Números foram divulgados nesta segunda-feira (31) pelo Banco Central. Resultado está relacionado com arrecadação recorde no mês passado e atraso na aprovação do Orçamento de 2021
Por Vera Batista
O setor público consolidado registrou superavit primário recorde (quando as receitas são superiores às despesas) de R$ 24,3 bilhões em abril de 2021. Esse é o melhor resultado para um mês de abril da série histórica, iniciada em 2001, de acordo com o Banco Central (BC). No mesmo mês do ano passado, as contas públicas tiveram saldo negativo de R$ 94,3 bilhões. A Dívida Bruta do Governo Geral (DBGG) — que inclui governo federal, Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) e governos estaduais e municipais — ficou em R$ 6,665 trilhões em abril, equivalente a 86,7% do Produto Interno Bruto (PIB), queda de 2,2 ponto percentual em relação a março.
Fernando Rocha, chefe do Departamento de Estatísticas do BC, explicou que o resultado primário positivo em R$ 118 bilhões no confronto anual (o maior depois de abril de 2016, quando foi de R$ 16,9 bilhões) é consequência da base de comparação fraca com o mesmo mês de 2020, quando houve medidas fiscais para o enfrentamento da pandemia, como, por exemplo, adiamento do pagamento de impostos, e também da melhora na economia em abril de 2021 e a tendência de redução de despesas. “Vai prevalecer, nos próximos meses, algumas mudanças (semelhantes) no resultado primário, por causa da base”, afirmou.
Em relação à dívida bruta, ele observou que tanto o governo central quanto os demais entes gastaram menos este ano, igualmente pela redução das despesas extraordinárias. Os números da dívida bruta são consequência de resgates líquidos de dívida (redução de 0,8 ponto percentual), do efeito da valorização cambial no mês (redução de 0,3 ponto percentual), do efeito do crescimento do PIB nominal (redução de 1,5 ponto percentual), e da incorporação de juros nominais (aumento de 0,4 ponto percentual).
“No ano, a redução de 2,2 ponto percentual na relação DBGG/PIB decorre, em especial, dos resgates líquidos de dívida (redução de 1,3 ponto percentual), do efeito do crescimento do PIB nominal (redução de 2,8 ponto percentual), da desvalorização cambial acumulada (aumento de 0,2 ponto percentual) e da incorporação de juros nominais (aumento de 1,7 ponto percentual). Houve, especificamente, no mês passado o fator excepcional, que foi a queda de R$ 5,7 bilhões na apropriação de recursos de juros, que interferiu na dívida líquida.
“Um evento raro na série. Desde dezembro de 2001, só houve um outro evento desse, de recursos de juros, de R$ 648 milhões, em março de 2016. Mas agora foram R$ 5,7 bilhões. Quando acontece isso, quase sempre a razão são os swaps cambiais ( leilão de dólares para que a cotação da moeda americana não atinja valores muito elevados). Em abril, isso aconteceu mesmo com a apreciação cambial de 5,2% no mês. Mas não quer dizer que é uma tendência”, acentuou Fernando Rocha.
A Dívida Líquida do Setor Público (DLSP) chegou a R$ 4,655 bilhões (60,5% do PIB) em abril, redução de 0,6 ponto percentual do PIB no mês. De acordo como Banco Central, o resultado refletiu, sobretudo, os impactos do superavit nominal (redução de 0,4 ponto percentual), do ajuste de paridade da cesta de moedas que compõem a dívida externa líquida (redução de 0,1 ponto percentual), do efeito do crescimento do PIB nominal (redução de 1 ponto percentual) e da valorização cambial de 5,2% no mês (aumento de 1 ponto percentual).
No ano, a relação DLSP/PIB caiu 2,2 pontos percentuais, “evolução decorrente, sobretudo, do superavit primário acumulado (redução de 1 ponto percentual), da desvalorização cambial acumulada de 4% (redução de 0,7 ponto percentual), do efeito do crescimento do PIB nominal (redução de 2 pontos percentuais), e dos juros nominais apropriados (aumento de 1,5 ponto percentual), informou o BC.
Superavit
Houve superavits primários no governo central, nos governos regionais e nas empresas estatais, na ordem, de R$ 16,3 bilhões, R$7 bilhões e R$ 1 bilhão, respectivamente. O superavit primário do setor público consolidado no primeiro quadrimestre de 2021 alcançou R$75,8 bilhões, ante deficit de R$ 82,6 bilhões no primeiro quadrimestre de 2020.
Os juros nominais do setor público consolidado, apropriados por competência, registraram receita líquida de R$ 5,7 bilhões em abril de 2021, ante despesa líquida de R$ 21,5 bilhões em abril de 2020. “Contribuiu para essa evolução o resultado das operações de swap cambial no período (ganho de R$ 30,4 bilhões em abril de 2021 ante perda de R$ 8,3 bilhões em abril de 2020). No acumulado em 12 meses, os juros nominais alcançaram R$ 282,7 bilhões (3,68% do PIB), ante R$ 381,3 bilhões (5,14% do PIB) nos 12 meses terminados em abril de 2020”, informou o relatório do BC.
O resultado nominal do setor público consolidado, que inclui o resultado primário e os juros nominais apropriados, foi superavitário em R$ 30 bilhões em abril de 2021. No acumulado dos últimos 12 meses, o déficit nominal alcançou R$ 827,2 bilhões (10,76% do PIB), reduzindo-se em relação ao acumulado até março, R$ 973 bilhões (12,87% do PIB).
Segundo o ministro da Casa Civil, Luiz Eduardo Ramos, País apresentou lista de exigências, mas 'ainda não tem nada certo'
Por Lauriberto Pompeu 9 horas atrás
O ministro da Casa Civil, Luiz Eduardo Ramos, afirmou nesta segunda-feira, 31, que a condição estabelecida pelo governo brasileiro para o Brasil sediar a Copa América deste ano é de os jogos acontecerem sem torcidas e que todos os integrantes das delegações serem vacinados. Em entrevista no Palácio do Planalto, Ramos não deu como certo que o País vai receber a competição.
"Caso se realize (a Copa América no Brasil), ele não terá público. No momento são dez times. Já foi acordado com a CBF em reunião por videoconferência de no máximo 65 pessoas por delegação. Todos vacinados. Foi a condição que nós tratamos com a CBF", disse o ministro.
De acordo com Ramos, apesar de a própria Conmebol, entidade responsável pelo torneio de seleções, ter anunciado o Brasil como sede, isso ainda não está definido. "Não tem nada certo, quero pontuar de uma forma bem clara, estamos no meio do processo, mas não vamos nos furtar a uma demanda caso seja possível de atender", disse o ministro da Casa Civil.
A transferência do evento para o País foi anunciada após Colômbia e Argentina desistirem. O Brasil foi escolhido com o argumento de possuir estádios em boas condições de uso, apesar de alguns estarem ociosos após a Copa do Mundo de 2014. A CBF se ofereceu.
O anúncio gerou críticas por acontecer em meio a pandemia de covid-19. Ao longo do dia, governadores passaram a rejeitar a possibilidade de receber jogos do torneio em seus Estados. Rio Grande do Sul, Pernambuco e Rio Grande do Norte já alegaram não ter condições de receber um evento desse porte em meio à pandemia do coronavírus. Nas redes sociais, o evento ganhou apelidos como "Corona Cup" e "Cepa América", além de memes críticos à competição.
O ministro da Casa Civil respondeu às críticas: "Por que o Brasil vai sediar a Copa América durante uma pandemia? Senhores, primeiro que foi uma demanda que foi realizada via CBF para a Conmebol. Outra coisa, estamos em plena pandemia, uma situação difícil, só que o campeonato brasileiro, ele envolve 20 times na Série A e 20 times na Série B. Ou seja, estão ocorrendo jogos em todo o Brasil", disse o general.
Ao lado do ministro na entrevista no Palácio do Planalto, o secretário nacional de Esportes, Marcello Reis Magalhães disse que, caso confirmado no Brasil, caberá à CBF definir quais serão as sedes. "Estamos fazendo os esforços para caso a gente venha realizar a Copa América, que a CBF, por se tratar de um evento totalmente privado, é bom deixar isso bem claro, que a CBF negocie com os Estados e municípios onde vão ser as sedes. O governo federal apenas ajudará com a parte de infraestrutura para a entrada dessas equipes no País, basicamente isso" , disse Reis.
Quando anunciou o Brasil como sede da Copa América, o presidente da Conmebol, Alejandro Dominguez, fez questão de agradecer nominalmente o presidente Jair Bolsonaro. "Quero agradecer muito especialmente ao presidentede Jair Bolsonaro e a seu gabinete por receber o torneio de seleções mais antigo do mundo. Igualmente meus agradecimentos vão para o presidente da CBF, Rogério Caboclo, por sua colaboração", disse o dirigente máximo da Conmebol nas redes sociais.
O vice-presidente da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Covid, senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP), apresentou um requerimento para que o colegiado convoque o presidente da Confederação Brasileira de Futebol (CBF), Rogério Caboclo, para explicar sobre a realização do evento. A iniciativa é apoiada pelo senador Renan Calheiros (MDB-AL), relator da CPI, que afirmou ao Estadão que vai se esforçar para que ela seja aprovada.
A Argentina abriu mão do torneio depois de a Conmebol não aceitar as exigências feitas pelas autoridades sanitárias, que inclusive eram muito parecidas com as feitas pelo Brasil. Entre as reivindicações do governo argentino estava a redução do número de integrantes das delegações. As dez seleções participantes do torneio levariam entre 1 mil e 1,2 pessoas ao país. Também foi pedido que as delegações vacinassem seus membros com ao menos uma dose, além da adoação de rígidos protocolos em meio a um aumento de casos de covid-19 no país.
Eles participaram do Fórum de Investimentos da Apex-Brasil
Por Pedro Peduzzi
Os ministros da Saúde, Marcelo Queiroga, e da Economia, Paulo Guedes, disseram hoje (31) que o Brasil terá toda sua população vacinada até o final do ano. A fala foi feita por Queiroga e confirmada por Guedes em videoconferência, durante o Fórum de Investimentos Brasil 2021 – evento organizado pela Apex-Brasil, pelo Banco Interamericano de Desenvolvimento e pelo governo federal, voltado a investidores estrangeiros.
Fórum de Investimentos Brasil 2021, ministro Marcelo Queiroga apresentou algumas oportunidades na saúde pública e suplementar.
Ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, durante o Fórum de Investimentos Brasil 2021 - Ministério da Saúde
“Como disse o ministro Queiroga, a vacinação em massa é a principal política econômica que podemos fazer por agora”, disse Guedes ao reafirmar a intenção do governo em garantir o retorno seguro dos trabalhadores brasileiros ao ambiente de trabalho. “Não faltarão recursos para [a importação e a produção de] vacinas”, garantiu o ministro da Economia.
Momentos antes, Queiroga disse ter “certeza de que até o fim do ano vamos conseguir imunizar todos os cidadãos”, e apontou como prioridade de sua pasta dar celeridade à campanha de vacinação e o reforço de medidas sanitárias. Ele acrescentou que a vacinação contribuirá para o crescimento da economia brasileira, e que, para cada 10% da população vacinada projeta-se um crescimento de 0,13 ponto porcentual para a economia do país.
Ambiente econômico
Em seu discurso, o ministro Paulo Guedes corroborou com as declarações do ministro da Saúde, no que se refere à correlação entre vacinação e melhora do ambiente econômico, e disse estar otimista com os resultados que o país vem apresentando em termos de receita.
Segundo ele, a expectativa é de que a economia tenha crescimento superior aos 3,5% projetados para este ano. Ainda de acordo com o ministro, os recordes de receita que vêm sendo registrados “demonstram o vigor da recuperação econômica” do país.
Guedes listou algumas medidas adotadas pelo governo, no sentido de garantir “emprego e proteção aos mais vulneráveis”, o que, segundo ele, possibilitou a manutenção de 11 milhões de empregos formais.
O vice-presidente da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da covid-19, senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP), quer convocar o presidente da Confederação Brasileira de Futebol (CBF), Rogério Caboclo, para prestar esclarecimentos sobre as medidas de segurança para a realização de partidas da Copa América no País
Por Alexandre Senechal
"Definido o mascote da 'Cepa América': será o passarinho cloroquito", diz um dos diversos protestos em forma de brincadeira nas redes sociais. Mesmo anestesiado diante de tanta tragédia, o brasileiro segue sua rotina de buscar algum refúgio no humor, ainda que o motivo seja uma autêntica piada de mau gosto. O anúncio de que o Brasil, um dos epicentros da pandemia de novo coronavírus no mundo, receberá novamente a Copa América, após as desistências das sedes originais Colômbia e Argentina, causou espanto, mas não chegou a surpreender. A mudança anunciada nesta segunda-feira, 31, tem tripla paternidade: Conmebol, CBF e governo de Jair Bolsonaro.
Se havia qualquer dúvida de envolvimento federal no tema, o presidente da entidade sul-americana, o paraguaio Alejandro Domínguez, fez questão de saná-la. “A Conmebol agradece ao presidente Jair Bolsonaro e sua equipe, assim como à Confederação Brasileira de Futebol por abrir as portas do país ao que hoje em dia é o evento esportivo mais seguro do mundo. A América do Sul brilhará no Brasil com todas suas estrelas”, afirmou, em nota, a entidade, que tentou vender a ideia de uma "nova Conmebol" após a prisão de dezenas de seus dirigentes, em 2015.
Rapidamente, uma conclusão óbvia tomou as redes sociais. "E-mail da Pfizer = meses para responder; e-mail da Conmebol = reposta imediata." Não é modo de dizer. De fato, até a manhã desta segunda, transferir o torneio para o Brasil, sede da última edição de 2019, não estava nos planos. Mandá-lo para o Chile, Estados Unidos ou mesmo cancelá-lo apareciam como possibilidades mais viáveis. Como evidencia a mensagem da Conmebol, no entanto, CBF e Bolsonaro entraram em campo e salvaram a pátria dos cartolas.
Recentemente, Alejandro Domínguez contou com a ajuda de outro governo, o do Uruguai, que intermediou o acordo com a China que possibilitou a compra de vacinas para os atletas e comissões técnicas, o controverso fura-fila da Covid, um trato que incluiu até camisas autógrafas por Lionel Messi em um animado churrasco em Montevidéu. Semanas depois, a capital uruguaia foi confirmada como sede das finais da Libertadores e da Copa Sul-Americana, para surpresa daqueles que ainda acreditam que esporte e política não se misturam.
Muitos devem se questionar: por que não cancelar uma competição tão desinteressante, disputada três vezes nos últimos cinco anos, em um cenário tão calamitoso? A resposta é simples e vem em forma de cifrões. Para as confederações participantes, o torneio rende no mínimo 4 milhões de dólares (e mais 10 milhões de dólares ao campeão). Para a Conmebol, os valores com publicidade e direitos de transmissão giram em torno de 100 milhões de dólares. No Brasil, a transmissão em TV aberta será realizada pelo SBT.
Como se não bastasse topar receber dez delegações e colocar em risco estrelas do porte de Messi, Suárez e Neymar, além de milhões de brasileiros, tudo isso com duas semanas para organizar toda a logística, os três pais da ideia cogitam até receber público nos estádios, cujas sedes ainda não estão definidas - Brasília, é claro, certamente seria uma delas. A medida serve como um respiro (ou mera cortina de fumaça) tanto para o presidente da CBF, Rogério Caboclo, que, acuado por denúncias de gestão atrapalhada, poderá negociar tréguas com dirigentes regionais, quanto para Bolsonaro, que se acostumou a buscar apoio em estádios pelo país.
A decisão já começa a cobrar preço político. Os governos de Pernambuco e Rio Grande do Sul já se posicionaram contra a realização do torneio. A CBF cancelou a coletiva dos atletas na Granja Comary para evitar maiores constrangimentos. É possível que torcedores, clubes e até os quase sempre alienados jogadores se unam contra o absurdo. O recente fiasco da Superliga Europeia demonstrou a força dos verdadeiros protagonistas do jogo, em um histórico tapa na cara dos engravatados da bola. Qualquer que seja o destino da Copa América, no entanto, as intenções dos dirigentes envolvidos já foi escancarada. Enquanto isso, famílias choram a perda de 460.000 vítimas da Covid no Brasil.
Segundo um dos organizadores, pelo menos 170 cidades brasileiras participam da mobilização
Com Agências
Movimentos sociais, centrais sindicais e partidos de oposição foram às ruas neste sábado, 29, em manifestações contra o presidente Jair Bolsonaro e a gestão federal. Os atos criticam a condução federal na pandemia, pedem a retomada do auxílio emergencial de R$ 600 e a vacinação em massa da população, além de defenderem o impeachment do presidente. Segundo a Frente Brasil Sem Medo, uma das organizadoras do movimento, mais de 170 cidades brasileiras participam da mobilização. Há ainda a expectativa de atos em outros nove países neste sábado.
Os protestos vêm em resposta às manifestações de apoiadores do presidente, como a 'motocada' que aconteceu no último domingo, 23, no Rio de Janeiro. Apesar de abandonarem a defesa do "fique em casa", os grupos defendem que é possível ir às ruas de maneira segura, com o uso de máscaras e distanciamento social. Os motivos para a mudança de tom, segundo líderes dos movimentos, são tanto a manutenção de índices elevados de contaminação e mortes devido à pandemia, quanto a crise socioeconômica e o comportamento de Bolsonaro, que tem participado de sucessivos atos.
Além da Frente Brasil Sem Medo, também participam da organização dos protestos a Frente Brasil Popular, a Coalização Negra por Direitos, a União Nacional de Estudantes (UNE) e a Campanha Nacional Fora Bolsonaro. O movimento Acredito também é coorganizador dos atos em São Paulo, Minas Gerais, Ceará e Rio Grande do Sul.
Segundo o coordenador estadual da Frente Brasil Popular e da Central Única de Trabalhadores (CUT), Douglas Izzo, há preocupação da organização com o momento crítica da pandemia de covid-19. Nos atos, Izzo afirma que terão brigadas de saúde para a distribuição de máscaras e também há orientação para manter o distanciamento.
"Os manifestantes estão na rua pelo 'Fora Bolsonaro', não só pelos crimes de responsabilidade que ele cometeu ao não preparar o País para combater a covid-19 e organizar a vacinação, mas também contra a política do governo." Izzo diz que a frente é contra a reforma administrativa, a violência policial contra jovens na periferia e a favor do auxílio emergencial de R$ 600.
Em São Paulo, pancadas de chuva atrapalharam os preparativos para o ato na avenida Paulista. Centenas de manifestantes romperam as barreiras que impediam o acesso ao vão do Masp e se abrigaram lá dentro enquanto chovia. Apesar do incentivo ao distanciamento social e ao uso de máscaras, houve muita aglomeração e, por causa da chuvas, os equipamentos de proteção ficaram encharcados.
São Paulo
Em São Paulo, pancadas de chuva atrapalharam os preparativos para o ato na avenida Paulista. Centenas de manifestantes romperam as barreiras que impediam o acesso ao vão do Masp e se abrigaram lá dentro enquanto chovia. Apesar do incentivo ao distanciamento social e ao uso de máscaras, houve muita aglomeração e, por causa da chuvas, os equipamentos de proteção ficaram encharcados.
Manifestantes ligados a movimentos sociais como a União Nacional dos Estudantes (UNE) e o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) ajudaram na distribuição de máscaras PFF2 e pediam o uso do equipamento durante todo o ato. "Este ato não vai ser como os deles", diziam, em referência a manifestações recentes pró-governo, com aglomerações e nos quais máscaras não eram incentivadas nem usadas por todos.
Por volta das 17h, a Paulista e transversais foram fechadas nos dois sentidos. Um boneco gigante de Bolsonaro como "capitão cloroquino" foi inflado pelo movimento Acredito. O presidente foi constantemente chamado de "genocida" e os manifestantes pediam impeachment e agilidade na vacinação contra a covid-19 no País. Entre os manifestantes, muitas camisetas de partidos de esquerda e dos movimentos sociais, e de apoio ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
Uma das principais lideranças da esquerda no País, Guilherme Boulos (PSOL) chamou Bolsonaro de "verme" e fez discurso homenageando os mortos pela covid-19. "Ninguém queria testar na rua no meio de uma pandemia. Bolsonaro não deixa outra alternativa. Estamos na rua para defender vidas. Nós não vamos espera sentados até 2022. É só o começo", disse.
Presidente do PT, a deputada federal Gleisi Hoffmann (PR) saudou a formação do que chamou de "frente Fora Bolsonaro", incluindo os demais partidos de esquerda e movimentos sociais que participaram do ato. "Acompanhamos a situação crítica da pandemia e do nosso povo. Decidimos um ato extremo, um ato de rua, com todos os cuidados, para mostrar solidariedade ao povo brasileiro. Quem está errado não é quem está aqui. Quem está errado é Jair Messias Bolsonaro."
Brasília
Antônio Carlos de Almeida Castro, conhecido pela alcunha de Kakay, advogado criminalista brasileiro, notório pela prestação de serviços advocatícios a políticos acusados de corrupção e lavagem de dinheiro
Em Brasília, deputados de partidos de esquerda discursaram na Esplanada dos Ministérios, onde participantes tentavam se organizar em filas.
"Estamos diante de uma crise sanitária que matou quase meio milhão de brasileiros", disse a deputada Talíria Petrone (PSOL-RJ). A deputada Erika Kokay (PT-DF) também participa da manifestação em Brasília, além de representantes de entidades estudantis e associações, como a CUT.
Rio de Janeiro
No Rio, os manifestantes se reúnem no Monumento Zumbi dos Palmares, na avenida Presidente Vargas, na região central da cidade, para o protesto contra o presidente. A concentração levou à interdição parcial da via, que é a principal da região, segundo o Centro de Operações da Prefeitura do Rio. Agentes de trânsito, guardas municipais e policiais militares acompanham o protesto e orientam o trânsito nos arredores.
Pessoal dos Grupos LGBT mais também se fizeram presente
Os manifestantes carregam bandeiras e cartazes pedindo o impeachment de Bolsonaro e culpando o presidente pelos mais de 450 mil mortos pela pandemia no Brasil. O protesto também exige vacinação em massa da população contra a covid-19 e a retomada do pagamento de auxílio emergencial de R$ 600.
Belo Horizonte
Em Belo Horizonte, uma multidão se reuniu na praça da Liberdade, região centro-sul, e saiu em direção ao centro da capital, ora cantando a música que marcou a luta contra a ditadura, Para não dizer que não falei das flores, de Geraldo Vandré, ora gritando "Fora Bolsonaro". Das janelas dos prédios, houve panelaço.
O protesto foi organizado por cerca de 80 entidades, entre elas a Associação Brasileira de Médicos pela Democracia, que distribuiu máscaras e álcool em gel para as pessoas. Os manifestantes portavam cartazes com os dizeres "Genocida", "Vacina no braço, comida no prato" e "Eu apoio a CPI", entre outros.
Houve um princípio de tumulto quando um motorista, irritado com a manifestação, tentou passar pelas pessoas e chegou a entrar com o carro em uma ciclovia, quase atingindo um ciclista, na avenida Augusto de Lima. "Veio um Sandero prata na contramão e avançou sobre os manifestantes, virou a rua Rio de Janeiro para fugir, quase derrubou um ciclista, desceu do carro fingindo ter algo na mão. Nós nos afastamos com medo e ele se foi", disse a servidora da UFMG Clarissa Vieira, ainda ofegante. O professor Danilo Marques, que estava junto, acionou a polícia, mas o homem já tinha ido embora. Ao chegar à praça da Estação, por volta das 13h30, o protesto se dispersou.
Recife
No Recife, a manifestação com centenas de pessoas terminou com forte repressão da Polícia Militar de Pernambuco (PMPE), que disparou com balas de borracha e usou spray de pimenta e bombas de efeito moral em manifestantes. Há registros de feridos, mas ainda não foram contabilizados. A ação da PM foi realizada já no final do ato político, entre a avenida Conde da Boa Vista, no bairro da Boa Vista, e a ponte Duarte Coelho, no centro da cidade, por volta do meio-dia.
Os manifestantes afirmam que a PM atacou de forma inesperada e sem nenhum motivo aparente. "A gente não estava fazendo nada. Não estava acontecendo nada. A gente só estava atravessando a ponte, em fila, batendo palma, algo muito tranquilo, e eles (a PM) responderam dessa forma, do nada", relatou a professora Eva Marinho. Ela participava do ato desde o início, às 10 horas da manhã, e não ficou ferida. A PM chegou a usar spray de pimenta contra a vereadora do PT Liana Cirne, também de forma inesperada, e dentro de uma viatura, enquanto ela conversava com agentes.
Na saída da concentração do ato, a polícia, que acompanhou todo o protesto, impediu a saída de carros de som, que eram utilizados pelas lideranças da manifestação para fazer falas políticas e recomendações de segurança da pandemia, como manter a distância de pelo menos um metro entre as pessoas durante o ato. Desde a última segunda-feira, 24, Pernambuco está sob um novo decreto estadual com medidas de restrição para atividades sociais e econômicas. Especialmente neste final de semana e no seguinte está permitido apenas o funcionamento de serviços essenciais, mas as pessoas não estão proibidas de circular na cidade.
Na última sexta-feira, 28, a 34ª Promotora de Justiça de Defesa da Cidadania da Capital (PJDCC), Helena Capela, com atribuição na Promoção e Defesa da Saúde do Ministério Público de Pernambuco (MPPE), emitiu um documento recomendando a "não realização de eventos que possam ocasionar aglomeração neste final de semana (...) a exemplo do ato agendado para a data de 29 de maio na Praça do Derby". A recomendação utilizou o decreto assinado pelo governador Paulo Câmara (PSB) como base. O documento reforça que "o Código Penal brasileiro, nos artigos 267 e 268, tipifica como crime casos em que cidadãos ou organizações apoiem a disseminação de uma epidemia ou mesmo a infração à determinação do poder público que venha impedir a disseminação de doença contagiosa".
A vice-governadora de Pernambuco, Luciana Santos (PCdoB), em vídeo publicado em rede social, afirmou que a ação da PM não foi autorizada pelo governo do Estado. "Nós estamos ao lado da democracia. Os atos de violência, que repudiamos desde já, estão sendo apurados e terão consequências". diz a publicação, que termina com a hashtag #ForaBolsonaro.
Salvador
O ato #29MForaBolsonaro também reuniu centenas no centro de Salvador. Além do impeachment contra o presidente Bolsonaro, os manifestantes cobraram, sob gritos de "vacina, trabalho e pão", a responsabilização pela negligência do governo federal frente à pandemia.
A militância de esquerda, incluindo lideranças de movimentos sindicais e estudantis, se reuniu no Largo do Campo Grande, centro da capital baiana, por volta das 10h, e seguiram até a Praça Castro Alves. Houve alerta para o distanciamento a ser mantido e, em alguns pontos, chegaram a distribuir máscaras do tipo PFF2 na tentativa de garantir de segurança durante a caminhada, que ocorre de maneira pacífica e é acompanhada pela Polícia Militar.
Algumas das principais cidades do interior de São Paulo também registraram atos contra o governo. Na maioria das manifestações, houve uso de máscara e cuidados para evitar aglomerações. Até o início da tarde não tinham sido registrados incidentes.
Em Campinas, os manifestantes se reuniram no Largo do Rosário, tradicional ponto de concentrações políticas, no centro da cidade. O ato tinha representantes de centrais sindicais, como a CUT, Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB) e Sindicato dos Professores do Ensino Oficial do Estado de São Paulo (Apeoesp), além de movimentos sociais, como o Movimento dos Sem-Terra (MST).
O grupo saiu em marcha pelas ruas centrais, deixando o trânsito tumultuado, e retornaram para a praça. Durante a passeata, os manifestantes gritavam em coro bordões, como "fora Bolsonaro" e "genocida". Em alguns pontos houve aglomeração. A Polícia Militar acompanhou o ato, mas não calculou o número de participantes. A Guarda Civil Municipal estimou em 1,5 mil pessoas, mas os organizadores falaram em 3 mil.
Em Sorocaba, os manifestantes se reuniram na Praça Fernando Prestes, a principal da cidade, e caminharam pelas ruas do centro, levando faixas e bandeiras. Com todos usando máscara, o grupo pedia vacina para todos, o fim dos cortes na educação e a saída do presidente Bolsonaro. Houve participação de partidos políticos e coletivos de esquerda.
Em Bauru, a concentração aconteceu em frente à Câmara Municipal. Além de "Fora Bolsonaro", os manifestantes pediam "emprego, vacina no braço e comida no prato". Muitos protestavam também contra o aumento na tarifa de ônibus na cidade. Integrantes da comissão de saúde formada pelos organizadores fiscalizavam o uso de máscara. Para evitar aglomeração, o grupo estendeu duas faixas largas para manter o distanciamento entre os manifestantes.
Em Marília, os manifestantes se reuniram na "ilha" da Avenida Nove de Julho, com faixas e cartazes. O mote principal foi vacina para todos e auxílio emergencial digno. Houve protestos também em Araçatuba, na Praça Rui Barbosa - a mesma em que Bolsonaro fez comício durante a campanha eleitoral. Em São Carlos, o protesto aconteceu na região do Mercadão, no centro, e reuniu 300 pessoas, segundo a Polícia Militar. Os manifestantes arrecadaram alimentos para famílias carentes.
Em Piracicaba, os organizadores fizeram marcas na Praça José Bonifácio, no centro, para evitar aglomeração. Os manifestantes fizeram uma "roda de ciranda" no local, gritando palavras de ordem contra o governo Bolsonaro. O sindicato dos servidores municipais e a União Estadual de Estudantes (UEE) estiveram à frente da manifestação.
Outras capitais
Em São Paulo, a manifestação está marcada para acontecer a partir das 16h. A concentração será em frente ao Masp, na Avenida Paulista.
Pelas redes sociais, as entidades organizadoras dos atos compartilham registros dos atos e fazem transmissões ao vivo das passeatas. Segundo publicação da Ubes (União Brasileira de Estudantes Secundaristas), foram distribuídas máscaras PFF2 para os manifestantes do ato em Belém.
Também pelas redes sociais, entidades organizadoras registraram manifestações em Teresina, Porto Velho, João Pessoa e Aracaju.
Redes sociais
Políticos da oposição também registraram seus apoios aos atos pelo País. Guilherme Boulos (Psol), que disputou a Prefeitura de São Paulo nas eleições de 2020, compartilhou vídeo que mostra outros países que organizaram manifestações políticas em meio à pandemia.
O senador Humberto Costa (PT-PE), membro da CPI da Covid, compartilhou vídeo da manifestação em Recife e defendeu a mobilização digital. "Estou recebendo fotos e vídeos do ato do Recife. Todos usando máscara e formando filas para respeitar o distanciamento. Esse é o melhor caminho. Nas redes sociais, sua militância também é muito importante!", escreveu ele.
De outro lado, o vereador do Rio de Janeiro, Carlos Bolsonaro, filho do presidente, respondeu a um comentário do empresário Marcelo de Carvalho, sócio-fundador da RedeTV, que afirma que os protestos contra Bolsonaro estão vazios ao contrário das manifestações a favor do presidente. "Comparem com as manifestações pró e me respondam: "QUEM ACREDITA NO DATAFOLHA ???"", diz a publicação.
Na resposta, Carlos disse que "no jogo limpo, algo que nunca fizeram, claramente não chegam nem perto". / COM DANIELA AMORIM, GABRIELA BILÓ, CAMILA TURTELLI, THAÍS BARCELLOS, JOSÉ MARIA TOMAZELLA E BRENDA ZACHARIAS, DO ESTADÃO, E PEDRO JORDÃO, TAILANE MUNIZ E ALINE RESKALLA, ESPECIAIS PARA O ESTADÃO