Inquérito foi instaurado pelo próprio Supremo Tribunal Federal para apurar difusão de informações falsas e ameaças a ministros. Partido moveu ação que questionou legalidade
Por Fabio Rodrigues Pozzebom
Seis dos onze ministros do Supremo Tribunal Federal ( STF ) votaram pela legalidade do inquérito instaurado no ano passado para investigar a disseminação de notícias falsas e ataques a integrantes da Corte, formando maioria.
O julgamento ainda não foi concluído. Se, ao final, a maioria for confirmada, o inquérito continuará aberto, desde que trate apenas de ameaças e difamação a membros do STF e familiares, bem como de mensagens contrárias à democracia.
Segundo os ministros, a liberdade de imprensa e postagens em redes sociais não podem ser alvo da investigação, a não ser que sejam impulsionadas por financiamento ou esquema de divulgação em massa. Nos votos, os ministros lembraram que liberdade de expressão é diferente de ameaças e ofensas .
"Liberdade de expressão não se confunde com ameaça, com coação, com atentado. A Constituição consagra o binômio liberdade com responsabilidade. A Constituição não permite que criminosos se escondam sob o manto da liberdade de expressão utilizando esse direito como escudo protetivo para o discurso de ódio e a pratica de atividades ilícitas. Liberdade de expressão não é liberdade de agressão, liberdade de expressão não é liberdade de destruição da democracia, das instituições e da honra alheia", afirmou Alexandre de Moraes .
"Liberdade de expressão não pode ser biombo para criminalidade e para impunidade", disse Cármen Lúcia , "é contra o Poder Judiciário qualquer ato que atente contra a condição de segurança física ou psíquica de um juiz.
Está em julgamento de uma ação da Rede Sustentabilidade que pede o arquivamento do chamado inquérito, por irregularidades na forma como foi instaurado. O partido questionou o fato de que a Procuradoria-Geral da República (PGR) não ter sido consultada antes da abertura do inquérito. Outro ponto foi o presidente do tribunal, Dias Toffoli , ter escolhido Moraes para conduzir o caso, em vez de sortear um relator, como é a praxe.
O relator da ação, ministro Edson Fachin, votou na semana passada, em defesa da legalidade do inquérito. Nesta quarta-feira, votaram no mesmo sentido Alexandre de Moraes, que é relator do inquérito das fake news , Luís Roberto Barroso, Rosa Weber, Luiz Fux e Cármen Lúcia. Outros cinco ministros ainda votarão nesta quarta-feira.
Em seu voto, Moraes garantiu não há nas apurações caso de simples xingamento aos ministros, ou críticas as decisões. Segundo ele, 72 trechos das investigações já foram encaminhados para a primeira instância do Judiciário, porque tratam de suspeitos sem direito ao foro privilegiado. O ministro citou exemplos de agressões e ameaças feitas aos ministros do STF por meio da internet que são alvo do inquérito.
"Eu peço redobrada atenção para algumas frases duras que vou ler, de algumas agressões e ofensas feitas aos ministros do STF para que se pare de uma vez por todas de se fazer confusões de críticas, por mais ácidas que sejam, que devem existir e continuar, com agressões, ameaças e coações. A primeira: ‘Que estuprem e matem as filhas dos ordinários ministros do STF’. Em nenhum lugar do mundo isso é liberdade de expressão. Isso bandidagem, isso é criminalidade, postagem realizada por uma advogada do Rio Grande do Sul incitando o estupro, a violência sexual contra filhas de ministros do STF ", declarou.
O ministro também citou como exemplo a seguinte mensagem: “Quanto custa atirar a queima-roupa nas costas de cada ministro filho da puta do STF que queira acabar com a prisão da segunda instância. Se acabarem com a prisão em segunda instância, só nos resta jogar combustível e tocar fogo no plenário do STF com ministros barbies dentro”. E completou: “Já temos em poder armas e munição de grosso calibre. Esconda seus filhos e parentes bem escondido na Europa, porque aqui não vai ter onde se esconder. Faremos um tribunal em praça pública com direito ao fuzilamento de todos os parasitas e vagabundos estatais”.
Também nos votos , os ministros concordaram que o Ministério Público não tem exclusividade na abertura de inquéritos. Eles ressaltaram que o Regimento Interno do STF prevê possibilidade de instauração de investigação pelo presidente do tribunal para apurar agressões e ameaças à integridade da Corte e de seus integrantes. Ele também esclareceu que, nesses casos, o presidente do STF indica o relator.
O inquérito das fake news ganhou os holofotes há três semanas, quando Moraes determinou buscas e apreensões em endereços ligados a bolsonaristas. O governo criticou o ministro pela operação, o que deixou ainda mais áspera a relação do STF com o Palácio do Planalto.
Habeas corpus foi protocolado por ministro da Justiça; Weintraub defendeu a prisão de ministros do STF e os chamou de 'vagabundos'. Em depoimento, ele preferiu ficar em silêncio
Com Assessoria
Por 9 votos a 1, o Supremo Tribunal Federal (STF) rejeitou o habeas corpus (HC) que tentava retirar o ministro da Educação, Abraham Weintraub do inquério das fake news . Pedido de HC havia sido feito pelo ministro da Justiça, André Mendonça.
O habeas corpus foi levado a julgamento em plenário virtual, onde os votos são computados de forma eletrônica. A maioria dos ministros seguiu o voto do relator, Edson Fachin.
Os ministros Dias Toffoli, Celso de Mello, Gilmar Mendes, Ricardo Lewandowski, Cármen Lúcia, Luiz Fux, Rosa Weber e Luís Roberto Barroso votaram contra o Habeas Corpus. O ministro Marco Aurélio foi o único que se posicionou de forma favorável ao pedido de Mendonça.
O ministro Alexandre de Moraes se declarou impedido e não votou. Ele foi responsável por colocar Weintraub entre os investigados. A inclusão foi feita por conta da afirmação feita pelo ministro da Educação na reunião ministerial de 22 de abril.
Na ocasião, Weintraub disse que, se dependesse dele, "botava esses vagabundos todos na cadeia, começando no STF". Em depoimento prestado no fim de maio sobre o inquérito, o ministro ficou em silêncio e não respondeu as perguntas da Polícia Federal.
Objetivo da medida é identificar financiadores de atos antidemocráticos nos quais manifestantes pediram fechamento do Supremo, do Congresso e intervenção militar.
Com Agências
O ministro Alexandre de Moraes, do STF (Supremo Tribunal Federal), autorizou nesta terça-feira (16) a quebra de sigilo bancário de 10 deputados e um senador bolsonaristas investigados no inquérito das fakes news, relatado por Moraes.
A decisão de Moraes atinge os parlamentares Daniel Silveira (PSL-RJ), Cabo Junio Amaral (PSL-MG), Otoni de Paula (PSC-RJ), Caroline de Toni (PSL-SC), Carla Zambelli (PSL-SP), Alê Silva (PSL-MG), Bia Kicis (PSL-DF), General Girão (PSL-RN), Guiga Peixoto (PSL-SP) e Aline Sleutjes (PSL-PR) e senador Arolde de Oliveira (PSD-RJ).
Na abertura da sessão desta terça-feira (16), a ministra Cármen Lúcia se manifestou a respeito da ação. “Somos nós juízes constitucionais, servidores públicos, a quem incube o dever de, em última instância judicial, não deixar que o estado de direito conquistado se perca, porque todos perderão. Atentados contra instituições, contra juízes e contra cidadãos que pensam diferente voltam-se contra todos, contra o país”, disse ela.
“Que não se cogite que a ação de uns poucos conduzirá a resultado diferente no que é a convivência democrática. E não se cogite que se instalará algum temor ou fraqueza nos integrantes da magistratura brasileira. Este tribunal é presente, está presente, permanecerá presente e atuante, cumprindo seus compromissos institucionais com a República”, completou Cármen Lúcia.
Na manhã desta terça, por decisão de Moraes, a Polícia Federal começou a cumprir 26 mandados de busca e apreensão contra 21 pessoas, entre as quais empresários, blogueiros, youtubers e um deputado, em Brasília, São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Maranhão e Santa Catarina.
Busca e apreensão
Pela manhã, dentre os 26 mandados de busca e apreensão autorizados pelo ministro Alexandre de Moraes, a Polícia Federal cumpriu um no gabinete do deputado Daniel Silveira (PSL-RJ), um dos principais defensores do presidente Jair Bolsonaro na Câmara.
Os investigadores fizeram o chamado “espelhamento” das informações de computadores do escritório.
A PF ainda localizou três computadores com aplicativos que inviabilizavam a cópia do material. Diante da situação, os agentes levaram dois computadores que seriam do deputado e um do chefe de gabinete.
A PF busca e-mails de todos os funcionários do gabinete que possam indicar eventual participação em uma rede de estruturação e financiamento dos atos antidemocráticos.
O que disseram os parlamentares
Saiba abaixo o que os parlamentares disseram sobre a decisão de Moraes:
Deputada Carla Zambelli (PSL-SP) – A assessoria de imprensa da deputada federal Carla Zambelli esclarece que a defesa da parlamentar não foi intimada a respeito de suposta quebra de sigilo bancário da deputada, não sabendo sequer em qual procedimento a referida decisão pode ter sido ultimada. Carla Zambelli afirma que “se alguém espera encontrar algo que me comprometa, terá uma grande decepção”. “Reforçamos que a parlamentar está, como sempre esteve, à disposição das autoridades”.
Deputado Junio Amaral (PSL-MG) – “Mais uma vez eu estou sabendo a partir da imprensa apenas. Direitos e garantias fundamentais assegurados, com exceção daqueles que são apoiadores do presidente Bolsonaro. Se você se dispõe nesse sentido publicamente e tem algum tipo de influência, pode ter certeza que a intenção é intimidar você. Eu não fui notificado de nada, não tenho nenhuma informação oficial acerca disso. […] A única coisa que eu financiei recentemente é o meu apartamento. Eu não tenho mais financiamento de absolutamente nada. E ainda que fizesse doações para manifestações, é direito meu.”
A deputada catarinense Caroline De Toni em entrevista a Rádio Chapecó disse que foi “surpreendida por essa notícia”. “Não existe isso”, declarou De Toni. Sobre o STF, a parlamentar catarinense afirmou que “esses (Supremo Tribunal Federal) tão forçando uma situação muito delicada… estou questionando a legitimidade do ministro Alexandre de Moraes, que está tripudiando das leis e do estado de direito”. Caroline de Toni classificou a quebra de sigilo como “abuso de direito sem nenhuma prova…algo muito preocupante”. Afirmou que irá constituir um advogado para “voltar ao estado das leis e da normalidade no Brasil.”
De Toni se diz perseguida por ser de direita e que alguns ministros do Supremo estão tripudiando da democracia e da Constituição.
Quem são:
Alê Silva, deputada (PSL-MG)
Aline Sleutjes, deputada (PSL-PR)
Arolde de Oliveira, senador (PSD-RJ)
Bia Kicis, deputada (PSL-DF)
Carla Zambelli, deputada (PSL-SP)
Caroline de Toni, deputada (PSL-SC)
Daniel Silveira, deputado (PSL-RJ)
General Girão, deputado (PSL-RN)
Guiga Peixoto, deputado (PSL-SP)
Junio Amaral, deputado (PSL-MG)
Otoni de Paula, deputado (PSC-RJ)
A intenção é apurar se as duas, e mais dois deputados bolsonaristas, agiram no financiamento de atos antidemocráticos contra STF e Congresso
Do Site Metropoles
Oministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), determinou nesta terça-feira (16/06) a quebra do sigilo bancário de deputados federais bolsonaristas. A intenção é apurar se eles atuaram no financiamento de atos antidemocráticos, que pediam o fechamento da Corte e do Congresso Nacional. A informação é do jornal O Globo.
O ministro determinou a quebra dos sigilos bancários de ao menos quatro parlamentares bolsonaristas: Bia Kicis (PSL-DF), Carla Zambelli (PSL-SP), Cabo Junio Amaral (PSL-MG) e Otoni de Paula (PSC-RJ).
A decisão de Moraes foi tomada em conjunto com a autorização de busca e apreensão contra 21 alvos ligados à organização de atos antidemocráticos, em operação realizada nesta terça pela Polícia Federal.
A medida foi tomada após a constatação de indícios de que esses deputados manifestaram apoio aos atos antidemocráticos e pela necessidade de aprofundar as investigações em relação a eles.
A operação de busca e apreensão e quebras de sigilo foi solicitada pela Procuradoria-Geral da República (PGR) e autorizada por Moraes. A PF cumpriu hoje busca e apreensão contra o deputado federal bolsonarista Daniel Silveira (PSL-RJ).
PF cumpre 21 mandados contra Allan Terça Livre, Daniel Silveira e mais 19 alvos. Investigação está relacionada ao inquérito que apura financiamento de atos antidemocráticos
Com Agências
A Polícia Federal faz buscas na manhã desta terça-feira (16) em 21 localidades relacionadas ao inquérito que investiga atos antidemocráticos no Brasil. Entre os alvos estão o deputado federal Daniel Silveira (PSL-RJ) e o blogueiro Allan 'Terça Livre' Santos.
As diligências foram autorizadas pelo ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes.
"As medidas tem o objetivo de instruir o inquérito que investiga a origem de recursos e a estrutura de financiamento de grupos suspeitos da prática de atos contra a democracia", diz nota da Polícia Federal.
As buscas são feitas em São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Maranhão, Santa Catarina e no Distrito Federal.
No Twitter, Daniel Silveira confirmou a presença da PF em sua casa. "Polícia Federal em meu apartamento. Estou de fato incomodando algumas esferas do velho poder. E cada dia estarei mais firme nessa guerra! Ah, E não nos esqueçamos nunca: #NãoMexamcomWeintraub", disse Daniel Silveira em seu perfil no Twitter.
Ele ficou conhecido por quebrar a placa em homenagem à vereadora Marielle Franco, morta por milicianos em circunstâncias ainda não totalmente esclarecidas.
De acordo com a rede de TV "CNN", os policiais também estão nas casas do blogueiro Allan dos Santos, conhecido como Allan Terça Livre,do marqueteiro da Aliança pelo Brasil, Sérgio Lima, do blogueiro Fernando Lisboa e do youtuber Ravox Brasil. A lista ainda inclui Luis Felipe Belmonte, vice-presidente do Aliança pelo Brasil, que tem sido financiador e organizador do novo partido.
Alvos
Veja os alvos da operação desta terça confirmados até a última atualização desta reportagem:
Luís Felipe Belmonte: empresário, advogado e um dos principais financiadores e organizadores do Aliança, partido que Bolsonaro pretende criar. É o primeiro suplente do senador Izalci Lucas (PSDB-DF). Também é dono de um time de futebol em Brasília.
Sérgio Lima: publicitário que atua junto com Bolsonaro na construção do partido Aliança pelo Brasil, ainda não formalizado. Segundo o jornal "O Globo", ele foi o responsável pelo logotipo, pelo site e pelo aplicativo de coleta de assinaturas da legenda encabeçada pelo presidente
Daniel Silveira (PSL-RJ): deputado federal aliado do presidente Jair Bolsonaro. Junto com o deputado estadual Rodrigo Amorim (PSL-RJ), quebrou placa criada em homenagem da vereadora Marielle Franco durante comício de Wilson Witzel, então candidato a governador do Rio de Janeiro, em 2018
Allan Santos: blogueiro, é apoiador de Bolsonaro e um dos fundadores do site "Terça Livre"
Alberto Silva: também é blogueiro ligado a Bolsonaro e atua no canal "Giro de Notícias".
Ravox Brasil: youtuber bolsonarista
Nesta segunda-feira, a bolsonarista Sara Winter foi presa por determinação de Alexandre de Moraes no mesmo inquérito.