Parlamentares argumentam que, para equilibrar as contas públicas, em vez de aumentar a arrecadação, o governo deve cortar despesas
Por Larissa Alvarenga
A oposição no Congresso se articula para barrar o aumento no IOF, imposto que incide sobre operações de crédito, câmbio e seguros. Os parlamentares argumentam que, para equilibrar as contas públicas, em vez de aumentar a arrecadação, o governo deve cortar despesas.
Logo que o aumento do IOF se tornou público, a oposição se mobilizou para barrar a medida. Os líderes no Senado, Rogério Marinho (PL-RN), e na Câmara, deputado Zucco (PL-RS), e deputados do partido Novo, apresentaram projetos para suspender o decreto do governo, que eleva para 3,5% a alíquota.
O senador Efraim Filho (União-PB), presidente da Frente Parlamentar do Comércio, diz que o governo deveria cortar gastos antes de pensar em aumentar impostos.
"O governo também tem de fazer gestos de redução de despesas, de eliminação do desperdício, da qualificação do gasto público para poder depois passar para a sociedade alguma ideia de que é preciso ajustar arrecadação para poder ter o equilíbrio fiscal, não dá para buscar a responsabilidade fiscal apenas pelo lado da receita, esquecendo o lado da despesa, que é exatamente o que está acontecendo hoje", diz Efraim.
O vice-líder do governo na Câmara, deputado federal Rogério Correa (PT-MG), defende que o aumento na alíquota é necessário porque a arrecadação este ano foi menor.
"É para fazer uma justiça social e econômica no Brasil. Este ano nós tivemos uma arrecadação menor, principalmente no segundo bimestre, e o governo teve que fazer um contingenciamento orçamentário na faixa de R$ 30 bilhões. Quando você corta no orçamento, isso significa que áreas serão prejudicadas de investimento social", afirma Correa.
Para suspender o aumento de imposto, que deve afetar o consumo dos brasileiros no exterior e o desempenho da economia, ao tornar mais caros os empréstimos para as empresas, o projeto precisa ser aprovado tanto pela Câmara quanto pelo Senado. Ainda não há previsão para a tramitação do texto.
O deputado federal Nikolas Ferreira (PL-MG) protocolou, na quinta-feira, 22, um mandado de segurança no Supremo Tribunal Federal (STF) para obrigar o presidente da Câmara dos Deputados, Hugo Motta (Republicanos-PB), a instaurar uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para investigar o esquema de fraudes no Instituto Nacional do Seguro Social (INSS)
Por Lucas Keske
“O prolongamento dessa omissão prejudica diretamente a eficácia da atuação parlamentar e compromete a celeridade das investigações sobre um escândalo que afeta milhões de cidadãos brasileiros, especialmente aposentados e pensionistas, vítimas de um esquema de fraudes de proporções bilionárias”, afirma Nikolas no pedido feito ao STF.
O deputado solicita que a Corte reconheça o direito das minorias parlamentares e determine a instalação imediata da CPI pela Câmara. A ação ainda não tem relator definido.
Em abril, deputados da oposição protocolaram um pedido na Câmara para a criação da comissão, com o intuito de investigar os descontos indevidos nas aposentadorias do INSS. Embora o pedido tenha o número mínimo de assinaturas necessário, a instalação está parada, pois depende de decisão do presidente da Casa, Hugo Motta. A solicitação já tem o apoio de 185 deputados.
No X (antigo Twitter), Nikolas afirmou que a fraude do INSS se trata de “um dos maiores escândalos de fraudes da história”. Para o parlamentar, a não instalação da CPI por Motta é um caso de omissão e de desrespeito à Constituição e à população brasileira.
Ainda segundo Nikolas, caso o STF negue seu pedido, “não será surpresa para ninguém, mas escancarará para todo o Brasil que o STF expressamente também não deseja a investigação do rombo do INSS”, escreveu.
Como mostrou a Coluna do Estadão, o governo aposta no “pacote do INSS” anunciado por Motta para tentar elevar a popularidade do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), afetada pelo caso.
Os governistas pressionam pela rápida aprovação de projetos de lei, apresentados nas últimas semanas, para vedar descontos automáticos de sindicatos e associações na folha de pagamento de aposentados e pensionistas. Embora a medida seja inócua em relação ao que já foi debitado, a ideia é passar a imagem de que as ilegalidades não voltarão a ocorrer.
De acordo com a Controladoria-Geral da União (CGU) e a Polícia Federal (PF), os descontos começaram a ser aplicados em 2016, mas tiveram um crescimento significativo nos anos de 2023 e 2024. Associações e sindicatos, atuando como entidades de classe, firmavam Acordos de Cooperação Técnica (ACT) com o INSS, o que possibilitava o abatimento direto na folha de pagamento dos beneficiários do instituto. No entanto, em diversas situações, a autorização para esses descontos era forjada.
“Para o desconto ser realizado, a entidade precisa da autorização expressa e individual de cada beneficiário para realizar o desconto de sua mensalidade associativa. Na investigação, foram identificadas, porém, a ausência de verificação rigorosa dessa autorização e a possibilidade de falsificação de documentos de filiação e autorização”, diz apresentação da PF.
Conforme o relatório, desde 2023, 11 entidades associativas passaram a ser alvo de decisões judiciais, período em que a CGU iniciou investigações sobre o crescimento no número de entidades
Presidente do Senado descartou realizar sessão na próxima semana apenas para ler requerimento da comissão de inquérito; adiamento ocorre por falta de acordo sobre vetos
Por Rebeca BorgesEmilly
O presidente do Senado e do Congresso, senador Davi Alcolumbre (União-AP), anunciou nesta quinta-feira (22) que deve adiar para 17 de junho a sessão conjunta de deputados e senadores. A previsão inicial era que fosse realizada em 27 de maio, na próxima terça-feira.
O adiamento ocorre por falta de acordo sobre os vetos presidenciais que devem ser analisados. Alcolumbre também descartou realizar uma sessão apenas para a possível leitura do requerimento da Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) sobre as fraudes no INSS. A oposição, que patrocina a iniciativa, queria a leitura do pedido na próxima semana.
“Não irei publicar amanhã [convocação de sessão] porque não houve reunião e eu repito, não vou publicar uma sessão do Congresso para ler um requerimento. Não cabe isso, não tem fundamento eu fazer isso”, afirmou Alcolumbre em declaração a jornalistas no Senado.
A nova convocação da sessão conjunta deve ser publicada na tarde desta sexta-feira (23). Segundo Alcolumbre, a sessão inicialmente passaria para 24 de junho, mas a data coincidiria com um período esvaziado no Congresso pela proximidades com as festividade de São João.
O presidente do Senado também declarou que, na próxima sessão, os parlamentares devem analisar todos os vetos presidenciais, mesmo sem acordo definido, incluindo os relacionados às leis orçamentárias. No total, o Congresso tem 61 vetos pendentes de análise.
De acordo com integrantes do governo, como a CNN mostrou, Alcolumbre teria alertado que seria inevitável não instalar a comissão e sugerido como opção adiar a sessão do Congresso para o governo ganhar tempo.
A jornalistas nesta tarde, Alcolumbre negou construir uma “manobra” para atrasar a instalação da CPMI. “Não cabe a mim fazer juízo de valor sobre isso [pedido da CPMI], o que cabe ao presidente do Senado Federal numa sessão do Congresso é única e exclusivamente cumprir as regras e o regimento do Senado, da Câmara e por que não dizer do Congresso Nacional”, afirmou.
Aliados do presidente da Alesp (Assembleia Legislativa de São Paulo), André do Prado (PL), traçam planos para convencer o vice-governador, Felício Ramuth (PSD), a também renunciar caso Tarcísio de Freitas (Republicanos) deixe o governo no ano que vem para disputar a Presidência
Por Bruno Ribeiro
A medida tornaria André governador e, no cálculo desses aliados, ficaria fortalecido em uma eleição para o governo do estado, uma vez que teria controle da máquina pública a partir de abril.
A estratégia seria similar à adotada por Cláudio Castro (PL) no Rio de Janeiro, que articulou para emplacar seu vice, Thiago Pampolha (MDB), em um assento no TCE (Tribunal de Contas do Estado), de forma a abrir caminho para que o presidente da Alerj, Rodrigo Bacellar (União Brasil), assuma o governo fluminense no ano que vem. Pampolha teve a indicação ao TCE aprovada pela Assembleia nesta quarta (21).
Um homem está em pé em um palco, segurando um microfone e falando. Ele usa um terno escuro e uma camisa branca. Ao fundo, há bandeiras do Brasil e do estado de São Paulo, com um fundo em tons de roxo. O homem parece estar em um evento oficial, possivelmente fazendo um discurso.
O presidente da Alesp, deputado André do Prado (PL), em evento no Palácio dos Bandeirantes, em São Paulo - Pablo Jacob - 20.mai.25/Divulgação/Governo de SP
Pela linha sucessória, o presidente do Legislativo é quem assume o governo no caso de ausência tanto do governador quanto do vice. No caso de São Paulo, André do Prado, à frente da Alesp, ficaria na cadeira de governador durante as eleições.
O plano, contudo, não teria a participação de Tarcísio, que vem se mostrando avesso a qualquer conversa com aliados que envolva sua eventual candidatura presidencial.
O governador, aliado de Jair Bolsonaro (PL), aguarda uma sinalização do ex-presidente sobre quem será o candidato do grupo. Oficialmente, ele se coloca como pré-candidato à reeleição em São Paulo.
Ramuth disse à Folha que não foi procurado por ninguém com propostas para que dispute uma cadeira na Alesp ou na Câmara dos Deputados e reforçou não ter interesse em concorrer a cargos no Legislativo.
"Já estão arrumando lugar para o Tarcísio e já estão arrumando lugar para mim. Acho esse tipo de conversa bastante precoce", disse o vice-governador.
André do Prado disse, por meio de sua assessoria, que desconhece qualquer conversa a respeito e que acha o tema "sem nenhum sentido, porque o vice-governador tem feito um grande trabalho ao lado do governador Tarcísio".
O presidente da Alesp tem tentado se viabilizar como candidato a vice de Tarcísio no próximo ano ou mesmo a governador, caso o chefe do Executivo paulista queira se candidatar ao Palácio do Planalto. No entanto, nesse segundo cenário, o deputado, que tem a região do Alto Tietê como reduto eleitoral, precisará de maior reconhecimento no restante do estado.
O prefeito da capital, Ricardo Nunes (MDB), o presidente do PSD, Gilberto Kassab, e o secretário da Segurança Pública, Guilherme Derrite, que se filia ao PP nesta quinta-feira (22), também disputam a indicação de candidato de Tarcísio ao governo caso ele concorra à Presidência.
Segundo o entorno do presidente da Alesp, o posto de governador durante o período eleitoral o deixaria em evidência e ampliaria as chances de vitória. O grupo admite, no entanto, que será difícil convencer Ramuth. Por isso, eles têm debatido se vale a pena oferecer ao vice um acordo para que ele seja o presidente da Alesp na próxima legislatura, caso aceite disputar uma vaga de deputado estadual.
Na hipótese de Tarcísio concorrer à Presidência, Ramuth permaneceria como governador por cerca de oito meses, mas sem acordos que viabilizem sua eleição ao governo estadual, segundo deputados ouvidos pela Folha.
André do Prado tem apoio da base de Tarcísio na Alesp na disputa pela indicação ao cargo de governador.
O grupo interpretou como um desconforto de Ramuth o fato de o vice-governador ter saído do evento de lançamento do programa de erradicação da pobreza pelo governo Tarcísio, no Palácio dos Bandeirantes, na terça (20), antes do discurso do deputado.
Ramuth negou veementemente o desconforto e disse que só saiu mais cedo porque tinha um voo para São José do Rio Preto (a mais de 400 km da capital paulista). "Se o evento tivesse começado no horário, eu teria ficado até o fim", disse ele à reportagem.
Percentuais são similares aos registrados no levantamento de março; economia preocupa população
Por Camila Stucaluc
O governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) recebeu aprovação de 40% dos brasileiros, enquanto outros 54% reprovaram seu trabalho. Os dados constam na nova pesquisa do Instituto de Pesquisas Sociais, Políticas e Econômicas (Ipespe), divulgada na quarta-feira (21).
Na comparação com o levantamento anterior, de março deste ano, os números permaneceram similares. Naquele mês, os mesmos 54% disseram desaprovar a gestão de Lula e 41%, aprovar.
Pergunta: Você aprova ou desaprova o Governo do Presidente Lula? | Divulgação/Ipespe
A principal preocupação dos brasileiros é com a economia. Dos 2,5 mil entrevistados, 57% acreditam que a economia brasileira está no caminho errado (1% a menos do que na pesquisa anterior), 38% acham que está no rumo certo (3% a mais) e 5% não souberam ou não quiseram responder (1% a mais).
Em relação aos próximos meses, 44% disseram que o governo Lula irá piorar, enquanto 39% acreditam que a gestão vai melhorar. Outros 16% acham que a situação permanecerá igual à atual.
Na mídia
Os participantes também foram questionados sobre a percepção das notícias divulgadas recentemente sobre o governo. Ao todo, 45% afirmaram que as reportagens foram desfavoráveis, 28% consideraram que foram neutras e 19% classificaram como favoráveis. Cerca de 8% não soube responder.
Entre as notícias lembradas espontaneamente pelos entrevistados, 30% citaram o esquema de fraude no Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) e as ações do governo para devolver os valores descontados indevidamente do pagamento de aposentados e pensionistas. A viagem de Lula para China e os acordos bilaterais assinados com o país foram citados por 11% dos participantes.