Já completei 91 anos de idade. A memória falha e talvez seja este meu último pronunciamento público
Com Assessoria
Quero agradecer ao povo deste Município a homenagem que me é prestada por seus representantes, concedendo-me o honroso título de Cidadão de Monte Alegre de Goiás.
Lembro-me, com saudade, do tempo em que, Deputado Estadual por Goiás por dois mandatos consecutivos, de 1983 a 1991- portanto há 39 anos- tive a honra de representar este Município na Assembleia Legislativa do Estado. E, quando Secretário do Desenvolvimento Social de Goiás, junto às lideranças de Monte Alegre, criamos a primeira escola na Comunidade dos Kalungas, iniciando um processo de inclusão social daquele povo que vivia isolado, esquecido pelo Poder Público e hoje conta com vários filhos se destacando em diversas áreas.
Naquela época, repito, há quase 40 anos, os Kalungas, ocasionalmente, se reuniam em suas confraternizações. Em uma região onde o acesso só era possível a cavalo ou a pé, conseguimos levar a então primeira-dama do Estado, D. Iris Rezende a conhecer os Kalungas em um helicóptero do governo. Em seguida, para lá se deslocaram os representantes do Instituto de Desenvolvimento Agrário de Goiás (IDAGO), iniciando o processo de regularização fundiária das terras ocupadas por aquela comunidade.
Disse-me uma vez o então prefeito de Monte Alegre, meu saudoso amigo Pedro Galvão, também comerciante, que Kalunga nenhum deixava de pagar suas dívidas e que no seio daquela honrada comunidade não havia crimes.
Minha experiência na área social de nossa região vem de 1953, quando idealizamos e fundamos, com 25 anos de idade, o Instituto de Menores de Dianópolis, onde encaminhamos para a vida centenas e centenas de crianças carentes do antigo Norte/Nordeste goiano. O Instituto cresceu mais do que os recursos disponíveis. Por isto, a obra foi repassada ao governo de Goiás. Ressalte-se, transferido sem nenhuma dívida, depósitos abastecidos e com um patrimônio invejável. Hoje é o Instituto Federal do Tocantins (IFTO). Por quase 30 anos, o meu irmão Wilson esteve à frente daquele Instituto e dentre os muitos alunos que por lá passaram, destacamos o Dr. Rodoval , aqui presente, e seu irmão, Salvador Guedes.
Hoje é crime permitir o trabalho de menores. No entanto, os ex-alunos daquela obra, com certeza, se orgulham do fato de que, desde meninos, viveram às custas do seu trabalho, sem depender da caridade alheia.
Quando da comemoração dos 50 anos daquele Instituto, quase 50 doutores ali presentes eram ex-alunos.
Tivemos sempre a convicção de que “Educar é ensinar a viver”. É preparar para a vida e formar bons hábitos. O hábito de trabalhar, o hábito de ser honesto e o hábito da responsabilidade coletiva para o bem-estar de todos. O direito não é absoluto, é apenas a contrapartida do dever cumprido. O direito, sem o dever, gera a tirania. E o dever, sem o direito, gera a escravidão. Um e outro se completam.
Também sonhei em fazer de um outro Instituto para Meninas, que construímos em Dianópolis, outra grande obra. Estava convencido, à época, que quem educa um homem educa uma só pessoa, mas quem educa uma mulher, educa a família inteira. Após o prédio ter sido doado ao Estado de Goiás para a implementação daquele grande projeto, com a criação do Tocantins aquelas instalações foram transferidas à prefeitura de Dianópolis e hoje abriga a Universidade do Tocantins (Unitins).
Ainda não perdi a capacidade de sonhar. Espero que nossos Governantes cheguem à conclusão de que só através de uma educação pública de qualidade, para os pobres e menos favorecidos, poderemos superar os graves problemas sociais do país e gerar uma nação mais próspera e segura.
Hagahús Araújo e Silva foi Prefeito de Dianópolis(TO), presidente do Centro Penitenciário de Goiás (Cepaigo), Deputado Estadual por Goiás por dois mandatos, Secretário do Trabalho e Desenvolvimento Social de Goiás e Deputado Federal pelo Tocantins.