mandato no Senado até 2026 e não precisa renunciar ou se afastar do cargo para concorrer à Presidência em outubro do ano que vem.

 

Apesar de o DEM ter acertado sua fusão ao PSL, o que formará a maior bancada na Câmara, no Senado os dois partidos, que passarão a se chamar União Brasil, terão oito senadores. O PSD de Kassab tem 11, sendo a segunda maior bancada da Casa, atrás apenas do MDB.

 

Mas não é a força do Senado a principal razão da mudança.

 

Além de Pacheco ter caminho livre para eventual candidatura à Presidência no PSD -na União Brasil ele teria concorrentes, como o ex-ministro Luiz Henrique Mandetta (DEM) e o apresentador José Luiz Datena (PSL)-, a configuração do partido em Minas, seu reduto eleitoral, é altamente favorável.

 

O prefeito de Belo Horizonte, Alexandre Kalil, é do PSD. E com a migração de Pacheco para o partido de Kassab, toda a bancada de senadores de Minas será do PSD -além de Pacheco, Antonio Anastasia e Carlos Viana.

 

Na última pesquisa do Datafolha, realizada em 13, 14 e 15 de setembro, Pacheco está no pelotão da lanterna, aparecendo com 1% das intenções de voto no cenário em que seu nome é apresentado aos entrevistados.

 

Com a margem de erro de dois pontos percentuais para mais ou para menos, ele está em empate técnico com alguns nomes que partidos tentam fazer decolar para se tornar a chamada "terceira via".

 

Por ora, a avaliação da maioria desses políticos é que a chance desse terceiro nome se tornar competitivo está mais ao centro e à direita, na esteira do possível maior derretimento de Bolsonaro. Mas, igualmente, há avaliação de que a imagem de Lula sofrerá abalo quando a disputa se aproximar e ele necessariamente for alçado para mais perto dos holofotes.

 

De acordo com o Datafolha, no cenário em que o nome de Pacheco é apresentado, Lula lidera com 42% das intenções de voto. Bolsonaro vem em seguida, com 24%. Depois, Ciro Gomes (PDT), com 10%, João Doria (PSDB), com 5%, José Luiz Datena (PSL), com 4%, Simone Tebet (MDB), com 2% e Aldo Rebelo (sem partido), com 1%.

 

Pacheco tem 44 anos, nasceu em Porto Velho (RO), mas cresceu na cidade de Passos, no sul de Minas Gerais.

 

Ele teve um crescimento rápido na política, onde entrou após atuação como advogado criminalista (ele é formado em direito pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais), defendendo políticos e empresários mineiros em ações de grande repercussão, como o mensalão.

 

Eleito deputado em 2014 pelo MDB, presidiu a Comissão de Constituição e Justiça da Câmara, a principal da Casa. Tentou a Prefeitura de Belo Horizonte dois anos depois, mas ficou em terceiro, com 10% dos votos válidos.

 

Em 2018, na eleição em que uma onda de direta tomou conta da disputa e derrubou políticos tradicionais em vários pontos do país, Pacheco conseguiu uma das duas vagas ao Senado em uma eleição em que a ex-presidente Dilma Rousseff (PT), que durante toda a eleição figurava como favorita, ficou em quarto lugar.

 

No Senado, acabou se beneficiando do fracasso de Davi Alcolumbre (DEM-AP) de conseguir viabilizar juridicamente a possibilidade de se candidatar à reeleição ao comando da Casa. Escolhido pelo político do Amapá, acabou herdando praticamente toda a articulação montada por Alcolumbre e foi eleito facilmente no início de 2021--57 votos contra 27 de Simone Tebet (MS).

 

Um dos pontos de crítica em sua atuação parlamentar é o alegado conflito de interesses em suas ações e os negócios de sua família. Como o jornal Folha de S.Paulo mostrou, em pelo menos duas iniciativas legislativas, uma na Câmara dos Deputados e outra no Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG) atuou para defender interesses de empresas do transporte rodoviário interestadual de passageiros.

 

Pacheco é ligado a duas companhias do ramo, a Viação Real e a Santa Rita, administradas pelo pai.

 

Em nota enviada à reportagem, na ocasião, o senador defendeu a lisura de sua atuação no Congresso. "Não administro e não sou sócio direto dessas empresas familiares. Não misturo atividade parlamentar com assuntos pessoais e profissionais", afirmou.

 

Posted On Quarta, 20 Outubro 2021 06:00 Escrito por

Às vésperas de apresentar formalmente o parecer final da CPI da Covid, o senador Renan Calheiros (MDB-AL) acabou isolado por colegas e foi acusado de vazar trechos do documento.

 

Uma ala de senadores agora atua para convencê-lo a retirar partes alvo de divergência do texto. Caso o relator não ceda, congressistas avaliam apresentar emendas.

 

POR MATEUS VARGAS, RENATO MACHADO, JULIA CHAIB E CONSTANÇA REZENDE

 

O incômodo com Renan foi geral no chamado G7, grupo de sete senadores majoritário da CPI. O relator chegou a ser chamado de traidor pela suspeita de ter feito uma jogada política para expor trechos do texto e encurralar colegas que quisessem mudá-los.

 

O presidente da CPI, Omar Aziz (PSD-AM), não quer mais conversas a portas fechadas sobre o relatório e afirmou nesta segunda-feira (18) que Renan deve manter "tudo aquilo que vazou".

 

Outra ala, porém, ainda busca consenso. Mesmo sem reuniões do G7 previstas, senadores querem conversar individualmente com Renan.

 

Há intenção de convencer o relator a mudar o texto antes de quarta-feira (20), mas a tendência é focar atenções na apresentação de emendas e sugestões após a apresentação à CPI.

 

Senadores membros da CPi da Pandemia

 

Os senadores Humberto Costa (PT-PE) e Randolfe Rodrigues (Rede-AP), por exemplo, são parte da ala que quer se reunir para discutir o teor do parecer e evitar que ele seja colocado em votação sem consenso.

 

O objetivo é evitar um fim traumático, com clima de guerra entre os senadores, em uma comissão que teve ampla repercussão e cuja maioria dos integrantes ditou o rumo dos trabalhos.

 

Já Aziz disse esperar que colegas apresentem sugestões, mas declarou que votará para aprovar o texto do relator. "Acho que deve manter tudo. Ninguém está pedindo nada a ele, o que queremos é acrescentar algumas coisas", afirmou, após se reunir com Humberto e Randolfe.

 

"A sugestão minha é que ele mantenha tudo aquilo que ele vazou. Para não ter dúvida sobre o nosso comportamento. Para não sair brincadeirinha, dizendo: 'Ah, o presidente [Jair Bolsonaro] ligou pro Omar'. Não ligou para mim", disse Aziz à imprensa.

 

Em cinco volumes a minuta do parecer de Renan que estava pronta na sexta-feira (15) pede o indiciamento de mais de 60 pessoas, entre elas filhos do presidente, ministros de Estado, integrantes e ex-funcionários do Ministério da Saúde e empresários.

 

O texto atribui 11 crimes ao presidente, entre eles o de homicídio. Além disso, Renan propõe 17 projetos de lei ou mudança na Constituição, que incluem definir crime para punir a disseminação de fake news, hoje inexistente.

 

a ideia é sugerir pena de prisão de ao menos dois anos para quem distribuir notícias sabidamente falsas. As propostas vão tramitar direto no plenário do Senado, sem precisar passar por comissões temáticas, o que agiliza o processo.

 

Para Aziz, Renan vazou o relatório para constranger os colegas e não há mais clima para propor mudanças antes de o texto ser apresentado à comissão.

 

"Parece que a gente se entregou ao Bolsonaro [se pedir mudança], que está protegendo o filho do Bolsonaro. Por isso estou dizendo, onde ele está indo eu já voltei. É estratégia", disse Aziz.

 

O relator da CPI, porém, nega que tenha vazado o texto e disse que está aberto para qualquer alteração, desde que haja consenso no grupo majoritário da CPI.

 

"O relatório vazou e lamento que tenha vazado, mas eu achei até bom o resultado, porque antecipa publicamente um debate que era inevitável, insubstituível", disse Renan.

 

Aziz reagiu às falas de Renan minimizando a divulgação de trechos do parecer. "Acho que ele [Renan] não gostaria de que fizesse isso nas denúncias que fizeram contra ele", afirmou.

 

Inicialmente, estava previsto para esta semana o encerramento dos trabalhos da CPI da Covid, com a leitura do relatório final nesta terça-feira (19), com a votação do documento marcada para o dia seguinte.

 

No entanto, durante o fim de semana, vários senadores demonstraram insatisfação com o vazamento de alguns dos principais pontos do relatório final de Renan.

 

Um dos pontos de divergência é a proposta de indiciamento de Bolsonaro pelo crime de genocídio contra a população indígena.

 

Exército apoia vacinação em terras indígenas isoladas no Acre

 

Por causa dessas divergências, os senadores do grupo majoritário decidiram adiar a leitura e a votação do relatório final. A ideia é que Renan apresente e leia o parecer na quarta. A votação sobre o texto deve ser feita no dia 26.

 

Aziz disse que votará a favor do relatório de Renan, mesmo sobre trechos que já criticou, como sobre suposto genocídio indígena. Ele afirmou, porém, temer que o texto final seja frágil.

 

"Você tipificar uma coisa e essa tipificação cair no primeiro momento por falta de conteúdo é colocar tudo a se perder. Esse é o medo", disse. "Não adianta acusar de dez coisas, precisa te acusar de uma, bem feita, e você será condenado do mesmo jeito", disse o presidente da CPI.

 

Outra divergência diz respeito à inclusão de pedido de indiciamento de Flávio Bolsonaro (Patriota-RJ) por improbidade administrativa.

 

Renan argumenta que o senador cometeu o crime ao levar o presidente da Precisa Medicamentos, Francisco Maximiano, a um encontro com o presidente do BNDES, Gustavo Montezano.

 

Para senadores, o trecho é frágil e pode facilmente ser derrubado em investigação do Ministério Público.

 

Nesta segunda, em um vídeo divulgado por seu gabinete, Flávio afirmou que a audiência pública da CPI da Covid com equipes médicas, pacientes e parentes de vítimas da pandemia é algo "macabro, triste e lamentável".

 

"Pessoas foram escolhidas a dedo para virem na CPI e falarem mal do presidente Bolsonaro. Pessoas com histórico de militância contra Bolsonaro vieram para cá com o compromisso de responsabilizar Bolsonaro pelas mortes dos familiares por causa da Covid e não do Bolsonaro. Isso é um desrespeito com quase 600 mil vítimas do Brasil", afirmou.

 

"A CPI está entrando para a história como algo que mancha a imagem do Senado e faz com que muitas pessoas olhem para cá com nojo", disse o senador.

 

Após audiência com parentes de vítimas da Covid, nesta segunda, o senador Humberto Costa fez uma fala emocionada e pediu para a comissão não se perder em "fogueira de vaidades".

 

Sem citar o relator Renan, o petista pediu que se reconheçam erros e se peça desculpas por eles. Mas Renan negou que haja mal-estar e afirmou que nem sequer recebeu queixas dos colegas.

 

A inclusão do pedido de indiciamento do ministro Braga Netto (Defesa) no parecer também gera divergências. Renan, porém, indicou que não deve retirar o nome e ainda citou que pode inserir o ministro Paulo Guedes (Economia) na lista de indiciados, se os colegas concordarem.

 

Já Aziz sugeriu que faltam argumentos para acusar o ministro.

 

No bastidor, assessores de Aziz disseram que não houve surpresa em relação à falta de debate sobre o relatório por parte de Renan. O sentimento é o de que o relator não soube trabalhar em grupo desde o início da CPI e, por isso, não seria diferente com o relatório final.

 

Senador Aziz fala a imprensa 

 

Por isso, Aziz disse que não irá propor alterações no texto e vai deixar que o relator assuma a culpa sozinho, caso o relatório fracasse. Ele também não quis se encontrar com Renan para falar sobre o texto já finalizado, e deixou o Senado no final da tarde desta segunda.

Também pesou na decisão de Aziz o cuidado de não dar margem para o discurso de que ele estaria aliviando para Bolsonaro, caso propusesse alterações no texto.

 

Isso porque os pontos em que o presidente do colegiado discorda de Renan são os que propõem penas mais duras contra o presidente, como por genocídio indígena e o indiciamento dos seus filhos.

 

PRÓXIMOS PASSOS DA CPI

 

Próximo depoimento

 

Comissão ouve Elton da Silva Chaves, representante do Conasems (Conselho Nacional de Secretarias Municipais de Saúde), nesta terça (19)

 

Previsão de leitura do relatório

 

Quarta (20)

 

Previsão de votação do texto

 

Terça (26)

 

Principais divergências

 

Um dos pontos é a proposta de indiciamento de Bolsonaro pelo crime de genocídio contra a população indígena.

 

Os membros do G7, como é conhecido o grupo majoritário da comissão, também divergem sobre a inclusão de membros da família do presidente Bolsonaro entre as propostas de indiciamento

 

O QUE ACONTECE APÓS A VOTAÇÃO DO RELATÓRIO

 

A CPI ainda tem algum poder após a apresentação o relatório final?

 

Não, pois a aprovação e o encaminhamento do relatório constituem a etapa final da CPI.

 

Como estratégia para acompanhar os desdobramentos das investigações da comissão, os senadores Omar Aziz (PSD-AM), que preside a CPI, e o vice-presidente, Randolfe Rodrigues (Rede-AP), apresentaram a proposta de criação de um grupo permanente, a Frente Parlamentar Observatório da Pandemia.

 

A iniciativa, porém, depende de aprovação no Senado

 

A quem o relatório é enviado?

 

Cada uma das conclusões do relatório pode implicar no envio para órgãos distintos. No caso de ilícitos criminais ou civis, por exemplo, a competência para denunciar formalmente os investigados pela CPI ou de requerer mais investigações é do Ministério Público.

 

No caso de autoridades com foro, caso do presidente, esse papel é desempenhado pela Procuradoria-Geral da República (PGR)

 

Posted On Terça, 19 Outubro 2021 05:49 Escrito por

Mesmo que não consigam chegar ao segundo turno, partidos têm a chance de ganhar poder e fortalecimento ao marcar seu território na corrida, dizem analista

 

Por Marcelo Tuvuca colaboração para a CNN

 

Desde que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) se tornou elegível e passou a despontar como líder das pesquisas para a corrida eleitoral de 2022, antagonizando com o presidente Jair Bolsonaro (sem partido), o termo “terceira via” se popularizou para denominar o candidato que represente uma alternativa a esses dois lados.

 

Nesse contexto, partidos e aspirantes à cadeira presidencial se movimentam para ganhar força e se estabelecerem como essa opção, em uma disputa com ares de prévias.

 

De acordo com cientistas políticos e historiadores, no entanto, o cenário pré-2022 apresenta uma versão “repaginada” desse conceito, distante de sua origem.

 

Mesmo assim, na opinião dos analistas, essa disputa é fundamental para a definição do cenário político a partir do ano que vem e tem potencial de fortalecer aqueles que saírem do pleito com bons resultados, ainda que derrotados na disputa pelos votos.

 

A origem do conceito

 

Segundo Fernando Guarnieri, cientista político do Instituto de Estudos Sociais e Político da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (IESP-UERJ), a origem do conceito de terceira via na política remete à fase final da Guerra Fria e aos dois sistemas socioeconômicos dominantes à época: o capitalismo dos Estados Unidos e o socialismo da União Soviética.

 

A terceira via, associada a partidos de centro esquerda e sociais-democratas da Europa, surgiu como um meio termo, reunindo elementos de direita – políticas mais liberais e um estado menos centralizado, por exemplo – com bandeiras tradicionais da esquerda, como a justiça social e a igualdade de oportunidades.

 

No Brasil pré-Bolsonaro, esse mesmo termo já aparecia para classificar os candidatos que tentavam romper a polarização entre PT e PSDB nas eleições para presidente desde 1994. Mas essa polarização brasileira, diz Guarnieri, já se mostrava mais política do que ideológica, diferentemente do contexto internacional do fim da Guerra Fria. “No governo Lula, o PT acabou se movendo para o centro, onde o PSDB já ocupava”, afirma.

 

O histórico eleitoral brasileiro aponta a continuação de uma polarização que pode representar um obstáculo para qualquer candidato que tente chegar como terceira força na disputa com dois nomes predominantes na campanha eleitoral.

 

Desde 1994, o resultado do primeiro turno das eleições nunca registrou um terceiro colocado que tenha ameaçado ir ao segundo turno. O melhor desempenho foi de Marina Silva (então no PSB), em 2014, com 21% dos votos – distantes dos 41% de Dilma Rousseff (PT) e dos 33% de Aécio Neves (PSDB).

 

Até aquela eleição, o cenário foi sempre o mesmo: PT e PSDB protagonizando a disputa entre seus candidatos. Em 2018, Bolsonaro assumiu o papel de antagonista dos petistas, mas a polarização entre dois nomes permaneceu a mesma.

 

Os obstáculos que dificultam a terceira via

Mas por que é tão difícil um terceiro candidato chegar forte à eleição presidencial no Brasil?

 

O sistema político-eleitoral do país, o comportamento do eleitor e a dificuldade de se encontrar nomes conhecidos nacionalmente são algumas das explicações que os especialistas apontam.

 

“Há uma fragmentação muito grande de partidos no Brasil, e a política é multidimensional: envolve valores, costumes e políticas diversas. Se o eleitor sentir que o seu candidato preferido não tem muitas chances, ele costuma procurar um nome mais viável. É o famoso voto estratégico, ou voto útil”, diz Guarnieri.

 

Para o historiador Nelson Ferreira Marques Júnior, professor do Instituto de Educação Superior do Vale do Parnaíba (Piauí), outros fatores podem, em tese, fortalecer a concentração de votos entre Lula e Bolsonaro em um eventual primeiro turno de 2022.

 

“O Bolsonaro tem a máquina do Estado nas mãos, e o Brasil é um país com tradição de reeleger seus presidentes. Do outro lado está o PT, o maior partido de esquerda da América Latina e que mais se organizou, historicamente, para fazer coalizões políticas”, afirma. “Além disso, Lula e Bolsonaro são dois estadistas muito personalizados. Diferentemente de outros pleitos, a eleição presidencial é muito personalista”, afirma.

 

A terceira via é uma alternativa?

Apesar de concentrada em Lula e Bolsonaro, a polarização entre direita e esquerda não transforma automaticamente os outros pré-candidatos de 2022 em uma alternativa clássica de terceira via, centrista, segundo a visão dos especialistas.

 

“Se um terceiro candidato se mostrar competitivo em 2022, isso não quer dizer que ele seja uma ‘terceira via’. Ele é apenas uma alternativa a Lula e Bolsonaro, que hoje aparecem como principais”, diz Fernando Guarnieri.

 

Para Marques Júnior, “não existe uma terceira via em termos de projeto de nação”. “O projeto do Ciro Gomes e do PDT se aproxima ao do Lula, mais de centro-esquerda. No outro bloco, partidos como o DEM-PSL [em fusão para formar o União Brasil], por exemplo, apresentam ideias neoliberais, que não mudam muito em relação ao projeto do [ministro da Economia] Paulo Guedes: estado mínimo, privatização de setores estratégicos, incentivo ao empreendedorismo”, aponta o historiador.

 

“O apoio do empresariado a uma terceira via, por exemplo, não se refere a um projeto novo, autônomo, mas sim a um candidato que aproveite a agenda econômica do Paulo Guedes com um discurso mais polido”, acrescenta.

 

Vera Chaia, professora de política e pesquisadora da Pontifícia Universidade Católica (PUC-SP), enxerga no cenário atual uma possibilidade de projeto próximo ao de uma terceira via clássica caso o governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite, vença as prévias do PSDB contra João Doria. A votação, marcada para 21 de novembro, contará também com o ex-prefeito de Manaus Arthur Virgílio Neto na disputa.

 

“Essa seria uma alternativa social-democrata, ainda que de centro-direita, caso ela seja bem construída. O PSDB deu uma ‘endireitada’ nos últimos anos, mas poderia retomar uma posição mais de centro com o Eduardo Leite, que é bem avaliado como governador e obteve apoio, no partido, de parlamentares importantes como o [senador] Tasso Jereissati“, comenta a professora.

 

Chaia cita Doria e também Ciro Gomes como figuras polarizadoras que dificilmente emplacariam esse perfil de alternativa ao bolsonarismo e ao petismo. “O Doria não tem unanimidade nem no próprio partido, e o Ciro se porta de maneira agressiva, desagregadora”, analisa.

 

A professora enumerou outros políticos apontados como pré-candidatos, como o ex-ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta (DEM-MS), o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG), e os senadores Alessandro Vieira (Cidadania-SE) e Simone Tebet (MDB-MS). Segundo ela, o maior obstáculo para esses potenciais candidatos é a falta de capital político de seus nomes na comparação com Lula ou Bolsonaro.

 

Os ganhos da terceira via mesmo com a derrota na eleição

 

A marcação de território da “terceira via”, no entanto, vai além de uma eventual ida ao segundo turno e da vitória na eleição: ela pode render a partidos e candidatos recursos em dinheiro, poder de barganha e força política.

 

“Esse bloco da terceira via pode não ter uma força personalizada em alguém, mas, se houver união, ele pode se sentar na mesa de negociação com o próximo presidente e ganhar ministérios, cargos e recursos. Seja Lula ou Bolsonaro, é assim que a terceira via conseguirá se fortalecer no cenário legislativo”, diz Nelson Marques Júnior.

 

Para Vera Chaia, um dos grandes exemplos desse tipo de movimento é o do PSD, do ex-ministro Gilberto Kassab, que, no momento, não tem um nome óbvio como pré-candidato – há especulações sobre uma eventual migração de Rodrigo Pacheco ao partido para se tornar essa opção.

 

“Acho que o movimento do PSD é de conseguir espaço em futuros governos. Ele não tem um programa partidário nem uma força política por si só. Seu poder está na capacidade de articulação do Kassab”, afirma Chaia, citando a negociação do partido com Geraldo Alckmin (PSDB) e Márcio França (PSB) para a disputa pelo governo de São Paulo em 2022.

 

Fernando Guarnieri lembra que essa formação de palanques estaduais fortes fará com que o PSD seja cortejado pelos eventuais candidatos à Presidência. “Essa estratégia dá força aos partidos e permite um grande poder de barganha para a formação de uma coalizão. Isso pode reverter em participação no governo e no controle de políticas importantes para o partido.”

 

Para o cientista político, o movimento que mais chama a atenção fora dos polos da eleição presidencial é a fusão entre duas legendas de direita, o DEM e o PSL. Segundo Guarnieri, o novo partido “será um filhote robusto, um partido nacional com grande força no Congresso e nas regiões”.

 

“Uma grande bancada na Câmara decide, entre outras coisas, os recursos dos fundos eleitorais e partidários. A partir do momento em que um partido se fortalece, ele também atrai novos candidatos e aumenta suas chances de aumentar ainda mais suas cadeiras no Congresso. A corrida presidencial pode até ser uma ambição, mas DEM e PSL não vão tê-la como objetivo principal”, observa.

 

Posted On Segunda, 18 Outubro 2021 06:18 Escrito por

O PSDB, partido que governou o Brasil de 1995 a 2002 e polarizou a política nacional com o PT até a debacle da eleição de 2018, está em pé de guerra.

 

PPOR IGOR GIELOW

 

A disputa pela indicação de quem será o candidato a presidente pela sigla, a ser decidida em prévias no dia 21 de novembro, ganhou ares de guerra fratricida.

 

Neste domingo (17), os dois principais postulantes, os governadores João Doria (SP) e Eduardo Leite (RS), voltaram a trocar farpas, agitando as hostes tucanas.

 

O gaúcho esteve em São Paulo para buscar apoios de correligionários supostamente fiéis a Doria. Aproveitou para estocar o paulista. "Negar participação no debate e lançar suspeitas à forma de votação é coisa do bolsonarismo. Espero que não volte o BolsoDoria", disse Leite.

 

Ele se referia a dois pontos. Um, a crítica feita por aliados do paulista ao aplicativo lançado pelo PSDB para as prévias, desenvolvido coincidentemente no Rio Grande do Sul.

 

Para auxiliares de Doria, o programa é vulnerável a fraudes por estar aberto na internet e por permitir cadastros sem muito controle.

 

O outro item abordado pelo gaúcho foi a recusa inicial de Doria de participar de um debate com Leite e o ex-prefeito manauara Arthur Virgílio, azarão das prévias, na terça (19) em evento dos jornais O Globo e Valor Econômico.

 

Mas mais importante, ele falou no voto de segundo turno de 2018 que vinculou o tucano à onda que elegeu Jair Bolsonaro presidente. De 2019 em diante, Doria afastou-se do titular do Planalto e virou seu maior adversário estadual no contexto da pandemia e da disputa sobre a campanha de vacinação, mas o epíteto sempre é lembrado por adversários.

 

Há, claro, alguma ironia na fala de Leite. Entre seus 25 titulares de secretarias no governo gaúcho, ao menos 5 são bolsonaristas explícitos ou ligados a apoiadores do presidente.

 

Assim como Doria, Leite também foi eleitor de Bolsonaro no segundo turno e depois se disse arrependido.

 

No sábado, Doria voltou atrás e aceitou participar do debate. Tucanos mais neutros na disputa entre os dois aplaudiram a decisão, embora ressaltem que tal evento pode apenas explicitar as divergências internas da sigla.

 

O governador paulista não respondeu à citação. Para tanto foi escalado o presidente do PSDB-SP, o secretário Marco Vinholi (Desenvolvimento Regional).

 

No Twitter, ele disse: "Leite vem a SP e ataca Doria mais uma vez. Diálogo na teoria, agressão na prática. É momento de termos um candidato para unir o partido e o país, não para dividir".

 

O embate coroa uma nova fase na disputa interna tucana, que começou com um grande salto alto parte dos paulistas, mesmo tendo fracassado em estabelecer a regra de peso equânime para os votos de todos os filiados ao PSDB, o que favoreceria em tese Doria pela concentração de tucanos em São Paulo.

 

Foi adotado um esquema com pesos iguais para grupos de votantes (filiados, donos de mandato, cargos etc.). Com isso, a disputa ficou mais equilibrada. As equipes de Leite e de Doria trabalham com a ideia de um placar semelhante nos apoios, algo como uma divisão 60%/40%, naturalmente cada um puxando a sardinha para sua brasa.

 

O jogo está bastante aberto admitem estrategistas dos dois lados, mas a semana que passou foi a pior para Doria desde o início da disputa.

 

Além do episódio do debate, Leite colheu apoios entre potenciais aliados em 2022, como ACM Neto (presidente do DEM, partido que vai unir-se ao PSL e formar uma megasigla de direita) e Gilberto Kassab (o chefão do PSD).

 

Neste domingo, o tucano gaúcho também iria ser recebido por empresários paulistas que, se não representam o proverbial PIB, mostram um interesse na sua figura.

 

Para os aliados de Doria, esses trunfos evidenciam fraquezas da postulação de Leite. Na visão deles, que encontra eco entre dirigentes dos partidos que podem se tornar parceiros em 2022, uma vitória de Leite colocará o tucano na vaga de vice ideal.

 

Para políticos fora do tucanato, Leite agregaria vitalidade a qualquer chapa por ser novo (36 anos) e associado ao mesmo tempo a pautas progressistas em comportamento (é gay) e conservadoras na economia (promoveu reformas impopulares).

 

Mas tudo isso é usado também como argumento de que lhe falta quilometragem, e que seu apoio seria ideal como vice ou como parceiro num eventual governo que não fosse de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) ou Bolsonaro.

 

O governador em si rechaça essa essa hipótese e diz que está no jogo para ser cabeça de chapa, mas falta combinar com os aliados e com seus padrinhos no PSDB, o deputado Aécio Neves (MG) e o senador Tasso Jereissati (CE).

 

Na visão do grupo aliado aos dois caciques, o mais importante para o partido é garantir robustez parlamentar para sobreviver, mesmo que isso signifique equivaler o PSDB a siglas do centrão no Congresso.

 

Como diz um dirigente ligado a Aécio, os menos de 5% auferidos por Geraldo Alckmin no pleito de 2018 já deveriam ter servido de alerta. Contra essa visão está o bom desempenho municipal do partido no ano passado, contudo.

 

Se a crítica dos aliados Doria acerca da diminuição de perfil do PSDB faz sentido, a outra feita à suposta pouca importância da movimentação de Leite é bastante discutível. É fato que isso não garante voto entre militantes tucanos, e o apoio de articuladores de prefeitos como Doria tem em São Paulo pode trazer mais endosso nas prévias.

 

Por outro lado, a cristalização de uma imagem de candidato para um político que era largamente desconhecido fora de seu estado até há pouco pode impressionar.

 

A próxima etapa será no debate da terça. A dúvida entre estrategistas dos dois lados é sobre a conveniência de subir o tom de uma briga que, em tese, deveria ser doméstica.

 

A lição histórica é óbvia: nas cinco eleições presidenciais que perdeu desde 2002, o PSDB só chegou perto da vitória na única vez que andou unido, em 2014 com Aécio.

 

Há munição de lado a lado, mas também a certeza de que Doria, por governar o estado mais importante do país, sofre um escrutínio diário bem mais incisivo do que Leite.

 

Ainda é incerto se o gaúcho apostará no confronto direto com o paulista. Já Doria, afeito a debates mais acalorados, pode ir nesse sentido, mas também aposta numa "agenda de estadista", como dizem seus aliados, ao visitar na semana que vem a Expo Dubai 2021, a primeira grande feira internacional do pós-pandemia.

 

 

Posted On Segunda, 18 Outubro 2021 05:57 Escrito por
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