A queda levou a aprovação para o pior patamar desde o início da atual gestão, em janeiro de 2019
Por Camila Turtelli
Com o avanço das investigações sobre denúncias de irregularidades na compra de vacinas contra a covid-19, a popularidade do presidente Jair Bolsonaro caiu ao seu patamar mais baixo desde o início do governo, aponta pesquisa realizada pela Confederação Nacional do Transporte (CNT) em parceria com o Instituto MDA. As entrevistas foram efetuadas entre 1º e 3 de julho.
A avaliação positiva do governo (quando o entrevistado diz considerar a gestão ótima ou boa) caiu de 33%, em fevereiro de 2020, para 27,7% em julho deste ano. A queda levou a aprovação para o pior patamar desde o início da atual gestão, em janeiro de 2019.
A porcentagem de pessoas que responderam à pesquisa dizendo considerar o governo ruim ou péssimo subiu de 35% para 48,3% de fevereiro para julho. Outros 22,7% consideram a administração regular. Nesse quesito, os entrevistados são questionados de que maneira avaliam o governo do presidente Jair Bolsonaro: ótimo, bom, regular ou péssimo.
As entrevistas nas quais se baseia a pesquisa foram realizadas após a revelação de suspeitas de corrupção envolvendo a compra de vacinas. Na sexta-feira, 2, o Supremo Tribunal Federal (STF) autorizou a Procuradoria-Geral da República (PGR) a investigar se Bolsonaro prevaricou no caso da compra da vacina indiana Covaxin. A suspeita é de que ele não comunicou aos órgãos de investigação indícios de irregularidades na aquisição do imunizante pelo Ministério da Saúde.
Além disso, cresceram nos últimos meses movimentos de rua pedindo o impeachment de Bolsonaro. Neste sábado, 3, atos foram registrados em todas as capitais com o nome de "3JForaBolsonaro". Os organizadores contabilizaram ações em 347 municípios no Brasil e em 16 países do exterior. Foi a terceira manifestação em um período de dois meses. Os manifestantes pedem o afastamento do presidente, a retomada do auxílio emergencial de R$ 600 e a vacinação em massa da população.
A Câmara também recebeu, na semana passada, o chamado "superpedido" de impeachment de Bolsonaro, assinado por movimentos e partidos de esquerda, siglas de centro, centro-direita e ex-bolsonaristas, com 46 assinaturas e 271 páginas.
Com esse cenário, a aprovação pessoal de Bolsonaro também caiu, indo de 43,5% para 33,8%. Nessa pergunta, o instituto questiona as pessoas consultadas se elas aprovam ou desaprovam o desempenho pessoal do presidente da República. A rejeição subiu de 51,4% para 62,5% no mesmo período. Ou seja, a quantidade de reprovação superou a de aprovação.
Cenário eleitoral
A pesquisa CNT/MDA também questionou os entrevistados em quem eles votariam caso as eleições presidenciais do ano que vem fosse hoje. O ex-presidente da República Luiz Inácio Lula da Silva lidera as intenções de voto, com 41,3%, enquanto Bolsonaro tem 26,6%.
O ex-candidato à Presidência Ciro Gomes (PDT), por sua vez, registrou 5,9%, o mesmo patamar do ex-ministro da Justiça e Segurança Pública Sérgio Moro.
Se Bolsonaro for candidato a presidente no ano que vem, 22,8% disseram que votariam nele com certeza e 11,6% disseram que poderiam votar nele. Por outro lado, 61,8% disseram que não votariam nele para presidente de jeito nenhum e 0,4% disse não conhecê-lo ou saber quem é.
Se Lula confirmar a candidatura a presidente no ano que vem, 35,4% disseram que votariam nele com certeza e 17,1% disseram que poderiam votar nele. Por outro lado, 44,5% disseram que não votariam nele para presidente de jeito nenhum e 0,1% disse não conhecê-lo ou saber quem é.
Se a eleição para presidente fosse hoje, 52,6% votariam em Lula e 33,3% disseram que votariam em Bolsonaro, no caso de uma disputa no segundo turno entre os dois candidatos. Para este cenário, 11,5% votariam branco ou nulo.
Em outra simulação de segundo turno, Ciro aparece com 43,2% contra 33,7% de Bolsonaro. Para este cenário, 18,8% votariam branco ou nulo.
Foram realizadas 2.002 entrevistas presenciais, em 137 municípios de 25 Unidades da Federação. A margem de erro é de 2,2 pontos percentuais para mais ou para menos, com 95% de nível de confiança.
Tentei escapar, mas é quase inevitável falar sobre a Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) do Senado relativa à pandemia e os fatos que levam a ela. Não gosto de personalizar, e menos ainda, por motivos óbvios, quando se trata do presidente da República. Tratarei de não o fazer, embora seja difícil
Por Ricardo Noblat
O caso parecia banal: uma tentativa de gastar dinheiro público, sem critério. Mas não era. Não só porque há certa irritação no país com relação ao desvio de finalidades no uso do dinheiro dos contribuintes, mas também porque, no caso, se trata de um governo que se jacta de ser cuidadoso nessa matéria (obrigação de qualquer presidente que se preze). E também porque os fatos em tela se dão no âmbito de uma pasta, a da Saúde, diretamente ligada à luta contra a pandemia, a qual torna a vida de cada um de nós arriscada. Portanto, o olhar da opinião pública fica ainda mais atento para tudo o que se passa em seu âmbito e no dos setores do governo a ele ligados.
Não quero dizer que se deva generalizar o que aconteceu, nem deixar de reconhecer o efeito, louvável, de o governo prestar atenção ao que acontece com os fundos públicos. Não deveria agora desviar o olhar. E não se trata somente do presidente, mas do conjunto da administração: o chefe dela paga o preço de erros dos quais nem sequer toma conhecimento. Quem está na chuva se molha, como eu me molhei, mesmo não sendo responsável direto por alguns erros…
Por isso mesmo, pasma ver quanta incompetência e quanto descaso na administração de coisas tão importantes como sucede com recursos do Ministério da Saúde. Pior, chega a assustar o pouco-caso inicial da autoridade máxima com os eventos que se desenrolam naquela pasta. A alegação de desconhecimento pode até ser verdadeira (recordo-me do caso do apagão, quando eu, entusiasmado com a construção de novas hidrelétricas, não me dei conta de outros problemas de distribuição de energia que já atormentavam o povo e terminaram por “balançar o coreto”).
Ex-presidente e possível adversário de Bolsonaro em 2022 se pronunciou pela primeira vez após acusações
Por iG Último Segundo
O ex-presidente, Luiz Inácio Lula da Silva , afirmou que CPI da Covid poderá acionar o Supremo Tribunal Federal (STF) para interditar o presidente Jair Bolsonaro caso as denúncias de corrupção em compra de vacinas contra à Covid-19 sejam verdadeiras . A afirmação foi feita em entrevista ao jornal O Liberal , do Pará, neste sábado (03).
Na entrevista, Lula citou as denúncias do gabinete paralelo e a possibilidade de impeachment contra o presidente da República após a publicação do relatório da CPI da Covid no Senado.
"Se for verdade as denúncias de corrupção na compra das vacinas, se for verdade as denúncias do gabinete paralelo, se for verdade todas as coisas que tão falando contra o governo e contra ministros do governo, eu acho que a CPI pode pedir à Suprema Corte a interdição do Bolsonaro ou pode, com base no relatório da CPI, [solicitar] mais um pedido de impeachment", afirmou.
Desde a semana passada, quando iniciaram as denúncias contra o governo federal, Lula se manteve em silêncio, enquanto adversários comentavam e cobravam um posicionamento do ex-presidente. O silêncio do petista foi interpretado como possibilidade de defesa à Bolsonaro, seu principal adversário na corrida eleitoral de 2022. A equipe do político, no entanto, acredita que Lula quer desgastar a imagem de Bolsonaro.
Acusação contra o governo
Nos últimos dias, o governo federal tenta encontrar alternativas para escapar das denúncias de corrupção e irregularidades em compra de vacinas contra à Covid-19 que rondam o Palácio do Planalto. Servidor do Ministério da Saúde e responsável pela assinatura para liberação de imunizantes, Luiz Ricardo Miranda denunciou agentes do Ministério da Saúde que tentaram efetivar o pagamento antecipado para o imunizante Covaxin . Ele e o irmão, o deputado federal Luiz Miranda (DEM-DF), prestaram depoimento na CPI da Covid e entregaram os documentos aos senadores.
O parlamentar ainda ressaltou ter avisado Jair Bolsonaro sobre o esquema e disse que o presidente garantiu a investigação da Polícia Federal . Entretanto, a PF informou não ter solicitação de abertura de inquérito, o que provocou um pedido de investigação contra Bolsonaro no STF por prevaricação.
O Planalto ainda encara outra denúncia por suspeita de corrupção. O policial militar, Luiz Paulo Dominguetti, afirmou ao jornal Folha de S. Paulo que é representante da Davati Medical Supply no Brasil e teria oferecido a vacina da AstraZenica ao Ministério da Saúde. No entanto, foi surpreendido por um pedido de propina de US$ 1 por dose, o que, se somado, poderia gerar R$ 2 bilhões para funcionários do ministério. O diretor de logística da pasta, Roberto Dias, suspeito de ter solicitado o dinheiro, foi exonerado do cargo.
Centrão enterra as pretensões de Bolsonaro em retroceder ao voto impresso. Presidentes de 11 partidos entram em acordo e são favoráveis às urnas eletrônicas. Apenas a preparação de um golpe justifica a narrativa do presidente
Por Eudes Lima
POSIÇÃO Gilberto Kassab é contrário ao voto impresso
Criar pautas que possam dividir os cidadãos é uma especialidade do presidente Bolsonaro. Mas ele fracassou quando tentou inventar um problema dizendo, sem provas, que o nosso sistema de votação é falho. A volta do voto impresso é uma fantasia do ex-capitão que não faz sentido. Não há risco de dizer que o nosso modelo de votação é um dos melhores do mundo. As urnas eletrônicas são seguras e absolutamente modernas. O sistema de apuração é excelente e reverenciado pela comunidade internacional. Exceto por meia dúzia de fanáticos, não há nada que justifique qualquer mudança. Reunidos, presidentes de 11 partidos políticos fecharam posição contrária ao voto impresso, inclusive com a participação de lideranças partidárias que apoiam o presidente. Eles representam mais de 63% dos deputados. O que, no entanto, o presidente não esperava era o fogo amigo. Entre as siglas estão aliados vitais ao Planalto como o PP e o PL. O cientista político Rubens Figueiredo pensa que é estranho o presidente renegar o sistema que o consagrou. “Bolsonaro está tentando criar uma justificativa antecipada caso não seja reeleito. Foi o que Trump fez com menos antecedência”, afirmou Figueiredo.
O caso está encerrado. O encontro aconteceu no sábado, 26, e os presidentes partidários que participaram da videoconferência entre outros foram antigos aliados como: Ciro Nogueira (PP), Gilberto Kassab (PSD), Luciano Bivar (PSL), Marcos Pereira (Republicanos), Paulo Pereira (Solidariedade), e Valdemar Costa Neto (PL). Estiveram presentes também os presidentes do DEM, MDB, PSDB e Cidadania. A disparidade ideológica de cada agremiação é tamanha que só mesmo uma proposta esdrúxula poderia trazer unanimidade dentro do grupo.
O presidente do PSD, Gilberto Kassab, fez uma declaração enfática sobre a posição do grupo. Ele disse que iria trabalhar para que quem esteja “armando para questionar as eleições, para criar tumulto, não seja bem-sucedido”. O PP, presidido pelo senador Ciro Nogueira, que flerta desde sempre a filiação de Bolsonaro para disputar o pleito em 2022, é um partido simbólico nesse caso. Nada menos do que o presidente da Câmara, Arthur Lira, está no partido. O Progressistas é tido como a principal sigla do Centrão e a sua posição impõe uma derrota acachapante ao presidente.
“Tem gente armando para questionar as eleições” Gilberto Kassab, presidente do PSD
ARTICULAÇÃO
O ministro Alexandre de Moraes presidirá o TSE nas eleições de 2022 e defende as urnas eletrônicas nas conversas com parlamentares em Brasília (Crédito:FABIO POZZEBOM)
O cientista político Márcio Coimbra entende que Bolsonaro vai continuar insistindo no assunto, por mais que ele saia derrotado. Coimbra disse que talvez o presidente prefira perder. “O objetivo dele é questionar a lisura das eleições caso venha a fracassar no pleito de 2022”, afirmou Coimbra. Para ser aprovada a mudança, o Congresso precisaria votar uma Proposta de Emenda a Constituição (PEC) até outubro. São necessários 308 votos na Câmara e 49 votos no Senado. Além dos partidos que participaram do encontro, agremiações como PT, PSOL e PCdoB são contrárias ao voto impresso. O Planalto teria que negociar o tema com cada parlamentar para aprovar uma mudança retrógrada, algo impraticável.
A narrativa de fraude eleitoral tem como pano de fundo uma ameaça golpista. Bolsonaro não esconde sua intenção em promover um golpe de Estado caso seja derrotado nas urnas. A incitação contra as instituições democráticas é clara. No Supremo Tribunal Federal (STF) o tema é tratado com preocupação. O ministro do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Luís Roberto Barroso, tem reafirmado em várias oportunidades o retrocesso que significa o voto impresso. Barroso disse que é “volta ao tempo de fraudes” e “vai trazer riscos e ameaças para resolver um problema que não existe”. O ministro Alexandre de Moraes, que presidirá o TSE durante as eleições de 2022, também é contrário à medida e disse que a mudança é desnecessária, pois não contribui “para a democracia, porque nós corremos um grande risco de quebrar o sigilo do voto”. A empreitada para manter as urnas eletrônicas tem movimentado o STF, ministros têm conversado com parlamentares na defesa do sistema. Mais uma cortina de fumaça de Bolsonaro está desfeita.
Para Haddad, centro e esquerda contra Bolsonaro poderão derrotá-lo já no primeiro turno da eleição do ano que vem
Por Ricardo Noblat
No grupo de WhatsApp chamado “Derrubando Muros”, por quase duas horas na tarde de ontem, discutiu-se a conjuntura brasileira e a necessidade de união das forças políticas que queiram derrotar o presidente Jair Bolsonaro nas eleições do ano que vem.
O grupo está ativo há mais de três meses. Dele fazem parte o governador João Doria (PSDB-SP), o ex-ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta, o empresário João Amoedo (Novo) e Roberto Freire, presidente do Cidadania, entre outros.
A novidade foi o ingresso de três novos nomes: Gilberto Kassab, presidente do PSD, Carlos Lupi, presidente do PDT, e Fernando Haddad, ex-candidato do PT a presidente da República em 2018. Ali, evita-se falar em possíveis candidaturas a presidente.
Kassab disse que o mais importante será dar um jeito de o país livrar-se do risco da reeleição de Bolsonaro. Lupi concordou. Haddad foi além: disse que um candidato de centro e um de esquerda poderão vencer Bolsonaro ainda no primeiro turno.