Críticas de Guedes pelos entraves às reformas e o alerta que fez sobre o risco de impeachment de Bolsonaro, caso estoure o teto de gastos, minaram a relação dele com o Planalto. Já se fala na saída do ministro, e o preferido para a vaga é o presidente do BC
Por Vicente Nunes- Luiz Calcagno- Jorge Vasconcellos- Augusto Fernandes
O casamento entre Jair Bolsonaro e Paulo Guedes chegou a uma encruzilhada. Os termos do desentendimento incluem o desejo do presidente da República pela reeleição e o posicionamento do ministro da Economia em defesa do teto de gastos e das reformas estruturantes, em especial, a administrativa.
Apesar de pregar, publicamente, que há uma unidade entre os seus ministros, Bolsonaro considera a demissão de Guedes. A convivência já não é das melhores. O presidente até reconhece que a saída do economista poderia tumultuar o mercado financeiro, mas os efeitos seriam passageiros, pois o substituto receberia a promessa de que os compromissos do governo com o ajuste fiscal serão mantidos. O nome mais citado no Palácio do Planalto como sucessor de Guedes é o do presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto. “A relação entre o presidente e Guedes esgarçou-se demais. Será muito difícil ele se reconciliar com o Posto Ipiranga”, disse uma fonte ao Correio.
Assessores próximos de Bolsonaro asseguram que o presidente chegou ao limite com o ministro. Nos bastidores, o mandatário não escondeu a insatisfação depois de Guedes levantar suspeitas de estouro do teto de gastos. Segundo o chefe do Executivo, como 2020 é excepcional e todos os limites fiscais foram estourados, o que se quer é usar sobras de recursos do Orçamento para obras, como forma de acelerar a economia, arrasada pela pandemia do novo coronavírus.
O desabafo de Guedes, na terça-feira, quando reclamou de “ministros fura-teto” do governo, foi considerado por Bolsonaro e outros membros do alto escalão como totalmente inapropriado. Além de o ministro ter admitido que havia uma debandada na equipe econômica, não agradou ao presidente ouvir de um dos seus principais aliados que ele poderia sofrer um impeachment. Agravou o mal-estar o fato de a declaração ter acontecido ao lado do presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), que não tem uma boa relação com o chefe do Planalto e é quem decide se abre um processo de impedimento contra o presidente.
Futuro
Se o desentendimento entre Bolsonaro e Guedes se prolongar, analistas políticos também veem a possibilidade de o ministro ser demitido, ou então, de ele deixar o governo, levando consigo o discurso de que fez o que pôde. “O grande desafio de Guedes é encontrar uma válvula de escape para que ele saia com a vaidade intocada e seu conhecimento da máquina do governo para suas intenções futuras”, ponderou o analista político Melillo Dinis. Ele destacou que o ministro, como ultraneoliberal, já sente dificuldades em se posicionar, sob pressão de militares e grupos que veem o investimento público em grandes obras como a principal saída para a crise econômica provocada pela covid-19.
“O jogo, hoje, é dilemático. Uma encruzilhada com muitos caminhos. Um é o crescimento da crise até estourar de vez qualquer tipo de controle. Outro é que o auxílio emergencial dá voto. Tem um setor militar e do Centrão que quer fazer obra, dinheiro, liberação de orçamento, emendas parlamentares e jogar o jogo, e ambos culpam Guedes. Se não mudar a realidade, seja do gasto, seja da arrecadação, vai ter muito pouca possibilidade de investimentos”, avaliou.
Cientista político e professor da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (Uerj), Geraldo Tadeu Monteiro acredita que Bolsonaro tem mais a perder do que a ganhar com a saída de Guedes. “A carta Paulo Guedes é o peso-pesado da economia. Ele faz intermediação com os setores econômicos mais importantes. Se o presidente perder essa carta, vai ter dificuldade, como está tendo para colocar um ministro da Saúde, e vai ter de colocar alguém que reze na cartilha dos militares, o que pode provocar uma ruptura na base de sustentação.”
Meta da reeleição ganha força
O projeto do presidente Jair Bolsonaro de se reeleger em 2022 ganhou um estímulo importante com a melhora de seus índices de avaliação, apontada pelas últimas pesquisas. Em um momento altamente desfavorável, marcado pelos números trágicos da covid-19 no país, o chefe do governo, contrariando as expectativas, tem conseguido fazer da própria pandemia um cenário para expandir sua popularidade. O pagamento do auxílio emergencial a milhões de brasileiros e outros acenos na área social, por exemplo, foram bem recebidos até em setores refratários ao presidente, em especial nas regiões Norte e Nordeste, cujo eleitorado, historicamente, é mais favorável ao PT e a outros partidos de esquerda.
Com um índice de aprovação de 37%, a melhor avaliação desde a posse presidencial — segundo pesquisa Datafolha divulgada ontem —, Bolsonaro vai colhendo dividendos de uma agenda bem diferente daquela que ele pregou na campanha eleitoral. Além do auxílio emergencial, o anúncio da criação do programa pró-Brasil, de cunho desenvolvimentista, e do Renda Brasil, uma versão reforçada do Bolsa Família, é outro trunfo eleitoral, defendido pela ala militar do governo. Porém, essa mudança de rumo, de tão abrupta, provocou descontentamento do ministro da Economia, Paulo Guedes.
“As eleições presidenciais ainda estão distantes, e muita coisa pode mudar. Mas, hoje, é inegável que Bolsonaro seria um candidato competitivo. Seus adversários não podem desprezá-lo. A dúvida, agora, é saber qual será a opção do presidente entre o seu projeto de reeleição e a cartilha ortodoxa de Guedes”, avaliou o cientista político André Pereira César, da Hold Assessoria Legislativa.
Na opinião de Ricardo Ismael — professor e pesquisador do Departamento de Ciências Sociais da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio) —, ainda é cedo para fazer prognóstico sobre as eleições de 2022. “Acho que o auxílio emergencial é conjuntural. Então, é importante saber como Bolsonao vai manter a fidelidade desse eleitor de baixa renda. O movimento é favorável, mas não dá para saber se se sustenta”, destacou. “Dois anos é muito tempo. Dá margem, inclusive, para a oposição e o centro comporem novas estratégias. Bolsonaro está seguindo o caminho de Michel Temer (ex-presidente), de se blindar no Congresso, mas o tempo joga contra ele”, destacou.
Em publicação nas redes sociais, ontem, o presidente Jair Bolsonaro comentou que a responsabilidade fiscal e o teto de gastos são o “norte” do governo. No texto, acusou a imprensa de ter desvirtuado o que ele disse na live de quinta-feira. Na transmissão, o chefe do Executivo admitiu que houve uma articulação dentro do governo para que o Planalto aproveitasse o chamado orçamento de guerra — medida que flexibilizou os gastos públicos deste ano para garantir mais recursos especificamente para o combate à covid-19 — e investisse em obras públicas. “A ideia de furar o teto de gastos existe, qual é o problema?”, declarou o presidente, na ocasião.
Ontem, contudo, Bolsonaro escreveu: “Quando indagado na live de ontem (quinta) sobre ‘furar’ o teto, comecei dizendo que o ministro Paulo Guedes mandava 99,9% no Orçamento. Tudo, após essa declaração, resumia que, por mais justa que fosse a busca de recursos por parte de ministros finalistas, a responsabilidade fiscal e o respeito à emenda constitucional do ‘teto’ seriam o nosso norte”.
“Vamos trabalhar junto ao Congresso para controlar despesas, com o objetivo de abrir espaço para investimentos e, assim, atravessarmos unidos essa crise. O presidente e seus ministros, sempre focados no absoluto respeito às leis, seguem trabalhando para resgatar econômica, ética e moralmente o Brasil”, frisou.
Educação
Em inauguração de uma escola cívico-militar no Rio de Janeiro, ontem, Bolsonaro afirmou que, antes do seu governo, o país estava na contramão da educação, o que poderia ser comprovado com o resultado da prova do Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (Pisa), ocorrida a cada três anos. Ele ainda comparou o ambiente escolar a um quartel.
“Hoje, nós somos sempre o antepenúltimo, penúltimo ou último lugar entre esses 70 países (participantes do Pisa). Isso não se muda de uma hora para outra. Mas, onde é que tem de começar a mudar? Na escola, já que temos ótimos professores, mas temos de dar meios e autoridade para cumprirem seu trabalho. É quase como um quartel: se não tiver hierarquia e disciplina, ele não cumpre com sua missão”, defendeu.
Bolsonaro ressaltou que o objetivo da escola cívico-militar é que o estudante se torne um profissional, e não apenas um “militante político”. “Aos seus 20, 21, 22, 25 anos, ele seja formado um bom profissional. Vai ser um bom empregado, um bom patrão, um bom liberal, e não apenas, como acontece em parte do Brasil ainda, apenas um militante político”, declarou.
Ele também disse que o governo quer “resgatar os pobres, e não é só através de programa social, que, em grande parte, não resgata. É dando conhecimento”. “Programas sociais são bem-vindos, mas o que liberta o homem e a mulher é o conhecimento.”
Na solenidade, o prefeito do Rio, Marcelo Crivella, entregou a Bolsonaro a Medalha Zenóbio da Costa, a maior honraria concedida pela Guarda Municipal.
Juros baixos
O diretor de Política Monetária do Banco Central (BC), Bruno Serra, disse que o respeito ao teto de gastos “é decisivo para manter os avanços que conseguimos no lado da política monetária, de conseguirmos trabalhar com juros tão baixos por conta da inflação estar alinhada com a meta”. Ele lembrou que o Brasil “já viu as consequências de não ter um regime fiscal de pé”, quando expandiu os gastos públicos de forma desenfreada e, por conta disso, acabou entrando em um ciclo de queda da atividade econômica e alta da inflação e dos juros. Segundo Serra, até o câmbio pode ficar menos volátil quando o investidor tiver a certeza de que o Brasil vai retomar o ajuste fiscal após a pandemia.
Ministro do STF tomou decisão um dia após ministro Félix Fischer, do STJ, determinar que casal fosse para a cadeia. Queiroz e Márcia Aguiar cumprem domiciliar desde o começo de julho
Com Estadão Conteúdo
O ministro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal (STF), decidiu nesta sexta-feira (14) devolver o ex-assessor Fabrício Queiroz e de sua esposa, Márcia Aguiar, para a prisão domiciliar.
Queiroz foi inicialmente detido em 18 de junho na casa de Frederick Wassef, então advogado do senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ), em Atibaia (SP). O ex-assessor é suspeito de operar um esquema de "rachadinhas", apropriação de salários de funcionários, no antigo gabinete de Flávio na Assembleia Legislativa do Rio (Alerj). O nome de Queiroz veio à tona em dezembro de 2018, quando o Estadão revelou que ele fez movimentações financeiras "atípicas".
Menos de um mês após Queiroz ser preso, o presidente do Supremo Tribunal de Justiça (STJ), João Otávio de Noronha, aceitou, no dia 9 de julho, um pedido da defesa do ex-assessor. No habeas corpus, os advogados de Queiroz pediram a conversão da prisão preventiva em domiciliar. Como argumento, citaram o estado de saúde do ex-assessor e o contexto de pandemia, além de criticarem fundamentos da medida autorizada pela Justiça.
Na ocasião, Noronha estendeu a prisão domiciliar para Márcia, que estava foragida. "Por se presumir que sua presença ao lado dele (Queiroz) seja recomendável para lhe dispensar as atenções necessárias", argumentou o presidente do STJ. O presidente do STJ decidiu sobre o caso durante o plantão do Judiciário, sendo responsável pela análise de casos considerados urgentes.
A decisão de Noronha foi derrubada na última quinta-feira (13) pelo relator do habeas corpus, Felix Fischer, que retornou às atividades do tribunal nesta semana. Ao derrubar a prisão domiciliar do casal, Fischer apontou que o casal já supostamente articulava e trabalhava "arduamente" para impedir a produção de provas ou até mesmo a destruição e adulteração delas nas investigações de um esquema de rachadinha. Na avaliação de Fischer, as manobras de Queiroz e Márcia para impedir a localização pela polícia "saltam aos olhos".
Agora, com a decisão de Gilmar Mendes, a prisão domiciliar do casal foi restaurada.
O DF se aproxima dos 128 mil infectados pelo coronavírus e tem 1.675 óbitos: fique atento aos sintomas da covid-19 e para saber quando procurar ajuda e o que fazer
Do Correio da Bahia
Febre, tosse seca e cansaço. Segundo especialistas, esses são os sintomas mais comuns que os pacientes de covid-19 apresentam. Além da perda do olfato e do paladar, as pessoas infectadas podem ter dores no corpo, congestão nasal, dor de garganta ou diarreia. Saber identificar esses sintomas é importante para tomar decisões corretas e evitar o contágio de outras pessoas, principalmente no momento em que o Distrito Federal passa por um pico de casos e mortes da doença. Na segunda (11/8), o DF registrou 53 mortes, o maior número desde o início da pandemia.
Profissionais de saúde informaram ao especial sobre o coronavírus publicado pelo Correio que os sintomas podem aparecer entre quatro e cinco dias após a contaminação, mas a transmissão começa antes mesmo dos sinais aparecerem. Além disso, existem pessoas assintomáticas, ou seja, que estão infectadas, mas não apresentam nenhum sintoma da doença. Por isso, é importante seguir os protocolos de segurança, utilizar os equipamentos de proteção e respeitar o distanciamento social.
Os especialistas ressaltam que a orientação, atualmente, é testar apenas pessoas que têm ou tiveram sintomas respiratórios. Os pacientes mais leves devem ficar 14 dias em isolamento e tratar os sintomas.
Aumento de casos
De acordo com dados da Secretaria de Saúde do DF, 23 óbitos e mais 451 novos casos de covid-19 foram registrados das 18h desta terça-feira (11/8) até as 12h desta quarta-feira (12/8). No total, são 1.675 mortos e 127.935 infectados pela doença.
Entre as mortes desta quarta, está a de Maria Aparecida Firmo Ferreira, de 79 anos, avó da primeira-dama Michelle Bolsonaro. Ela faleceu pela madrugada, depois de ficar um mês internada com diagnóstico de coronavírus. Ela estava internada no Hospital Regional de Santa Maria (HRSM), contudo, na semana passada, havia sido transferida para o Hospital Regional de Ceilândia (HRC).
A PF deflagrou, hoje (12/08), a 2ª fase da Op Olossá, com o objetivo de combater ORCRIM especializada no tráfico internacional de drogas, especialmente para Europa e Ásia
Por Tiago Netto
A Polícia Federal deflagrou, na manhã desta quarta-feira (12), a segunda fase da Operação Olossá, com o objetivo de cumprir mandados judiciais decorrentes de investigação sobre organização criminosa especializada no tráfico internacional de drogas.
A operação mira especialmente na forma de tráfico com “mulas” em viagens aéreas, principalmente para Europa e Ásia, com entorpecentes escondidos em suas bagagens.
A investigação teve início em maio de 2019, a partir do aprofundamento de informações recebidas pelo serviço de Disque Denúncia da Secretária de Segurança Pública da Bahia.
Naquela ocasião, identificou-se que o proprietário de uma barraca de praia em Lauro de Freitas usava o estabelecimento para aliciar as “mulas”, sendo ele o principal integrante da organização criminosa nessa função.
Durante a investigação, dez pessoas foram presas em flagrante, quando tentavam embarcar para o exterior com cocaína escondida em suas bagagens em aeroportos da Bahia, de São Paulo, de Pernambuco, do Ceará e do Paraná.
Nesta terça (12), estão sendo cumpridos 12 mandados de prisão e 10 mandados de busca e apreensão, nos Estados da Bahia (Salvador, Lauro de Freitas e Conceição do Coité), Sergipe, Maranhão, Pará, São Paulo e Santa Catarina. Entre os mandados de prisão, três estão sendo cumpridos no exterior, com o auxílio da INTERPOL; dois na Espanha e um na Tailândia.
Vacina desenvolvida em parceria com a empresa alemã BioNTech ainda não está na terceira fase de testes clínicos
Por Rodrigo Loureiro
Novos testes realizados com a vacina BNT162b1, desenvolvida pela farmacêutica americana Pfizer com a empresa de biotecnologia alemã BioNTech, mostraram que o composto sorológico induziu uma resposta imunológica considerada “robusta” e sem efeitos colaterais para adultos entre 18 e 55 anos no combate ao coronavírus.
Os resultados dos testes clínicos foram publicados nesta quarta-feira (12) na revista Nature. Eles referem-se às fases 1 e 2 de testes clínicos e, por isso, não podem ser utilizados para medirem a eficácia da vacina contra covid-19. Isso acontece somente na terceira fase de testes, que ainda não foi iniciada.
Mesmo assim, as avaliações mais recentes feitas com 45 pessoas, sendo 23 homens e 22 mulheres, mostraram que os níveis de anticorpos neutralizantes entre os participantes do estudo foram entre 1,9 a 4,6 vezes maiores do que os de pessoas que ainda se recuperam do coronavírus.
Para a realização dos testes, os participantes foram divididos em quatro grupos. Um recebeu uma dose de 10 miligramas da vacina e outro recebeu 30 miligramas. Essas doses foram repetidas após 21 dias. O terceiro grupo recebeu uma dose única de 100 miligramas e o quarto grupo foi injetado com um placebo para servir como grupo de controle.
Os resultados obtidos mostram que houve uma resposta imune maior no grupo que recebeu duas doses de 30 miligramas da vacina ante os participantes que receberam duas doses de 10 miligramas. Entretanto, não houve diferença considerável em relação ao grupo que recebeu uma dose única de 100 miligramas – e que experimentou uma carga maior de efeitos colaterais.
Com os resultados da pesquisa, os cientistas agora se preparam para a próxima fase do desenvolvimento da vacina, que consiste em mais testes das fases 1 e 2. Agora, porém, com pessoas em idades mais avançadas, entre 65 e 85 anos. Os testes já foram realizados, mas ainda aguardam resultados definitivos. Depois serão feitas avaliações com pacientes que têm doenças crônicas.