Pesquisa sobre educação do IBGE mostra que a maior parte tem mais de 60 anos e está concentrada na região Nordeste
Por Vivian Masutti
A Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad) divulgada hoje pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostra que a taxa de analfabetismo de quem tem 15 anos ou mais caiu de 6,7%, em 2016, para 5,6%, em 2022 — o equivalente a 9,6 milhões de pessoas. O índice de quem tem 60 anos ou mais também caiu entre esses anos, de 20,5% para 16%.
Em paralelo, a quantidade de brasileiros com 25 anos ou mais sem instrução diminuiu de 7,3%, em 2016, para 6%, em 2022, enquanto o número daqueles que concluíram ao menos o ensino básico obrigatório subiu de 46,2% para 53,2%, entre esses anos, na mesma tendência de 2019, quando a marca foi de 50%.
-A transformação digital está acelerada principalmente na Educação. Além das aulas online, uma gama de possibilidades de recursos e metodologias se abre para transferir conhecimento aos alunos, do ensino fundamental à universidade. Uma vantagem é que as crianças se familiarizam com os computadores e a internet desde cedo
O Pnad Educação de 2023 é particularmente importante, pois o estudo foi suspenso entre 2020 e 2021 devido à Covid-19, que manteve os alunos em casa. Esta é a primeira edição após a pandemia e apresenta os resultados referentes ao segundo trimestre de 2022.
E 2022, havia no Brasil 49 milhões de pessoas de 15 a 29 anos. Entre essas pessoas, 15,7% estavam ocupadas e estudando; 20% não estavam ocupadas nem estudando; 25,2% não estavam ocupadas, porém estudavam; e 39,1% estavam ocupadas e não estudavam.
Em 2022, pela primeira vez, mais da metade (53,1%) da população de 25 anos ou mais tinha pelo menos o ensino básico obrigatório.
De 2019 para 2022, observou-se redução do motivo "não tinha interesse em estudar", que passou de 28,6% para 24,7%; a questão "precisava trabalhar" ficou praticamente estável entre esses dois anos (de 40,1% para 40,2%); já "outros motivos" passaram de 9,4% para 14,5%.
• analfabetismo;
• nível de instrução e número médio de anos de estudo;
• taxa de escolarização;
• taxa ajustada de frequência escolar líquida;
• motivo da não frequência à escola ou creche das crianças de até 3 anos;
• abandono escolar de pessoas de 14 a 29 anos;
• condição de estudo e situação na ocupação de pessoas de 15 a 29 anos.
Entre diversos aspectos, o impacto da pandemia nas atividades escolares, sobretudo dos alunos do ensino básico, é apontado como o grande desafio para as políticas educacionais no Brasil nos próximos anos.
Analfabetismo está concentrado entre os mais velhos
De 9,6 milhões de pessoas de 15 anos ou mais analfabetas existentes no país, em 2022, segundo o Pnad, 55,3% (5,3 milhões de pessoas) viviam na região Nordeste, e 22,2% (2,1 milhões de pessoas), na região Sudeste.
Em relação a 2019, houve uma redução de 0,5% dessa taxa no país, o que corresponde a uma queda de pouco mais de 490 mil analfabetos em 2022.
Nota-se que, no Brasil, o analfabetismo está diretamente associado à idade. Quanto mais velho o grupo populacional, maior a proporção de analfabetos.
Em 2022, eram 5,2 milhões de analfabetos com 60 anos ou mais, o que equivale a uma taxa de analfabetismo de 16% para esse grupo. Ao incluir, gradualmente, os grupos mais novos, observa-se queda no analfabetismo: para 9,8% entre as pessoas com 40 anos ou mais, 6,8% entre aquelas com 25 anos ou mais e 5,6% na população de 15 anos ou mais.
Esses resultados mostram que as gerações mais novas estão tendo um maior acesso à educação e sendo alfabetizadas ainda quando crianças.
Por outro lado, o número de analfabetos continua concentrado entre os mais velhos. Em 2022, a taxa de analfabetismo das mulheres de 15 anos ou mais foi de 5,4%, enquanto a dos homens foi de 5,9%.
Em relação a 2019, a variação dessa taxa foi de 0,4% para as mulheres e de 0,5% para os homens. Para a faixa etária mais alta, nota-se que a taxa das mulheres foi superior à dos homens e alcançou 16,3% em 2022. Esse valor, no entanto, foi três vezes maior que o observado no grupo de mulheres de 15 anos ou mais.
Nordeste e Norte têm as maiores taxas de analfabetismo
Na análise por cor ou raça, chama atenção a diferença entre pessoas brancas e pretas ou pardas. Em 2022, 3,4% das pessoas de 15 anos ou mais de cor branca eram analfabetas, percentual que se eleva para 7,4% entre pessoas de cor preta ou parda.
No grupo de 60 anos ou mais, a taxa de analfabetismo das pessoas de cor branca alcançou 9,3% e, entre as pessoas pretas ou pardas, chegou a 23,3%. Nesse último grupo, comparando-se os dados de 2022 com os de 2019, nota-se uma queda de 3,9%.
Entre as regiões brasileiras, verifica-se que a taxa de analfabetismo reflete as desigualdades regionais.
O novo Ensino Médio promete grandes mudanças na vida escolar dos alunos, já que o currículo será acoplado e mais completo. A carga horária também vai aumentar e o ‘Itinerário Formativo’ deve ajudar os alunos na escolha da profissão. Entenda as mudanças mostradas no Fala Brasil!
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As regiões Nordeste e Norte apresentaram as taxas de analfabetismo mais elevadas — 11,7% e 6,4%, respectivamente, em 2022, entre as pessoas com 15 anos ou mais —, enquanto no centro-sul do país as taxas são bem mais baixas.
Em relação a 2019, a proporção de analfabetos nesse grupo teve queda nas regiões Norte e Nordeste. Nas demais, a taxa ficou estatisticamente estável.
Para a erradicação do analfabetismo até 2024, os desafios são diversos entre as regiões, seja devido à tendência de estabilização das taxas no centro-sul do país ou pelo nível mais elevado da taxa no Nordeste.
Nível de instrução
No Brasil, a proporção de pessoas de 25 anos ou mais que terminaram a educação básica obrigatória — ou seja, concluíram, no mínimo, o ensino médio — manteve uma trajetória de crescimento e alcançou 53,2% em 2022.
Destaca-se o percentual de pessoas com o ensino superior completo, que subiu de 17,5%, em 2019, para 19,2%, em 2022.
Em 2022, mais da metade das mulheres (55,2%) continua a ter, ao menos, o ensino médio completo; entre os homens, esse percentual passou a ser também de mais da metade (51%). Ambas as proporções vêm aumentando desde 2016.
Com relação a cor ou raça, 60,7% das pessoas de cor branca tinham completado, no mínimo, o ciclo básico educacional. Entre as pessoas de cor preta ou parda, esse percentual foi de 47%.
Número médio de anos de estudo
Em 2022, a média de anos de estudo das pessoas de 25 anos ou mais foi de 9,9 anos. De 2019 a 2022, ela teve crescimento de 0,3 ao ano. Entre as mulheres, o número médio de anos de estudo foi de 10,1 anos, enquanto para os homens, de 9,6 anos.
Com relação a cor ou raça, mais uma vez a diferença foi grande: 10,8 anos de estudo para as pessoas de cor branca e 9,1 anos para as de cor preta ou parda.
Além disso, todas as regiões tiveram um aumento entre 2019 e 2022, que variou entre 0,2% e 0,4% por ano de estudo.
Frequência na escola ou creche
No Brasil, em 2022, 9,6 milhões de crianças de até 5 anos frequentavam escola ou creche. Entre as crianças de até 3 anos, a taxa de escolarização foi de 36%, o equivalente a 4,1 milhões de estudantes.
Comparada à do ano de 2019, a taxa de escolarização das crianças de até 3 anos ficou estável.
No Brasil, a educação básica aos 4 anos se tornou obrigatória em 2013. A maior faixa etária da educação infantil, de 4 a 5 anos, registrou um percentual elevado de escolarização: 91,5%.
Já a taxa de escolarização para as pessoas de 6 a 14 anos foi, em 2022, de 99,4%, o equivalente a 26,2 milhões de estudantes.
Educação superior
Em 2022, a taxa de escolarização das pessoas de 18 a 24 anos, independentemente do curso frequentado, foi de 30,4%, percentual próximo ao registrado em 2019.
Por sua vez, 20,8% desses jovens frequentavam cursos da educação superior e 10,3% estavam atrasados, em algum dos cursos da educação básica. Já 4,1% tinham completado o ensino superior e 65,5% não frequentavam a escola.
Abandono escolar
Dos jovens de 14 a 29 anos do país — o equivalente a quase 52 milhões de pessoas —, aproximadamente 18% não completaram o ensino médio, seja por terem abandonado a escola antes do término desta etapa, seja por nunca a terem frequentado.
Nessa situação, portanto, havia 9,5 milhões de jovens, entre os quais 58,8% de homens e 41,2% de mulheres. Considerando-se cor ou raça, 27,9% eram brancos, e 70,9%, pretos ou pardos.
Na abertura da Farm Show, maior feira agrícola e de negócios do Norte e Nordeste, presidente defende suporte a pequenos e grandes produtores e para a indústria
Da Secom-PR
É uma responsabilidade estratégica do Governo estar atento para dar suporte a todas as engrenagens do agronegócio, setor considerado indispensável para o crescimento do país. Esse foi o tom da mensagem do presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, durante a abertura da 17ª edição da Bahia Farm Show, na cidade de Luís Eduardo Magalhães (BA), nesta terça, 6/6. O evento é a maior feira agrícola e de negócios do Norte e Nordeste."É obrigação do Estado criar as condições de ajudar. Porque dizer 'eu não preciso do governo' é mentira. O pequeno precisa, o grande precisa e o médio precisa. Se não é o Estado colocar dinheiro, muitas vezes o agronegócio não estaria do tamanho que está, para financiar as máquinas, financiar a safra, garantir as exportações", disse o presidente.
“Em janeiro, o BNDES liberou R$ 2,9 bilhões, rapidamente tomados. Veja a força do setor: criamos uma linha de crédito dolarizada, 7,59% de juros, abaixo das taxas do Plano Safra e R$ 2 bilhões em um dia foram tomados”
Para Lula, não há necessidade de existir rivalidade entre produtores de manufaturados e de commodities. "O Brasil precisa da agricultura e da indústria. Outra polêmica que acho maluca é entre o pequeno e o grande agricultor. Não tem que existir preconceito, o Brasil precisa dos dois", citou.
Como exemplo, o presidente lembrou de uma iniciativa promovida em 2008 para o setor agropecuário que teve impacto no setor automotivo. "Quando a agricultura vai bem, a indústria de máquinas vai bem. Quando criamos o Mais Alimentos, em 2008, só de trator de 80 cavalos vendemos 80 mil. Deus queira que a gente produza muito mais, que a gente venda mais, que a gente exporte mais, porque tudo isso é riqueza para o país".
SUSTENTABILIDADE — Lula reforçou que o aumento da produção não deve ser confundido com desrespeito ao meio ambiente. Ele destacou que o Brasil tem milhões de hectares de terras degradadas que podem ser usadas para cultivo. Como havia feito na segunda-feira, durante evento do Dia Mundial do Meio Ambiente, Lula ressaltou que haverá rigor com quem descumprir regras. "Quem quiser agir como bandido e for desmatar, vai ter que sofrer as penas da lei, porque a gente vai preservar esse país".
Presidente Lula fala na abertura da feira - Foto: Joá Souza (Gov BA)
Além da primeira-dama, Janja Lula da Silva, uma comitiva composta por vários ministros, entre eles Carlos Fávaro, da Agricultura e Pecuária, e Paulo Teixeira, do Desenvolvimento Agrário e Agricultura Familiar, acompanhou o presidente Lula na Bahia Farm Show. Também estiveram presentes o governador da Bahia, Jerônimo Rodrigues, o prefeito de Luiz Eduardo Magalhães, Júnior Marabá, além parlamentares e representantes do setor agropecuário do estado.
CRÉDITO — Segundo o ministro Carlos Fávaro, o país está vivendo uma fase de muito incentivo, com a retomada de programas de crédito na agropecuária. "Em janeiro, o BNDES liberou R$ 2,9 bilhões, rapidamente tomados. Veja a força do setor: criamos uma linha de crédito dolarizada, 7,59% de juros, abaixo das taxas do Plano Safra e R$ 2 bilhões em um dia foram tomados", destacou.
Fávaro ressaltou que maio de 2023 foi mês de maior investimento da história do Banco do Brasil na agropecuária: R$ 15 bilhões. "É um conjunto de ações que vão fazer esse agro cada vez mais forte, que gera emprego e oportunidades ao povo brasileiro", completou o ministro da Agricultura e Pecuária.
BNDES — O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) vai oferecer mais R$ 7,6 bilhões para investimentos em sustentabilidade, ampliação da capacidade de armazenagem e segurança alimentar.
Com isso, o BNDES já anunciou, apenas no primeiro semestre, aproximadamente R$ 11 bilhões ao setor agropecuário. São diversas soluções financeiras, tanto no campo dos Programas Agropecuários do Governo Federal (PAGF), quanto no âmbito do BNDES Crédito Rural, com recursos disponibilizados de maneira perene, ao longo do ano.
O Governo também ofertou R$ 3,6 bilhões para o Plano Safra (Safrinha) e R$ 4 bilhões em linha de financiamento em dólar para investimentos no Crédito Rural – para a construção e ampliação de armazéns, obras de irrigação, formação e recuperação de pastagens, geração e distribuição de energia de fontes renováveis e regularização ambiental da propriedade.
Fonte: Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República
A inflação acumulada em 12 meses desacelerou em um movimento puxado pela trégua dos preços dos alimentos no Brasil, apontam dados do IPGF (Índice de Preços dos Gastos Familiares) divulgados nesta nesta terça-feira (6)
POR LEONARDO VIECELI
Com caráter experimental, o IPGF é o novo índice calculado pelo FGV Ibre (Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas). O indicador foi elaborado a partir de uma cesta de bens e serviços cujos pesos são atualizados mensalmente.
Essa atualização é feita a partir de mudanças no padrão de consumo das famílias. A ideia é captar o efeito sobre os preços causado pela substituição de itens, segundo o FGV Ibre.
De fevereiro para março, período mais recente com dados disponíveis, o IPGF desacelerou de 0,73% para 0,52%. Assim, a alta acumulada em 12 meses saiu de 4,67% para 4%.
Isso significa que o IPGF subiu menos do que o IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo), que é considerado o indicador oficial de inflação do Brasil e é calculado pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).
De fevereiro para março, o IPCA desacelerou de 0,84% para 0,71%. O acumulado em 12 meses passou de 5,60% para 4,65% no mesmo período.
A análise do FGV Ibre também aponta que, em 2022, o IPGF fechou o ano com uma variação de 4,94%.
O resultado ficou dentro do limite da meta de inflação perseguida à época pelo BC (Banco Central) para o IPCA o teto era de 5%. No mesmo período, o IPCA avançou 5,79%, estourando a meta pelo segundo ano consecutivo.
De acordo com o FGV Ibre, a desaceleração do IPGF está associada, principalmente, ao comportamento do grupo alimentação.
Em 12 meses, a alta acumulada pelo segmento era de 11,30% até dezembro. Houve um processo de desinflação em seguida, até o índice atingir 5,73% nesse recorte em março.
Dentro de alimentação, os itens que mais contribuíram para o arrefecimento no período foram os seguintes: outros produtos e serviços da lavoura (de 20,42% para 6,77%), carne de bovinos e outros produtos de carne (de 1,84% para -2,99%) e outros produtos do laticínio (de 22,09% para 17,67%).
Ao lançar o índice de preços, o FGV Ibre afirmou em abril que o IPGF tenta capturar de maneira mais rápida o efeito das mudanças na cesta de consumo das famílias se comparado a outros indicadores, como o IPC (Índice de Preços ao Consumidor), calculado pela mesma instituição, e o IPCA, do IBGE.
No IPGF, essas mudanças são atualizadas a partir dos pesos de bens e serviços no Sistema de Contas Trimestrais do IBGE, que reúne informações sobre o consumo.
Os números levantados são convertidos a uma frequência mensal com base no Monitor do PIB (Produto Interno Bruto), do FGV Ibre.
No IPCA, a cesta de bens e serviços e os respectivos pesos são determinados a partir da POF (Pesquisa de Orçamentos Familiares).
A POF, também divulgada pelo IBGE, aponta o que as famílias consomem e a participação de cada gasto no orçamento.
Essa pesquisa, contudo, tem sido realizada em média a cada seis anos, considerando as últimas três décadas, segundo o FGV Ibre. Os dados mais recentes da POF são de 2017 e 2018.
"Quando o consumidor substitui arroz por macarrão ou carne vermelha por carne branca, ou ainda deixa de consumir combustível e passa a usar mais o transporte público devido ao aumento de preços, por exemplo, os itens substituídos perdem peso no IPGF e seus aumentos passam a contribuir menos para o índice", disse o economista Matheus Peçanha, pesquisador do FGV Ibre.
Segundo ele, o novo indicador deve continuar abaixo do IPCA até o final do ano. Um dos fatores que devem ajudar nesse processo de desinflação é a trégua dos alimentos, que têm peso relevante no orçamento das famílias.
"É esperado que ele [IPGF] fique abaixo dos IPCs. Esse efeito faz com os índices mais tradicionais superestimem um pouco a inflação do que ela é de fato", afirmou o economista André Braz, pesquisador do FGV Ibre.
"Quando você chega ao mercado, não compra necessariamente tudo o que está na sua lista. Quando vê algo caro, você substitui ou corta. A expectativa é de que o IPGF sempre tenha uma inflação mais baixa", acrescentou Braz.
Voltado a pessoas de baixa renda, programa começa em julho
Com Agência Brasil
Em elaboração desde o início do ano para aliviar a situação de pessoas endividadas, o Programa Desenrola terá a medida provisória (MP) publicada ainda esta semana, disse nesta segunda-feira (5) o ministro da Fazenda, Fernando Haddad. Segundo ele, a MP será editada agora para permitir a entrada em vigor do programa em julho.
O programa de renegociação de pequenas dívidas, explicou Haddad, será limitado a famílias que ganhem até dois salários mínimos e estejam devendo até R$ 5 mil. O Desenrola, informou o ministro, deverá beneficiar cerca de 30 milhões de pessoas.
Segundo o ministro, o Desenrola levará cerca de um mês para entrar em vigor por causa de burocracias. Nos últimos meses, o lançamento do programa foi adiado sucessivas vezes porque a B3, a bolsa de valores brasileira, estava elaborando o sistema informático para os credores aderirem às renegociações. “Tem uma série de providências burocráticas a serem tomadas até abertura do sistema dos credores”, justificou o ministro.
Apesar de o programa estar atrelado à vontade das empresas credoras, o ministro se disse otimista em relação ao Desenrola. “O programa depende da adesão dos credores, uma vez que a dívida é privada. Mas nós entendemos que muitos credores quererão participar do programa dando bons descontos justamente em virtude da liquidez que vão obter, porque vai ter garantia do Tesouro [Nacional]”, comentou Haddad.
Em troca de participar da negociação, a empresa credora terá garantia do Tesouro caso o devedor não consiga honrar os compromissos. Para Haddad, o fato de o Tesouro cobrir eventuais calotes incentivará os credores a oferecerem o máximo de desconto possível aos devedores.
“O programa funcionará como um leilão. A ideia é que o credor dê o maior desconto possível, porque ele tem um estímulo para isso [a garantia do Tesouro Nacional]”, explicou o ministro.
Segundo Haddad, bancos oficiais, como o Banco do Brasil, participarão do programa. Ele disse que a instituição financeira considerou positiva a modelagem do Desenrola e estimou que o programa terá sucesso. O ministro afirmou que bancos privados também estão interessados em aderir ao Desenrola.
Faixas e renegociação
Faixa I
A Faixa I é reservada para pessoas que recebem até dois salários mínimos ou que estejam inscritas no Cadastro Único (CadÚnico).
O Ministério da Fazenda informou que o programa vai oferecer uma garantia para a renegociação de dívidas de até R$ 5 mil. Veja as regras abaixo:
Serão renegociadas dívidas cadastradas até 31 de dezembro de 2022.
O pagamento poderá ser feito à vista ou por financiamento bancário de até 60 parcelas. O devedor precisa escolher um banco inscrito no programa para fazer a renegociação.
Para quem optar pelo parcelamento, não haverá entrada.
A primeira parcela terá vencimento após 30 dias.
Os juros do financiamento serão de 1,99% ao mês.
O pagamento das parcelas poderá ser feito por débito em conta, PIX ou boleto bancário.
Caso o devedor não pague a parcela, o banco poderá fazer a cobrança e deixar o nome da pessoa novamente "sujo" na praça.
Os beneficiários do programa também poderão fazer um curso de Educação Financeira.
Nesta faixa, não poderão ser financiadas as seguintes dívidas:
crédito rural;
financiamento imobiliário;
créditos com garantia real;
operações com funding ou risco de terceiro.
O governo explicou que, ao deixar livre para o devedor escolher um banco para renegociar a dívida, as instituições financeiras serão estimuladas a competirem e oferecerem melhores condições para o pagamento.
Faixa II
No caso da Faixa II, serão atendidas exclusivamente pessoas com dívidas no banco. Os devedores poderão fazer a renegociação diretamente com a instituição financeira.
Ao contrário da Faixa I, para este grupo o governo não oferecerá uma garantia. Por outro lado, em troca dos descontos na dívida, os bancos vão receber um incentivo para que aumente a oferta de crédito.
Tanto a Faixa I quanto a Faixa II estarão isentas de pagamento de Imposto sobre Operações Financeiras (IOF).
No embrião do pacote industrial preparado pelo governo, que agita o setor empresarial e movimenta o debate acadêmico, um detalhe chama a atenção: a exigência de conteúdo nacional como uma forma de dar mais competitividade à indústria. No dia 25 de maio, Dia da Indústria, a medida foi anunciada entre as que iriam compor o pacote de incentivo ao setor automotivo, por exemplo. Como se andar na contramão da economia mundial fosse um diferencial positivo.
Por Notas & Informações de Estadão
Por mais bem-intencionada que possa parecer, a defesa de conteúdo nacional não implica aumento de eficiência e competitividade de nossos produtos diante da concorrência internacional. Pelo contrário. Num mercado há muito globalizado, que tem no setor automobilístico altamente tecnológico um exemplo bem acabado, a pseudoproteção representada pela obrigatoriedade de fabricação nacional significa, antes de tudo, abrir mão de avanços tecnológicos – que são, estes sim, o verdadeiro diferencial dos produtos que circulam no comércio mundial.
Não há como incentivar competitividade com um olhar voltado apenas ao mercado doméstico. Também não há como elevar a produtividade e a participação no mercado internacional distribuindo subsídios. Ou seja, um programa de subsídios para carros “populares” que incentiva o uso de peças nacionais é equivocado em múltiplas dimensões.
“Por que dar subsídio para a indústria automobilística se ela não consegue exportar o nosso carro?”, questionou, com razão, Samuel Pessôa, pesquisador do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre/FGV), em entrevista ao Estadão. “O dia em que a nossa indústria conseguir fazer um carro que compita no mercado internacional, aí vou achar que algum tipo de subsídio ou política vai fazer sentido. Mas essa é uma indústria que está conosco há 60 anos, e tirando um ou outro período relativamente curto, nunca gerou capacidade exportadora.”
De acordo com dados da Organização Mundial do Comércio, o Brasil, com 1,3% de participação na corrente de comércio, ocupa a 25.ª posição entre os maiores países exportadores. A soja lidera a lista dos produtos brasileiros mais vendidos, o que não é nenhuma surpresa, pois o agro, responsável por um terço do nosso PIB, é também o motor das exportações e também é, de longe, um dos setores que mais têm investido em tecnologia de ponta, não apenas com desenvolvimento próprio mas, sobretudo, importando tecnologia.
Não é de hoje que o presidente Lula da Silva bate na tecla de que quer fazer o Brasil elevar as vendas de produtos de maior valor agregado. Fala em vender combustíveis ao invés do petróleo cru; produtos industrializados ao invés de matérias-primas. Ora, não é investindo em uma nova versão de reserva de mercado, como parece pretender Lula, que isso vai acontecer. Conteúdo nacional mínimo pode ser extremamente prejudicial se houver erro na dosagem. Foi o que ocorreu com a indústria naval, embora o presidente se recuse a reconhecer.
É senso comum que a preocupação do governo vem em boa hora, pois a desindustrialização precoce do Brasil, se não for interrompida, ameaça consolidar no País a mediocridade da renda média e da baixa produtividade. No entanto, é preciso definir com mais rigor técnico e menos voluntarismo ideológico qual seria o melhor caminho para atingir esse objetivo. Tome-se o exemplo da anunciada intenção de incentivar a produção de carros ditos “populares”. Pouco depois da fanfarra do anúncio, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, tratou de dizer que o programa duraria apenas alguns meses, deixando claro o caráter provisório da medida. Ora, não é com gambiarras como essa que se faz uma política industrial digna de ser levada a sério.
Como lembrou o economista e ex-presidente do Banco Central Armínio Fraga, a indústria tem perdido participação no PIB nacional independentemente dos inúmeros benefícios recebidos, com destaque para o crédito subsidiado do BNDES, proteção contra a concorrência estrangeira e incentivos tributários. “Claramente o espectro do desenvolvimentismo fracassado está de volta”, diz ele.
O que a economia brasileira precisa com urgência é de um modelo perene de crescimento, pensado com base em nossas capacidades reais e com visão de efeito a longo prazo. Enquanto continuar a pensar pequeno, com medidas provincianas como a do carro “popular”, estaremos condenados à mediocridade.