Integrantes do governo esperavam redução na taxa de juros
Por Luís Felipe Granado
O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) anunciou nesta quarta-feira (2) a redução da taxa básica de juros (Selic) de 13,75% ao ano para 13,25%, na primeira queda da taxa em três anos.
A última vez que o BC havia reduzido os juros foi em agosto de 2020, quando a taxa Selic caiu de 2,5% para 2% ao ano (o nível mais baixo da história). Desde então, as altas consecutivas fizeram com que a taxa voltasse ao maior patamar desde 2016.
Integrantes do governo federal vem cobrando do BC uma sinalização com a reversão da curva de juros desde o início do mandato, mas, com a vertiginosa queda da inflação, as críticas se acentuaram.
Na última segunda-feira (31), o ministro-chefe da Casa Civil do governo Lula, Rui Costa, projetou um corte superior a 0,5% na Selic. “A minha expectativa é de 0,5 para cima”, disse. “O Chile tirou 1 [p.p.] agora”, argumentou o ministro.
O presidente do BC, Roberto Campos Neto, por outro lado, argumenta que a manutenção da taxa foi importante para conter a inflação. No ano, o IPCA acumula alta de 2,87% e, nos últimos 12 meses, de 3,16%, abaixo dos 3,94% observados nos 12 meses imediatamente anteriores.
Desde 2020, Campos Neto tem autonomia, ou seja, não pode ser demitido por Lula. Mas o presidente vem cobrando do Senado, a quem cabe a destituição de RCN, uma postura mais firme com o presidente da autoridade monetária.
Mais cedo, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, declarou que os juros "certamente" seriam reduzidos hoje.
Os juros mais baixos influenciam em redução das taxas bancárias, maior nível de atividade econômica, e melhora das contas públicas, possibilitando maior investimento, já que o governo pagará menos juros.
Também há impacto nas aplicações financeiras, como em investimentos de renda fixa, como no Tesouro Direto e em debêntures.
"Com a queda na taxa de juros, os investidores provavelmente buscarão investimentos de maior risco com potencial de retorno mais atrativo, o que pode levar ao aumento de investidores na bolsa de valores e a uma recuperação no mercado de renda variável. Além disso, pode haver maior procura por investimentos pré fixados enquanto a taxa ainda está elevada e oportunidades em crédito privado, aproveitando o fechamento da curva de juros", declara Wesley Henrique Quinalha Francisco, assessor de investimentos na WIT Invest.
Remuneração média de admissão no Brasil é superada apenas nos estados de São Paulo, Rio de Janeiro e Santa Catarina e no Distrito Federal, mostra Caged
Com Portal R7
O aumento salarial dos brasileiros nos últimos meses ainda esconde divergências evidenciadas pela localização dos trabalhadores. Segundo o Caged (Cadastro Geral de Empregados e Desempregados), a remuneração inicial dos admitidos no Sudeste (R$ 2.165,83) é R$ 455,54 (25,7%) maior do que a embolsada pelos contratados no Nordeste (R$ 1.722,29).
Somente no primeiro semestre, o salário inicial recebido pelos profissionais no Brasil aumentou 2,5%, para R$ 2.015,04, valor superado apenas no Sudeste. Na sequência, aparecem as regiões Sul (R$ 1.960,98), Centro-Oeste (R$ 1.883,02) e Norte (R$ 1.769,67).
Na análise das unidades da federação, a diferença é ainda maior e alcança R$ 721,75 (45,6%) entre São Paulo (R$ 2.303,24) e a Paraíba (R$ 1.581,49), os dois estremos da pesquisa. Cabe ressaltar que somente em junho o salário inicial pago na Paraíba desabou 5,3%.
A divergência salarial também é evidente quando observado o sexo dos trabalhadores. Enquanto os homens ingressam em um novo emprego com uma remuneração mensal média de 2.094,06, o desembolso às mulheres é 9,4% inferior, de R$ 1.896,76.
Atividades
Entre os setores, a construção e a indústria correspondem aos maiores salários médios de admissão no Brasil, de R$ 2.151,79 e R$ 2.146,22, respectivamente. Com remuneração de R$ 2.082,85, o ramo de serviços aparece na sequência.
As funções ligadas à agricultura, pecuária, produção florestal, pesca e aquicultura (R$ 1.838,91) e comércio, reparação de veículos automotores e motocicletas (R$ 1.778,20) são aquelas com a menor oferta aos profissionais que ingressam nos ramos.
O inquérito policial militar aberto para investigar os militares que deveriam ter protegido o Palácio do Planalto diante dos ataques golpistas de 8 de janeiro livrou as tropas de culpa e apontou "indícios de responsabilidade" da Secretaria de Segurança e Coordenação Presidencial, que integra a pasta do GSI (Gabinete de Segurança Institucional).
POR THAÍSA OLIVEIRA
A apuração concluiu que, se houvesse tido planejamento "adequado" no início do governo do presidente Lula (PT), seria possível ter evitado a invasão do palácio ou minimizado os estragos.
O relatório sigiloso, obtido pela Folha de S.Paulo, foi finalizado em 2 de março e recebeu uma complementação no dia 14 daquele mês.
A investigação indica a responsabilidade da secretaria do GSI de forma genérica, sem mencionar o nome dos responsáveis. A conclusão cita ainda a sigla DSeg, do Departamento de Segurança Presidencial.
À época, a secretaria era chefiada pelo general Carlos Feitosa Rodrigues. Ele chegou ao cargo em 2021, na gestão do bolsonarista Augusto Heleno. Foi mantido no governo Lula pelo general Gonçalves Dias, ministro do GSI que pediu demissão em abril após a divulgação de imagens que colocaram em xeque a atuação do órgão durante o 8 de janeiro.
Como no caso de Feitosa, a situação se repetia no Departamento de Segurança Presidencial da secretaria. O diretor, coronel Wanderli Baptista da Silva Junior, também havia sido nomeado por Heleno e mantido por Gonçalves Dias. Ele ficava diretamente abaixo de Feitosa na estrutura interna do gabinete.
O inquérito militar afirma que, no âmbito do GSI, "resta evidente" que "o planejamento, o acionamento e o emprego" de militares "no tocante às ações ligadas à manutenção da integridade física do Palácio do Planalto e adjacências" cabe à secretaria.
O relatório destaca que, de acordo com o protocolo que define as ações do GSI e do Comando Militar do Planalto na defesa do palácio (chamado de Plano de Operações Escudo), competia ao DSeg "acionar o deslocamento" da tropa de choque do Exército.
Também era obrigação da secretaria "buscar informações indispensáveis ao planejamento de ações preventivas" junto à Abin (Agência Brasileira de Inteligência) e aos órgãos da Secretaria da Segurança Pública do Distrito Federal, o que não foi feito.
No dia 6 de janeiro, uma sexta-feira, o GSI previu situação de "normalidade" no final de semana. Como mostrou a Folha de S.Paulo em abril, a Abin diz que o ex-ministro do GSI recebeu 11 alertas em seu WhatsApp do dia 6 de janeiro até o início dos ataques.
A título de comparação, o inquérito policial militar constatou que o número de militares no dia 8 de janeiro era menor do que o de 31 de julho do ano passado, quando Jair Bolsonaro (PL) convocou manifestantes contra o STF.
Na ocasião, a segurança do Planalto havia sido reforçada por 110 militares o equivalente a uma subunidade ou três pelotões. No dia 8 de janeiro, o Comando Militar do Planalto enviou apenas um pelotão (36 homens) por volta das 12h.
"Desta forma, é possível concluir que, sendo realizado um planejamento das ações de segurança adequado, com o acionamento de valor de tropa suficiente, a execução das ações de segurança por parte das tropas do CMP [Comando Militar do Planalto] teria melhores condições de êxito", diz.
"Nesse sentido, a invasão ao Palácio do Planalto poderia ter sido evitada ou minimizado os danos patrimoniais sofridos", completa.
O inquérito militar afirma que, devido à falta de planejamento, as tropas em campo não tinham condições de reagir à investida golpista. Por isso, diz que "não foram encontrados indícios de crime militar ou crime comum na atuação das tropas".
"Devido a uma previsão de normalidade por parte daquele órgão [Secretaria Presidencial] que não se verificou na realidade, o efetivo solicitado ao CMP e empregado foi abaixo do necessário diante do grande número de invasores e do comportamento agressivo dos mesmos."
"Noutro vértice, conclui-se que há indícios de responsabilidade da Secretaria de Segurança e Coordenação Presidencial/Dseg quanto à invasão do Palácio do Planalto, considerando que houve falha no planejamento e na execução das ações", aponta o inquérito militar.
Imagens do circuito interno de câmeras do Palácio do Planalto durante a invasão mostraram não só o baixo número de homens no local, mas também falta de comando. A entrada principal do prédio ficou desguarnecida por cerca de 45 minutos.
O inquérito foi aberto em 11 de janeiro para averiguar a atuação da tropa. A investigação foi conduzida pelo coronel Roberto Jullian da Silva Graça, hoje chefe do Estado-Maior do Comando Militar do Planalto.
O inquérito policial militar é uma investigação pré-processual elaborada pelos próprios militares para avaliar se há indícios de crime militar e quais os possíveis responsáveis. Feitosa nem sequer foi ouvido durante a apuração.
O documento foi enviado ao ministro Alexandre de Moraes, do STF (Supremo Tribunal Federal). Em fevereiro, ele decidiu que os militares envolvidos no 8 de janeiro serão processados e julgados pelo próprio tribunal.
O ministro também determinou que a Polícia Federal abrisse um inquérito para investigar os militares das Forças Armadas e da Polícia Militar do Distrito Federal. A PF, portanto, pode chegar a conclusão diferente da apontada no inquérito militar.
EXÉRCITO NÃO SE MANIFESTA SOBRE INVESTIGAÇÃO
Questionado pela reportagem, o Exército não explicou por que o general Feitosa não foi ouvido no inquérito. A instituição afirmou que os esclarecimentos sobre o 8 de janeiro serão prestados "exclusivamente" aos órgãos competentes.
"O Exército não se manifesta no transcurso de processos de investigação. Cabe destacar que esse é o procedimento que tem pautado a relação de respeito do Exército Brasileiro com as demais instituições da República", disse.
O GSI afirmou em nota que "desconhece as conclusões da apuração do Inquérito Policial Militar instaurado no âmbito do Comando Militar do Planalto, ao qual não teve acesso".
A reportagem não conseguiu contato com o general Feitosa e o coronel Wanderli. A defesa do general Gonçalves Dias foi procurada, mas não se manifestou.
O inquérito policial militar também levanta as falhas da Secretaria de Segurança Pública do Governo do Distrito Federal embora a pasta não tenha sido foco da investigação nem apareça nas conclusões.
O documento ressalta que o GSI e o Comando Militar não foram chamados para a reunião organizada pela secretaria em 6 de janeiro, dois dias antes do ataque, nem "comunicados de suas decisões ou relatórios de inteligência".
Diante do risco de invasão das sedes dos três Poderes, o Governo do DF elaborou um protocolo de ações integradas em que definia o que cada órgão responsável pela segurança da Esplanada dos Ministérios deveria fazer no dia.
O inquérito afirma ainda que a PM-DF de acordo com o próprio protocolo de ações deveria ter impedido a chegada dos manifestantes até a praça dos Três Poderes, o que não ocorreu.
Outro argumento usado na defesa dos militares é o de que "a única informação" enviada pela Polícia Militar foi a de que as manifestações teriam "animosidade baixa", com "até duas mil pessoas".
O relatório também minimiza a atuação do Exército no acampamento golpista montado em frente ao quartel-general, em Brasília.
O inquérito afirma que a área foi ocupada a partir de 30 de outubro "de forma intensa, porém pacífica" e que houve "redução gradual no número de manifestantes" a partir de 15 de novembro "em razão da postura restritiva" do Comando Militar do Planalto.
O documento também diz que, diferentemente da "postura restritiva" adotada pelo Comando Militar do Planalto, "o Governo do Distrito Federal autorizou que os manifestantes realizassem seu desembarque" no Setor Militar Urbano, onde fica o quartel.
Mudanças propostas contemplariam a ida de Geraldo Alckmin para a Defesa, liberando o Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços para outros partidos, de acordo com auxiliares do presidente
Por Renata Agostinida
A reforma ministerial que deverá ser promovida por Luiz Inácio Lula da Silva para acomodar o Centrão pode envolver mudanças maiores do que o inicialmente previsto, alertam auxiliares do presidente.
Um cenário estudado inclui, por exemplo, mexer no comando do Ministério da Defesa, de acordo com um ministro que tem participado das discussões.
Esse seria um caminho para acomodar o vice-presidente Geraldo Alckmin, hoje à frente do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços.
A pasta entrou na lista de possibilidades para trazer o Republicanos para dentro do governo.
Inicialmente, o Ministério do Esporte foi oferecido para o deputado Silvio Costa Filho.
Depois, o Planalto acenou à legenda com o Ministério de Ciência e Tecnologia, espaço visto pelo Republicanos com menos interesse.
O Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio surgiu então como uma possibilidade para tentar um compromisso maior da sigla com os projetos de Lula.
A meta do Planalto é tentar selar um acordo mais amplo com o presidente do partido, o deputado Marcos Pereira. Apesar de ter dado aval para as conversas de Silvio Costa Filho, ele tem resistido a deixar a postura de oposição ao governo.
Ministros de Lula têm se dedicado a montar diversos planos de reforma considerando duas variáveis: as ponderações feitas pelos partidos do Centrão e os vetos vocalizados por Lula.
O presidente, por exemplo, barrou qualquer investida contra o Ministério da Saúde.
Como mostrou a CNN, ele também tem indicado predileção por manter espaços como Embratur, Correios e Caixa nas mãos de aliados mais próximos.
Isso fez com que auxiliares elaborassem um plano que incluiria dar a União Brasil e PP cargos de diretoria e vice-presidência nestes órgãos.
Esta semana é vista como decisiva, já que há retomada dos trabalhos no legislativo e Lula deve se sentar com Arthur Lira para conversar sobre a reforma.
Avaliação é do presidente da Conab
Por Sabrina Craide
O Brasil deverá produzir este ano 29,6 milhões de toneladas de carnes bovina, suína e de aves. A previsão é da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) e, se for confirmada, será a maior produção da série histórica.
Segundo o presidente da Conab, Edegar Pretto, o aumento na produção de carnes vai refletir na redução de preços para os consumidores brasileiros. “Mais produto no mercado significa menor preço para os consumidores. Temos expectativa de que, para aqueles que gostam de consumir carne, possivelmente vai ter um aumento da proteína animal na mesa do povo brasileiro, especialmente o churrasco, que não é só uma comida para o nosso povo, faz parte da nossa cultura”, disse Pretto em entrevista no programa A Voz do Brasil, nesta sexta-feira (28).
O recorde é puxado pela produção de suínos, que deve chegar a 5,32 milhões de toneladas em 2023, alta de 2,7% se comparado com o ano passado. O volume é o maior registrado no país.
A produção de bovinos representa cerca de 9 milhões de toneladas, com aumento de 4,5%. O aumento já era esperado devido ao ciclo pecuário, quando há maior abate de fêmeas e uma consequente elevação na oferta de carne no mercado.
Para aves, a estimativa é de uma produção de 15,21 milhões de toneladas, alta de 2,9%. A boa produção e os registros de gripe aviária em países da Europa, Japão e Estados Unidos, por exemplo, aumentam a procura pela carne brasileira. Até o momento, o Brasil continua livre da doença na produção comercial.
Já com relação ao quadro de suprimento de ovos, a estimativa da Conab é que a produção para 2023 deve atingir um novo recorde e chegar a 40 bilhões de unidades de ovos para consumo.
Exportações
A Conab também prevê recorde para as exportações de carnes, ultrapassando os 9 milhões de toneladas. “O governo federal está em um grande esforço para aumentar nossas exportações. Exportar mais significa produzir mais e gerar mais empregos”, avalia Pretto.
Para os suínos, as exportações deverão ter alta de 10,1%, estimada em 1,22 milhões de toneladas. No caso dos bovinos, as exportações estão projetadas em 2,91 milhões de toneladas, uma redução de 3,3% se comparado com o registrado no ano passado, impactado pelos embarques mais lentos no início de 2023.
Já no caso das carnes de aves, as exportações devem crescer em torno de 10,2%, atingindo um volume de 5,12 milhões de toneladas, um novo recorde.
Segundo a Conab, mesmo com a alta nos embarques, a disponibilidade de carnes no mercado doméstico deve ser elevada em 2,4%, prevista em 20,44 milhões de toneladas, a segunda maior da série.