Governador do DF não informou se manterá regras; já os chefes do Executivo de Roraima e de Rondônia não se manifestaram. Dezenove dos 27 governadores criticaram fala do presidente
Com G1
Ao menos 24 dos 27 governadores informaram que manterão as regras de isolamento apesar das declarações do presidente Jair Bolsonaro. Na noite de terça-feira (24), Bolsonaro fez pronunciamento em que pediu a "volta à normalidade", o fim do "confinamento em massa" e disse que os meios de comunicação espalharam "pavor".
Disseram que manterão as regras de isolamento: governadores de AC, AL, AP, AM, BA, CE, ES, GO, MA, MT, MS, MG, PA, PB, PR, PE, PI, RJ, RN, RS, SC, SP, SE e TO;
Não disse se manterá: governador do DF;
Não se manifestaram: governadores de RO e RR.
A fala de Bolsonaro foi criticada por 19 governadores.
Criticaram a fala de Bolsonaro: governadores de AC, AL, AP, BA, CE, ES, GO, MA, MS, PA, PB, PE, PI, RJ, RN, RS, SC, SP e SE;
Evitaram criticar: governadores de AM, DF, MT, MG, PR e TO;
Não se manifestaram: governadores de RO e RR.
Leia abaixo a posição dos governadores:
João Doria (PSDB), governador de São Paulo
“Na condição de cidadão, de brasileiro, e também de governador, inicio lamentando os termos do seu pronunciamento à nação. O senhor como presidente da República tem que dar o exemplo. Tem que ser mandatário para comandar, para dirigir, liderar o país, e não para dividir."
Wilson Witzel (PSC), governador do Rio de Janeiro
"Na manifestação em cadeia de rádio e TV, o presidente da República contraria as determinações da Organização Mundial de Saúde. Nós continuaremos firmes, seguindo as orientações médicas e preservando vidas. Eu peço a vocês: por favor, fique em casa."
Renato Casagrande (PSB), governador do Espírito Santo
"Pronunciamento do Pres.Jair Bolsonaro foi desconectado das orientações dos cientistas, da realidade do mundo e das ações do Ministério da saúde. Confunde a sociedade, atrapalha o trabalho nos Estados e Municípios, menospreza os efeitos da Pandemia. Mostra que estamos sem direção."
Ronaldo Caiado (DEM), governador de Goiás
"Fui aliado de primeira hora, durante todo tempo [de Bolsonaro], mas não posso admitir que venha agora um presidente da República lavar as mãos e responsabilizar outras pessoas por um colapso econômico ou pela falência de empregos que amanhã venha a acontecer. Não faz parte da postura de um governante. Um estadista tem que ter a coragem de assumir as falhas. Não tem de responsabilizar as outras pessoas. Assuma a sua parcela". "Não tem mais diálogo com este homem. As coisas têm que ter um ponto final ", afirmou Caiado.
Helder Barbalho (MDB), governador do Pará
"Em relação ao pronunciamento do presidente Jair Bolsonaro, eu respeito a opinião de todos, mas não me furto a reafirmar nossa linha de ação. Nós buscamos, desde o início, as orientações dos técnicos, dos médicos, das autoridades e também dos países que já passaram pelo pior da crise. O caminho que o Governo do Pará buscou foi o do bom senso, o do equilíbrio."
Wellington Dias (PT), governador do Piauí
"É difícil não se manifestar frente ao discurso do Presidente da República, que vai contra todas as recomendações da Organização Mundial da Saúde. Nós vamos seguir o que a ciência nos comprova. O Piauí mantém todas as suas medidas de prevenção à Covid-19".
Fátima Bezerra (PT), governadora do Rio Grande do Norte
"Para muito além de quaisquer divergências políticas, o que se trata aqui é de proteger a saúde da população. Faço coro às palavras dos Secretários de Saúde do Nordeste. Não há neste momento tão delicado o desejo nenhum de politizar a discussão, mas o pronunciamento de hoje do Presidente é um equívoco! O pronunciamento dele vai na contramão de todas as medidas defendidas pelos Estados e municípios em sintonia com o Ministério da Saúde e pela própria sociedade!"
Flávio Dino (PCdoB), governador do Maranhão
"Pronunciamento de hoje mostra que há poucas esperanças de que Bolsonaro possa exercer com responsabilidade e eficiência a Presidência da República. Os danos são imprevisíveis e gravíssimos."
Reinaldo Azambuja (PSDB), governador de Mato Grosso do Sul
“O país precisa de bom senso, serenidade e equilibro nesta hora extrema, difícil! Precisamos salvar vidas, combatendo a pandemia e também o caos econômico e social, representado pela possibilidade de desemprego agudo, agravamento da fome entre os mais vulneráveis e o desabastecimento da população! Ninguém está imune! Para superar essa tragédia, todos temos que ser parte da solução. A hora exige alta responsabilidade, dos governos, das empresas , dos cidadãos.”
Wilson Lima (PSC), governador do Amazonas
"A minha posição é muito clara. Não vamos voltar atrás de nenhuma decisão que foi tomada pelo Governo do Estado do Amazonas. Até porque elas foram tomadas de maneira responsável e seguindo o protocolo estabelecido pelo Ministério da Saúde do Governo Federal. Eu fui eleito para proteger e defender o povo do Estado do Amazonas e é assim que eu vou continuar agindo".
João Azevêdo (Cidadania), governador da Paraíba
"Um desserviço, a destruição de tudo que está duramente sendo construído para proteger a população. Em resumo, um absurdo." Ele ainda afirmou em uma rede social que todas as medidas que foram tomadas para evitar o contágio do coronavírus seguem implantadas.
Paulo Câmara (PSB), governador de Pernambuco
"Enquanto líderes de vários países tomam medidas necessárias para conter o avanço no novo Coronavírus, aqui no Brasil, em pronunciamento veiculado em Rede Nacional, o presidente Jair Bolsonaro vai contramão do que defendem autoridades sanitárias e o próprio Ministério da Saúde. Discurso que, lamentavelmente, comprova que o Brasil está sem comando num dos momentos mais desafiadores da história. O sacrifício é imenso, mas todo esforço tem o único objetivo de salvar vidas. Por isso, em PE, as medidas estão mantidas. É tempo de serenidade, união e trabalho."
Gladson Cameli (PP), governador do Acre
“O objetivo principal nesse momento é preservar vidas dos cidadãos acreanos, sejam eles estudantes, aposentados, empresários, assalariados ou em condições de vulnerabilidade. Estão mantidas todas as medidas necessárias adotadas pelo governo estadual no sentido de resguardar o isolamento social e visando promover a quebra da linha de contágio. Lamento que neste momento, onde devemos destinar toda energia e foco em combater o Coronavírus, se procure politizar as opiniões e ações dos agentes públicos.”
Eduardo Leite (PSDB), governador do Rio Grande do Sul
"É urgente encontrar alternativa ao confinamento. Mas não se faz isso com ataques à ciência e cautela médica mundialmente estabelecidas. Não deixamos de olhar economia/empregos. Mas não assistiremos inertes a uma doença se alastrar. Protege-se: 1) a vida; 2) os empregos. Nesta ordem."
Renan Filho (MDB), governador de Alagoas
"Alagoanos e alagoanas, como sempre longe de extremismos, quero reafirmar o meu compromisso com o firme propósito de manter as medidas preventivas que vêm sendo adotadas no enfrentamento ao novo coronavírus em nosso estado. Apesar do pronunciamento do presidente da República na noite desta terça-feira, que vai de encontro às recomendações da Organização Mundial de Saúde, manteremos com firmeza e serenidade nossas ações, lastreadas em estudos científicos e ouvindo as nossas melhores mentes que estão conosco permanentemente reunidas. Saibam que a vida de cada alagoano é e sempre será o bem mais precioso. Estamos trabalhando diuturnamente para, de um lado, achatar a curva de contágio da Covid-19; e, do outro, preparar a nossa rede hospitalar para a emergência do momento. É tempo de união. Juntos estaremos e venceremos!"
Waldez Góes (PDT), governador do Amapá
“O presidente da República reuniu por videoconferência com os governadores e é impressionante a distância entre o que o presidente, no diálogo que teve com os governadores, e o discurso ontem. Também há uma diferença muito grande entre as orientações que nós seguimos da Organização Mundial da Saúde, do Ministério da Saúde, dos cientistas, dos médicos, da comunidade acadêmica, daquilo que o presidente disse ontem. O que é estranho é a falta de alinhamento no governo central. Todos os prefeitos e governadores que tomaram essa atitude não tomaram de livre escolha. É necessário cobrar coerência do governo federal. Um posicionamento coerente. Não podemos ouvir o ministro da saúde falando para a gente providências e o governo federal desautorizando. Nós aqui no Amapá vamos continuar firmes para atuarmos no combate ao coronavírus.”
Camilo Santana (PT), governador do Ceará
"Cearenses, diante do pronunciamento do presidente da República, em rede nacional, esta noite, tenho apenas um comentário a fazer: vamos continuar trabalhando fortemente as ações que visam evitar o avanço do coronavírus em nosso estado, como temos feito até aqui. Todas as medidas adotadas por nós são recomendadas pelos profissionais de saúde, pela própria Organização Mundial da Saúde (OMS), e têm sido a melhor forma de enfrentamento ao coronavírus no mundo. Este não é um momento para ataques e provocações, mas um momento de cooperação e da união de todos. Da parte do Governo do Estado, continuaremos fazendo todos os esforços possíveis para buscar a proteção dos cearenses. A vida de cada um de vocês está em primeiro lugar."
Carlos Moisés (PSL), governador de Santa Catarina
“Estarrecido com o pronunciamento da presidente República em relação às medidas de isolamento, venho informar à população de Santa Catarina que nesta quarta-feira, 25 de março, iniciamos mais uma quarentena de sete dias por determinação de decreto deste governador, mais sete dias para ficar em casa. Sabemos que precisamos equilibrar as medidas de retomada da atividades econômicas com as de restrição para que a gente não tenha contaminação em massa, [mas] é importante que nos mantenhamos firmes no isolamento social, pois mostrou resultados positivo aqui em Santa Catarina, já tivemos a curva de casos suspeitos diminuída. Ficar em casa é o local mais seguro.”
Romeu Zema (Novo), governador de Minas Gerais
“Minha prioridade é salvar vidas. Portanto, Minas continua seguindo as recomendações da Organização Mundial de Saúde (...) Em Minas Gerais nós estamos adotando as melhores práticas, aquelas recomendadas pela Organização Mundial da Saúde, e já adotadas em países desenvolvidos. Queremos, em primeiro lugar, a preservação da vida, mas compartilho da preocupação do presidente Bolsonaro com a questão econômica”, disse o governador.
Ibaneis Rocha (MDB), governador do Distrito Federal
"Não é hora de politizar ou polemizar. Bolsonaro tem parte da razão, afinal muitos municípios pequenos, sem qualquer caso de coronavírus, estão fechando. De outra parte, cidades como São Paulo, Rio de Janeiro e Brasília tem situações diferenciadas", disse. "Acredito e preciso do apoio dos ministérios da Saúde e da Economia. Sou hospedeiro do governo federal, que paga um 'aluguel', [na forma do] Fundo Constitucional, pequeno para as condições da cidade que o hospeda."
Mauro Carlesse (DEM), governador do Tocantins
"O Tocantins seguirá firme no propósito de manter a população livre do novo coronavírus e conta com a parceria dos demais poderes, dos municípios, dos órgãos de controle e, principalmente, com a população", informou o governador, por meio da assessoria de imprensa.
Rui Costa (PT), governador da Bahia
"Não é gripezinha. Vou continuar trabalhando em defesa da vida. Olhar nos olhos das pessoas e dizer: estamos numa guerra. ACORDA. Temos que vencê-la. Chega de discurso vazio e delírios. Vamos trabalhar mais e mais. Responsabilidade. Todos contra o coronavírus", disse em uma rede social.
Mauro Mendes (DEM), governador de Mato Grosso
“Vamos continuar a restringir o convívio social e a preparar toda a estrutura necessária para atender aos possíveis doentes do coronavírus. Mas, não iremos proibir nenhuma atividade econômica essencial, desde que haja a devida obediência às regras sanitárias”, afirmou Mauro Mendes.
Ratinho Júnior (PSD), governador do Paraná
Pela assessoria, informou: "o governo do Paraná informa que manterá o planejamento e as medidas de enfrentamento à pandemia do coronavírus".
Antonio Denarium (PSL), governador de Roraima
O governador não quis se manifestar.
Belivaldo Chagas (PSD), governador de Sergipe
"A gente lamenta porque, afinal de contas, quem tem que ser o grande líder neste momento é o presidente da República. Enquanto ele diz uma coisa, o ministro da Saúde diz outra. Eu vou preferir seguir as orientações do ministro da Saúde. Eu vou preferir seguir as orientações dos sanitaristas de um modo geral. Portanto, nós vamos estabelecer nossas regras e e cumpri-las (...) Lamentamos muito o posicionamento do presidente da República, mas ele acha que está assumindo a responsabilidade dele e nós temos a nossa. (...) Nós vamos cuidar das pessoas neste momento, que é extremamente importante."
Coronel Marcos Rocha, governador de Rondônia
O governador ainda não se manifestou.
Apenas 12% dos entrevistados confiam nas redes sociais neste momento
Por Marisa Wanzeller
A população diz confiar mais em programas jornalísticos de TV (61%) e nos jornais impressos (56%) para se informar sobre a pandemia da COVID-19, aponta pesquisa realizada pelo DataFolha na última semana. Rádio e site de notícias estão logo em seguida, com 50% e 38% de credibilidade, respectivamente.
Já as redes sociais, WhatsApp e Facebook estão com baixa reputação em meio à crise do novo coronavírus. Somente 12% das 1.558 pessoas consultadas apontaram as informações compartilhadas nas plataformas como confiáveis. Dos entrevistados, 58% não acreditam no WhatsApp e 50%, no Facebook.
A maior parte daqueles que confiam mais nas redes sociais são idosos e pessoas com baixa escolaridade. Dos entrevistados que têm até o ensino fundamental concluído, 18% confiam nas informações recebidas pelo WhatsApp e 17% pelo Facebook.
A pesquisa foi realizada por telefone seguindo as recomendações de afastamento social devido à pandemia. A margem de erro é de três pontos percentuais.
A coordenadora-geral do Sindicato dos Jornalistas do Distrito Federal, Juliana Nunes, diz que a entidade já previa esse resultado ao acompanhar as últimas pesquisas. "Com a disseminação das fake news nos últimos tempos, as pessoas perceberam que não estavam sendo bem informadas pelas redes sociais, apesar do papel importante que elas têm nesse momento", pontuou a coordenadora.
O sindicato, assim como o governo, reconhece a importância do trabalho jornalístico em meio a uma crise de saúde pública. Juliana Nunes afirma que "os jornalistas foram preparados para cumprir seu papel, assim como um médico, e eles estão à altura da confiança que a sociedade deposita neles".
Campanha ressalta importância dos jornais
Nesta segunda-feira, pela primeira vez na História, jornais impressos brasileiros unificaram as suas capas para realçar o papel do jornalismo no combate à Covid-19. As edições de hoje trazem a seguinte mensagem: “Juntos vamos derrotar o vírus: Unidos pela informação e pela responsabilidade”.
A campanha, organizada pela Associação Nacional de Jornais (ANJ), também divulga anúncios especiais no meio digital — banners para os sites de notícias associadas à entidade e cards para as redes sociais. Ao se unirem em ação inédita no país, dezenas de jornais destacam a valorização da informação jornalística. Foi criada ainda uma hashtag unificada (#imprensacontraovirus) que indica os esforços dos meios de comunicação na luta coletiva contra o vírus.
As capas unificadas são a segunda etapa de uma campanha da ANJ iniciada no último dia 18 com anúncios impressos e digitais — sites e redes sociais — mostrando a relevância do trabalho jornalístico no momento em que se desenrola uma situação de calamidade pública. Na nova etapa, os anúncios de capa serão publicados ao longo da semana pelos jornais que não circulam com edições impressas às segundas-feiras, ou no meio impresso ou em seus sites na internet.
- A ação demonstra a unidade dos jornais brasileiros em torno de uma causa comum: servir à população com jornalismo de qualidade para, com a responsabilidade que o momento exige, enfrentarmos e vencermos a pandemia - afirma o jornalista Marcelo Rech, presidente da ANJ.
Integrantes do Palácio do Planalto admitem que os dois nomes dos paciente com testes positivos para o novo coronavírus sonegados à Justiça pelo Hospital das Forças Armadas (HFA) podem ser os do presidente Jair Bolsonaro e da primeira-dama, Michele
Por Vicente Nunes do Correio Brasileiense
Esses servidores dizem que a lista do HFA virou tabu dentro do Planalto. A ordem é não passar qualquer informação sobre os exames do presidente e da mulher dele “por questão de segurança nacional”. Mas o incômodo é grande, uma vez que o Palácio de tornou uma das principais fontes de contaminação pelo coronavírus em Brasília.
O último a ser contaminado foi um dos motoristas que atendem o presidente da República. Ele deu entrada em um hospital de Brasília alegando estar com problemas respiratórios, sintomas característicos da Covid-19.
O HFA sonegou os dois nomes à Secretaria de Saúde do Saúde do Distrito Federal, apesar de a Justiça ter determinado o repasse de todos os registros de pessoas que foram testados positivamente para o coronovírus. Do total de 17 pessoas confirmadas com a Covid-19, somente 15 tiveram os nomes revelados à Justiça.
Proteção à intimidade
A sonegação dos dois nomes foi ressaltada em ofício encaminhado à Justiça pelo comandante logístico do Hospital das Forças Armadas, general Rui Yutaka Matsuda.
“Deixo de informar à V Exa. (juíza Raquel Soares Chiarelli), neste documento, os nomes dos pacientes com sorologia positiva para a Covid-19, a fim de evitar a exposição dos pacientes e em virtude do direito constitucional de proteção à intimidade, vida privada, honra e imagem do cidadão”, escreveu Matsusa.
Curiosamente, diante da insistência dos jornalistas em ter acesso aos resultados dos exames de Bolsonaro, o governo restringiu o acesso a dados públicos por meio da Lei de Acesso à Informação (LAI). A Medida Provisória tratando do tema foi editada na calada da noite.
Essa postura do governo ocorre mesmo depois de 23 pessoas que integraram a comitiva presidencial para os Estados Unidos no início de março terem testado positivo para o coronavírus.
A decisão de Bolsonaro de não dar transparência a seus exames para a Covid-19 foi fechada com os filhos. O deputado Eduardo Bolsonaro é o defensor mais enfático para que o governo esconda as informações.
Remédios são usados para controlar sintomas; pesquisadores testam tratamentos
Por: FolhaPress
O caminho percorrido por cientistas que buscam uma vacina ou medicamento eficaz é o mesmo que se aplica a outras doenças virais.
No caso da vacina, com base no material genético do Sars-CoV-2, nome oficial do novo vírus, os cientistas pesquisam formas de estimular a produção de anticorpos. Já para criar um medicamento antiviral é preciso atingir a parte específica responsável pela reprodução do vírus e destruí-lo sem matar as células infectadas no corpo humano.
O desafio é lidar com patógenos adaptáveis, que se reproduzem rapidamente, com alterações genéticas que podem tornar a droga desenvolvida ineficaz.
Nos Estados Unidos, voluntários sadios começaram a testar uma vacina experimental para o novo coronavírus produzida pela equipe do Instituto de Pesquisa em Saúde Kaiser Permanente, em Seattle.
Trata-se de uma vacina de mRNA (RNA mensageiro), molécula "prima" do DNA que costuma carregar as informações necessárias para a produção de uma proteína até as "fábricas" da célula.
Com base no material genético do novo coronavírus, os pesquisadores fabricaram moléculas de mRNA que contêm a receita para a produção da proteína da espícula do parasita -o "espinho" ou "arpão" que ele usa para se fixar nas células humanas.
A ideia é fazer com que o organismo dos pacientes produza apenas essa proteína, com base no mRNA da vacina.
Com isso, o sistema de defesa das células reagiria como se tivesse sido invadido pelo vírus real, produzindo anticorpos -moléculas defensoras- com "design" específico para o combate ao Sars-CoV-2. Diante do patógeno verdadeiro, essas pessoas estariam imunes.
No campo dos tratamentos, testes preliminares feitos com um pequeno grupo de pacientes na China sugerem que um medicamento desenvolvido para combater outras doenças virais também poderia ter efeitos positivos contra a atual pandemia de Covid-19.
Trata-se do favipiravir, produzido comercialmente no Japão com o nome de Avigan. O fármaco ainda não tem registro na Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), não podendo, portanto, ser vendido no Brasil. Hoje, ele é produzido apenas sob demanda no país onde foi desenvolvido.
Na quinta-feira (19), o presidente americano Donald Trump e Stephen Hahn, da Food and Drug Administration (FDA), disseram que a agência americana de fiscalização e regulamentação de alimentos e remédios havia aprovado o uso em pacientes do coronavírus dos medicamentos cloroquina e hidroxicloroquina, vendidos sob receita para o tratamento de malária, lúpus e artrite reumatoide.
Não houve testes clínicos para determinar se esses medicamentos de fato funcionam contra a doença, e Hahn não explicou por que a FDA decidiu apoiar seu uso; tampouco explicou se a medida anunciada representava aprovação formal de um novo uso para os medicamentos.
Ainda assim, a declaração gerou uma corrida às farmácias americanas.
Replicada nas redes sociais pelo presidente Jair Bolsonaro, a menção teve efeito semelhante aqui, deixando pacientes com artrite, lúpus eritematoso, doenças fotossensíveis e malária sem o medicamento.
Na sexta-feira, a operadora Prevent Senior e o Hospital Israelita Albert Einstein informaram que começariam a usar, em caráter experimental, a hidroxicloroquina em seus pacientes atingidos pelo coronavírus.
Como ainda não há medicamento para a Covid-19, o tratamento de quem está doente inclui o uso de analgésicos e antitérmicos, como paracetamol e dipirona, para tratar os sintomas, assim como hidratação e repouso. A OMS (Organização Mundial da Saúde) não recomenda automedicação.
A OMS frisa que antibióticos não devem ser usados para prevenir ou tratar infecção por coronavírus. Os antibióticos funcionam apenas contra bactérias. Esse tipo de medicamento, porém, pode ser utilizado em caso de eventuais infecções decorrentes da doença.
Na quinta-feira (19) a organização voltou atrás na restrição que havia feito ao uso do anti-inflamatório ibuprofeno para controlar os sintomas de coronavírus. Entre os medicamentos cujo princípio ativo é o ibuprofeno estão o Buscofem, indicado para cólicas menstruais, o Artril, para artrite, e o antitérmico Advil.
Segundo a OMS, a maioria das pessoas (80%) com Covid-19 se recupera sem precisar de tratamento especial. Uma análise estatística publicada pela revista especializada Science indica que na China quase 90% das pessoas doentes passaram despercebidas quando ainda não havia restrições de viagens em território chinês.
Algumas fake news que circularam na internet falavam que era possível tratar o coronavírus com vitamina C, chá de ervas, "shots" de imunidade, ozonoterapia ou mesmo água quente, informações que não procedem. No Irã, pessoas morreram envenenadas após tomarem álcool puro, acreditando ser essa uma forma de evitar o vírus.
Em entrevista à reportagem, a médica curitibana Mariângela Simão, diretora-assistente da OMS, recomendou que informações que circulam na internet sobre tratamento sejam checadas.
"Ainda que haja 200 ensaios clínicos sendo implementados, não existe conclusão sobre nenhum deles", disse Simão.
Também impôs multa de R$ 50 mil ao diretor do hospital por cada paciente que tiver a informação sonegada
Com Estadão Conteúdo
A Justiça Federal do Distrito Federal determinou nesta sexta-feira, 20, que o Hospital das Forças Armadas (HFA) informe imediatamente ao governo do Distrito Federal a relação completa dos pacientes infectados pelo novo coronavírus. Segundo o presidente Jair Bolsonaro postou em suas redes sociais, um exame feito no HFA atestou que ele não foi infectado pela covid-19.
Em sua decisão, a juíza Raquel Soares Chiarelli também impôs uma multa de R$ 50 mil ao diretor do hospital por cada paciente que tiver a informação sonegada. Além de Bolsonaro, integrantes da comitiva presidencial que acompanharam o presidente da República em viagem aos Estados Unidos também fizeram exames no HFA.
"Já é notório que a devida identificação dos casos com sorologia positiva para a covid-19 é fundamental para a definição de políticas públicas para o enfrentamento urgente e inadiável da pandemia, a fim de garantir a preservação do sistema de saúde e o atendimento da população", escreveu a juíza em sua decisão.
"De modo que não se justifica, sob nenhuma perspectiva, a negativa da União em fornecer essas informações ao Distrito Federal, que tem competência constitucional para coordenar e executar as ações e serviços de vigilância epidemiológica em seu território."
Nesta sexta-feira, Bolsonaro voltou a minimizar pandemia do novo coronavírus, que já matou mais de 10 mil pessoas no mundo, e tratou a doença como uma "gripezinha". "Depois da facada, não vai ser uma gripezinha que vai me derrubar", disse o presidente após o Estado questioná-lo, em entrevista no Palácio do Planalto, a razão de ele não tornar público os resultados dos seus exames.
O jornal O Estado de S. Paulo pede há uma semana a Secretaria de Comunicação da Presidência (Secom) que apresente os resultados do exames já feitos pelo presidente, mas até esta sexta-feira não obteve resposta.
Ao todo, 22 pessoas que acompanharam Bolsonaro na viagem que fez aos Estados Unidos, na semana passada, contraíram o coronavírus. Entre eles, assessores próximos e o ministro do Gabinete de Segurança Institucional, general Augusto Heleno, que se reuniu três vezes com Bolsonaro no dia anterior a ser diagnosticado com a doença.
Bolsonaro teve contato com auxiliares que já foram diagnosticados com o coronavírus nos últimos dias, como o secretário de Comunicação, Fabio Wajngarten, e o ministro do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), Augusto Heleno. Segundo divulgou em suas redes sociais, porém, os dois primeiros testes feitos pelo ele deram negativo.
O presidente voltou a afirmar que, caso receba orientação médica, poderá fazer um novo exame. Mais cedo, ele afirmou que pode já ter contraído o vírus. "Fiz dois testes, talvez faça mais um até, talvez, porque sou uma pessoa que tem contato com muita gente. Recebo orientação médica", disse ele ao deixar o Palácio da Alvorada pela manhã. "Toda família deu negativo aqui em casa. Talvez eu tenha sido infectado lá atrás e nem fiquei sabendo. Talvez. E tô com anticorpo."
O ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, que acompanhava Bolsonaro na entrevista no Planalto, defendeu o sigilo sobre os resultados dos exames. "Os exames do paciente são do paciente. São da sua intimidade. A gente não faz divulgação nem do seu, nem do meu, nem do de ninguém", disse Mandetta.
O contato com uma pessoa infectada é uma das formas de transmissão do coronavírus. O presidente foi criticado por infectologistas e até por aliados por expor os manifestantes ao risco de contaminação pela covid-19.
Comitiva
Mesmo assim, o presidente disse que pretende manter sua rotina de trabalho. Bolsonaro disse que fará uma festa de aniversário em casa, restrita a familiares, para comemorar os 65 anos completados neste sábado.