Por Caio Sartori e Pedro Venceslau
Em rota de aproximação com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), o PSB vai anunciar em um evento programado para o fim de junho, em Brasília, a filiação conjunta do governador do Maranhão, Flávio Dino, – que nesta quinta-feira, 17, anunciou sua saída do PCdoB – e do deputado federal Marcelo Freixo, que deixou o PSOL. Os dois políticos defendem a formação de uma frente de esquerda em 2022 liderada por Lula.
A decisão oficial sobre a posição do PSB na disputa presidencial só será tomada formalmente em novembro, durante o congresso nacional da legenda. Reservadamente, líderes do partido admitem que a tese de subir no palanque de Lula vem ganhando força. Em 2018 os pessebistas foram assediados pelo PT, que lançou Fernando Haddad à Presidência, e por Ciro Gomes (PDT), mas optaram pela neutralidade no 1° turno.
Antes disso, em 2014, o PSB lançou Eduardo Campos à Presidência – que morreu durante a campanha em um acidente aéreo – e fez uma inflexão ao centro. No segundo turno, após a substituta Marina Silva ficar em terceiro lugar, apoiou o tucano Aécio Neves contra a petista Dilma Rousseff, num gesto de afastamento inédito do PT desde a redemocratização. Dois anos depois, a maioria da bancada do partido votou pelo impeachment de Dilma Rousseff.
Sem a liderança de Campos, o partido perdeu coesão e se dividiu em interesses regionais. O polo mais forte da legenda continua em Pernambuco, Estado que governa desde 2007 e é o sétimo colégio eleitoral do País (6,7 milhões de eleitores). O PSB comanda o Executivo estadual também no Espírito Santo.
Antes de Lula recuperar seus direitos políticos, o partido procurava um nome “outsider” para disputar o Palácio do Planalto – a exemplo de 2018, quando chegou a filiar o ex-presidente do Supremo Tribunal Federal (STF) Joaquim Barbosa, a legenda mantinha conversas adiantadas com o apresentador Luciano Huck –, mas depois estreitou os laços com o ex-presidente e se afastou de Ciro. Em abril, Lula participou de uma reunião virtual com o presidente do PSB, Carlos Siqueira, o governador do Espírito Santo, Renato Casagrande, e o ex-governador de São Paulo, Márcio França. Em pauta as eleições de 2022. O prefeito do Recife, João Campos, porém, resiste à ideia e não participou da live com Lula.
O ex-presidente se esforça para se aproximar das lideranças pessebistas. Recentemente telefonou para França quando o ex-governador estava internado no hospital se recuperando da covid e planeja viajar ao Recife para uma visita ao governador de Pernambuco, Paulo Câmara. O Estado é visto como o ponto nevrálgico em uma eventual aliança. Antes adversários locais, os petistas agora aceitam abrir mão de uma candidatura própria ao governo para apoiar o ex-prefeito Geraldo Júlio, que vai disputar pelo PSB o Palácio do Campo das Princesas.
“Ninguém me disse que é contra (uma aliança com o PT), mas é consenso que essa decisão não deve ser tomada agora. Não vamos atropelar nosso debate”, afirmou o presidente nacional do PSB, Carlos Siqueira.
“Queremos juntar o máximo possível de quadros que queiram nos acompanhar no desafio de 2022, que é claro: vamos trabalhar muito para impedir qualquer tipo de tentativa de reeleição do atual presidente”, disse Paulo Câmara ao Estadão.
Após anunciar que deixaria o PSOL, Freixo foi na segunda-feira ao Recife se reunir com o prefeito João Campos e outros quadros de Pernambuco. Além de Pernambuco, entram nas negociações regionais do PSB para um eventual apoio a Lula contrapartidas também no Rio, Espírito Santo e em São Paulo.
No Rio Freixo deve contar com o apoio do PT na disputa pelo governo fluminense. Já no Espírito Santo os petistas ainda estudam emplacar a candidatura do senador Fabiano Contarato – atualmente na Rede e sob assédio do PT –, o que atrapalharia os planos de reeleição de Renato Casagrande. A situação, no entanto, é considerada fácil de contornar. Freixo e Casagrande chegaram a conversar na semana passada.
Em São Paulo, as negociações passarão pelo crivo do ex-governador Márcio França. Em caráter reservado, lideranças do PSB avaliam que a polarização será inevitável em 2022 e que o movimento de Lula visa também manter o partido afastado do projeto de Ciro. Um dos colaboradores da campanha de Ciro, o ex-deputado Miro Teixeira (PDT) disse que ainda “nutre” a esperança de que os pessebistas apoiem o ex-ministro, mas reconhece que o cenário em Pernambuco será decisivo. “Há um êxodo nos partidos de esquerda que são rotulados, como PCdoB e PSOL, mas não há nada definido”, afirmou.
O governador maranhense Flávio Dino já foi apontado como uma das opções de candidato a vice em uma eventual chapa de Lula. Ele anunciou nesta quinta, 17, pelo Twitter sua desfiliação do PCdoB, mas ainda não oficializou sua ida para o PSB. Na mensagem, defendeu que uma grande “frente de esperança” será decisiva para um “novo ciclo de conquistas sociais” para o Brasil. Em seu segundo mandato à frente do Executivo maranhense, Dino tem como opção mais clara, porém, uma futura candidatura ao Senado.
A mudança de partido ocorre no momento em que o PCdoB está ameaçado de extinção devido à cláusula de barreira. O governador maranhense não quis esperar a votação do projeto de lei que cria o modelo de federações partidárias e tramita em regime de urgência na Câmara. O modelo é visto como uma tábua de salvação para os partidos pequenos e abre caminho para as fusões partidárias.