I – CINTHIA EM BRASÍLIA
A prefeita de Palmas, Cinthia Ribeiro, por enquanto filiada ao PSDB, vive um relacionamento político e pessoal conturbado com o ex-senador Ataídes Oliveira, presidente estadual da legenda.
Mesmo assim, Cinthia não fugiu da raia e está em Brasília, nesta sexta-feira, para participar da Convenção Nacional do PSDB, em busca de segurança jurídica e política para enfrentar os obstáculos impostos por Ataídes, que chegou à Capital Federal no fim da tarde de ontem, quinta-feira, e participou de uma reunião com a cúpula nacional.
Cinthia vem demonstrando não ser uma política “decorativa” nem que apenas “está” prefeita. Ela vem exercendo as atividades inerentes ao seu cargo com desenvoltura e plenitude e vem articulando de modo efetivo para sua reeleição, mesmo sabendo que encontrará problemas dentro do seu próprio partido, começando pelo próprio Ataídes Oliveira, presidente reeleito da legenda e pré-candidato de3clarado à prefeitura de Palmas, pela presidente do PSDB metropolitano de Palmas, a deputada estadual Luana Ribeiro, sem nenhum tipo de relacionamento político com a prefeita, e pelo também deputado estadual Olynto Neto, ligado a Ataídes Oliveira.
A viagem de Cinthia à Brasília para Convenção do PSDB nada mais é que uma estratégia para ganhar tempo e honrar o apoio incondicional recebido da cúpula nacional do PSDB Mulher, pois já é sabido que, nos bastidores, a prefeita de Palmas vem mantendo conversas com dirigentes de outros partidos, que deixaram as portas abertas para sua filiação.
O almoço com Ronaldo Dimas, por exemplo, no dia da sessão solene do Senado pelo aniversário de 30 anos de Palmas, teve no cardápio, além do ajuste dos ponteiros políticos entre os dois, e um possível convite do prefeito de Araguaína para que Cinthia se filie ao PTB.
Mas, testemunhas garantem que Cinthia deve sair da Convenção Nacional com uma definição que não ponha em jogo seu futuro político.
II – O FATOR EDUARDO GOMES
Enquanto isso, concreto como “prego batido com a ponta virada” é o fato de Cinthia estar “fechada” com o prefeito de Araguaína, Ronaldo Dimas, para estarem em um mesmo palanque nas eleições municipais de 2020.
Os dois são aliados e afilhados políticos do senador Eduardo Gomes, o mais bem votado nas últimas eleições, vice-líder do governo federal, segundo secretário da Mesa-Diretora do Senado e, agora, indicado pelo seu partido, o MDB, para ser o relator setorial do Orçamento do Ministério do Desenvolvimento Regional, que integra, numa única pasta, as diversas políticas públicas de infraestrutura urbana e de promoção do desenvolvimento regional e produtivo. Reúne iniciativas que estavam sob responsabilidade dos antigos Ministérios das Cidades (MCid) e da Integração Nacional (MI), com adaptações para otimizar a administração de programas, recursos e financiamentos.
Segundo o governo federal o órgão é um dos maiores interlocutores do Executivo com os 5.570 municípios brasileiros, atuando de forma articulada com as grandes estratégias de Desenvolvimento Regional e Urbano (Política Nacional de Desenvolvimento Regional e Política Nacional de Desenvolvimento Urbano). O que torna Eduardo Gomes o nome mais importante do Tocantins junto ao governo federal no que tange ao carreamento de recursos para o Estado e municípios tocantinenses.
Esta nova posição de Eduardo Gomes, de alta relevância nacional, pode transformar o senador tocantinense na tábua de salvação de muitas administrações Brasil afora, mas, principalmente, no Tocantins, mais precisamente nas cidades onde os atuais prefeitos serão candidatos à reeleição, dentre elas Palmas, onde Cinthia Ribeiro tem em caixa mais de 450 milhões de reais a serem aplicados em obras, com início ainda este ano.
III – OXIGENAÇÃO NECESSÁRIA
Cinthia Ribeiro sabe que precisa de uma legenda que, além de garantir sua candidatura á reeleição, ofereça um bom tempo no Horário Eleitoral Gratuito de Rádio e TV e um montante considerável do Fundo Partidário. Além disso, sua decisão não pode ser de última hora, pois precisa construir uma chapa com bons nomes para disputar as cadeiras na Câmara Municipal, levando em conta que não haverá coligações proporcionais nestas eleições, muito menos segundo turno, por conta do número de eleitores da Capital. Para Cinthia, portanto, quanto mais candidatos disputando a prefeitura, melhor.
Para que sua candidatura ganhe mais corpo e mais musculatura eleitoral, Cinthia tem até o mês de julho para promover uma oxigenação em seu quadro de auxiliares, desde os escalões intermediários até nos cargos principais, pois precisa de uma equipe que deixe o conforto do ar-condicionado dos gabinetes e sai para o campo, para os distritos e para a periferia, para justificar o “auxílio luxuoso” de seu padrinho político, senador Eduardo Gomes que, em seu novo cargo de relator setorial do Orçamento do Ministério do Desenvolvimento Regional, pode conseguir para Palmas recursos para o programa Minha Casa, Minha Vida, infraestrutura de saneamento, reparos nas estradas vicinais e muitas outras obras pontuais que podem render muitos votos.
O futuro político de Cinthia Ribeiro passa a depender dela própria, em ser ágil e habilidosa, competente e ligeira na tomada de decisões, pois sua “zona de conforto” já não existe mais e o que vem pela frente é muita turbulência e muitas tentativas de “rasteiras”, pois a prefeita de Palmas, agora, é a “vidraça” do jogo político sucessório.
IV - MAURO CARLESSE CHEGA NO DEM PELA PORTA DA FRENTE
O governador Mauro Carlesse filiou-se ao Democratas com o respaldo de ninguém menos que do presidente do Senado, Davi Alcolumbre, do presidente nacional do partido, o prefeito de Salvador – BA, ACM Neto, do presidente da Câmara Federal, Rodrigo Maia e do homem-forte do governo Jair Bolsonaro, Onyx Lorenzoni, ministro-chefe da Casa Civil, e dos demais membros da cúpula nacional do partido.
Carlesse também recebeu as boas vindas dos deputados federais da legenda no Estado, Dorinha Seabra e Carlos Henrique Gaguim, e não foi para o DEM sozinho, pois deve levar com ele centenas de líderes tocantinenses, além de seus dois principais aliados e companheiros leais, que são o seu vice, Wanderlei Barbosa e o presidente da Assembleia Legislativa, Antônio Poincaré Andrade, prefeitos, ex-prefeitos, vereadores, ex-vereadores e pré-candidatos a esses dois cargos na maioria dos municípios tocantinenses.
Depois dessa migração política, Carlesse deve fazer um profundo ajuste em sua equipe de auxiliares, em todos os escalões de seu governo, injetando sangue novo em sua administração, fortalecendo sua fama de bom articulador político, conseguida após as três vitórias consecutivas nas eleições para o governo do Tocantins, numa demonstração de que trabalha com planejamento e tem ótimas equipes de articuladores e de marketing, todos afinados com sua personalidade “à mineira”, discretos.
V – O FUTURO POLÍTICO DE CARLESSE
Essa chegada ao DEM no “tapete vermelho” das bênçãos da cúpula nacional da legenda e com uma das vice-presidências nacionais, é mais uma demonstração de que o governador Mauro Carlesse pensa em um futuro político cheio de possibilidades e de que pretende continuar na vida pública. O Senado pode ser seu principal alvo em 2022 e, para conseguir seu intento e ter competitividade, Carlesse vai tentar eleger os prefeitos dos 19 principais municípios do Estado e o maior número possível de vereadores.
Muitos dos atuais prefeitos que vão concorrer à reeleição podem “correr” para o DEM, no rastro de Carlesse para atrair para si as benesses de serem aliados do governador e tentar tê-lo como principal cabo eleitoral em suas campanhas.
A verdade é que a candidatura de Mauro Carlesse ao Senado será uma consequência do que está acontecendo hoje e o Tocantins é o maior beneficiado com a ascensão de Carlesse no cenário político nacional.
VI – OBRAS: A DIFERENÇA ENTRE SUCESSO E FRACASSO
O governador Mauro Carlesse e sua equipe de técnicos executores de obras, articuladores e profissionais de marketing têm trabalhado de forma harmoniosa, focados em resultados e planejamentos futuros, e vêm fazendo de tudo para que o governo decole, no mais tardar, no próximo mês de julho, com máquinas e homens trabalhando na recuperação das principais rodovias, pavimentação de novos trechos, recuperação de estradas vicinais, melhoria no sistema de Saúde Pública, com os Hospitais de Gurupi e Araguaína e a ampliação do HGP, a construção da nova ponte sobre o Rio Tocantins, em Porto Nacional e diversas atuações pontuais nos 139 municípios.
As obras serão o divisor de águas, a diferença entre sucesso e fracasso nas pretensões de Mauro Carlesse e para o seu futuro político, assim como para os seus seguidores. Depois de demitir milhares de pais de família em nome do equilíbrio financeiro, seu governo precisa mostrar resultados práticos, não apenas no papel, para que os cidadãos vejam, toquem e sintam orgulho de suas escolhas.
VII – NEM TUDO SERÁ FESTA
O saudoso general Golbery do Couto e Silva, então ministro no governo de João Figueiredo, imortalizou a frase que diz que “triste do governo que não tem uma oposição forte, responsável e competente”.
Pelo andar da carruagem, no Tocantins, não há outro caminho para a oposição ao governo Mauro Carlesse senão a união das lideranças com assento no Congresso Nacional, no parlamento estadual, em algumas prefeituras, na iniciativa privada e os descontentes de plantão, para que sejam essa oposição mencionada por Golbery.
Em havendo essa união – e só assim – o governo de Mauro Carlesse sairá de sua “zona de conforto” e virará a “vidraça”.
O exercício democrático fortalece a democracia e a sociedade torna-se responsável pelo julgamento na hora da escolha, via voto secreto, dos melhores nomes para serem seus representantes tanto no governo quanto na oposição.
Portanto, não é apenas de benesses e recursos que o governo Carlesse fará sua fama e, sim, com benesses, recursos e uma oposição consciente e fiscalizadora, apontando as possíveis falhas que o governo possa cometer, para que elas sejam corretamente eliminadas e subentendidas como lições a serem aprendidas.
É por isso que terminamos este Panorama Político rogando para que a consciência de cada eleitor seja seu melhor conselheiro na hora de escolher em quem votar.