Texto prevê que, na repactuação de dívidas, seja garantido um mínimo existencial à sobrevivência, vai à sanção presidencial
Com Agência Senado
O Senado aprovou nesta quarta-feira (9) o Projeto de Lei (PL) 1.805/2021, que cria regras para prevenir o superendividamento dos consumidores, proíbe práticas consideradas enganosas e prevê audiências de negociação de dívidas. Foram 73 votos a favor e nenhum contra. A matéria vai agora à sanção presidencial.
O relator no Senado foi o senador Rodrigo Cunha (PSDB-AL). Para ele, o superendividamento é um problema social, não apenas individual. O texto aprovado busca reforçar as medidas de informação e prevenção do superendividamento, introduz a cultura da concessão responsável de crédito e amplia a conscientização da cultura do pagamento das dívidas, como estímulo à renegociação e da organização de planos de pagamento pelos consumidores.
O relator lembrou que o texto original da proposta é de 2012 (PLS 283/2012), fruto da comissão temporária que propôs alterações no Código de Defesa do Consumidor (CDC). O texto da comissão de juristas foi então encampado pelo então presidente do Senado, José Sarney, e tramitou quase 10 anos no Congresso. Para Rodrigo Cunha, a questão do superendividamento sempre foi uma questão importante, mas “ganhou contornos dramáticos diante dos efeitos econômicos adversos trazidos pela pandemia da covid-19”, já que muitas pessoas perderam emprego e renda durante a pandemia.
De acordo com o relator, Rodrigo Cunha (PSDB-AL), proposta facilita a renegociação de empréstimos consignados, coíbe propaganda enganosa e poderá liberar R$ 350 bilhões para a economia
— Muitas famílias viram sua renda reduzida de forma permanente após a perda de um de seus integrantes. Existem hoje 62 milhões de inadimplentes no Brasil, perfazendo 57% da população adulta. São pessoas e famílias que necessitam de apoio para se reerguer. Ao aprovar este projeto, resgatamos a dignidade de mais de 43 milhões de brasileiros, promovemos o pacto coletivo de inclusão e devolvemos mais de R$ 350 bilhões para economia, conforme dados da Ordem dos Economistas do Brasil. As medidas propostas poderão restaurar a paz e a dignidade de muitas famílias que experimentam hoje dificuldades para renegociar dívidas e preservar renda suficiente para garantir seu mínimo existencial. Esperamos que possa trazer impactos positivos para a economia, pois a reinserção dessas pessoas no mercado de consumo pode ajudar o processo de recuperação econômica — afirmou Rodrigo Cunha.
Entre outras medidas, o texto, que altera o CDC (Lei 8.078, de 1990) e o Estatuto do Idoso (Lei 10.741, de 2003), permite ao cliente desistir de contratar empréstimo consignado dentro de sete dias do contrato sem indicar o motivo. Para isso, o fornecedor da proposta deve dar acesso fácil a formulário específico, em meio físico ou eletrônico, no qual constarão os dados de identificação e a forma de devolução de quantias recebidas e eventuais juros. As regras do projeto não se aplicam, entretanto, a dívidas relacionadas a bens de luxo de alto valor.
Desconto em consignado
Em relação ao máximo que pode ser descontado do salário líquido, o texto aprovado mantém os níveis atuais da margem consignável (o total que pode ser usado para pagar as parcelas). São 5% do salário líquido para pagar dívidas com cartão de crédito e 30% para outros empréstimos consignados.
A novidade quanto ao limite do consignado para o cartão é que ele poderá ser usado ainda para saques nessa modalidade.
Se as regras forem descumpridas, na revisão do contrato o juiz poderá determinar o aumento do prazo de pagamento sem acréscimo, a redução de encargos ou a substituição de garantias para adequá-lo às novas regras.
Adicionalmente, o limite do consignado poderá aumentar excepcionalmente se, após repactuação aprovada pelo Judiciário, isso implicar redução do custo efetivo total, que é o total de juros e taxas relacionadas ao empréstimo.
Ofertas enganosas
Segundo o texto aprovado, será proibido fazer oferta de crédito ao consumidor, seja em propagandas ou não, com expressões enganosas, como “sem juros”, “gratuito”, “sem acréscimo”, “taxa zero” ou expressões semelhantes.
Nessas ofertas de crédito, será proibido ainda dizer que a operação poderá ser concluída sem consulta a serviços de proteção ao crédito ou sem avaliação da situação financeira do interessado.
Principalmente para grupos mais vulneráveis, como idosos, analfabetos, doentes ou se a oferta envolver prêmios, será proibido assediar ou pressionar o consumidor para contratar crédito ou comprar produto ou serviço.
Os credores não poderão condicionar o início de negociações sobre dívidas à desistência de ações na Justiça, ao pagamento de honorários advocatícios ou a depósitos judiciais.
Renegociação
A pedido do consumidor superendividado, o juiz poderá começar processo de repactuação das dívidas com a presença de todos os credores. Na audiência, o consumidor poderá apresentar plano de pagamento com prazo máximo de cinco anos para quitação, preservadas as garantias originais.
A novidade nesse tipo de procedimento é a observância do conceito de “mínimo existencial”. Um regulamento da lei deverá definir a quantia mínima da renda do devedor que não poderá ser usada para pagar as dívidas, com a intenção de impedir que a pessoa tenha de contrair novas dívidas para pagar despesas mínimas como água e luz ou mesmo pagar as dívidas antigas.
Credores que faltarem às audiências de conciliação sem justificativa terão suas dívidas suspensas, assim como os juros por atraso. Além disso, ficarão sujeitos compulsoriamente ao plano de pagamento se o consumidor souber o valor exato devido. E esse credor ausente não será priorizado na hora de receber o dinheiro de volta.
“Essa possibilidade oferece mais efetividade e agilidade à figura da conciliação, contribuindo para uma solução rápida que beneficiará superendividados e credores”, afirmou Cunha em seu relatório.
Foi também detalhada a participação, de forma concorrente e facultativa, dos órgãos públicos integrantes do Sistema Nacional de Defesa do Consumidor na fase conciliatória e preventiva do processo de repactuação de dívidas.
O pedido de repactuação feito pelo consumidor não importará em declaração de insolvência civil e poderá ser repetido somente após decorrido o prazo de 2 anos, contado da liquidação das obrigações previstas no plano de pagamento homologado.
Segundo o texto, não poderão fazer parte dessa negociação as dívidas com garantia real (como um carro), os financiamentos imobiliários, os contratos de crédito rural e dívidas feitas sem a intenção de realizar o pagamento.
Se sair acordo com algum credor, o juiz validará o acertado, que poderá ser exigido no cartório de protesto (eficácia de título executivo). Deverão constar do plano itens como:
*aumento do prazo de pagamento e redução de encargos;
*suspensão de ações judiciais em andamento;
*data a partir da qual o nome sairá do cadastro negativo; e
*vinculação do plano de pagamento a condutas do consumidor que evitem o aumento da dívida.
Plano compulsório
Para os credores com os quais não houve acordo ou para os que não compareceram à primeira negociação, o texto prevê, a pedido do consumidor, que o juiz forneça um plano judicial compulsório de pagamento.
Os credores serão convocados, e um administrador nomeado pelo juiz terá 30 dias para apresentar um plano de pagamento com aumento de prazo e descontos.
Será assegurado aos credores, no mínimo, o pagamento da dívida original corrigida pela inflação do período e cinco anos para quitação total da dívida após o fim do prazo do plano proposto pelo devedor.
A primeira parcela desse resíduo deverá ser paga em 180 dias a partir da decisão judicial, e o restante em parcelas mensais e sucessivas.
Procon
Antes de ir à Justiça pedindo um plano de pagamento por acordo com os credores, o consumidor terá acesso a uma fase de conciliação com os órgãos de defesa do consumidor, como os Procons. Entretanto, esse tipo de atendimento especial será facultativo por parte desses órgãos.
Da mesma maneira, as conversas terão de ser com todos os credores e deve ser preservado o “mínimo existencial” do salário do devedor.
Nesse acordo, o consumidor também deve se comprometer a não fazer novas dívidas e adotar medidas para evitar o agravamento de sua situação de superendividado. O acordo deverá incluir a data em que o nome será excluído do cadastro de mau pagador.
Custo total
Tanto os bancos e financiadoras quanto aqueles que venderem a prazo deverão informar o consumidor previamente e de forma adequada qual é o custo efetivo total, a taxa mensal efetiva de juros e os encargos por atraso, o total de prestações e o direito do consumidor de antecipar o pagamento da dívida ou parcelamento sem novos encargos.
As ofertas de empréstimo ou de venda a prazo deverão informar ainda a soma total a pagar, com e sem financiamento.
Conforme a gravidade da conduta de não fornecer as informações de forma clara ao consumidor, o texto prevê, judicialmente, a redução de juros e o aumento do prazo de pagamento, levando-se em conta a capacidade de pagamento do consumidor, sem prejuízo de ações por danos morais.
Alteração rejeitada
O relator retirou o dispositivo acrescentado na Câmara que permitia ao credor a remessa de títulos ou documentos de dívida ao tabelionato de protesto, com a recomendação de prévia solução negocial. Isso seria feito a partir, exclusivamente, de comunicação ao devedor mediante correspondência simples, correio eletrônico, aplicativo de mensagem instantânea ou meios similares.
“Oferecemos reservas a esta inclusão, porque mesmo na hipótese de uma solução negocial o devedor precisaria arcar com as despesas de emolumentos, agravando assim a sua situação financeira”, alegou Rodrigo Cunha.
Alterações mantidas pelo Senado
Todas as outras alterações propostas no substitutivo da Câmara foram mantidas pelo Senado. Uma delas foi a supressão de mudança sobre a vedação de publicidade abusiva a criança. A Câmara entendeu que a questão seria melhor regulada pelas normas sobre publicidade e proteção à criança e ao adolescente. “Dada a delicadeza do tema, e considerando que o objetivo principal deste projeto é prevenir e tratar o superendividamento, razão pela qual essa questão não foi debatida na mesma medida que as outras que propomos aprovar. Portanto, somos favoráveis a manter o texto oriundo da Câmara”, declarou Cunha.
Todos os senadores que se manifestaram durante a votação apoiaram o PL, entre eles Esperidião Amin (PP-SC), Fabiano Contarato (Rede-ES), Cid Gomes (PDT-CE), Soraya Thronicke (PSL-MS), Zenaide Maia (Pros-RN), Kátia Abreu (PP-TO), Izalci Lucas (PSDB-DF), Nilda Gondim (MDB-PB) e outros.
Fonte: Agência Senado
Avaliação negativa se mantém mesmo com perspectiva de melhora na economia e no controle do coronavírus
Por Marcelo de Moraes
Levantamento feito pela XP/Ipespe mostra a consolidação da avaliação negativa do governo de Jair Bolsonaro. A pesquisa mostra que 50% consideram a administração federal ruim ou péssima. Este dado é um ponto superior ao do levantamento feito em maio, mas representa o pior da série histórica, igualando a marca de maio de 2020. Além disso, desde outubro, essa avaliação só tem caído, passando de 31% para os 50% atuais. Ao todo, foram feitas 1.000 entrevistas, entre os dias 7 e 10 de junho, com margem de erro de 3,2 pontos percentuais.
No cenário eleição para 2022, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva aparece quatro pontos porcentuais à frente de Bolsonaro. A vantagem é de 32% contra 28% do presidente. Na pesquisa passada, Lula e Bolsonaro apareciam empatados com 29%. Essa vantagem, porém, está dentro da margem de erro. Sérgio Moro caiu de 8% para 7%, Ciro Gomes de 9% para 6% e Luciano Huck de 5% para 4%.
Na simulação de segundo turno, porém, a diferença de Lula se acentuou em relação a Bolsonaro, chegando a nove pontos. Lula tem 45% contra 36% Bolsonaro. Na pesquisa passada, a diferença era apenas de 42% a 40%. Bolsonaro também perde numericamente no confronto de segundo turno para Ciro Gomes, por 41% a 37%.
Em relação à realização da Copa América, a maioria se mostrou contrária ao evento acontecer no Brasil. Ao todo, 64% foram contrários e apenas 29% favoráveis. Num recorre feito entre os entrevistados que têm avaliação negativa do presidente, esse número dispara para 83%. Enquanto 58% dos que têm visão favorável a Bolsonaro apoiam o evento.
Houve uma pequena melhora na percepção sobre os rumos da economia, com 29% acreditando que a economia está no caminho certo, contra os 26% indicados pela pesquisa anterior. Mesmo assim, os números ainda são francamente ruins em relação ao tema, já que 60% seguem avaliando que os atuais rumos são errados. O temor em relação à pandemia do coronavírus também baixou. Dessa vez, 45% disseram estar com muito medo do surto de coronavírus contra 50% do levantamento passado.
A aliados, ex-presidente fala em conciliação como modo de se fazer política; nesta sexta, petista almoça com prefeito Eduardo Paes
Por Caio Sartori
O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que lidera as pesquisas de intenção de voto para 2022, se reuniu com líderes da esquerda do Rio durante três horas nesta quinta-feira, 10. O encontro foi fechado, mas o Estadão apurou que o petista defendeu a importância de buscar o centro na composição eleitoral de 2022 e disse que a conciliação é uma característica do seu modo de fazer política.
Lula também lamentou os rumos tomados pelo PDT de Ciro Gomes, que passou a atacá-lo como forma de mirar o eleitorado de direita e roubar votos de Jair Bolsonaro. Por estar no Rio, evocou ainda o nome do ex-governador Leonel Brizola, pedetista histórico. O PSB, partido-chave para o PT em 2022, recebeu acenos.
Participaram do encontro quadros da esquerda como os deputados federais Marcelo Freixo (PSOL, mas com ida encaminhada para o PSB), Alessandro Molon (PSB), Jandira Feghali (PCdoB) e Benedita da Silva (PT), além da presidente e do vice do diretório nacional do PT, Gleisi Hoffmann e Washington Quaquá. Deputados estaduais e vereadores petistas também estiveram presentes. A reunião se deu em um hotel na orla de Copacabana, zona sul da cidade.
O Rio é considerado uma das prioridades de Lula para 2022. Além da situação crítica do Estado, palco de crises políticas e econômicas nos últimos anos, foi lá que surgiu o bolsonarismo. Conquistar uma vitória local e ter um palanque forte para fazer oposição ao presidente na eleição é tido como algo essencial. No momento, o desenho aponta para uma candidatura de Freixo. Essa chapa teria o apoio do PT e, no melhor cenário, de forças políticas de centro.
Freixo está prestes a definir sua filiação ao partido do colega de Câmara Molon. Eles ocupam, respectivamente, as funções de líder da minoria e da oposição na Casa. O PSB também se prepara para receber outros quadros importantes, como o governador maranhense Flávio Dino e a ex-deputada gaúcha Manuela D'Ávila, do PCdoB.
No âmbito nacional, a atenção dada ao Rio ilustra as prioridades eleitorais do PT. O partido está focado em eleger Lula e formar uma robusta bancada de deputados. Candidaturas próprias a governador e senador serão preteridas em troca de apoios no pleito presidencial.
Lula chegou ao Rio no início da tarde. O encontro com líderes da esquerda carioca foi seu primeiro compromisso na cidade, onde fica até domingo de manhã. Nesta sexta, ele tem almoço marcado com o prefeito Eduardo Paes (PSD), considerado peça-chave na busca pelo centro para a formação da aliança ampla no Estado.
O encontro entre os dois, que mantiveram boa relação quando Paes ocupou a prefeitura pela primeira vez (2009-2016), será no Palácio da Cidade, de onde o prefeito despacha. Trata-se da primeira visita de Lula a um chefe de Executivo desde que teve os direitos políticos retomados.
Nesta quarta, em almoço com empresários do Grupo Lide, Paes teceu elogios ao ex-presidente, lembrando de como ele era "o centro das atenções" em viagens internacionais que faziam naquela época. Também classificou o petista e o tucano Fernando Henrique Cardoso como "grandes líderes políticos".
Também amanhã, Lula visita um estaleiro na capital fluminense. No sábado, reúne-se com artistas.
Agora, petista vence por 48% a 37%. Em abril, taxas eram de 52% e 34%. Melhora desempenho de Doria e Ciro
POR SOPHIA LOPES - Poder 360
O ex-presidente Lula venceria Jair Bolsonaro no 2º turno se as eleições fossem agora, segundo pesquisa PoderData realizada nesta semana (7-9.jun.2021). A vantagem, no entanto, mostra tendência de queda.
O petista tem 48% das intenções de voto contra 37% do atual presidente –diferença de 11 pontos percentuais. Em abril, marcava 52% enquanto Bolsonaro estava em 34%, uma distância de 18 pontos.
A variação a cada mês da intenção de voto em Lula e Bolsonaro no 2º turno tem ficado dentro da margem de erro da pesquisa, de 2 pontos percentuais.
Esta pesquisa foi realizada no período de 2ª a 4ª feira desta semana (7 a 9 de junho de 2021) pelo PoderData, a divisão de estudos estatísticos do Poder360. A divulgação do levantamento é feita em parceria editorial com o Grupo Bandeirantes.
Foram 2.500 entrevistas em 522 municípios nas 27 unidades da Federação. A margem de erro é de 2 pontos percentuais, para mais ou para menos. Saiba mais sobre a metodologia lendo este texto.
Para chegar a 2.500 entrevistas que preencham proporcionalmente (conforme aparecem na sociedade) os grupos por sexo, idade, renda, escolaridade e localização geográfica, o PoderData faz dezenas de milhares de telefonemas. Muitas vezes, mais de 100 mil ligações até que sejam encontrados os entrevistados que representem de forma fiel o conjunto da população.
DORIA E CIRO MELHORAM CONTRA BOLSONARO
Identificados como candidatos de “3ª via”, o ex-ministro Ciro Gomes (PDT) e o governador de São Paulo, João Doria (PSDB), apresentaram considerável melhora nos cenários de 2º turno contra o presidente Jair Bolsonaro.
Doria saltou 7 pontos em relação à pesquisa anterior, no início de maio. Está numericamente empatado com o presidente, os 2 com 39%.
Ciro, que aparecia tecnicamente empatado com o presidente em maio (38%, contra 41% de Bolsonaro), subiu 6 pontos. Agora marca 44%, superando os 36% do atual ocupante do Palácio do Planalto.
A melhora de João Doria e de Ciro Gomes coincide com a mudança de estratégia de ambos.
O governador paulista começou 2021 tentando se impor ao PSDB quase como nome único para ser o candidato a presidente no ano que vem. Também passou para muitos empresários uma imagem de certa arrogância ao decidir os protocolos de distanciamento social e de fechamento dos estabelecimentos comerciais. De abril para cá, o tucano amenizou sua atuação. Procurou empresários para conversar e busca uma atuação menos beligerante dentro de seu partido.
Ciro Gomes contratou João Santana, que foi condenado no Mensalão e fez campanhas presidenciais para Lula (2006) e Dilma Rousseff (2010 e 2014). O marqueteiro tem suavizado a imagem do pré-candidato do PDT a presidente, mostrando Ciro em filmes mais informais na internet.
O apresentador Luciano Huck segue em vantagem contra Bolsonaro. Tem 45%, com 10 pontos à frente. Os 2 registraram variação dentro da margem de erro em relação à rodada anterior.
PESQUISAS MAIS FREQUENTES
O PoderData é a única empresa de pesquisas no Brasil que vai a campo a cada 15 dias desde abril de 2020. Tem coletado um minucioso acervo de dados sobre como o brasileiro está reagindo à pandemia de coronavírus.
Num ambiente em que a política vive em tempo real por causa da força da internet e das redes sociais, a conjuntura muda com muita velocidade. No passado, na era analógica, já era recomendado fazer pesquisas com frequência para analisar a aprovação ou desaprovação de algum governo. Agora, no século 21, passou a ser vital a repetição regular de estudos de opinião.
Além de acesso a recursos, filiação ao partido envolve cálculo de distância segura em relação ao presidente, que recebeu convite do Patriota
Por Bernardo Mello
Apesar da aproximação da família Bolsonaro com o Patriota, aliados do presidente Jair Bolsonaro em diferentes estados buscam abrigo no PSL para disputar as eleições de 2022, de olho nos recursos do fundo eleitoral e no tempo de TV proporcionado pela sigla.
Em estados como Bahia, Ceará e Tocantins, as conversas sobre filiação ao PSL envolvem também a possibilidade de manter uma distância segura de Bolsonaro, a depender da popularidade do presidente no ano que vem. No Rio, com um possível desembarque de deputados da base do governo Bolsonaro para acompanhar o presidente rumo ao Patriota, o PSL entrou na mira do prefeito de Belford Roxo, Waguinho (MDB).
Para o PSL, as negociações fazem parte da tentativa de atrair políticos com votação elevada em seus estados, de olho em emplacar uma bancada numerosa na Câmara em 2022. Na última eleição, o partido elegeu mais de 50 deputados federais.
Por ora, o PSL mantém postura dúbia em relação a Bolsonaro. O presidente da legenda, Luciano Bivar (PE), tem sinalizado que apoia a construção de uma terceira via nas eleições presidenciais, mas parlamentares que seguem alinhados a Bolsonaro incentivaram seu retorno ao partido, do qual saiu brigado em 2019. Integrantes mais críticos a Bolsonaro, como o deputado Junior Bozzella (PSL-SP), já admitiram a possibilidade de deixar o PSL por conta da reaproximação com Bolsonaro e da abertura de espaços a aliados do presidente.
Um dos movimentos mais significativos ocorreu no Ceará, onde o deputado federal Capitão Wagner (PROS-CE) foi convidado publicamente a se filiar pelo também deputado Heitor Freire (PSL-CE), presidente estadual do PSL e integrante da "ala bivarista" do partido.
Para atrair Wagner, o PSL acenou com uma estrutura partidária robusta para acomodar aliados do deputado, além da possibilidade de unificar a oposição ao grupo do governador Camilo Santana (PT). Por ter feito a segunda maior bancada da Câmara em 2018, o PSL será um dos principais destinatários de recursos do Fundo Especial de Financiamento de Campanha (FEFC) em 2022, segundo a legislação em vigor. No ano passado, nas eleições municipais, o partido recebeu R$ 199 milhões do chamado "fundão".
"Capitão Wagner tem um grupo forte, muitos deputados federais e estaduais, então unindo as nossas forças, nós teremos mais condições de combater esse grupo que tem comandado o Ceará nos últimos anos", informou Freire em nota divulgada na última semana.
Embora tenha recebido apoio de Bolsonaro na eleição à prefeitura de Fortaleza em 2020, quando ficou em segundo lugar, Wagner evitou trazer a imagem do presidente para a campanha e fez críticas à conduta do governo federal na pandemia, numa tentativa de marcar distância do presidente. Mesmo assim, recebeu apoio público de lideranças bolsonaristas locais e também de policiais militares — em 2012, Wagner liderou um motim da PM cearense durante o governo de Cid Gomes, aliado do atual governador.
Na Bahia, o deputado federal Elmar Nascimento (DEM), aliado do presidente do DEM, ACM Neto, costura uma filiação ao PSL para se lançar ao Senado na mesma chapa do correligionário, que disputará o governo do estado. O movimento é estudado em comum acordo entre Elmar e ACM, já que a troca de partido facilitaria a construção da chapa e o acesso a recursos do PSL. O plano de Elmar é fazer a troca na próxima janela partidária, no início de 2022.
Com bom trânsito com Bolsonaro, Elmar tem procurado reaproximar ACM Neto do ministro da Cidadania, João Roma (Republicanos). Ambos se afastaram depois que Bolsonaro chamou Roma para o ministério, em fevereiro. O presidente do DEM evita se associar ao bolsonarismo por conta da alta rejeição ao presidente na Bahia, apontada em pesquisas, mas busca ocupar o espaço de candidato antipetista, já que seu principal adversário deve ser o ex-governador e atual senador Jaques Wagner (PT-BA).
— A mudança ao PSL seria uma condição para facilitar a construção da chapa majoritária, já que não tem como fazer aliança ocupando duas vagas com nomes do DEM. O PSL, com sua estrutura, é um aliado importante para encorpar nosso grupo. É um diálogo estritamente local. Tenho trabalho pela união de todos — disse Elmar.
Disputa por comando
No Rio, o PSL entrou no radar de Waguinho, reeleito em Belford Roxo no ano passado numa campanha na qual buscou associar seu nome ao do senador Flávio Bolsonaro (Patriota-RJ). Desde o fim de 2020, em paralelo à reaproximação entre Bolsonaro e PSL, Waguinho e aliados têm buscado a cúpula nacional do partido para assumir o diretório estadual.
Waguinho faz parte do grupo de prefeitos da Baixada Fluminense mais próximos ao governador Cláudio Castro (PL), e que inclui o prefeito de Duque de Caxias, Washington Reis (MDB), cotado para disputar o Senado. Além do acesso a recursos partidários, a tomada do PSL pelo grupo de Waguinho garantiria o partido na base de Castro. Embora a defesa do apoio a Bolsonaro em 2022 seja uma bandeira comum a Castro e ao atual presidente do PSL fluminense, deputado federal Gurgel Soares, ambos vêm se desentendendo nos últimos meses e não garantem estar na mesma chapa.
Com uma possível filiação de Bolsonaro ao Patriota, a maioria dos 12 deputados federais e dos 10 deputados estaduais do PSL cogita seguir o presidente no novo partido. O esvaziamento do PSL facilitaria a tomada do partido pelo grupo de Waguinho, que articula candidaturas de aliados à Câmara e à Assembleia Legislativa do Rio (Alerj). No entanto, segundo a colunista Berenice Seara, do Extra, Gurgel vem garantindo ter o aval da cúpula do PSL para seguir no comando local.
Em estados da região Norte, a aproximação ao PSL vem sendo feita por pré-candidatos a cargos majoritários que apostam em ter Bolsonaro no palanque, ainda que o presidente esteja numa sigla diferente. No Tocantins, o governador Mauro Carlesse já se desfiliou do DEM e ingressou no PSL, mirando uma possível candidatura ao Senado — outra opção é se lançar a deputado federal. Carlesse se mantém próximo ao senador Eduardo Gomes (MDB-TO), líder do governo Bolsonaro no Congresso e possível candidato ao governo de Tocantins. A depender da decisão de Gomes, Carlesse pode adotar um apoio menos explícito a Bolsonaro.
No Amapá, o PSL é uma das opções colocadas para o vice-governador Jaime Nunes (PROS) disputar o governo. Nunes, que tenta assumir a bandeira de candidato bolsonarista no estado, é aliado do deputado federal Acácio Favacho (PROS-AP) e também vem conversando com legendas como PTB e MDB. O diretório estadual do PSL foi dissolvido em dezembro de 2020 e segue sem comando.
A mudança para o partido atrairia recursos e tempo de propaganda eleitoral para encorpar a coligação de Nunes, que deve ter como adversários o senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP) e um candidato indicado pelo grupo do também senador Davi Alcolumbre (DEM-AP).