Líderes do MDB não gostaram do discurso de ruptura do presidente; PSD e PSDB avaliam apoiar pedido de impeachment
Do site o tempo
O discurso de ruptura feito por Jair Bolsonaro (sem partido) aos seus apoiadores nesta terça-feira, 7 de setembro, na avenida Paulista, em São Paulo, reverberou mal em Brasília. Segundo a jornalista da GloboNews Natuza Nery, o Movimento Democrático Brasileiro (MDB) já orientou os líderes da legenda na Câmara e no Senado que "caiam fora" do governo.
Segundo a jornalista, o partido teme ficar com a impressão de que compactua com a ruptura democrática sugerida pelo presidente.
No Twitter, o presidente nacional da sigla, Baleia Rossi, endossou o espanto com o discurso do presidente: “São inaceitáveis os ataques a qualquer um dos poderes constituídos. Sempre defendo a harmonia e o diálogo. Contudo, não podemos fechar os olhos para quem quem afronta a Constituição. E ela própria tem os remédios contra tais ataques”, escreveu o deputado.
Apoio a impeachment será discutido
Desde cedo, lideranças dos principais partidos da situação vieram a público já admitindo abrir discussão sobre um eventual pedido de impeachment de Jair Bolsonaro.
Pela manhã, o governador de São Paulo, João Doria (PSDB), afirmou que o pronunciamento do presidente em Brasília “ era claramente afronta à Constituição”.
“Eu nunca havia feito uma manifestação pró impeachment, me mantinha na neutralidade, entendendo que os fatos deveriam ser avaliados e julgados pelo Congresso Nacional, mas depois do que assisti e o que ouvi em Brasília, antes mesmo de ouvir o que ele pronunciará aqui [em São Paulo], ele claramente afronta a Constituição, desafia a democracia e empareda a Suprema Corte brasileira”, afirmou.
Pouco depois, o presidente nacional do PSDB, Bruno Araújo, anunciou a convocação emergencial da Executiva Nacional do partido para esta quarta-feira (8). A reunião terá objetivo de “discutir a posição do partido sobre abertura de Impeachment e eventuais medidas legais”.
Na mesma linha, Gilberto Kassab, líder do PSD, disse que vai instaurar uma comisssão para saber se apoia ou não apoia o pedido de impeachment.
Por Eduardo Gayer
A popularidade do governo Jair Bolsonaro apresentou piora nesta semana. De acordo com pesquisa do banco ModalMais em parceria com a AP Exata, adiantada ao Broadcast Político, o porcentual de pessoas que avaliam a gestão federal como ruim ou péssima subiu de 50,3% para 50,6% nos últimos sete dias, enquanto aqueles que veem o governo como bom ou ótimo cederam de 28,2% para 27,5%. A avaliação regular, por sua vez, oscilou de 21,5% para 21,9% no mesmo intervalo.
Segundo a pesquisa, os protestos pró-Bolsonaro convocados para o dia da independência têm encontrado dificuldades de angariar apoio fora da bolha governista. "As manifestações sobre ruptura democrática têm sido periféricas, o que demonstra que o movimento não é golpista", defendem os institutos, que identificaram aumento de 142% nas menções aos evangélicos quando o assunto são as manifestações de 7 de setembro.
Legislativo
O levantamento ainda traz que as resistências no Senado a projetos endossados na Câmara expõem "uma dissonância" entre os presidentes das Casas, Rodrigo Pacheco (DEM-MG) e Arthur Lira (PP-AL). "A semana termina revelando que a articulação política do governo está se deteriorando", afirma o relatório.
Nesta semana, o Senado rejeitou a Medida Provisória (MP) da minirreforma trabalhista, endossada pela Câmara. Além disso, nos bastidores, senadores mostram resistência à reforma do imposto de renda, também aprovada pelos deputados.
Por Robson Bonin
O deputado Ricardo Barros (PP-PR), líder do governo na Câmara, o presidente Jair Bolsonaro, o presidente do PP, senador Ciro Nogueira (PI), e o deputado Arthur Lira (AL), líder do PP na Câmara
Partido do chefe da Casa Civil, Ciro Nogueira, o PP começou a abandonar o projeto eleitoral de Jair Bolsonaro em 2022.
Em diferentes estados do Nordeste, a sigla já encaminhou alianças com Lula para a disputa presidencial.
Enquanto Bolsonaro segue sem partido e sem um esquema de alianças para a corrida eleitoral, os partidos do centrão estão em fase avançada de articulações com a oposição.
A situação é tão inusitada que Bolsonaro não teria a fidelidade do PP na disputa presidencial. Se voltar ao partido para tentar a reeleição, o presidente precisaria aturar a traição de aliados país afora. “O maior cabo eleitoral de Lula no Nordeste é a fome, que voltou. Nem Ciro nem Bolsonaro teriam condições de obrigar o partido não apoiar Lula em 2022”, diz um importante cacique do PP nordestino.
Vice de Rui Costa na Bahia, João Leão é que vem costurando o apoio do PP a Lula no partido de Nogueira: “Estamos juntos com Lula independentemente de qualquer condição”, disse ele outro dia.
Leão é pai do líder da bancada do PP na Câmara, Cacá Leão. Tem peso no partido para bater de frente com Ciro Nogueira. Bolsonaro é hoje “adversário” dos caciques do PP na Paraíba, em Pernambuco, na Bahia e pode perder outros redutos. Certeza de apoio do partido, ele tem no Sul, onde o discurso bolsonarista ainda é forte, e em alguns estados do Centro-Oeste.
No Nordeste, pode conseguir o apoio do PP de Arthur Lira em Alagoas, talvez ganhe alguma coisa no Rio Grande do Norte, mas a vida não será fácil para o presidente com seus “aliados” do centrão.
Senadores fecham "atalho" explorado pelo governo com Arthur Lira, que dava à Câmara poder de decisão final sobre projetos, 'recheados de "jabutis"
Por José Casado
Em apenas sete dias, o governo amargou três derrotas no Senado.
Na quarta-feira da semana passada, Jair Bolsonaro assistiu à rejeição do seu pedido de impeachment de um ministro do Supremo Tribunal Federal.
Ontem, viu a derrubada da sua minirreforma trabalhista e a revogação do limite para gastos de empresas estatais com a saúde dos empregados.
Ficou pior. Com apoio declarado de ampla maioria (63%) do plenário, o presidente do Senado Rodrigo Pacheco anunciou o fim de um “atalho” muito explorado pelo governo, em coordenação com o presidente da Câmara, deputado Arthur Lira, que dava aos deputados o poder de decisão definitiva sobre os projetos, principalmente Medidas Provisórias.
Pacheco deixou claro que os senadores haviam perdido a “confiança” na Câmara, porque deixara de cumprir “compromissos”.
Há tempos, deputados agrupados no bloco Centrão, liderado por Lira, têm ignorado mudanças feitas pelo Senado em projetos apresentados pelo governo (Medidas Provisórias).
Medidas Provisórias, por exemplo, eram recebidas na Câmara, e aprovadas com dispositivos negociados por deputados aliados do governo — os “jabutis”, na ironia parlamentar.
Os textos seguiam para o Senado, que expurgava os “jabutis”. Pelo rito legislativo, as MPs obrigatoriamente voltavam à Câmara, que restaurava o conteúdo modificado pelos deputados em votação definitiva. Na sequência, Bolsonaro sancionava.
Ontem, os senadores decidiram se rebelar durante a votação da minirreforma trabalhista proposta pelo governo. A Medida Provisória já havia sido aprovada no Senado no ano passado, e foi remetida à Câmara com 25 artigos. Voltou recheado de “jabutis”, comum total de 94 artigos.
Cid Gomes (PDT-CE) resumiu o problema: “O que a Câmara descobriu foi um atalho para transformar o sistema legislativo brasileiro num sistema unicameral.”
“É inacreditável”, comentou o senador José Aníbal (PSDB-SP). “Inacreditável que a Câmara, ao discutir essa medida provisória, tenha acrescentado 69 artigos – 69 artigos! –, entre eles, um que modifica 70 dispositivos da Consolidação das Leis do Trabalho. Realmente, é um escárnio!”
Esperidião Amin (PP-SC) completou: “a Câmara, como regra, não respeita e deixa que os ‘jabutis’ trafeguem. E agora nós estamos, mais uma vez, vivenciando isso. Num único artigo, alteraram mais de 70 dispositivos da CLT.”
Líder do governo, Fernando Bezerra (MDB-PE), apelou às supostas virtudes do projeto, como a promessa governamental de criação de três milhões de empregos.
Diante da resistência, foi ao limite e ameaçou renunciar ao posto. “Quero dizer, em nome da Liderança do Governo que, se o texto aprovado aqui não for respeitado pela Câmara, eu me retiro da Liderança do Governo. Não tenho condições de continuar, porque acordos são sendo feitos para serem cumpridos”.
Omar Aziz (PSD-AM) não resistiu ao bom-humor. “Nós vamos votar contra para mantê-lo na Liderança, porque eles [os deputados] não vão cumprir. E, se o senhor largar a Liderança, aí é que vai ficar muito mais difícil essa interlocução [com a Câmara e o governo].”
A derrota do governo foi por ampla maioria (47 votos contra 27). Repetiu-se, na sequência, na derrubada do limite para gastos com planos de saúde dos empregados de empresas estatais.
Há extravagâncias, como gastos de até R$ 3 mil por empregado quando a despesa por habitante no orçamento do Sistema Único de Saúde é de R$ 59,00.
O alvo, no entanto, era o projeto governamental de privatização dos Correios, onde estão empregados mais de 100 mil carteiros. Os senadores consideram questionável a venda dessa estatal no formato proposto pelo Ministério da Economia. Há, também, um componente eleitoral, segundo o presidente da CAE, Otto Alencar (PSD-BA): mesmo quem é a favor da privatização não quer relatá-lo.
A lista de fracassos do governo no Senado deve ser ampliada ainda nesta semana, com a devolução de uma Medida Provisória regulamentando investimentos em ferrovias. Isso porque há um projeto em andamento desde de 2018, do senador licenciado José Serra (PSDB-SP).
A Casa Civil sabia que seria aprovado, e mesmo assim o governo decidiu editar uma MP nesta semana. Resultado: será atropelado. Numa rara iniciativa, a Comissão de Assuntos Econômicos pediu ao presidente do Senado, por escrito, que devolva a Bolsonaro o texto que ele enviou. Foi decisão unânime, até aliados do governo apoiaram.
Filho 'Zero Dois' do presidente diz que 'requentam fatos velhos', mas não refuta acusações de 'rachadinha'
Por Marcio Dolzan
O vereador Carlos Bolsonaro (Republicanos), filho Zero Dois do presidente Jair Bolsonaro, reagiu no Twitter, na manhã desta quarta-feira, 1, à quebra de seus sigilos fiscal e bancário pela Justiça. A medida judicial foi decretada em 24 de maio. Com mandato na Câmara Municipal do Rio desde 2001, mas influente no governo e nas redes sociais do pai, Carlos é suspeito de 'rachadinha'. Trata-se da apropriação ilegal de parte ou de todo o salário de servidores nomeados em cargos em seu gabinete. Carluxo, como é conhecido, atacou quem chamou de "perdedores frustrados", sem nominá-los, mas não apresentou explicações para refutar as acusações de crime.
"Na falta de fatos novos, requentam os velhos que obviamente não chegaram a lugar nenhum e trocam a embalagem para empurrar adiante a narrativa", escreveu. "Aos perdedores, frustrados por não ser o que sempre foram, restou apenas manipular e mentir. É o que mais acusam e o que mais fazem!"
Na terça-feira, 31 de agosto, a Globonews informou que a Justiça do Rio havia quebrado os sigilos fiscal e bancário do vereador, informação posteriormente confirmada pelo Estadão. A medida fora autorizada pela 1.ª Vara Especializada de Combate ao Crime Organizado do Rio.
Carlos Bolsonaro é investigado desde julho de 2019 pelo Ministério Público do Estado (MP-RJ). As suspeitas são de rachadinha e contratação de funcionários fantasmas em seu gabinete na Câmara Municipal. Além dele, outras 26 pessoas e sete empresas tiveram os sigilos bancário e fiscal quebrados pela mesma ordem judicial. Um dos indícios sob investigação foi a compra pelo vereador, em 2003, em dinheiro vivo de um apartamento por R$ 150 mil (R$ 370 mil em dinheiro atual).
O irmão mais velho de Carlos, o hoje senador Flavio Bolsonaro (Patriota-RJ) também é investigado por rachadinha. Ele foi denunciado pelo MP do Rio, com outros réus, pelos crimes de organização criminosa, lavagem de dinheiro, peculato (quando funcionário desvia verba pública) e apropriação indébita. Sua defesa alega inocência e aponta supostas nulidades das provas obtidas. O senador, que responde por fatos que teriam ocorrido quando era deputado estadual, afirma ser alvo de perseguição política que teria por objetivo atingir seu pai.