Os pára-quedistas que não se enganem, pois presidente da República vai privilegiar quem esteve com ele desde o início
Por Edson Rodrigues
Quando, em abril de 2016 o jornal O Estado De São Paulo profetizou que amigos de longa data do, então, vice-presidente Michel Temer estariam com ele caso chegasse ao poder, não fazia idéia do quão certa estava essa previsão.
Dizia a matéria: “considerado homem que ouve mais do que fala, o vice-presidente Michel Temer (PMDB-SP) costuma cercar-se de pessoas de sua confiança não só para discutir política, mas também para falar sobre cinema, livros e cultura. É a este seleto grupo que ele recorre para os mais confiáveis conselhos neste momento em que está na iminência de assumir a presidência da República, caso o processo de impeachment de Dilma Rousseff passe no Senado.
O costume de reunir amigos e colegas de profissão (Temer é advogado) vem desde o tempo da faculdade.Participam desses encontros ex-ministros do Supremo Tribunal Federal como Eros Grau, Carlos Ayres Britto e Cezar Peluso e juristas como Celso Antonio Bandeira de Mello, Antonio Carlos Mariz de Oliveira, Gastão Toledo, Eduardo Muylaert, Manoel Alceu Affonso Ferreira, Rui Fragoso e Paulo Lucon, entre outros. “Conversamos sobre tudo, menos política”, disse Eros Grau. Deste grupo certamente sairá o ministro da Justiça caso o peemedebista assuma a Presidência”.
Pois bem. Salvo raros nomes, são esses ungidos que permanecem sussurrando aos ouvidos de Temer como agir em meio à crise, e isso vem dando mais que certo.
Isso serve de exemplo de como os velhos companheiros são importantes no aconselhamento, principalmente por conhecerem de perto o aconselhado e suas maneiras de agir e pensar.
Tem muito governador que segue a mesma cartilha e Marcelo Miranda não está fora desse seleto grupo. Precisa apenas ouvir um pouco mais.
CONSEQUÊNCIAS DA VITÓRIA DE TEMER
Todo poder ao “centrão”
A líder do PSB orientando voto contra mas avisando que votaria a favor de Temer sintetiza o que foi a apreciação da primeira denúncia contra o presidente da República pela Câmara: os partidos valem nada. Ao menos como representação política. Tanto que o grosso da barganha feita pelo Planalto para sustentar o chefe não foi com lideranças partidárias, mas com bancadas temáticas: ruralistas, sindicalistas, sonegadores.
Partidos negociam legendas para candidaturas, coletam verbas do fundo partidário e distribuem tempo de propaganda eleitoral. Só. Não têm mais nem pudor de aparentar unidade. O líder do PSDB orientou sua bancada a votar contra Temer, mas o autor do relatório a favor do presidente é tucano, assim como quatro ministros. O PT pregou contra, mas um seu governador demitiu secretários para que eles ajudassem o presidente na votação.
Sempre que o Planalto entra pesado para aprovar ou brecar uma proposta, as bancadas partidárias se dissolvem. A negociação é voto a voto, grupelho a grupelho, financiador a financiador. E, nisso, a Turma do Pudim não tem concorrência. O PT pagava mais caro e sofria muito mais para conseguir maioria. O PSDB idem. Não é à toa que o maior vencedor de ontem não foi nenhum partido ou indivíduo, mas uma massa amorfa de letrinhas intercambiáveis.
Define-se pela posição geográfica, traduzida no apelido coletivo de “Centrão”. Reúne deputados que podem estar hoje em uma sigla e amanhã em outra, sem que isso faça diferença sobre como votarão ou sobre suas chances de reeleição. É dando que recebem. Estão sempre no centro, ou seja, apoiando o governo, mas ameaçando constantemente debandar se não forem recompensados.
Esse grupo tomou das mãos indecisas do PSDB o papel de fiador do governo, ganhou status e vai cobrar cada vez mais caro por isso. Se a espada do poder não escapou do punho de Temer foi graças ao cabo trançado entre PSD, PTB, DEM e outras legendas similares. De cara, o “Centrão” vai tentar coletar ministérios que estão com os tucanos. Nada mais natural, dada sua fidelidade e a inconstância tucana. Mas não vão se contentar com isso.
Animados pelo protagonismo repentino, já sonham com as eleições majoritárias de 2018. Falam até em uma chapa presidencial encabeçada pelo ministro da Fazenda, Henrique Meirelles (depois de zanzar por PSDB, PMDB e pelo governo Lula, ele está filiado ao PSD de Kassab). Falta ainda combinar com o eleitor – afinal, a recuperação econômica é um feto numa gestação de risco.
Reforma ministerial à vista
O presidente Michel Temer chamou nesta quinta-feira (3) ministros e líderes do governo para fazer um "estudo" de cargos de segundo e terceiro escalão ocupados por indicações de deputados federais.
O objetivo de Temer é, uma vez feito o mapa de cargos nos estados, selecionar as disputas locais que são "simbólicas", nas palavras de um auxiliar de Temer, entre os deputados. E, assim, autorizar a redistribuição de cargos para fortalecer aliados em suas bases eleitorais.
Os deputados querem os cargos pois argumentam que essas vagas na administração federal refletem na eleição de 2018: alegam precisar da estrutura de poder nas bases para fazer campanha no ano que vem.
O presidente quer, com isso, retomar o controle da base aliada: garantir apoio futuro dos parlamentares – em relação à reforma da Previdência – além de pagar a fatura aos apoiadores do Planalto que deram voto contra a denúncia por corrupção passiva na última quarta-feira (2).
Participaram da reunião, além de Temer, os ministros Antonio Imbassahy (Secretaria de Governo), Eliseu Padilha (Casa Civil) e os líderes Aguinaldo Ribeiro (PP-PB) e André Moura (PSC-SE).
Temer disse aos aliados que é uma "questão de honra" avançar na reforma da Previdência.
Dyogo: placar da denúncia dá mais segurança para avanço nas reformas
O ministro do Planejamento, Dyogo Oliveira, avaliou nesta sexta-feira (4) que o placar da votação esta semana da denúncia contra o presidente da República, Michel Temer, na Câmara mostra uma "força muito grande" do governo na casa e dá a equipe econômica mais segurança para avançar com a agenda de reformas, disse em rápida entrevista a jornalistas após fazer palestra em evento da Associação Brasileira de Incorporadoras Imobiliárias (Abrainc) em São Paulo.
Ele afirmou que a reforma da Previdência é a principal agenda da equipe econômica e o ideal é que as medidas sejam votadas pelos parlamentares o mais rápido possível. "O governo está colocando essa reforma como prioridade da agenda do Congresso também. Vamos tratar a questão dos tempos, dos momentos, nas próximas semanas com as lideranças da Câmara."
Dyogo disse que a reforma da Previdência é a medida mais importante para a melhora da situação fiscal do Brasil. "Sem estabilização fiscal, corremos sérios riscos na área econômica e de desenvolvimento ao longo do futuro do País", disse ele, ressaltando que as mudanças na aposentadorias são fundamentais para a continuidade do crescimento econômico. "Há consciência disso no governo, nas lideranças políticas."
O ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, disse na quinta-feira (3) que a expectativa é que a reforma da Previdência seja aprovada até outubro. Nesta sexta, Dyogo afirmou que considera esse prazo factível.
PSDB delega a Temer destino de ministros
Ao fechar um acordo sobre o processo de eleições internas no PSDB, os senadores Aécio Neves (MG) e Tasso Jereissati (CE), presidentes licenciado e interino respectivamente da sigla, delegaram ao presidente Michel Temer o destino de seus ministros tucanos. A legenda saiu rachada do processo de votação na Câmara dos Deputados sobre o prosseguimento da denúncia por corrupção passiva contra o peemedebista.
"Vamos reavivar o partido. Se tem ministro (do PSDB no governo), se não tem ministro, isso é problema do presidente. Não é nosso problema", afirmou Tasso durante entrevista coletiva no Senado ao lado de Aécio.
O senador mineiro também minimizou a permanência no governo Temer. "(Continuar no governo) é uma questão, para nós, absolutamente secundária. Essa questão de cargos e ministérios pertence ao presidente da República, que fará aquilo que achar mais adequado em relação aos cargos do PSDB. Isso não é uma preocupação que nós temos", disse Aécio.
Agora o partido ficará focado em escolher seus dirigentes. Em encontro na casa do senador mineiro, em Brasília, horas antes da coletiva, Aécio fez um "apelo" para que Tasso continue à frente da sigla: "Ao meu ver, é a pessoa que tem as melhores condições (de conduzir o partido). Fiz a ele um apelo em nome da unidade do partido".
O acordo possibilitou também a Aécio continuar como presidente licenciado mesmo sendo denunciado em processo no Supremo Tribunal Federal. Antes do encontro, Tasso manifestava a interlocutores o interesse de entregar o cargo de interino por não concordar com as articulações paralelas de Aécio com o Palácio do Planalto e o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ).
A avaliação dos cabeças pretas, movimento que defendia o fim da aliança, também foi positiva. O deputado Daniel Coelho (PSDB-PE) ligou para Aécio para elogiar o gesto pela "união do partido". Na avaliação de alguns deles, manter Tasso no comando da legenda é uma sinalização de reverência. "É um gesto para todos nós que estamos pensando em sair do governo", disse.
Alguns tucanos avaliam que o único derrotado teria sido o governador Geraldo Alckmin (SP), que atuou pela derrota do governo. Entre os deputados paulistas, 11 de 12 votaram pelo prosseguimento da denúncia. "Esse acordo entre Aécio e Tasso foi feito com o Alckmin. Ele teve participação direta e era um dos mais preocupados com a divisão do partido", disse o deputado Silvio Torres (SP), principal aliado do paulista na Câmara e secretário-geral do PSDB.