“Liberdade é o direito de fazer tudo o que a lei permite”
MONTESQUIEU
Por Edson Rodrigues
A situação política do Brasil, infelizmente, entrou em um espiral de descontrole, em que o maior fomentador das controvérsias é o próprio presidente da República, Jair Bolsonaro, que age de forma completamente desmedida – infantil em certos casos – que deixa até seus mais ferrenhos apoiadores sem argumentos contra tanta falta de tato, de habilidade e até de bom senso.
Ao afirmar, nesta segunda-feira, 18, que as Forças Armadas são as responsáveis por decidir se há democracia ou ditadura em um País, Bolsonaro reassumiu o posto de inimigo número um dos intelectuais, dos ícones políticos e, obviamente, aumentou o ódio que a esquerda nutre por ele.
Bolsonaro completou: “o pessoal parece que não enxerga o que o povo passa, pra onde querem levar o Brasil, para o socialismo. Por que sucatearam as forças armadas ao longo de 20 anos? Porque nós, militares, somos o último obstáculo para o socialismo. Quem decide se o povo vai viver em uma democracia ou ditadura são as suas Forças Armadas. Não tem ditadura onde as Forças Armadas não a apoiam”, declarou o presidente do Brasil, afirmando que “temos liberdade ainda”, mas “tudo pode mudar” e fez referência a possível eleição de Fernando Haddad (PT), seu adversário no segundo turno nas eleições de 2018.
“No Brasil, temos liberdade ainda. Se nós não reconhecermos o valor destes homens e mulheres que estão lá, tudo pode mudar. Imagine o Haddad no meu lugar. Como estariam as Forças Armadas com o Haddad em meu lugar?”, questionou Bolsonaro.
VACINA É O FOCO
Internamente, o governo está insatisfeito com a vitória política do governador de São Paulo, João Doria (PSDB), após a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) liberar, no domingo, o uso emergencial de duas vacinas contra a Covid-19.
— Em meio às dificuldades do Ministério da Saúde para dar início à vacinação nacional contra a Covid-19, o presidente Jair Bolsonaro convocou uma reunião de última hora, fora da agenda, no Palácio do Planalto, com cinco de seus ministros. O ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, também participou do encontro. Ele estava sendo representado inicialmente pelo número 2 da pasta, o secretário-executivo Élcio Franco.
O jornal O GLOBO apurou que a reunião começou às 14h30 e contou com a participação dos ministros Fábio Faria (Comunicações), Paulo Guedes (Economia), Braga Netto (Casa Civil) e Luiz Eduardo Ramos (Secretaria de Governo). O Palácio do Planalto convocou para agora tarde uma coletiva de imprensa com o Pazuello
Após ter ignorado a aprovação das vacinas Coronavac e de Oxford pela Anvisa no último domingo (17), o presidente Jair Bolsonaro afirmou nesta segunda-feira (18) que agora “não tem o que discutir mais” sobre os imunizantes.
Em conversa com apoiadores no Palácio da Alvorada, o mandatário ressaltou que o governo vai comprar as vacinas se houver “disponibilidade no mercado”. “E a vacina é do Brasil, não é de nenhum governador, não”, disse Bolsonaro, em referência à Coronavac.
Desenvolvida pelo laboratório chinês Sinovac e trazida ao Brasil pelo governo do estado de São Paulo, a Coronavac já foi alvo de críticas e ironias por parte do presidente, que chegou a dizer que não compraria o imunizante.
“Não compraremos a vacina da China”, disse o mandatário no ano passado, ao responder um comentário no Facebook usando letras maiúsculas para dar ênfase à declaração.
Além disso, Bolsonaro definia a Coronavac como “vacina chinesa de João Doria” e comemorou a suspensão dos testes do imunizante por conta do suicídio de um voluntário. “Mais uma que Jair Bolsonaro ganha”, escreveu o presidente nas redes sociais.
O governo de São Paulo começou sua campanha de vacinação no último domingo, enquanto o Ministério da Saúde planejava dar a largada no programa nacional de imunização anti-Covid na quarta-feira (20), mas decidiu antecipar para esta segunda.
IMPEACHMENT GANHA FORÇA
Em meio à pressão pelo afastamento do presidente Jair Bolsonaro (sem partido), um perfil no Twitter se pôs à frente do debate e inaugurou o "placar do impeachment" a fim de mostrar para a população "como seu deputado votaria se o impeachment fosse hoje". Em última atualização, publicada na manhã deste domingo (17/1), 106 deputados são a favor do impedimento e 42 são contra. Outros 365 deputados não se posicionaram.
O ex-prefeito de São Paulo e ex-candidato à presidência da República, Fernando Haddad (PT), também por meio do Twitter, vem instigando os internautas a pressionar os parlamentares para que participem da enquete e se posicionem de forma pública.
"Sem impeachment, haverá muito mais mortes. Mais 100 mil? 150 mil? No ritmo atual, algo dessa ordem. Cada dia importa! O Congresso precisa se reunir já!", afirmou Haddad.
Outros representantes, como a deputada federal Tabata Amaral (PDT) e a vice-governadora de Pernambuco (PCdoB), se manifestaram a favor da ação.
Para compor o resultado, eles monitoram as redes sociais dos deputados, além de cobrar àqueles que ainda não se manifestaram sobre o tema.
O presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), apesar de criticar a postura do governo federal frente a pandemia, segue engavetando os pedidos de impeachment contra o presidente. Conforme dados da Secretaria-Geral da Mesa da Câmara, foram protocolados 61 pedidos desde fevereiro de 2019. Quatro deles foram arquivados e duas novas denúncias foram realizadas neste ano e estão sob análise junto com outras 55.
BANHO DE SANGUE
O caso é que, conforme Bolsonaro vem mostrando desde o início do seu governo, não sabe digerir derrotas nem suporta opiniões contrárias às suas. Se a ideia do impeachment ganhar força, tudo o que se falou nas entrelinhas do início deste panorama político pode se materializar, com o presidente colocando toda a sua atenção na atração de apoiadores que tem dentro das Forças Armadas para se garantir no poder custe o que custar.
E isso pode custar muito caro para o Brasil e para a Democracia, pois há extremistas tanto no apoio a Bolsonaro quanto às ideologias esquerdistas, podendo ser incitado um banho de sangue tão ou mais letal que a pandemia de Covid-19, mas com efeitos muito mais nocivos ao bem-estar de toda a população.
PACTO FEDERATIVO
Com esse horizonte nada tranquilo que se vislumbra, as eleições das mesas diretoras da câmara Federal e do Senado, que podem ser o “fiel da balança” de tudo o que pode vir, politicamente, pela frente.
Em caso de vitória dos candidatos oposicionistas a Bolsonaro, a possibilidade de impeachment ganha contornos reais e preocupantes, e Bolsonaro passará a viver um verdadeiro inferno em seu governo.
Caso vençam os candidatos apoiados por Bolsonaro – que insiste em dizer que não apoia ninguém – diminuem as chances de mais derrotas no Congresso Nacional e aumentam a possibilidade de, enfim, o presidente da república colocar seu foco e seus interesses nos assuntos que realmente interessam à população, deixando a politicagem em segundo plano e partindo para o combate à pandemia como deve, incentivando a aplicação da vacina – seja ele qual for – em todo o Brasil, imunizando o povo e trazendo uma tranquilidade relativa de que, pelo menos na Saúde, o governo federal estará fazendo a sua parte.
Em fevereiro, corre-se o sério risco de a fome se alastrar pelos lares brasileiros, aonde chefes de família contavam com o auxílio emergencial pago pelo governo federal.
Também no início de fevereiro, logo no dia primeiro, o Brasil vai enfrentar a greve dos caminhoneiros que não tem data para terminar e traz consigo reivindicações de difícil solução imediata, que precisarão de negociações longas e debates entre classes para que sejam ao menos entendidas antes de serem resolvidas.
Dessa forma, o resultado das eleições na Câmara Federal e no Senado podem ser o estopim que falta para que o desentendimento impere e dificulte ainda mais a vida do povo brasileiro, ou pode ser o sopro de esperança que apague a chama da discórdia e permita que o Brasil passe por esses momentos de conflito com o menor número de “baixas” possível.
Oremos!