O maior patrimônio político de qualquer partido, é o mandato de deputado federal que, na legislação eleitoral, pertence à legenda e, não ao eleito. É vinculado aos mandatos de deputado federal que estão o Fundo Partidário e o Horário Eleitoral Gratuito de Rádio e TV.
Por Edson Rodrigues
Já os cargos de governador e senador pertencem aos que, para eles, se elegeram, podendo esses políticos mudar de partido sem nenhum risco de ficar sem o mandato.
Sem a definição das regras das eleições de 2022, os partidos estão de pés e mãos atados, principalmente os nanicos, pois se acostumaram a deixar que o TSE legislasse quando essa prerrogativa é dos parlamentares. O TSE baixa as famosas resoluções de cota por sexo e cor, e a divisão dos recursos para custear campanhas. Desde então, o feitiço virou contra o feiticeiro e a omissão dos parlamentares, que não se preocuparam em aprovar as regras para as eleições nos estados, envolvendo o pleito proporcional para a Câmara dos |Deputados e para as Assembleias Legislativas, e acabaram reféns do Poder Judiciário.
O tempo passa e o afunilamento para a formação das chapas proporcionais segue ainda sem regras definidas ou publicadas no Diário Oficial da União, impossibilitando as direções estaduais dos partidos de traçar um planejamento para a realização das convenções.
Antes de entrar no cerne da questão, temos que separar o joio do trigo. As regras para as eleições 2022 terão que ser definidas, aprovadas e sancionadas até o dia dois de outubro próximo, exatamente um ano antes das eleições que decidirão quem serão os eleitos para presidente da república, governador, senador, deputado federal e deputado estadual. As regras novas, ainda não definidas, serão aplicadas apenas para os deputados federais e estaduais, já estando acertadas para presidente, governador e senador.
TOCANTINS
Governador Carlesse
Os dirigentes partidários e os detentores de mandatos no Legislativos estadual e federal, começam a intensificar as articulações para a formação de suas chapas. Mas, entre um partido e outro há diferenças astronômicas. Os de grande porte contam com um Horário Eleitoral Gratuito e um Fundo Partidários “gordos”, o que significa menos problemas.
Lideranças do MDB
Os principais partidos políticos do Tocantins, com representatividade na Câmara Federal e na Assembleia Legislativa, trabalham nos bastidores para, no mínimo, manter a presença numérica que já possuem. Um desses partidos é o MDB, com excelente musculatura, com cinco deputados estaduais, dezenas de prefeitos e uma deputada federal, graças ao êxito conseguido nas eleições municipais de 2020, em que teve um aumento considerável no número de vereadores e prefeitos eleitos e tem Comissões Provisórias nos 139 municípios do Estado, já ocupou o governo com Moisés Avelino e Marcelo Miranda.
Lideranças politicas
Dentre as oito principais lideranças políticas do Tocantins, o MDB conta com o senador Eduardo Gomes, líder do governo Jair Bolsonaro no Congresso Nacional, e o mais votado nas últimas eleições, e o ex-governador Marcelo Miranda, que sempre demonstrou muita popularidade e força política.
No interior, são milhares os simpatizantes e filiados do MDB que, pela primeira vez parece vir com todos juntos para o embate eleitoral, o que torna suas chances de vitória bem maiores.
O único senão nas possibilidades do MDB reside na situação de Eduardo Gomes, que terá que decidir entre o Palácio do Planalto e o MDB, já que as duas linhas não irão caminhas juntas nas eleições presidenciais.
PSL
Ainda engatinhando, mas com tudo planejado pelo seu presidente estadual, Mauro Carlesse, o partido vem apostando tudo no patrimônio político pessoal do governador do Estado. O partido conta com outro diferencial de peso, que são o Horário Eleitoral Gratuito e o Fundo Partidário, que serão os maiores durante a campanha para 2022.
Para que se tenha uma dimensão do que isso representa, o PSL destinou recursos para a eleição da deputada estadual Vania Monteiro, na casa dos cinco milhões de reais. Quanto o partido não estará disposto a gastar para eleger deputados federais, um senador e uma bancada de deputados estaduais?
Sobre a candidatura a governador, pelo andar da carruagem, Mauro Carlesse está mais interessado em aplacar os efeitos da pandemia nas famílias de baixa renda, com a distribuição de cestas básicas, para, só depois, definir qual será o nome que o partido irá ungir com suas bênçãos.
Segundo informações de bastidores, o PSL deve receber filiações de políticos em pleno gozo do mandato, eleitos por legendas que hoje são oposição a Mauro Carlesse, com assento na Assembleia Legislativa. A intenção é mudar de partido para continuar na base de apoio.
Ao que tudo indica, Carlesse está com o PSL de portas abertas para esses “reforços” políticos que, segundo informações de bastidores, tem em seu bojo, pelo menos, dois deputados federais, que esperam apenas a abertura da “janela” eleitoral que permite a transição entre partidos sem o risco de perda do mandato.
PT E “AMIGOS”
O Partido dos Trabalhadores, comandado por Célio Moura e Zé Roberto, animado com a possibilidade de ter o ex-presidente Lula de volta ao páreo pela presidência da República, deve formar palanque conjunto com o PSB, de Carlos Amastha, o PP de Kátia Abreu e o PSD de Irajá Abreu, sonhando em juntar-se a eles o ex-prefeito de Porto Nacional, Paulo Mourão – hipótese bastante improvável – para construir uma candidatura oposicionista não só a Mauro Carlesse, mas, principalmente, ao presidente Jair Bolsonaro, apostando todas as fichas na elegibilidade de Lula.
PSDB
O PSDB tem, no Tocantins, a prefeita da Capital, Palmas, reeleita, com muitas obras em andamento, uma ótima visibilidade política, que vem demonstrando total controle do seu governo, sem nenhum escândalo e sem nenhuma mácula.
Nos últimos meses, Cinthia, que é presidente estadual do PSDB, promoveu uma reforma silenciosa em sua equipe de assessores, para adequá-la ao que pode chamar de seu governo, já que, desta vez, foi ela quem se elegeu prefeita.
Seu partido passa por uma grande turbulência em nível nacional, por conta das controvérsias em relação à prévia para a escolha do candidato à presidência da república, em que um dos seus principais líderes, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, se manifestou simpatizante da candidatura de Lula à presidência.
Cinthia pode estar apenas aguardando definições da cúpula nacional para, no segundo semestre iniciar as articulações para 2022. O agravamento dos casos de Covid-19 em todo o Tocantins pode, também, ser um dos motivos pelos quais ela ainda não iniciou as tratativas acerca das eleições majoritárias.
Bancada do Tocantins em Brasília
Resta, então, saber quais os rumos que tomarão os detentores de mandatos na Câmara Federal, os deputados Osires Dmaso, Eli Borges, Dorinha Seabra e Carlos Gaguim, se eles irão em bloco para o PSL assim que abrir a “janela”, no início de 2022, ou se algum deles vai preferir continuar no partido pelo qual foram eleitos e trabalhar o triplo do necessário para continuar em seus cargos, enfrentando não só os adversários diretos, mas uma pandemia interminável, uma inflação em alta, o desemprego monstruoso, o recorde diário de empresas sendo fechadas, deixando muitas famílias sem possibilidade de lutar pelo pão de cada dia, enquanto assistem as operações da Polícia Federal desvendando políticos inescrupulosos, desviando dinheiro do combate à Covid-19 para resolver assuntos de interesse pessoal, muitos deles em solo tocantinense.
A tendência é que os atuais detentores de mandato na Câmara Federal sigam para os braços do governador Mauro Carlesse, engrossando as fileiras do PSL e, uma vez com a estrutura garantida, tentar um fazer melhor que o outro e fechar o maior número de apoios possível, pois será cada um por si e Deus para todos.
“CHAPINHAS”, A SALVAÇÃO
Outro ponto que continua sem resolução é que rumo tomarão os partidos nanicos, sem representatividade, sem tempo no Horário Eleitoral Gratuito e sem Fundo de Campanha.
Se não for por intermédio do sistema de “chapinhas”, que reúne candidatos a deputado estadual com potencial de três a cinco mil votos e candidatos a deputado federal com mais de cinco mil votos, sem nenhum detentor de mandato integrando o grupo, o que possibilitaria a eleição de, pelo menos, três ou quatro deputados estaduais e dois federais, não haverá saída para essas legendas.
Recomenda-se aos integrantes desses partidos, tentar triplicar o fechamento de acordos, por meio de um ótimo trabalho de bastidores, enquanto aguarda as regras que regerão as eleições de 2022 serem divulgadas e virar Lei.
Depois, rezar muito, mas muito, mesmo, para a pandemia acabar até dezembro, caso contrário, a abstenção será recorde.
Quem conseguir se eleger será rei ou rainha, com todas as possibilidades de emplacar uma vida política duradoura.
Esta é a perspectiva de momento, por nós vista, com grandes possibilidades de se tornarem reais, pois sabe-se que a pressão para que as legendas sigam, nos estados, o que definir a cúpula nacional, será muito grande.
Esse é o jogo. Resta saber quem vai querer jogar!
VEJA ABORDA O RETROCESSO DO VOTO IMPRESSO. ISTOÉ FALA EM “PREPARAÇÃO PARA O GOLPE” E ÉPOCA DEIXA DE CIRCULAR
Da Redação
Voto impresso pode voltar
Para justificar seu medo de voar, Tom Jobim dizia que o avião, além de ser mais pesado que o ar, havia sido inventado por um brasileiro. A piada do compositor funciona pelo seguinte motivo: por força das limitações do país e mesmo de alguns preconceitos, inovações desenvolvidas ou adotadas em larga escala por aqui com um certo pioneirismo carregam algum tipo de desconfiança. Esse mecanismo de negação costuma servir de combustível a teorias conspiratórias e lançar sombras de dúvida até sobre ferramentas consagradas. É o que acontece agora com as urnas eletrônicas, colocadas injustamente na posição de alvos em esforço para questionar sua confiabilidade. A “solução” apresentada pelos críticos é uma volta ao passado, com a exigência da impressão do voto dado pelo sistema atual. Tal movimento faz vistas grossas ao fato de que as eleições digitais resolveram justamente o problema crônico de fraudes dos tempos das velhas cédulas em papel.
Enquanto nessa época os cambalachos eram comuns, nos 25 anos de experiência com as urnas eletrônicas nunca houve uma denúncia séria sobre qualquer falcatrua. Com isso, por incrível que pareça, o Brasil virou um exemplo de eficácia, rapidez e transparência na apuração de eleições.
Agora, com sérias possibilidades de um retrocesso via Congresso Nacional, é quase certo que os tempos de confusão estarão de volta no pleito de 2022. Com firme apoio da base política do governo federal, há boas chances de vitória de um projeto para obrigar a impressão dos votos feitos nas urnas eletrônicas. Na teoria, isso serviria para garantir a possibilidade de checagem em caso de qualquer desconfiança. Na prática, vai demandar um investimento de 2 bilhões de reais e ajudar a judicializar o resultado, com hordas de derrotados pedindo recontagem de votos nos tribunais. Não bastassem os custos e o tempo escasso para a execução, dependendo do formato final do projeto (discute-se a possibilidade de recontagem de um universo entre 15% e 20% das urnas eletrônicas a partir dos votos impressos), a iniciativa sempre dará margem a dúvidas daqueles com interesse em colocar o resultado sob suspeita.
Istoé
A PREPARAÇÃO PARA O GOLPE
Foi um momento de inflexão. Desde a redemocratização, o País considerava que as Forças Armadas estavam cientes de sua atribuição constitucional. A geração de oficiais formada nos anos de chumbo aceitou o novo papel institucional de forma disciplinada, com a exceção de um capitão indisciplinado, expulso após planejar atentados terroristas. Agora, esse militar reformado está saboreando a revanche: conseguiu dobrar a instituição. O comandante do Exército, Paulo Sérgio Nogueira, cedeu às ameaças do mandatário e decidiu não punir o general Eduardo Pazuello por participar de uma manifestação no dia 23 com Bolsonaro e apoiadores. Foi uma flagrante transgressão do código militar, que proíbe atividades político-partidárias, mas Pazuello foi premiado. Continua general da ativa, ganhou um cargo no Palácio do Planalto e virou um símbolo do bolsonarismo para os quartéis.
inda não estão claros os motivos que levaram os 15 generais do Alto Comando do Exército a referendarem essa insubordinação. A versão mais favorável à imagem da Força é que os oficiais procuraram evitar uma nova degola na cúpula das três Forças menos de dois meses após Bolsonaro demitir o ministro da Defesa, Fernando Azevedo e Silva, porque este se recusou a aderir ao projeto bolsonarista. Na época, os três comandantes (o general Edson Pujol, o almirante Ilques Barbosa e o brigadeiro Antônio Carlos Bermudes) se demitiram em apoio a Azevedo. Se foi isso, a prática de contemporizar apenas deixou o presidente mais à vontade para politizar a corporação. Outra versão indica que os militares fizeram isso por medo do retorno de Lula em 2022. Seria pior ainda, pois significa que os militares abertamente estão se imiscuindo no próximo pleito, à revelia do desejo da população. Além disso, trata-se de um equívoco. A “ameaça comunista” é um lema anacrônico e sem sentido após 13 anos de governo do PT. Já o risco de um golpe de Bolsonaro é real. Desde a década de 1990 o ex-capitão anuncia que essa é sua intenção. Ele incentivou manifestações pelo fechamento do Congresso e do STF, que estão sob investigação. Instituições de Estado estão capturadas pelo bolsonarismo. O presidente já aparelhou a PF. Também colocou a seu serviço a PGR e a Abin. A Receita Federal foi acionada de forma privada por Flávio Bolsonaro para tentar apurar investigações contra ele. A crise institucional mudou de patamar.
ÉPOCA PARA DE CIRCULAR
Desde o dia de 28 de maio a Revista Época deixou de circular. O Grupo Globo anunciou o fim da publicação em um comunicado no jornal O Globo. Os conteúdos migrarão para as versões digitais e impressas do veículo.
O texto divulgado destaca que a revista está passando por uma transição para acompanhar as mudanças do mercado, pois conforme a empresa, os leitores estão optando por ler mais conteúdos on-line do que impresso. "A dinâmica de uma revista semanal de notícias impressa começou a perder relevância em um tempo em que os furos de reportagem são publicados em tempo real e alertados nas telas dos celulares", ressalta.
Com o encerramento, o site da publicação integrará o portal de O Globo e os assinantes poderão acessar o conteúdo. Além disso, a Época terá páginas fixas com reportagens nas edições de sábado do impresso. Nos demais dias, estará presente, mas de forma analítica e reflexiva.
Em um comunicado, enviado aos funcionários da Editora Globo, o diretor-geral da empresa, Frederic Kachar, falou sobre a alteração. "Essa junção de forças me dá mais certeza ainda do sucesso no atingimento [sic] dos nossos objetivos", ressaltou.
Ministro afirmou que Brasil teve leve crescimento de mortes por covid-19 nos últimos dia mas descartou terceira onda
Do R7
O ministro da Saúde Marcelo Queiroga afirmou neste sábado (12), em coletiva de imprensa, que o Brasil teve "leve" crescimento de mortes por covid-19, com aumento expressivo no número de casos nas últimas semanas.
“Há uma tendência pequena de aumento de óbitos, mas estamos vigilantes”, disse o ministro. “Isso é consequência do crescimento do número de casos registrado há duas semanas. Os estados que mais preocupam são o Tocantins e Mato Grosso do Sul”.
Queiroga também citou ações do governo para transferir pacientes sem vagas em hospitais no Mato Grosso do Sul, que tem 104% de ocupação nos leitos de UTI (Unidade de Terapia Intensiva) da rede pública. Ao todo, o estado tem 7.366 óbitos em decorrência da covid. No Tocantins, a taxa consolidada é de 93% de ocupação das UTIs.
"Esses casos que nós temos se devem primeiro em função de uma certa abertura maior das cidades. Quando abre, há uma tendência a ter novos casos. Segundo, nós temos a estação do inverno, onde há uma tendência maior de circulação de vírus e com isso podemos ter mais casos", explicou.
Ele ainda mencionou a variante delta do novo coronavírus, que veio da Índia, mas disse que só nove casos foram registrados oficialmente no Brasil até agora.
O ministro, porém, não falou em terceira onda da covid-19. Ele pontuou a antecipação da entrega de 3 milhões de doses da vacina da Janssen, que devem chegar na próxima terça-feira (15). Com aval da farmacêutica, a pasta ainda busca estender o prazo de validade dos imunizantes, de 27 de junho para o dia 8 de agosto. O pedido dependerá de análise da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária).
Neste sábado, o Brasil registrou 2.037 mortes por covid-19, chegando a marca de 486 mil vítimas desde o início da pandemia.
Em entrevista ao iG, o pesquisador dá seu ponto de vista sobre a relação entre o presidente Jair Bolsonaro e o alto comando militar
Por Carlos Eduardo Vasconcellos
Para o antropólogo Piero Leirner , pesquisador das Forças Armadas desde o início da década de 1990 e professor da Universidade Federal de São Carlos (Ufscar), a ascensão de Bolsonaro à presidência não foi mero acidente, mas construída dentro do alto comando militar desde 2014.
Em entrevista exclusiva ao iG, o autor do livro " O Brasil no espectro de uma guerra híbrida - Militares, operações psicológicas e política em uma perspectiva etnográfica" diz que até mesmo as falas controversas de Bolsonaro e os ataques às instituições democráticas fazem parte de um "roteiro", no qual Bolsonaro fora pensado para gerar discórdia e fazer com que os militares figurem como a ala "moderada" do governo. Confira abaixo os melhores momentos da entrevista.
Em dois anos e meio de governo Bolsonaro, são pelo menos 6 mil militares em funções civis no governo federal. Dá para dissociar o governo Bolsonaro de um governo militar?
De todo modo, o problema aqui, me parece, vai bem além dos cargos. O que me interessa é qual projeto está por trás deste aparelhamento. Minha hipótese é que se trata de um movimento de transformação do Estado de modo a centralizar a política nos militares, então vai além de um governo no sentido transitório.
Se você quiser usar uma metáfora, é um sistema operacional (por exemplo o Windows) rodando em 'modo de segurança', sendo o administrador do sistema — aquele que diz o que pode e o que não pode rodar, ou aparecer na interface — é o militar, e não o presidente.
Com uma série de decretos que estão sendo implementados desde o fim de 2018 e projetos de lei que estão tramitando, o desenho institucional aponta essa administração para as gavetas do GSI (Gabinete de Segurança Internacional).
A partir disso, desce para os ministérios e o que era uma política passa a ser informação, comando e controle . Isso às vezes escapa dessa forma, às vezes vem 'paisanizado', na forma de uma gestão militar. Assim, por exemplo, o controle das burocracias que mapeiam, geram uma cadeia de informações e direcionam o fluxo de dinheiro passa a ser monitorado, controlado e comandado por militares.
Bolsonaro, em certo sentido, é uma peça funcional desse maquinário. Mas qual é a sua função exatamente? É dar uma 'cara' ao governo, isto é, manter a aparência de que tudo é consequência das eleições. A partir disso, o governo Bolsonaro estampa seu rótulo em tudo, e essa engrenagem fica camuflada.
Desse modo ele é um agente ideológico terceirizado para dar a sensação que isto que estamos vivendo é um governo (ou desgoverno, dependendo do ponto de vista), e não um sistema de comando, controle e informações militar.
Você diz que Bolsonaro é um 'projeto de generais'. As Forças Armadas 'embarcaram' na candidatura de Bolsonaro ou construíram essa candidatura de maneira ativa? E em que momento isso começou a ser arquitetado?
Foi construída. Esta pretensão à Presidência nasce publicamente dentro de uma
instalação militar em novembro de 2014: na Aman (Academia Militar das Agulhas Negras), quando ele é conduzido para discursar para cadetes e assume que, com o apoio dos militares, vai chegar à Presidência em 2018. Qualquer um com o mínimo de conhecimento do mundo militar sabe muito bem que não existe espaço para improvisos dentro de um quartel.
O que ele fez lá naquele dia teve o aval da cadeia de comando. Com o detalhe que isto é completamente ilegal, e centenas de vezes mais grave do que o que ocorreu com Pazuello .
Deveriam ser punidos os cadetes, seus comandantes, o comandante da Aman, e no mínimo exonerados o General responsável pelo Departamento de Educação e Cultura do Exército e o Comandante da Força.
Mas o que aconteceu? Ele repetiu a dose em 2015, 2016, 2017 e 2018. Eninguém falou nada. Tendo isto na cabeça fica mais fácil perceber a natureza dessa ligação, e a partir daí perceber como toda contradição entre Bolsonaro e as Forças Armadas é uma emulação, um “teatro de operações” , para usar a linguagem deles.
Muito se fala em 'desconforto' entre militares e Bolsonaro, mas ele segue fazendo política da mesma forma — atacando as instituições democráticas. O vice-presidente Hamilton Mourão constantemente discorda publicamente de Bolsonaro. Essas 'divergências' seriam uma forma de os militares mostrarem moderação?
O primeiro problema, que devemos nos perguntar antes de tudo, é quem exatamente está falando desse desconforto? De um lado podemos listar generais que estavam emaranhados nesse projeto desde que começou (veja a resposta anterior: alguém se manifestou sobre os ocorridos entre 2014 e 2018?), e que se tornaram 'dissidências' por romperem com Bolsonaro.
Mas a pergunta é: romperam também com o projeto que o levou lá? De modo algum. Tanto é que não esboçam uma palavra sequer a respeito. Não dizem, da boca deles, como isso foi construído.
É preciso entender uma coisa, e o livro de entrevista do general Villas Bôas a Celso Castro deixa isso bem claro: em primeiríssimo lugar está a camaradagem entre eles próprios. E em último o universo “paisano”, isso que nós chamamos de sociedade e que eles entendem como um fator secundário no Brasil.
Então discordar de Bolsonaro é parte do roteiro , porque ele foi pensado justamente para gerar discórdia. Ele não tem função nenhuma a não ser esta que foi conduzida por ele até agora. Seu papel é justamente o de um homem- bomba, incendiário, um para-raios que canaliza todas as crises para si.
É conveniente, pois assim é que se chegará a hora em que os militares aparecerão como única hipótese de moderação frente à insanidade geral, inclusive a que está tomando as próprias Forças Armadas. Ainda vamos ver a oposição pedindo ajuda aos generais.
Então a condução da pandemia pelo governo federal teve o endosso dos militares?
Foram várias operações de informação, com uso extensivo da imprensa (que é “informada” através de generais sob condição de anonimato, frequentemente com versões contraditórias), de modo a emplacar a visão de que ele está inclusive desestabilizando as Forças Armadas, tornando-as sua guarda pretoriana.
Qual é a consequência disso? Em primeiro lugar o apagamento do registro de que ele foi, é e vai ser um projeto deles; em segundo lugar o amortecimento do fato de que eles têm responsabilidade sobre o que aconteceu, na pandemia como no resto. Afinal, se tudo é uma questão deles “obedecerem”, ainda vão sair dessa como legalistas e democratas, sobretudo se de fato a “terceira via” que eles estão montando com “generais dissidentes” emplacar.
O que a decisão do Comando do Exército de não punir o general Eduardo Pazuello por participar de ato político com Bolsonaro revela sobre a intenção dos militares?
Revela que para eles é importantíssimo passar a imagem de que Bolsonaro está no controle do processo, e não eles. Usaram uma retórica batida, um mnemonismo tirado de Sun-Tzu (autor de "A Arte da Guerra): “pareça fraco quando se está forte”. Mas funcionou. E para 'dentro' também, pois é necessário passar para a tropa a imagem de todo processo acima. Mas tudo é decidido no topo, é assim que funciona no Exército.
Como os militares enxergam as acusações em que a família Bolsonaro está envolvida — como supostas ligações com a milícia no estado do Rio de Janeiro?
Não sei. Mas, se eu chutasse a partir de como um militar poderia pensar, justamente veria que aí está uma fragilidade dele, e que isso pode ser operado como instrumento de controle de quem tem muitos fios desencapados. Ou seja, em hipótese é muito mais interessante se controlar alguém que tem um passivo desses. Mas, obviamente, isso é um “se”, não tenho fato empírico que mostre que é assim.
Em que situação podemos pensar em uma ruptura do governo Bolsonaro com os militares?
Se isso acontecer, não creio que deva ser enxergado pelo polo da 'situação', mas sim da 'estrutura' dessa relação. Pois há um caminho que está sendo montado para a tal '3ª via' entrar de modo consensual, e com militares nela. Porém, para isso acontecer de forma definitiva talvez seja preciso mesmo apresentar uma 'situação' qualquer, um 'fato' que faça esses 6 ou 12 mil militares desplugarem dos Ministérios e se reverta a operação psicológica que produziu a adesão em enxame a esse rótulo que se chama
“bolsonarismo” na tropa.
Meu palpite é que isso só pode acontecer se houver um agente catalizador com força suficiente para provocar essa engenharia reversa, que para mim ainda só pode ocorrer se estiver na chave da 'corrupção'.
Esta se tornou uma espécie de 'ativo ideológico', drena as percepções para um lado ou para o outro. A partir do manejo dela eles podem trabalhar numa opção que dê conta ao mesmo tempo de Bolsonaro e de Lula , e continuem assim a aliança 'sinérgica' entre militares e Judiciário, tal como em 2018.
Acredita na força da CPI para a abertura de um processo de impeachment?
Pode até ser, mas será preciso algo a mais para o processo se efetivar. Em primeiro lugar porque até agora os agentes econômicos que realmente importam não têm se incomodado muito com a perda de 500 mil vidas.
A Bolsa sobe, os bancos lucram, as privatizações seguem, a soja está fluindo e tudo ruma para consolidação do Brasil como um País agro-financeiro, e tudo isso com índices ruins. Para o industrial que se contentou em ser um jogador na Bolsa ou para um militar que entende que a soja é uma extensão da soberania nacional, muito que bem.
Em segundo lugar porque será preciso que eles tenham uma avaliação se é melhor chegar com Bolsonaro arruinado ou se é melhor descarta-lo antes, para não correr riscos de seu piso subir demais. Ainda que aquele que o inflou, tem também o poder de o fazer murchar, é só questão de ver o que dá mais trabalho.
Para os militares, basta que eles comecem a falar que não apoiam Bolsonaro em reuniões reservadas na Fiesp, etc, que você vai ver em efeito cascata, todo mundo pulando fora do barco, do banqueiro ao quitandeiro. Mas tem que ter outro por perto, daí a necessidade de se adensar essa '3ª via'.
Foi assim que eles começaram a construir a candidatura dele com outros setores na eleição passada, um trabalho minucioso de 'propaganda e informações', em que eles se garantiram como única solução frente ao caos que imperava no País.
Portanto, se eu tiver que dar um palpite, tudo terá que acontecer no ano que vem, na hora que esse pessoal cansar e resolver controlar o processo eleitoral — o que não pode ser feito desde já, porque o Brasil ainda tem que piorar muito até que se consolide a percepção que eles são a última carta do baralho.
Por fim. Em caso de derrota nas urnas em 2022, é possível pensar no risco de uma ruptura democrática total com a atuação dos militares?
O problema é que a gente talvez precise de um novo entendimento do que é essa palavra “democracia” a partir de uns anos para cá. 2018 foi democrático? Não era até o momento em que se dizia que “eleição sem Lula é fraude” — e era mesmo —, mas eis que o próprio PT endossou a eleição, inclusive dando a Bolsonaro a oportunidade de sequestrar a pauta da fraude eleitoral.
Desde aquele momento, com a oposição controlada e endossando o papel da Justiça, vivemos esse regime híbrido, de controle pelo consórcio jurídico-militar mas com aparência de “instituições que funcionam”. Até para isso a disfunção de Bolsonaro contra o STF serve, pois é mera refração da 'sinergia' que de fato ocorre entre esses setores não eleitos para determinar a política.
Como o ganho para os militares é ascendente em qualquer hipótese, para eles assumirem diretamente o Executivo (e não através de um agente terceirizado, como é Bolsonaro) teria que haver o cálculo de que um outro grupo com o mesmo nível de poder pudesse redefinir esse projeto de aparelhamento e hegemonia, inclusive com ônus para os setores que agora estão drenando a energia produtiva do País e garantem uma certa indiferença internacional em relação a nós. Alguém se candidata a isso? Acho que, pelo menos por enquanto, ainda não.
Medida beneficia 36 milhões de aposentados e pensionistas
Por Agência Brasil
Beneficiários do Instituto Nacional de Seguro Social (INSS) podem realizar a prova de vida por meio dos aplicativos Meu gov.br e Meu INSS, pelo site, em caixas eletrônicos ou até por procuração.
A medida tem o objetivo de evitar aglomerações durante a pandemia. A necessidade de fazer a prova de vida foi retomada neste mês, após interrupção em março do ano passado. Durante o período, os beneficiários não deixaram de receber seus pagamentos.
O novo sistema viabiliza a prova de vida online através de tecnologia de biometria facial, desenvolvida pelo Serpro e pela Dataprev. O procedimento vai facilitar a vida de cerca 36 milhões de aposentados, pensionistas e beneficiários de programas assistenciais. Para utilizar a funcionalidade, é necessário que o usuário tenha feito a coleta de biometria para o título de eleitor, além de possuir uma conta no gov.br, o portal de serviços de governo.
Os aplicativos Meu Gov.br e Meu INSS estão disponíveis na Google Play e App Store, ou, ainda, nos ambientes web.
Prova de vida
Realizada anualmente para comprovar a existência do beneficiário e evitar fraudes, a prova de vida é exigida de todos os que recebem benefícios de seguro social por meio de conta corrente, poupança ou cartão magnético. Para não ter o pagamento suspenso, as provas já vencidas devem ser realizadas novamente até as datas limite. Segundo estimativas da autarquia, cerca de 11 milhões de pessoas se encontram em situação de pendência, o que corresponde a um terço dos beneficiários.
Caso não seja possível a realização da prova de vida por celular, a orientação do INSS é que o cidadão procure a agência bancária responsável pelo recebimento do benefício.
Alguns bancos permitem que a validação seja feita por biometria nos próprios aplicativos ou até mesmo em caixas eletrônicos.
Uma terceira opção, para aqueles que não puderem ir ao banco por motivo de doença ou dificuldades de locomoção, é fazer a prova de vida por meio de um procurador. Mas, para isso, é preciso que a procuração seja cadastrada no INSS. A prova de vida por procuração também é uma alternativa para beneficiários que moram no exterior.