Infecção aguda em crianças e adolescentes tem despertado a atenção de autoridades de saúde em todo o mundo

 

Por Roberta Jansen

 

Um tipo misterioso de hepatite aguda tem despertado a atenção de autoridades de saúde de diferentes países do mundo ao longo das últimas semanas. A doença, que atinge crianças e já é investigada inclusive no Brasil, não é ocasionada por nenhum dos vírus conhecidos da hepatite (A, B, C, D e E) e pode ter entre as suas causas uma relação ainda não esclarecida entre a covid-19 e um tipo de adenovírus.

 

A Organização Mundial da Saúde (OMS) registrou até esta semana 348 casos da doença. A maioria das crianças apresentou sintomas gastrointestinais, icterícia e, em alguns casos, falência aguda do fígado e morte. O Ministério da Saúde criou uma sala de situação para monitorar os 41 eventos suspeitos de hepatite aguda infantil de origem desconhecida registrados até agora em território nacional. Um adolescente precisou passar por um transplante no sertão pernambucano na sexta-feira, 20, e o caso está sob investigação.

 

A primeira hipótese foi levantada por autoridades de saúde do Reino Unido. Lá, os primeiros casos foram registrados e tratava-se de uma hepatite causada por um adenovírus. Estudos mostraram que até 70% dos doentes testaram positivo para o adenovírus 41F. Ele afeta mais crianças, jovens e pessoas imunossuprimidas. Provoca resfriado ou problemas intestinais.

 

"Inicialmente achou-se que o adenovírus seria a causa das hepatites agudas, mas o fato é que ele não aparecia em todos os casos", explicou o infectologista Marcelo Simão, da Universidade Federal de Uberlândia, em Minas. "Em muitas crianças que apresentaram quadros graves não foi possível isolar o vírus; e em algumas na qual foi feito um transplante não se achou o vírus no fígado retirado."

 

Especialistas notaram também que muitas crianças tinham tido covid-19 antes da hepatite aguda. Um estudo publicado na "Lancet" na semana passada propôs, então, nova hipótese. Segundo o trabalho, uma combinação entre as duas infecções estaria provocando a doença hepática aguda.

 

Partículas remanescentes do Sars-CoV-2 no trato intestinal das crianças estariam servindo de gatilho para uma reação exagerada no sistema imunológico a uma infecção posterior pelo adenovírus 41F. A proteína spike do coronavírus é considerada um superantígeno. Ela torna o sistema imunológico mais sensível. Potencializaria o efeito do adenovírus 41F. Normalmente, esse vírus não provoca problemas mais graves.

 

A reação seria similar à provocada na Síndrome Inflamatória Multissistêmica. Essa condição foi identificada em crianças com covid longa. Nesses casos, há uma ativação anormal do sistema imunológico por causa do superantígeno. Ele desencadeia uma reação autoimune extremamente inflamatória. Uma eventual exposição posterior a um adenovírus poderia provocar uma reação ainda mais forte do organismo. É o que pode estar acontecendo nos casos de hepatite aguda.

 

"A hipótese mais aceita atualmente é de que essa hepatite está sendo provocada por uma reação imunológica exagerada causada pela combinação desses dois vírus que acaba por agredir o fígado", disse Simão, cujo nome integra a lista da Universidade de Stanford, nos EUA, dos cientistas mais influentes do mundo. "Por que o fígado? Ainda não sabemos."

 

Outra questão ainda não esclarecida, segundo Simão, é por que os casos de hepatite aguda só começaram a ser notados agora, dois anos depois do início da pandemia. Uma explicação possível estaria relacionada à variante do Sars-CoV-2 atualmente em circulação.

 

Para o presidente da Sociedade de Infectologia do Distrito Federal, José David Urbaez Brito, a hipótese da combinação dos dois vírus é, atualmente, a mais provável para explicar os casos de hepatite aguda em crianças, embora ainda não esteja fechada.

 

"O que acontece de diferente neste momento atual da nossa vida é que estamos sofrendo a modulação contínua de uma pandemia", disse Brito. "Somos bombardeados minuto a minuto por um agente infeccioso circulando em uma magnitude gigantesca. Qualquer coisa nova que apareça pode ter relação com isso."

 

Dados da OMS e de estudos feitos em Israel, EUA e Índia reforçam a hipótese. O trabalho israelense, coordenado por Yael Mozer Glassberg, do Centro Médico Infantil Schneider,mostrou que onze de doze crianças que tiveram a hepatite tinham tido covid-19. Nenhuma delas, porém, testou positivo para o adenovírus.

 

A OMS Europa apontou em um relatório divulgado neste mês que até 70% das crianças com menos de 16 anos que desenvolveram a hepatite aguda tiveram diagnóstico de covid-19 anteriormente. Além disso, explicaram especialistas, outras crianças podem ter tido a doença de forma branda ou mesmo assintomática; ou seja, sem um diagnóstico oficial.

 

Um estudo de caso feito nos Estados Unidos e publicado na "Journal of Pediatric Gastroenterology and Nutrition" analisou o caso de uma menina de três anos. A garota apresentou falência hepática alguns dias depois de se recuperar de uma covid branda.

 

"As descobertas da biópsia do fígado e de exames de sangue da paciente são compatíveis com um tipo de hepatite autoimune que pode ter sido deflagrada pela covid", explicou a pediatra Anna Peters, gastroenterologista do Centro Médico do Hospital de Crianças de Cincinnati, nos EUA, responsável pelo estudo, ao comentar o trabalho.

 

Segundo a especialista, é impossível provar a existência de um vínculo direto entre a covid e a doença hepática. Mas o vírus pode ter deflagrado uma resposta imune anormal. Ela seria geradora do ataque ao fígado.

 

Um levantamento feito na Índia no ano passado acompanhou 475 crianças que tiveram covid no país. Delas, 47 apresentaram hepatite aguda. Recentemente, com os novos casos surgidos na Europa e nos EUA, pesquisadores se voltaram a esse estudo indiano de 2021.

 

"O único fator em comum que achamos entre essas crianças foi que todas tinham sido infectadas pela covid", disse o principal autor do estudo, Sumit Rawat, professor associado da Escola de Medicina de Bundelkhand, em Madhya Pradesh, na Índia, em entrevista para agências internacionais. "Provar que a covid está de fato provocando essa hepatite vai demandar ainda muito estudo, mas uma pista importante é que os casos da hepatite caíram quando o Sars-CoV-2 deixou de circular na região e voltaram a subir quando a covid estava em alta."

 

Ligação com entre hepatite e vacina foi totalmente descartada

A ligação entre os casos de hepatite aguda e a vacina contra a covid, no entanto, foi totalmente descartada. Não há relação direta entre a vacinação e a hepatite. Além disso, a grande maioria das crianças que apresentaram o quadro agudo de hepatite tinha menos de cinco anos. Ou seja, não tinham sido imunizadas contra a covid.

Especialistas acreditam que novas pandemias de vírus emergentes - e seus eventuais desdobramentos -- devem se tornar cada vez mais comuns por causa do impacto do homem no meio ambiente e no clima.

 

"Estamos vivendo em um mundo complicado, com muitas doenças novas, muitos vírus novos; bactérias às quais não dávamos importância estão agora causando enfermidades graves", disse Simões. "Apesar dos avanços tecnológicos, os desafios são cada vez maiores."

 

José David Urbaez Brito lembrou que, não por acaso, vivemos no chamado período antropoceno. É a primeira vez que um ser vivo, no caso, o homem, alterou de maneira tão profunda e muitas vezes irreversível o seu meio ambiente que passou a dar nome a uma era geológica.

 

"O homem alterou cadeias geológicas e ecológicas, aumentou a temperatura global de forma perceptível, provocando um impacto profundo na dinâmica dos agentes infecciosos, notadamente dos vírus, que são formas muito simples", disse Brito. "As narrativas têm o poder de racionalizar o que acontece, nos deixando alienados; mas, a verdade é que vivemos um momento apocalíptico de dimensões gigantescas, e a atual pandemia é um do sintoma disso."

 

Posted On Segunda, 23 Mai 2022 05:24 Escrito por

Na Marcha para Jesus, em Curitiba, presidente voltou a dizer que só Deus o tira do cargo

 

Com Agência

 

O presidente Jair Bolsonaro descartou neste sábado (21), em sua conta no Twitter, a edição de medida provisória (MP) para tributar compras feitas no exterior por meio de plataformas na internet.

 

“Não assinarei nenhuma MP para taxar compras por aplicativos como Shopee, AliExpress, Shein etc como grande parte da mídia vem divulgando. Para possíveis irregularidades nesse serviço, ou outros, a saída deve ser a fiscalização, não o aumento de impostos”, escreveu Bolsonaro, na postagem.

 

Atualmente, a isenção de Imposto de Importação ocorre para encomendas de até US$ 50. No entanto, o benefício só é concedido se a remessa ocorrer entre duas pessoas físicas, sem fins comerciais.

 

Segundo o secretário Especial da Receita Federal, Júlio César Gomes, em entrevista ao programa Brasil em Pauta da TV Brasil, no início deste mês, muitos vendedores se fazem passar por pessoas físicas quando, na verdade, são empresas constituídas para se valer de isenções, o que constitui fraude.

 

César Gomes chamou esses aplicativos de “camelódromos virtuais". Segundo ele, hoje o Brasil recebe cerca de 500 mil dessas encomendas por dia.

 

De acordo com o secretário, a Receita Federal está intensificando o combate a bens contrabandeados ou que burlam as regras tributárias vigentes por meio de um programa de rastreabilidade fiscal recém-lançado. Na entrevista, o secretário também afirmou que estava em estudo a edição de uma medida provisória com foco nos “camelódromos virtuais”.

 

 

Posted On Domingo, 22 Mai 2022 07:14 Escrito por

Com Agências

A disputa entre o governo federal e os Estados sobre a cobrança do ICMS dos combustíveis subiu mais um degrau. O presidente Jair Bolsonaro e o advogado-geral da União, Bruno Bianco, apresentaram petição ao Supremo Tribunal Federal (STF) para tentar fazer valer a proposta apresentada nesta semana ao Conselho Nacional de Política Fazendária (Confaz) pelo Ministério da Economia: alterar a regulamentação do ICMS único do diesel.

 

Pela sugestão levada ao Confaz na quinta-feira, o governo quer que seja aplicada a norma de transição prevista na lei que mudou as regras de cobrança do tributo sobre o combustível, sancionada em março. Ela determina que os Estados usem a média móvel dos preços médios ao consumidor nos 60 meses anteriores à fixação da incidência. Ao STF, a AGU diz ser necessário efetivar essa norma.

 

Em resposta, o Comitê Nacional dos Secretários de Fazenda (Comsefaz) enviou ainda na sexta-feira ofício pedindo que o ministro Paulo Guedes encaminhe à Corte "imediatamente" uma solicitação para o tribunal não deliberar sobre o novo pedido de Bolsonaro sem a oitiva formal do Confaz.

 

Na petição ao Supremo, a AGU afirmou que o Confaz não avançou em formulação nova, mesmo após a decisão de Mendonça - por isso, manteve o "estado de inércia" quanto ao que foi estabelecido pela lei complementar que alterou as regras.

 

Na manifestação, a AGU e Bolsonaro alegam que o Confaz resiste em observar os comandos definidos pelo Congresso, como é o caso da norma de transição, e dizem que o descumprimento das normas passa ainda por uma "contumaz omissão na efetivação da transparência acerca da tributação dos combustíveis".

 

 

Posted On Domingo, 22 Mai 2022 07:07 Escrito por

Associação prometeu continuar a promover protestos para cobrar que Bolsonaro cumpra promessa

 

Por Robson Bonin

 

Mobilizada para cobrar o presidente Jair Bolsonaro a cumprir a promessa de viabilizar a reestruturação da Polícia Federal, a Associação Nacional dos Delegados de PF divulgou uma nota pública prometendo continuar a promover protestos nesta quinta-feira e apontando o clima de “revolta e insatisfação” na categoria.

 

“O impasse causado pelo próprio governo federal, propagando informações conflitantes, equivocadas, com mudanças frequentes de posicionamento, vem gerando clima de instabilidade, revolta e insatisfação, algo nunca antes visto pelos Delegados de Polícia Federal. Da mesma forma, frisa-se a importância do tratamento isonômico entre as carreiras, evitando-se outros desgastes”, diz o comunicado.

 

A ADPF orientou seus associados a priorizar, enquanto não houver a reestruturação atividades essenciais voltadas à segurança pública, como o combate à corrupção e ao desvio de recursos públicos, ao tráfico de drogas e armas, o tráfico internacional de pessoas, pedofilia, crimes cibernéticos e combate aos crimes eleitorais. E deu um recado indireto a um tema caro ao bolsonarismo:

 

“Atividades administrativas, como as análises de aquisição, registro e porte de arma de fogo, com prazos legais de 30 e 60 dias, poderão ser impactadas com atrasos ou mesmo suspensão temporária”, diz a nota.

 

“A Polícia Federal é uma polícia de Estado e não de governo. Vale destacar que a PF não protege e nem persegue ninguém. Não existe qualquer indivíduo ou autoridade que esteja acima da lei […] Os delegados federais não aguardarão inertes o cumprimento do compromisso firmado. Agora é o tempo de ações. É preciso ter respeito por homens e mulheres que arriscam suas próprias vidas para salvaguardar o Estado, suas instituições e a população brasileira”, concluiu a ADPF.

Posted On Sábado, 21 Mai 2022 10:04 Escrito por

Apesar do anúncio do governo de uma parceria com Elon Musk para melhorar a conexão de internet na região amazônica, o bilionário --dono da Tesla e da SpaceX-- não estará sozinho na tarefa de conectar áreas sem internet. O programa já existe há quatro anos e é operado por outras duas empresas.

 

POR JULIO WIZIACK

O mais recente movimento de Musk ocorre após ele receber sinal verde da Anatel (Agência Nacional de Telecomunicações), em janeiro, para vender pacotes de internet via satélite em todo o país. Outros concorrentes --como Kepler, OneWeb, Swarm e Lightspeed-- obtiveram a autorização meses depois.

 

A agência, inclusive, decidiu autorizar essas empresas --que operam equipamentos ao redor da Terra a 570 km do solo (baixa altitude)-- após um constrangimento causado pelo ministro das Comunicações, Fábio Faria.

 

No fim do ano passado, Faria visitou Musk na Europa e postou um vídeo em que anunciava uma parceria com o empresário --divulgada novamente no evento com o presidente Jair Bolsonaro (PL) nesta sexta-feira (20), no interior de São Paulo.

 

Naquele momento, todos os pedidos das empresas que pretendiam operar com essa tecnologia de satélites no país ainda aguardavam uma decisão da Anatel sobre o tema.

 

Na época, técnicos da agência tinham dúvidas sobre a viabilidade desse novo mercado. A preocupação era que as empresas ocupassem o espaço aéreo sobre o país de forma que comprometeria o lançamento de novos satélites e prejudicaria a recepção e envio de sinais dos equipamentos das operadoras que já funcionam a mais de 35 mil km do solo.

 

Os sinais dos aparelhos em altitude mais alta poderiam "bater" nos novos satélites (mais baixos), o que impediria a recepção em solo. Somente a empresa de Musk conta com 4.800 aparelhos.

 

A decisão no Brasil foi mais rápida do que em outras economias. A Europa, por exemplo, preferiu esperar a entrada em funcionamento do 5G para decidir posteriormente sobre o papel de empresas como a de Musk --que terão vantagens operacionais e comerciais sobre as demais de mesma tecnologia.

 

Essas empresas também poderão fechar parcerias com o governo dentro do Wifi Brasil, o programa de conectividade em áreas afastadas dentro do qual Musk pretende prestar o serviço. O foco são escolas no Norte e no Nordeste, principalmente na área rural. No entanto, elas ainda têm dúvidas se haverá essa possibilidade -tanto para elas, quanto para Musk.

 

Os advogados dessas empresas ainda não têm certeza se o governo poderá fazer uma licitação neste ano --que seria aberta a todas as empresas-- para contratar um novo parceiro para o programa. Entre essas empresas, é comentado que o governo anunciou um vencedor sem ter feito a licitação.

 

Elas também avaliam que podem haver restrições impostas pelo calendário eleitoral para um acordo desse tipo, o que jogaria a anunciada parceria para o próximo governo.

 

O programa Wifi Brasil existe no país desde 2018 e já custou mais de R$ 700 milhões. Esse programa --lançado pelo então ministro Gilberto Kassab, um dos caciques do PSD de Faria-- conta com satélite próprio operado pela Viasat, do bilionário Mark Dankberg, e pela Telebras.

 

O objetivo do programa é justamente levar conexão a áreas remotas. Para isso, a Viasat e a Telebras exploram 30% da capacidade do satélite brasileiro SGDC-1. Os 70% restantes ficam com as Forças Armadas.

 

Isso, no entanto, não impede que outras empresas que possuem satélites possam operar dentro do mesmo programa.

 

A conexão na Amazônia também foi uma preocupação dos últimos leilões da telefonia celular (4G e 5G). As operadoras que venceram o certame foram obrigadas a levar conexão à Amazônia cada vez com mais capacidade e velocidade de conexão.

 

No último leilão (5G), realizado em novembro do ano passado, o governo conseguiu garantir R$ 1 bilhão para a instalação de cabos pelo rio Amazonas que permitirão acessos na região. O projeto foi batizado de Amazônia Conectada.

 

Por esse motivo, elas se sentiram constrangidas com o evento e o anúncio do governo ao qual se sentiram obrigadas a comparecer.

 

Nos bastidores, as teles afirmam que levar a conexão a essas áreas com contratos rígidos de cobertura imposto por leilões de radiofrequência (avenidas no ar por onde fazem trafegar seus sinais) dão um sinal equivocado aos consumidores.

Para elas, a imagem é a de que as teles não cumprem seu papel e que Musk chega como o "salvador da pátria", nas palavras de um dos executivos que compareceu ao evento.

 

As teles são obrigadas pelos contratos com a União a levar conexão seguindo uma regra definida pela Anatel que dá prioridade para municípios mais populosos.

 

Outra dificuldade é a geografia da região. As operadoras gostariam que a agência liberasse a forma como elas hoje levam o sinal até a Amazônia.

 

Pelas regras dos leilões, elas têm de instalar redes de cabos -uma dificuldade gigantesca em uma área quase continental como a da Amazônia. Poderiam levar via satélite, mas as regras impedem.

 

Posted On Sábado, 21 Mai 2022 07:22 Escrito por
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