O governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) impôs sigilo sobre a íntegra das imagens dos atos de vandalismo registradas pelo sistema de câmeras do Palácio do Planalto, alegando riscos para a segurança das instalações presidenciais.

 

POR RENATO MACHADO E MARIANNA HOLANDA

 

No entanto divulgou oficialmente trechos editados dessas imagens que não permitem analisar a atuação e eventual omissão das forças de segurança no dia 8 de janeiro dentro do palácio, além de priorizar passagens que ligam a imagem dos ataques mais fortemente ao ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).

 

O governo Lula também chegou a impor sigilo na lista de convidados para a recepção no Itamaraty após a posse do petista, no dia 1º de janeiro. A medida, no entanto, gerou desgaste, e a lista, foi com mais de 3.500 nomes, foi posteriormente divulgada.

 

O argumento original para a imposição do sigilo era que o evento tinha "caráter reservado" e que a divulgação poderia "prejudicar ou pôr em risco a condução de negociações ou as relações internacionais" do país.

 

A principal razão para o desgaste é que Lula criticou em diferentes ocasiões o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) pela decretação de sigilo em informações do governo federal.

 

A reportagem pediu via Lei de Acesso à Informação a íntegra das imagens registradas pelas câmeras de segurança internas e externas do sistema do Palácio do Planalto referentes ao domingo em que manifestantes golpistas vandalizaram os prédios dos Três Poderes.

 

Além do Planalto, os apoiadores do ex-presidente Bolsonaro avançaram sobre as forças de segurança e invadiram o Congresso Nacional e o STF (Supremo Tribunal Federal).

 

Ao negar acesso à íntegra das imagens, o GSI (Gabinete de Segurança Institucional), comandado pelo general Gonçalves Dias, afirma não ser "razoável" por divulgar informações que exponham métodos, equipamentos, procedimentos operacionais e recursos humanos da segurança presidencial.

 

"Dessa forma, presente pedido de informação não pode ser atendido, haja vista que as imagens do sistema de vídeo monitoramento do Palácio do Planalto são de acesso restrito, considerando que sua divulgação indiscriminada traz prejuízos e vulnerabilidades para a atividade de segurança das instalações presidenciais", diz a resposta.

 

Em outro trecho, afirma: "Caso seja facultado o acesso às informações solicitadas, a eficiência, como princípio constitucional da administração pública, e o interesse público de prevenir ações adversas contra as autoridades protegidas pelo GSI/PR ficam desamparados".

 

O gabinete ainda acrescenta que as imagens solicitadas já estão sendo utilizadas no âmbito de processo investigatório para a elucidação dos eventos do dia 8 de janeiro. Cópias dos vídeos foram encaminhadas para o Exército e para a PF (Polícia Federal), que apuram o episódio.

 

 

Como mostrou a Folha de S.Paulo, policiais utilizam uma mistura de inteligência artificial e trabalho manual para identificar os criminosos. No Planalto, foram coletadas imagens de 22 câmeras do sistema de TV interno.

 

Esses terabytes de imagens são analisados pela inteligência artificial para servir na montagem da dinâmica do ocorrido e para identificar os envolvidos. O sistema identifica, quadro a quadro, todas as faces encontradas.

 

Para isso, a inteligência desenvolvida pela PF demarca 512 pontos em cada uma das faces.

 

Esses apontamentos são comparados com os rostos identificados pelo mesmo processo nas fotos dos presos tiradas na hora da detenção, em bancos de imagens do governo, vídeos extraídos de celulares e outros bancos da corporação.

 

Na apuração da PF, as cenas de locais onde o estrago foi maior e algumas específicas, como a quebra do relógio de dom João e da depredação do quadro de Di Cavalcanti, estão sendo priorizadas.

 

Os trechos divulgados pelo governo focam especialmente os momentos de vandalismo e contribuíram para a identificação dos golpistas.

 

Os recortes das imagens das câmeras de segurança foram inicialmente divulgados no dia 15 de janeiro pelo programa Fantástico, da TV Globo. Na sequência, todos os veículos de imprensa que requisitaram oficialmente os vídeos tiveram acesso ao mesmo conteúdo.

 

Em uma das imagens de maior repercussão, um manifestante golpista usando uma camiseta com o rosto de Jair Bolsonaro estampado joga no chão o relógio histórico que foi trazido ao Brasil por dom João 6º.

 

Fontes que tiveram acesso a mais imagens das câmeras de segurança, no entanto, apontam que esse não foi o único manifestante a vandalizar o relógio.

 

O item histórico chegou a ser recolocado no lugar, mas depois uma nova turba o jogou no chão novamente. O governo, no entanto, preferiu divulgar apenas a imagem do homem com a camiseta do ex-presidente.

 

Os trechos divulgados também mostram os manifestantes golpistas circulando livremente, avançando sobre diversas áreas do Palácio do Planalto, sem serem confrontados pelas forças de segurança.

 

A maioria deles veste camisetas com as cores verde e amarela —alguns também aparecem nas imagens carregando bandeiras do Brasil.

 

Os manifestantes chegam a ter tempo para recarregar os telefones celulares nas tomadas do palácio e fazem ligações e transmissões ao vivo.

 

Em apenas um dos trechos divulgados, um agente das forças de segurança aparece por poucos segundos, do lado de fora do Planalto, tentando dialogar com um manifestante pela janela.

 

O papel do Gabinete de Segurança Institucional durante a invasão do Planalto tornou-se um ponto de grande discussão dada a facilidade encontrada pelos manifestantes, além de o órgão ter virado alvo de críticas internas.

 

O GSI não preparou um esquema de segurança para os atos e há dúvidas sobre a atuação de seus agentes para tentar conter a invasão.

 

A reportagem questionou a Secretaria de Comunicação Social do governo por que apenas trechos editados foram divulgados e quais os critérios para selecionar quais trechos se tornaram públicos.

 

Também foi questionado por que apenas o trecho da destruição do relógio pelo manifestante com a camiseta de Bolsonaro foi divulgado, sendo que outras pessoas também vandalizaram o item histórico.

 

O governo não respondeu os questionamentos específicos e apenas reenviou a resposta dada pelo GSI para negar o pedido via Lei de Acesso à Informação.

 

 

Posted On Terça, 07 Fevereiro 2023 13:27 Escrito por O Paralelo 13

Quem acompanha a política tocantinense sabe do empenho do senador Eduardo Gomes em defesa dos interesses do Estado e de seus 139 municípios. Sempre é citado como uma das principais lideranças do Congresso Nacional, mas mantém atenção firme em sua base, sendo campeão na destinação de recursos para o Tocantins e seus municípios.

 

POR: EDSON RODRIGUES

E LUIZ PIRES

 

PORTO NACIONAL, AOS 07 DIAS DO MES DE FEVEREIRO DE 2023

 

Após cumprir sua missão como um dos mais longevos Líderes do Governo no Congresso Nacional após a redemocratização, quando carreou recursos sem precedentes para o Tocantins, o senador dividirá seu tempo nos próximos quatro anos com atuação no parlamento e nos ministérios, em busca de recursos financeiros para o Executivo e para os municípios tocantinenses e em visitas à Capital e ao interior.

 

Nesse final de semana o senador Eduardo Gomes visitou Guaraí, onde vistoriou obras de asfaltamento que estão sendo executadas com emenda de 6 milhões de reais, de sua autoria, em companhia da prefeita Fátima Coelho, seu secretariado e vereadores. Na oportunidade o senador reafirmou a parceria e o compromisso com Guaraí e anunciou a destinação de novos recursos para obras de infraestrutura e saúde do município.

 

Já nesta segunda-feira, 6, Eduardo Gomes recebeu o título de Cidadão Araguainense, (foto) concedido pela Câmara Municipal, participou do início do funcionamento do sistema 5G de telefonia na cidade e da assinatura da ordem de serviço pelo prefeito Wagner Rodrigues para início das obras de canalização do Córrego Baixa Funda. Orçada nessa primeira etapa em R$ 32 milhões, a obra recebeu R$ 25 milhões de recursos de emenda do senador Eduardo Gomes, com contrapartida de R$ 7 milhões do município.

 

Com ótimo relacionamento com o Governador Wanderlei Barbosa e seu vice, Laurez Moreira, o senador Eduardo Gomes pela união das bancadas no Senado e na Câmara  dos Deputados em defesa dos interesses coletivos do Governo do Estado e dos municípios, independente de cor partidária.

 

Dessa forma, o senador dá um exemplo de como a política partidária deve ser exercida: colocando-se o bem-estar dos cidadãos e cidadãs acima de tudo.

 

Posted On Terça, 07 Fevereiro 2023 04:49 Escrito por O Paralelo 13

O Poder Executivo de Porto Nacional, na pessoa do prefeito, Ronivon Maciel, precisa encaminhar à Câmara Municipal, em caráter de urgência, um projeto instituindo o Plano Diretor para o Distrito de Luzimangues.

 

Por Edson Rodrigues

 

A localidade está pronta para ser emancipada. É um povoamento com mais habitantes e mais empresas que muitos municípios tocantinenses, tem vida própria, independência financeira, e uma arrecadação que extrapola os limites do mínimo estipulados para que haja uma emancipação política.

 

O prefeito de Porto Nacional, Ronivon Maciel, juntamente com o Poder Legislativo Municipal, devem dar sequência na organização urbana de Luzimangues, com a criação de um Plano Diretor para impedir que o Distrito se torne uma espécie de “Aparecida de Goiânia”, um distrito da capital goiana que cresceu desordenadamente e se transformou em uma cidade sem identidade e sem um planejamento urbano decente.

 

Os nobres vereadores portuenses, muitos deles com laços familiares com o distrito, e o próprio vice-prefeito, nativo de Luzimangues, precisam, neste início de ano, eleger as prioridades do Distrito e solicitar um debate para colocar à mesma mesa de discussão o prefeito, Ronivon Maciel, e todos os detentores de mandato legislativo municipal, e eleger como prioridade número um o tão importante “pedaço” de Porto Nacional, que vem sendo negligenciado mandato após mandato.

 

 

Luzimangues tem o potencial de ser uma grande cidade, contígua à Capital, Palmas, e, justamente por isso, precisa de um plano diretor.  e isso precisa ser discutido com a sociedade, comerciante e empresários o mais rápido possível, pois qualquer ação, empreendimento ou iniciativa que esteja prestes a ser posta em andamento, pode prejudicar ou comprometer, de forma definitiva, a execução do plano diretor tão necessário quanto a velocidade com que Luzimangues se torna mais e mais apto a se emancipar de Porto Nacional.

 

CHAMADA À REALIDADE

 

O Observatório Político de O Paralelo 13 vem, por meio deste editorial, faze um chamamento ao prefeito, Ronivon Maciel, e aos senhores vereadores da atual legislatura, em destaque aos eleitos para serem representantes de Luzimangues – assim como o vice-prefeito – para que ouçam o clamor dos comerciantes, empresários e das entidades classistas presentes no Distrito portuense, para que ajam antes de comprometer qualquer plano de desenvolvimento, emancipação e independência da localidade. 

 

AÇÃO DOS CONGRESSISTAS

 

 

Este apelo se dirige, também, aos nossos congressistas, à nossa bancada federal, para que se debrucem sobre este problema na Câmara Federal e no Senado, para que provoquem uma audiência com a população de Luzimangues e que ouçam sua opinião a respeito da emancipação - ou não - desse pedaço de chão do município de Porto Nacional. 

 

A necessidade ação é premente e imediata. As questões colocadas já são conhecidas há anos, mas sempre houve falta de vontade política - e coragem – para tal.

 

Se os nossos atuais congressistas querem deixar sua marca na história política do Tocantins, este é o momento e a oportunidade.

 

Estamos de olho, e no aguardo!

 

 

Posted On Segunda, 06 Fevereiro 2023 04:26 Escrito por O Paralelo 13

Maria Christina Mendes Caldeira é a primeira a admitir: nasceu para ser socialite. Oriunda de uma família de empreiteiros de São Paulo, teve uma educação requintada. Aprendeu diversos idiomas e viajou o mundo. "Tudo isto para algum dia ser a mulher ideal de um homem rico e poderoso", afirma.

 

Por Tony Goes

 

Teve três maridos, e o terceiro se encaixa nessa descrição: é o deputado federal Valdemar Costa Neto, líder do Centrão e presidente do PL, atual partido de Jair Bolsonaro. Aliás, foi graças a ele que o nome de Maria Christina começou a sair na imprensa fora das colunas sociais.

 

Já separada do parlamentar, ela deu um depoimento contundente à CPI do Mensalão, em 2005, denunciando falcatruas que teria presenciado enquanto estiveram casados. Valdemar acabou sendo condenado a sete anos e dez meses de reclusão, e preso em 2012. Em 2015, foi indultado pelo STF (Supremo Tribunal Federal) e retomou a sua carreira política.

 

Maria Christina se mudou para os Estados Unidos em janeiro 2017, onde diz ter conseguido asilo político. "Existem 22 queixas-crime do PL contra mim. Sofri três acidentes de carro. Num deles, em maio de 2009, capotei quatro vezes, depois de ser abalroada por um veículo que vinha a mais de 100 km por hora. E tive um revólver apontado para a minha cabeça uma dez vezes. Era um modus operandi. Antes de cada operação estourar, vinha alguém me ameaçar: 'Se você falar alguma coisa, a gente te mata'."

 

Mas, apesar das ameaças que diz ter sofrido, ela sempre falou. E fala até hoje. Numa live transmitida pelas redes sociais em 18 de novembro do ano passado, Maria Christina voltou a atacar o ex-marido. Estava indignada com o pedido que o PL fizera ao TSE (Tribunal Superior Eleitoral) para desconsiderar os votos computados em urnas "antigas" e contabilizar apenas os das urnas "auditáveis", o que supostamente daria a vitória a Bolsonaro no segundo turno das eleições presidenciais.

 

"Ô, Valdemar, me poupe, né, querido? Sou sua ex-mulher. Eu fui casada com o dono do bordel do Congresso e conheço bem como é que você se movimenta", diz ela no vídeo. E arremata: "Eu vou fazer da sua vida um inferno".

 

Maria Christina conheceu Valdemar em 1992, quando já estava separada de seu primeiro marido, o empresário Fady Saad Tabet. O encontro ocorreu no restaurante Roppongi, em São Paulo, onde iria jantar com uma amiga. Valdemar se encantou na hora, diz Christina. Mas não foi correspondido. Na época, ela saía com Gilberto Miranda, ex-senador pelo Amazonas.

 

 

Maria Christina borda durante acareação na CPI do Mensalão, no Senado, em Brasília 

 

"Eu ia visitar o Gilberto no Congresso, e o Valdemar ficava me seguindo pelos corredores", conta. Durante anos, diz, o deputado insistiu mandando flores e convites para jantar. "De vez em quando eu ia, mas levava uma amiga junto para ver se ele se interessava por ela." Acabaram se perdendo de vista. Maria Christina se casou com o lobista americano James Rubin, então porta-voz da secretaria de Estado do governo Clinton, e foi morar com ele nos EUA. Rubin, posteriormente, passaria 20 anos casado com a jornalista Christiane Amanpour, da CNN.

 

Em 1999, novamente separada, voltou ao Brasil e pediu ajuda a Valdemar para repatriar móveis e objetos pessoais, que estavam armazenados em Miami. "Ele mandava nos aeroportos", afirma ela. Os dois foram jantar fora e, dessa vez, pintou um clima. "Como todo bom político, o Valdemar é muito sedutor. Não é um homem culto, mas é focado, esperto, muito inteligente. E era absolutamente louco por mim."

 

Com o relógio biológico batendo forte, Maria Christina sentiu que estava na hora de sossegar. "Eu queria ter filho, queria ter uma família", conta. Os dois passaram a viver juntos em 2002 e oficializaram a união no ano seguinte, em Las Vegas.

 

Mas ainda nem eram casados quando foram notícia juntos pela primeira vez. Foi em 4 de janeiro de 2003, quando voltavam de jatinho de Buriti Alegre (GO), onde haviam comparecido a uma festa do então tesoureiro do PT, Delúbio Soares, poucos dias depois da primeira posse de Lula (PT) como presidente da República.

 

O avião deslizou sobre um lençol d’água na pista do aeroporto de Congonhas, em São Paulo, despencou de um barranco e só parou na calçada da avenida Washington Luís, ferindo um pipoqueiro e danificando o carrinho de pipoca. Valdemar e Maria Christina saíram correndo da aeronave e pegaram um táxi, sem passar pelo terminal do aeroporto. "O Valdemar estava bêbado", ri Maria Christina. "Ele não podia dar entrevista naquele estado."

 

Durante algum tempo, Maria Christina foi a anfitriã das reuniões que Valdemar promovia com políticos em sua casa em Brasília. "Eu servia suco de maracujá feito com água exorcizada. Não era benta, era exorcizada mesmo, por um padre de Brasília, um dos poucos padres exorcistas que existiam no Brasil."

 

O idílio, segundo ela, começou a se dissipar em fevereiro de 2004, durante uma viagem oficial a Taiwan. "Éramos convidados do governo de lá, outros políticos foram também", conta. "Num almoço no Ministério taiwanês de Relações Exteriores, o ministro pediu para eu traduzir ao português o que ele iria falar em inglês para o Valdemar. E eu quase caí para trás. O cara disse: ‘A gente deu para você US$ 2 milhões [cerca de R$ 11 milhões pelo câmbio atual] para abrir um escritório comercial de Taiwan no Brasil. E até hoje, nada’. O Valdemar havia embolsado o dinheiro. Eu tinha ido dormir com o Martin Luther King e acordado com o Al Capone."

 

"Essa foi a primeira ‘red flag’ [bandeira vermelha, em inglês, expressão que significa sinal de alerta]. Dali para a frente, comecei a implicar com tudo. Via uma mala e perguntava: 'De onde veio? Para onde vai? O que tem dentro?'."

 

"Na Páscoa daquele ano, fomos a Punta del Este [no Uruguai] com um grupo de amigos. Quando eu desci do quarto e entrei no cassino do hotel, me disseram: ‘O Valdemar já perdeu um milhão de dólares’. Fiquei indignada, quis ir embora. Mas ele reclamou: ‘Onde é que você vai com a minha sorte, sua f.d.p?’ O casamento terminou ali. Subi para o quarto, ele foi atrás e ainda me deu um tapa. Depois, voltou para o cassino e passou a noite inteira jogando."

 

"Nós nos separamos de vez em junho de 2004. Para fazer picuinha, Valdemar mandou cortar a luz da minha casa. Cortou mesmo, diretamente num poste. Então eu contratei um caminhão-gerador, desses que se usam em festas."

 

"No ano seguinte, o Roberto Jefferson me chamou para depor na CPI do Mensalão. Ele queria ferrar com o José Dirceu e o José Múcio Monteiro [atual ministro da Defesa do governo Lula]. Me mandou um script, mas eu não sou atriz. Mandou também uma mala com R$ 700 mil. Claro que eu não aceitei. Se eu quisesse dinheiro, teria me casado com um príncipe europeu."

 

"O Lúcio Funaro tentou me comprar para eu falar mal do Valdemar, mas eu só falo a verdade", diz ela, se referindo ao doleiro que se envolveu em diversos escândalos de corrupção e acabou se tornando delator da Operação Lava Jato.

 

"O Lúcio era o mais perigoso de todos. Lembra da advogada Beatriz Catta Preta? Um dia ela chegou em casa, e lá estava o Lúcio brincando com o filho dela na sala. Com um revólver na mão." Maria Christina afirma ainda que Catta Preta, defensora de vários réus da Lava Jato, abandonou a carreira alegando que sofria ameaças veladas de morte —mas é contestada pela advogada (veja abaixo).

 

A ex-mulher de Valdemar garante que não guarda mágoas do parlamentar —"ele foi o maior professor que eu tive"—, mas, sim, de sua própria família. Segundo ela, seus dois irmãos e seu tio manobram na Justiça para que ela não tenha acesso à herança do pai, que morreu em 2009. "Eu sou uma vítima da violência patrimonial", se queixa.

 

Suspeita até que seus parentes estejam de conluio com o ex-marido, que teria influência no Tribunal de Justiça de São Paulo, onde corre a ação do espólio.

 

"O Valdemar pôs no nome do partido um monte de coisas que já eram minhas antes de nos casarmos. E ainda quer mais." O PL move uma ação para receber R$ 408 mil do espólio do pai de Maria Christina. A quantia teria sido gasta por ela em diversas despesas, durante o período em que esteve casada com o deputado.

 

 

"Ciro Nogueira, Roberto Jefferson, Valdemar, eles são todos iguais. Atuam do mesmo jeito. Não são políticos. São homens de negócios."

 

E o que ela acha da recente aliança do deputado com o agora ex-presidente? "O Valdemar sempre disse que o Bolsonaro é burro e do baixo clero. Mas ele fez uma conta política. Hoje está liderando esses malucos da extrema direita. Ele é uma águia, já sabia quantos votos ia ter em cada urna antes mesmo da eleição. Só que eu não sei quanto tempo vai aguentar esse arranjo. Afinal, o Bolsonaro equivale a umas cinco mulheres com TPM ao mesmo tempo."

 

A metralhadora giratória de Maria Christina atinge também Michelle Bolsonaro. Em uma live, ela chegou a sugerir que a ex-primeira-dama, anos atrás, se relacionou com Valdemar antes de se casar com Bolsonaro, em 2007. A fala teve ampla repercussão. "Deu umas saídas", repetiu à coluna. "A Michelle era o que a gente chama de Maria Emenda. Meninas que vêm do entorno de Brasília, ou mesmo do interior, atrás de políticos poderosos na capital." E dispara: "Tudo o que o Bolsonaro tem de burro, ela não tem."

 

Hoje Maria Christina Mendes Caldeira se define como ativista política. Também é corretora de imóveis em Miami, mas reclama que o mercado está parado. Em tempos de maior aperto financeiro, chegou a trabalhar como motorista de Uber. A função rendeu uma matéria no Correio Braziliense, que, segundo diz, acabou prejudicando-a.

 

"Fui fazer uma entrevista de emprego numa das maiores imobiliárias de Miami, e me recusaram. Disseram que o fato de eu dirigir Uber pegava super mal. Um trabalho honesto! Quer dizer então que estaria tudo bem se eu tivesse aceitado milhões de propina?"

 

Seus planos para 2023 incluem um curso de ciência política na American University, onde afirma que ganhou uma bolsa. Mas antes irá retirar um nódulo de um seio. "Preciso cuidar mais da minha saúde. Meu nível de cortisol é altíssimo, típico de pessoas que viveram situações de extremo estresse, como uma guerra."

 

Politicamente, Maria Christina se descreve apenas como "pró-democracia". Declarou apoio a Lula nas últimas eleições, mas diz que não é de esquerda nem de direita. "E, por acaso, esquerda e direita existem no Brasil?"

 

OUTRO LADO

 

A coluna procurou as pessoas citadas por Maria Christina Mendes Caldeira para comentar as suas declarações. Até a publicação deste texto, as assessorias de Valdemar Costa Neto e Michelle Bolsonaro não haviam se pronunciado.

 

Lúcio Funaro e Beatriz Catta Preta desmentiram categoricamente o episódio em que a advogada teria flagrado o doleiro brincando com seu filho, com um revólver na mão.

 

"Nunca sofri ameaças de morte ou coisa parecida", afirma Catta Preta. "Nunca deixei de advogar. Apenas saí dos casos da Lava Jato para preservar família e clientes. Assim como nunca saí do país, como foi noticiado na época. Continuo meu trabalho como sempre", afirma.

 

Funaro é ainda mais contundente. "Quanto a comprar a senhora Maria Christina Mendes Caldeira, na minha vida eu nunca comprei mercadoria de segunda qualidade e com prazo vencido, que é o caso da mesma. Quanto a ela só falar a verdade, faz muito tempo que não ouço uma besteira tão grande."

 

O Tribunal de Justiça de São Paulo, por sua vez, afirma que o desembargador Luiz Antonio Costa "não tem nenhum vínculo com o PL e nunca foi filiado a qualquer partido". E acrescenta: "Os magistrados são impedidos pela Lei Orgânica da Magistratura de se manifestar sobre casos em andamento".

 

Já a assessora do ex-deputado Roberto Jefferson afirma que "o Roberto não vai se pronunciar, pois está preso".

 

A coluna ainda procurou o advogado Eduardo Lazareschi, que defende os irmãos e o tio de Maria Christina, mas não teve resposta.

 

Posted On Segunda, 06 Fevereiro 2023 04:05 Escrito por O Paralelo 13

O Site Metrópoles publica matéria jornalística que levam a provas  que ligam Michelle Bolsonaro à suspeita de caixa 2 no palácio

 

 AS PROVAS QUE LIGAM MICHELLE BOLSONARO AO CAIXA 2 DA PRESIDÊNCIAEX-PRIMEIRA-DAMA É SUSPEITA DE SE BENEFICIAR DE “RACHADINHA”

 

AS CONFUSÕES QUE FIZERAM FILHOS DE BOLSONARO SEREM EXPULSOS DO PALÁCIO

 

O MISTERIOSO SUMIÇO DAS PICANHAS E DAS “MOEDAS DA SORTE” DA RESIDÊNCIA OFICIAL

 

FUNCIONÁRIOS DENUNCIAM ASSÉDIO E PERSEGUIÇÃO COM AVAL DOS BOLSONAROS

 

POR: RODRIGO RANGEL E SARAH TEÓFILO

 

As infiltrações no teto, os móveis terrivelmente deteriorados e o piso de jacarandá esburacado e sem manutenção são só a face aparente de uma fase do Palácio da Alvorada que, embora não tenha nada de áurea ou épica, a história não poderá jamais esquecer.

 

Para além dos já conhecidos estragos deixados para trás, nos quatro anos em que esteve à disposição de Jair e Michelle Bolsonaro, o prédio projetado por Oscar Niemeyer para ser a principal residência da Presidência da República do Brasil foi lugar de confusões barulhentas, assédio moral a funcionários e de transações financeiras pouco usuais que vão ao encontro das suspeitas de caixa 2 reveladas há duas semanas pela coluna e que, neste momento, estão sob investigação do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal.

 

Relatos de quem viveu o cotidiano do palácio nos últimos anos, documentos e outros registros inéditos, como gravações e mensagens de WhatsApp, revelam segredos do período em que a residência oficial foi ocupada pelos Bolsonaros e escancaram a diferença abissal entre o discurso público do ex-casal presidencial e o comportamento adotado longe dos holofotes, por detrás das vidraças do Alvorada.

 

Para esta reportagem, ao longo das últimas semanas entrevistamos vários funcionários do palácio, incluindo militares. Alguns aceitaram gravar depoimentos, desde que não tivessem suas identidades reveladas. Outros concordaram apenas em contar o que viram, sem registro em vídeo.

 

De cima a baixo na hierarquia do Alvorada, do restrito staff que servia à família até, literalmente, a turma que cuida dos gramados onde passeiam as emas, há histórias ilustrativas de um lado do poder que destoa – e destoa bastante – daquele que é exibido costumeiramente ao distinto público.

 

Histórias como as do pastor evangélico amigo de Michelle presenteado com o cargo de administrador do palácio que esculhambava os subordinados e ameaçava até suspender o lanche de quem ousasse questioná-lo — tudo, segundo ele próprio disse em uma reunião gravada às escondidas, com aval da então primeira-dama.

 

Há mais. Michelle, com alguma frequência, protagonizava brigas colossais com Carlos e Jair Renan, os filhos 02 e 04 de Jair Bolsonaro. Numa dessas confusões, na frente dos empregados, o 04 precisou ser contido pelo pescoço por um segurança.

 

Bolsonaro, em um dia de fúria, arrombou a adega do palácio – sim, o então presidente da República pôs abaixo, com o pé, a porta do cômodo onde fica guardado o estoque de vinhos da residência oficial.

 

Já nos estertores do governo, funcionários da confiança de Bolsonaro e de Michelle levaram embora caixas e mais caixas de picanha, camarão e bacalhau comprados com dinheiro público que estavam armazenadas na câmara frigorífica anexa à cozinha.

 

Ainda nos últimos dias de 2022, moedas jogadas por turistas no espelho d’água que enfeita a entrada do Alvorada foram “pescadas” e carregadas pelo “síndico” do palácio, também com autorização de Michelle – supostamente para serem doadas a uma igreja

 

Alguns dos episódios, ainda que relevantes, são quase pitorescos. Mas há outros graves – ou gravíssimos. Os funcionários relatam como se dava o fluxo de dinheiro – dinheiro vivo – entre o Palácio do Planalto e o Alvorada para bancar despesas privadas da primeira-dama e de seus parentes.

 

Com regularidade, várias vezes por mês, a equipe encarregada de auxiliar Michelle recebia a incumbência de passar no Planalto para pegar os recursos, em espécie, na sala do tenente-coronel do Exército Mauro Cesar Cid, o agora notório ex-ajudante de ordens de Bolsonaro.

 

Cid, que após a reportagem publicada aqui no último dia 20 tornou-se o pivô da queda do comandante do Exército, é investigado, entre outras coisas, pela suspeita de gerenciar o caixa 2 palaciano com verbas que tinham como origem, inclusive, saques feitos na boca do caixa com cartões corporativos do governo.

 

Mensagens obtidas com exclusividade pela coluna mostram que bastava um pedido de Michelle para que Cid autorizasse os assessores da primeira-dama a retirarem o dinheiro, no Planalto, com algum dos militares que integravam seu time na ajudância de ordens do então presidente da República. Também era ele quem providenciava depósitos, igualmente em dinheiro vivo, na conta pessoal da mulher de Jair Bolsonaro.

 

Há evidências, ainda, de que Michelle, primeira-dama do Brasil até 31 de dezembro passado, recebia com regularidade, no Alvorada, envelopes de dinheiro enviados por Rosimary Cardoso Cordeiro, amiga íntima que no primeiro ano do governo de Jair Bolsonaro viu seu salário de assessora no gabinete de um senador governista ser quase triplicado.

 

Os indícios, que poderão ser esquadrinhados minuciosamente na investigação em curso no STF, apontam para mais uma “rachadinha” no ex-clã presidencial.

 

Áudios e outros registros aos quais a coluna teve acesso comprovam que assessores de Michelle no Palácio da Alvorada tinham por tarefa pegar com Rosi – seja no prédio dela, no Riacho Fundo, região administrativa do DF, seja em um ponto de encontro entre o Planalto e o Congresso Nacional — os envelopes recheados de notas de reais.

 

Michelle e o “pastor-capeta”

 

Se para o público externo a ex-primeira-dama tentava se mostrar sempre afável e sorridente, quem convivia com ela na intimidade do Alvorada relata uma rotina bem diferente, cheia de sobressaltos.

 

Descrita como uma pessoa temperamental, de humores que mudavam de supetão, Michelle costumava destratar a equipe de funcionários escalada para auxiliá-la. Algumas assessoras chegaram a pedir para deixar o trabalho, queixando-se da maneira como eram tratadas.

 

Pelo menos uma delas cogitou processar a então primeira-dama por assédio. Acabou desistindo do plano por entender que não teria força para levar adiante uma querela judicial contra alguém que, àquela altura, estava no topo do poder. Outra assessora foi embora sem ouvir nem sequer um obrigado.

 

O relacionamento difícil de Michelle com o staff que a atendia mais proximamente se refletia nas demais relações de trabalho dentro do palácio, inclusive naquelas que envolviam pessoas simples, como jardineiros e funcionários da limpeza.

 

O Alvorada está num terreno que equivale a 50 campos de futebol, à beira do Lago Paranoá. De área construída, o edifício inaugurado em 1958 tem 7 mil metros quadrados, distribuídos em três pavimentos. Para funcionar, a megaestrutura palaciana conta com uma tropa de empregados, civis e militares. São cerca de duas centenas de pessoas, que cuidam do atendimento mais direto aos inquilinos de momento – há maître, garçons, cozinheiros, camareiros, motoristas – e dos serviços de manutenção predial e dos jardins.

 

Em fevereiro de 2021, a tarefa de comandar a máquina do Alvorada foi confiada por Michelle ao pastor Francisco de Assis Castelo Branco (foto acima), próximo da família desde os tempos em que ela e Bolsonaro moravam no Rio. Francisco, ou Chico, como era chamado na intimidade do clã, é marido de Elizângela Castelo Branco, intérprete de Libras que, de tão íntima da ex-primeira-dama, chegou a acompanhá-la na viagem de fim de ano à Flórida. Ainda no Rio, Michelle, Elizângela e Francisco integravam um núcleo da Igreja Batista Atitude voltado à comunidade surda.

 

Com a vitória de Bolsonaro nas eleições de 2018, o casal se mudou para Brasília e foi empregado no governo. Francisco ganhou primeiro um cargo no Planalto, com salário de R$ 5,6 mil. Depois, foi transferido para o Alvorada ganhando quase o dobro. Na função de coordenador do palácio, ganhou dos empregados o epíteto de “pastor-capeta” pelo rigor com que tratava os subordinados. A fama de mau não demorou a vir, graças à maneira como lidava com empregados e às sucessivas demissões que promoveu. Teve gente que foi mandada embora porque levou para casa algumas mangas do pomar do palácio – o que antes da chegada dele era algo corriqueiro. “Ele assediava as pessoas e ameaça de demissão o tempo todo. E dizia que a primeira-dama tinha conhecimento de tudo e autorizava essa postura”, afirma um dos funcionários que aceitaram dar entrevista (assista, a seguir, a um dos depoimentos).

 

No ano passado, o pastor convocou uma reunião com os empregados da empreiteira contratada pelo governo para cuidar da jardinagem do Alvorada. O motivo: ele queria chamar a atenção de funcionários que haviam se queixado porque estavam sendo obrigados a limpar um banheiro de serviço – como eram contratados para cuidar do jardim, alguns alegavam que estavam em desvio de função. Sobrou para todos. Em 25 minutos de monólogo, Francisco desfilou a arrogância que lhe rendeu o apelido indesejado. “Quem não pode limpar o banheiro não pode nem cagar. Caga no mato, então, caga em casa. Entendeu? Usa aquela bolsa. Porque é sacanagem isso”, estrilou. Ele ameaçou cortar o lanche que era oferecido diariamente ao grupo. O pastor ainda explicou, do seu modo, sem papas na língua, por que empregados da Novacap, a companhia urbanizadora de Brasília, haviam sido cortados do Alvorada: além de “velhos”, disse, eram “preguiçosos”. O tom de ameaça era explícito (ouça a seguir os principais trechos da reunião).

 

A decisão de proibir os funcionários de escalão mais baixo de entrar na área do palácio portando telefones celulares gerou situações desagradáveis. Uma senhora passou o dia sem saber que um parente havia morrido, relata um ex-empregado. Ela só recebeu a notícia ao final do expediente porque o administrador não havia nem sequer deixado um telefone por meio do qual os funcionários poderiam ser acionados por familiares em caso de emergência. “Ele destratava os empregados, especialmente os mais humildes”, diz um militar que lidava com frequência com o pastor.

 

O sumiço da picanha e das “moedas da sorte”

 

O pastor Francisco também é personagem de dois episódios ocorridos no Alvorada já nos derradeiros dias do governo Bolsonaro e que, até agora, eram conhecidos apenas por quem vive os bastidores do palácio.

 

Na primeira visita que fez à residência após a vitória de Luiz Inácio Lula da Silva, a atual primeira-dama, Janja da Silva, e seus auxiliares disseram que não teriam interesse nos mantimentos perecíveis – comprados com dinheiro público – que os Bolsonaro deixariam na despensa. Janja, então, autorizou os funcionários a dividirem o farnel entre si. Ocorre que foram poucos, ou pouquíssimos, os que se beneficiaram.

 

Funcionários relatam que os itens de maior valor, como carnes nobres – peças de picanha e filé mignon, por exemplo – e fardos de camarão e bacalhau, simplesmente desapareceram. Testemunhas dizem que um grupo restrito de funcionários ligados à administração fez a limpa na despensa, sem compartilhar com os demais.

 

Numa adaptação para os trópicos de um costume típico de atrações como a Fontana di Trevi, em Roma, turistas que visitam o Alvorada jogam moedas no espelho d’água que decora a frente do palácio presidencial. É um gesto que, diz a crença popular, traz sorte. Pouco antes de os Bolsonaro deixarem o palácio, funcionários receberam uma ordem para esvaziar o fosso e juntar as milhares de moedas acumuladas ali. Pastor Francisco – de novo ele – foi quem tomou a frente. Disse que o pedido havia sido feito por Michelle Bolsonaro.

 

A “pescaria” rendeu um balde cheio – não se sabe exatamente quanto havia. Funcionários dizem que Francisco levou as moedas embora, dizendo que as doaria para uma igreja. “Se ele doou ou não, não sei, mas ele falou que era a mando da Michelle”, relata um empregado do palácio. O pastor Francisco, a despeito da amizade íntima com o casal Bolsonaro, até se movimentou para ficar no Alvorada de Lula. Não conseguiu. Foi exonerado no último dia 5 de janeiro.

 

Bolsonaro e o arrombamento da adega do palácio

 

Imagine um presidente da República, em um lance de fúria, dando um chute e derrubando uma porta a pontapés dentro do palácio presidencial. Pois isso aconteceu.

 

Jair Bolsonaro recebia um visitante no Alvorada quando teve a ideia de presenteá-lo com uma garrafa de vinho. Os dois foram, então, até a adega, instalada em um dos cômodos do subsolo do palácio, perto da cozinha.

 

Ao chegar lá, o então presidente encontrou a porta trancada e pediu aos empregados de plantão que lhe trouxessem a chave. Foi avisado de que havia uma ordem expressa de Michelle para que a adega não fosse aberta para absolutamente ninguém – nem mesmo para ele.

 

Entre os funcionários, o motivo da ordem era sabido, embora não fosse pronunciado com todas as letras em razão da sensibilidade do assunto: Michelle estava enfurecida porque Jair Renan, filho 04 de Bolsonaro, andava visitando o Alvorada fora de hora – longe dos olhos dela, mas com o aval do pai – e levando consigo garrafas de bebidas.

 

Para frear a farra do garoto, seu desafeto, a saída foi mandar trancar a adega e baixar a determinação, que passou a ser cumprida a ferro e fogo.

 

Os funcionários tinham mais medo da primeira-dama do que do próprio Bolsonaro. Muitas vezes, dentro do palácio, aquele personagem autoritário e machista que era conhecido à larga pelos brasileiros assumia outra versão, a de um marido obediente e resignado. Era quase sempre assim. Mas havia exceções e o capitão mandão e abrutalhado voltava à cena.

 

Até chegar na adega, Bolsonaro não sabia da ordem de Michelle. Descobriu quando passou pelo constrangimento de, na frente do convidado, ouvir dos funcionários que a porta simplesmente não poderia ser aberta. Enfurecido, diante da visita e dos serviçais, arrombou a adega e pegou a garrafa de vinho que queria dar de presente. Não sem antes se queixar da situação. A porta passou dias quebrada (veja o relato no vídeo a seguir).

 

A guerra de Michelle com Carluxo e Jair Renan

A relação de Michelle Bolsonaro com os filhos dos casamentos anteriores de Jair Bolsonaro nunca foi das melhores. As rusgas eram comuns. Flávio e Eduardo Bolsonaro, o 01 e o 03, ainda se esforçavam para manter alguma proximidade. Com Carlos Bolsonaro e Jair Renan, o 02 e o 04, porém, era guerra quase permanente. No período em que Bolsonaro e Michelle ocuparam o Alvorada, o palácio foi palco de várias brigas estrepitosas da dupla com a então primeira-dama. Uma delas se deu na semana do debate presidencial em que Bolsonaro e Lula se enfrentaram pela última vez antes do segundo turno da eleição.

 

Os funcionários contam que Carlos chegou ao palácio acompanhado dos seguranças de sua escolta e foi impedido de entrar. Ordens de Michelle. Seguiu-se um barulhento bate-boca entre ele e o administrador da residência, o pastor Francisco Castelo Branco, encarregado pela então primeira-dama de fazer valer a proibição. Carluxo ainda tentou insistir, mas não houve jeito. Chorando e gritando pelo estacionamento do palácio, ele foi obrigado a ir embora.

 

Bolsonaro, que tinha passado as horas anteriores se preparando para o confronto com Lula, foi avisado da contenda. No meio do fogo cruzado, ficou enfurecido, mas não houve muito o que fazer. Corroborando os relatos dos funcionários, assessores próximos do ex-presidente relataram à coluna que a briga o abalou e fez com que ele chegasse nervoso para o debate.

 

Bolsonaro se queixava do tratamento que Michelle dispensava a Carlos e Jair Renan. Por mais de uma vez, desabafou sobre o assunto com empregados, com os quais tomava café com alguma frequência. Dizia que, enquanto seus filhos eram proibidos de ir ao palácio, a família de Michelle tratava o Alvorada como extensão da própria casa. “Ele reclamava dizendo que, principalmente nos finais de semana, a Ceilândia estava em peso lá. E isso era verdade”, afirma um funcionário. “A Ceilândia” era a maneira como Bolsonaro se referia aos parentes de Michelle que moram na cidade-satélite de Brasília.

 

As comparações entre os dois lados com o outro eram inevitáveis. Entre os funcionários era sabido que os parentes de Michelle tinham acesso livre a itens da despensa e aos serviços da cozinha do palácio. Dona Helena, a tia da primeira-dama que trabalhava como babá de Laura, a filha do então casal presidencial, levava para casa com certa frequência pacotes de comida preparados especialmente para ela pelos cozinheiros da residência oficial. Com autorização de Michelle.

 

Jair Renan, por um período, gozou de mordomia parecida. No período em que morou no apartamento que o pai mantém no Sudoeste, bairro nobre da capital, ele não só passava regularmente no depósito de alimentos do Alvorada para recolher itens e abastecer a própria despensa como era servido, diariamente, com comida fresca preparada na cozinha do palácio que os motoristas da Presidência eram incumbidos de entregar, a bordo de carros oficiais. Até que veio um dos entreveros com Michelle e uma das regalias foi cortada sumariamente.

 

A suspensão da “entrega de marmita” para o 04 – era assim que os servidores se referiam à tarefa – se deu após uma apimentada intriga palaciana. Os funcionários avisaram Michelle de que, a certa altura, Jair Renan passou a pedir comida não só para si, mas também para uma segunda pessoa. Não demorou para que alguns funcionários do staff envenenassem a primeira-dama dizendo que a tal “segunda marmita” era para a mãe do 04, Ana Cristina Valle. A ex de Jair Bolsonaro e Michelle são inimigas declaradas. A primeira-dama, então, ordenou que as entregas pela equipe do Alvorada, uma espécie de iFood oficial, à custa dos cofres públicos, fossem cortadas de vez.

 

As visitas em que 04 fazia da despensa do Alvorada seu mercado particular costumavam ocorrer quando o pai dele estava no palácio. Em uma das ocasiões, Bolsonaro estava fora e Jair Renan foi mesmo assim. Michelle foi avisada e foi ao encontro dele. Logo estava armado mais um barraco presidencial. Houve dedos em riste e xingamentos de parte a parte, na frente dos funcionários. Jair Renan chegou a avançar na direção dela e precisou ser contido pelo segurança que o acompanhava.

 

A suspeita de “rachadinha” com a amiga

Na reportagem publicada pela coluna no último dia 20, mostramos que Michelle Bolsonaro usava um cartão de crédito adicional de Rosimary Cardoso Cordeiro (foto abaixo), uma amiga de mais de 15 anos que conheceu quando ambas trabalhavam em gabinetes da Câmara dos Deputados.

 

Investigações conduzidas pela Polícia Federal sob o comando do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal, descobriram que as faturas do cartão eram pagas com dinheiro em espécie administrado pelo tenente-coronel Mauro Cesar Cid, ajudante de ordens e um dos principais homens de confiança de Jair Bolsonaro até 31 de dezembro.

 

A relação insólita já havia despertado a curiosidade dos investigadores. Por que, afinal, a primeira-dama do Brasil usava um cartão de uma terceira pessoa, e os boletos eram pagos sempre em espécie pelo militar suspeito de administrar uma espécie de caixa 2 dentro da Presidência em que se misturavam recursos públicos e privados, inclusive de saques de cartões corporativos oficiais?

 

Novos elementos obtidos pela coluna atestam que a desconfiança dos policiais não era sem razão. Eles mostram que a relação entre as duas amigas ia bem além do cartão emprestado.

 

A carreira de Rosi, antes uma assessora parlamentar ordinária remunerada com salários relativamente baixos, teve um salto meteórico que coincide com a ascensão de Michelle Bolsonaro ao posto de primeira-dama.

 

 

Assessora do senador bolsonarista Roberto Rocha, do PTB do Maranhão, cujo mandato terminou na última terça-feira, ela ganhava pouco mais de R$ 6 mil até os primeiros meses do governo Bolsonaro. Por ser amiga íntima de Michelle e representar uma oportunidade de estreitar laços entre o parlamentar e o novo governo por suas relações com a família presidencial, logo ela foi promovida. Passou a ganhar quase R$ 17 mil.

 

A promoção coincide com um movimento que a investigação de Moraes e da PF será capaz de esquadrinhar à perfeição. Com salário novo e vitaminado, Rosi passou a enviar para a primeira-dama “encomendas” regulares – muitas vezes, envelopes cujo conteúdo era possível identificar no tato: dinheiro em espécie.

 

Funcionários do Palácio do Alvorada tinham autorização permanente para realizar a operação de busca-e-traz, a bordo de carros oficiais da Presidência. Pegavam as tais encomendas com Rosi nas proximidades do Congresso Nacional ou no prédio dela, no Riacho Fundo. Levavam para o Alvorada.

 

A tarefa, regular, era conhecida das pessoas que integram o staff de confiança de Michelle. Há registros em profusão dessas operações. Entre os funcionários, havia quase uma certeza: a de que

 

Rosi repassava a Michelle uma parte do salário que ganhava no Senado – algo que a simples quebra do sigilo bancário da amiga poderá demonstrar.

 

Cabia à própria Rosi, tratada na intimidade do palácio pelo apelido carinhoso de Chuchu, acionar os auxiliares de Michelle, como mostra este áudio, em que ela pede para buscar a “encomenda da Mi”:

 

Na quarta-feira, Rosimary escoltou Michelle Bolsonaro na visita que a agora ex-primeira-dama fez ao Senado para pedir votos em favor do senador Rogério Marinho, candidato do bolsonarismo à presidência da casa, que seria derrotado horas depois por Rodrigo Pacheco. Sem emprego após o término do mandato de Rocha, está tudo certo para Rosi ser nomeada nos próximos dias como assessora do gabinete de Damares Alves, outra amiga do peito da ex-primeira-dama.

 

“O salário que ela tinha lá eu não vou manter, não tenho condições. Vai ser menos. (…) Mas entre ela ficar desempregada e ficar lá comigo, neste momento ela vai ficar comigo. Pelo menos o básico é garantido”, disse Damares à coluna nesta sexta-feira.

 

 

O caixa 2 e a “cliente vip”

As investigações do STF que miram o tenente-coronel Cid por suas transações financeiras com dinheiro em espécie no gabinete de Jair Bolsonaro trarão Michelle como uma espécie de cliente vip dos serviços do militar.

 

Mensagens e outros documentos aos quais a coluna teve acesso mostram que, a cada vez que precisava de algum dinheiro, a primeira-dama mandava que seus auxiliares passassem no Planalto para buscar dinheiro com Cid. As operações, invariavelmente, envolviam recursos em espécie. Dinheiro vivo mesmo.

 

Um time da confiança do tenente-coronel, formado por pelo menos outros três oficiais, estava sempre de prontidão e em condições atender, seja para fazer depósitos solicitados por Michelle, seja para entregar valores que eram usados pelos próprios auxiliares da então primeira-dama para pagar boletos e outras despesas de ordem particular, dela ou de familiares dela.

 

Uma das despesas regulares pagas dessa forma era a mensalidade do curso de arquitetura de uma meia-irmã da primeira-dama, Geovanna Kathleen:

 

Por vezes, Michelle pedia que Cid entregasse a seus funcionários recursos que, na sequência, eram entregues em mãos a seus parentes, na Ceilândia. Em outras ocasiões. Tudo era tratado, quase sempre, por meio de mensagens de WhatsApp, o que está facilitando enormemente o trabalho dos investigadores a serviço de Alexandre de Moraes.

 

Na própria nuvem de dados de Cid há um conjunto de mensagens que dão o caminho. Como esta, em que um assessor da então primeira diz ao militar que “dona Michelle” havia pedido para “fazer um saque” para pagar um boleto de parcos R$ 584,60. Cid responde prontamente: “Só peça dinheiro a mando dela!!!”. “Eu estou indo pra rua agora qualquer coisa eu passo no planalto e pego”, escreve na sequência o assessor de Michelle.

 

Em algumas oportunidades, os valores solicitados eram maiores. Em 11 de janeiro de 2021, por exemplo, um assessor do Alvorada diz a Cid que Michelle pediu para transferir R$ 3 mil na conta dela.

 

Quando tinha que atender pedidos para destinar recursos à conta pessoal da primeira-dama, a equipe de Cid fazia depósitos em espécie, na boca do caixa, como mostra o comprovante abaixo.

 

Os segredos do Alvorada da era Bolsonaro ainda têm muito o que render.

 

O outro lado

 

A coluna não conseguiu contato com Jair e Michelle Bolsonaro. Tampouco com Francisco Castelo Branco, ex-administrador do Alvorada, e com o tenente-coronel Mauro Cid.

 

Rosimary Cordeiro, a amiga de Michelle empregada no Senado, negou que enviasse envelopes com dinheiro para a então primeira-dama e que encontrasse funcionários do palácio para entregar as “encomendas”.

 

“De onde você tirou isso? Isso nunca existiu”, desconversou. Ela desligou o telefone antes de ser informada que a coluna teve acesso a mensagens que mostram os contatos dela com a equipe de Michelle, inclusive em áudio, para marcar os encontros.

 

 

Posted On Sábado, 04 Fevereiro 2023 07:43 Escrito por O Paralelo 13
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