Sem perspectiva de acordos nacionais, pedetista avança em articulações estaduais, principalmente com PSD e União Brasil
Por Diogo Magri
Sem perspectiva de criar uma grande aliança nacional em torno do seu nome, o pré-candidato à Presidência da República pelo PDT, Ciro Gomes, vai costurando palanques estaduais para tentar alavancar a sua campanha, que sustenta o terceiro lugar nas pesquisas mais recentes, mas cujas intenções de voto estão estagnadas há algum tempo. O pedetista mira principalmente quatro dos maiores colégios eleitorais do pais: Minas Gerais, Rio de Janeiro, Bahia e Goiás.
Segundo maior colégio eleitoral do país, Minas Gerais terá como principal concorrente do atual governador, Romeu Zema (Novo), o ex-prefeito de Belo Horizonte, Alexandre Kalil (PSD). É com Kalil que Ciro quer subir no palanque no estado. O pedetista se encontrou recentemente com Rodrigo Pacheco, senador pelo PSD-MG, para discutir “ideias sobre o futuro”. “É evidente que, se eu pudesse ter o apoio deles, ficaria muito feliz”, declarou Ciro.
O PDT tinha um pré-candidato ao governo mineiro, o ex-deputado federal Miguel Corrêa, que se tornou inelegível pelo TSE por abuso de poder econômico nas eleições para o Senado em 2018. O partido não vê problemas em dividir o palanque com Luiz Inácio Lula da Silva (PT), outro presidenciável que busca o apoio de Kalil em Minas.
Uma chapa com o PSD também é o desejo do PDT no Rio de Janeiro, terceiro maior colégio eleitoral do país. Lá, o presidente do partido, Carlos Lupi, se reuniu recentemente com o prefeito Eduardo Paes (PSD), que lançou o ex-presidente da OAB Felipe Santa Cruz como pré-candidato. No entanto, o candidato pedetista, Rodrigo Neves, ex-prefeito de Niterói, está mais bem colocado que Santa Cruz nas últimas pesquisas.
O impasse está aí. Lupi quer Neves como cabeça de chapa, e nomes do PSD como vice e no Senado. Paes quer o contrário. “Mas ainda estamos mantendo o diálogo. Daqui alguns meses veremos como iremos nos unir”, disse Lupi.
O que já está fechada é a aliança do PDT com ACM Neto, candidato do União Brasil ao governo da Bahia. O PDT deve indicar o vice-governador — o mais cotado é o deputado federal Félix Mendonça Júnior. Mas há a possibilidade dos pedetistas apoiarem Neto mesmo sem um nome na chapa do governo, já que o PSDB também disputa a indicação. O palanque do União na Bahia significa, para Ciro, um lugar de destaque no quarto estado mais populoso do país.
Goiás não está entre os dez maiores colégios eleitorais do Brasil, mas representa outro ponto estratégico para a campanha do PDT. Lá, o partido tem uma aliança encaminhada com o candidato do União Brasil à reeleição, Ronaldo Caiado. Assim como ACM Neto, Caiado é outro político do União elogiado recentemente por Ciro. A tendência no estado é que o PDT indique uma vice para a chapa governista, provavelmente a deputada federal Flávia Morais.
“É claro que a questão nacional se sobrepõe à estadual, mas os palanques regionais são importantes porque dão capilaridade à nossa candidatura”, resumiu Carlos Lupi.
Mato Grosso, com queda de 4,4%, teve o recuo mais intenso
Por Ana Cristina Campos
A produção industrial registrou alta em 11 dos 15 locais analisados pela Pesquisa Industrial Mensal (PIM Regional) em fevereiro, quando o índice nacional apresentou avanço de 0,7%, após recuo de 2,2% em janeiro devido, principalmente, a férias coletivas, muito comuns para esse período do ano. O levantamento foi divulgado hoje (8), no Rio de Janeiro, pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Os principais destaques em fevereiro foram Pará (23,9%) e Pernambuco (10,2%). Amazonas (7,8%), Minas Gerais (7,3%), Ceará (6,0%), Região Nordeste (5,1%), Bahia (3,4%), Goiás (1,4%), Paraná (1,3%), Santa Catarina (1,1%) e São Paulo (1,1%) completaram o conjunto de locais com índices positivos no mês. Já Mato Grosso, com queda de 4,4%, teve o recuo mais intenso.
Segundo o analista da pesquisa, Bernardo Almeida, o Pará se destacou principalmente pelo desempenho positivo do setor extrativo. “Trata-se de um movimento compensatório em relação ao mês anterior, uma vez que em janeiro houve grande volume de chuvas impactando a produção e o escoamento do minério de ferro. Esse crescimento do Pará é o mais intenso desde abril de 2019, quando chegou a 54,8% de alta. O estado vem de dois meses de resultados negativos com uma perda acumulada de 17,6%, agora eliminada com o crescimento de fevereiro” explicou.
Alimentos e transporte
A alta em Pernambuco deve-se ao setor de alimentos, em especial o açúcar, e ao setor de outros equipamentos de transporte com aumento da produção de embarcações e peças para motocicletas. O estado também vem de dois meses negativos com perda de 7,6%. No Amazonas, o aumento é devido aos setores de bebidas e informática.
O crescimento de São Paulo se baseia no desempenho dos setores de veículos e o de outros equipamentos de transportes. “São Paulo responde por aproximados 34% do parque industrial nacional, mas está 2,3% aquém do patamar pré-pandemia, em fevereiro de 2020, e 24,2% abaixo do patamar mais alto, atingido em março de 2011”, disse o pesquisador.
No campo negativo, na passagem de janeiro para fevereiro, Mato Grosso lidera como principal influência negativa sobre o resultado nacional, com queda de 4,4%, após quatro meses consecutivos de crescimento na produção, período em que acumulou expansão de 32,8%.
Para o IBGE, a queda vem do setor de alimentos, o mesmo que, nos meses anteriores, vinha trazendo crescimento com o fim do embargo da China à importação de carnes brasileiras. “Em fevereiro, vimos apenas uma redução na produção para adequação estratégica entre oferta e demanda”, afirmou Almeida.
No acumulado do ano, houve queda em nove dos 15 locais, com destaque para Ceará (-20,1%) e Pará (-14,5%). “Ainda é cedo para analisarmos o resto do ano, mas podemos observar uma desaceleração da produção. No início de 2021, ainda tínhamos um caráter compensatório e a base de comparação era mais baixa que o período atual”, afirmou o analista da PIM Regional.
Puxado por combustíveis e alimentos, o índice oficial de inflação do país acelerou para 1,62% em março, informou nesta sexta-feira (8) o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).
POR LEONARDO VIECELI
É a maior alta para o mês desde 1994 (42,75%), ou seja, em 28 anos, antes da implantação do real, mostram os dados do IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo).
O resultado veio bem acima das expectativas do mercado financeiro. Na mediana, analistas consultados pela agência Bloomberg projetavam taxa de 1,35%. No mês anterior (fevereiro), o IPCA havia subido 1,01%.
Com a entrada dos novos dados, a inflação chegou a 11,30% no acumulado de 12 meses até março. É o maior nível desde outubro de 2003 (13,98%). Nessa base de comparação, a alta havia sido de 10,54% até fevereiro.
"O resultado [de março] é assustador ao passo que se trata de mais uma surpresa altista do índice inflacionário", disse Étore Sanchez, economista-chefe da Ativa Investimentos.
Outro dado que chamou atenção na divulgação do IBGE foi o chamado índice de difusão, que ficou acima de 70% pelo quarto mês consecutivo.
O indicador mede o percentual de produtos e serviços com alta de preços, em uma amostra com 377 componentes. Na prática, a difusão maior sinaliza que a inflação está mais disseminada pela economia.
Em março, o índice de difusão subiu para 76,13%. É o nível mais intenso desde fevereiro de 2016 (77,21%).
COMBUSTÍVEIS E ALIMENTOS PUXAM ALTA
Oito dos nove grupos de produtos e serviços pesquisados tiveram alta de preços em março. A maior variação (3,02%) e o maior impacto (0,65 ponto percentual) foram dos transportes.
Na sequência, veio o grupo alimentação e bebidas. O segmento teve alta de 2,42% e respondeu por 0,51 ponto percentual de impacto. Juntos, os dois grupos contribuíram com cerca de 72% do IPCA.
O resultado de transportes (3,02%) foi influenciado, principalmente, pela alta dos preços dos combustíveis (6,70%), especialmente da gasolina (6,95%). Esse foi o subitem com maior peso individual (0,44 ponto percentual) no índice do mês.
Março registrou o início dos reflexos econômicos da guerra entre Rússia e Ucrânia. Um dos primeiros impactos do conflito foi a disparada das cotações do petróleo no mercado internacional.
O avanço da commodity levou a Petrobras a promover um mega-aumento de combustíveis, incluindo a gasolina, nas refinarias, no dia 11 de março.
Isso ocorreu porque o petróleo é uma das variáveis que determinam a política de preços dos combustíveis da estatal. A taxa de câmbio também pesa na estratégia da companhia.
Em 11 de março, a gasolina subiu 18,8% nas refinarias. O gás de cozinha, por sua vez, avançou 16,1%. O óleo diesel teve reajuste ainda maior, de 24,9%, nas instalações da Petrobras.
As altas chegaram de maneira rápida a postos de combustíveis e pontos de revenda de gás espalhados pelo país. Segundo o IPCA, o diesel subiu 13,65% para os consumidores em março, e o gás de botijão, 6,57%.
Pedro Kislanov, gerente do IPCA, destacou que os impactos dos combustíveis não ficam restritos ao grupo de transportes. Os avanços de itens como o diesel elevam custos de fretes de mercadorias, incluindo alimentos, citou o pesquisador do IBGE.
No caso de alimentação e bebidas, a inflação de 2,42% decorreu, principalmente, da subida dos preços dos alimentos para consumo no domicílio (3,09%). A maior contribuição (0,08 ponto percentual) foi a do tomate, cujos valores subiram 27,22% em março.
A cenoura avançou 31,47% e acumula disparada de 166,17% em 12 meses. O leite longa vida (9,34%), o óleo de soja (8,99%), as frutas (6,39%) e o pão francês (2,97%) também ficaram mais caros.
"Foi uma alta disseminada nos preços. Vários alimentos sofreram uma pressão inflacionária", analisou Kislanov.
"Isso aconteceu por questões específicas de cada alimento, principalmente fatores climáticos, mas também está relacionado ao custo do frete. O aumento nos preços dos combustíveis acaba refletindo em outros produtos da economia, entre eles, os alimentos", completou.
A guerra no Leste Europeu é outra ameaça para os preços de alimentos. Commodities agrícolas, como trigo, milho e soja, subiram após o começo do conflito.
O que pode amenizar os repasses, segundo analistas, é a recente trégua do dólar. Em parte de abril, outro possível alívio no IPCA pode vir do fim da taxa extra nas contas de luz
O fim da bandeira de escassez hídrica, que encareceu a energia elétrica a partir de setembro, foi antecipado pelo governo para o próximo dia 16.
POSSÍVEL ESTOURO DA META
O IPCA está em dois dígitos no acumulado de 12 meses desde setembro do ano passado. Assim, encontra-se distante da meta de inflação perseguida pelo BC (Banco Central).
Neste ano, o centro da medida de referência é de 3,50%. O teto é de 5%.
De acordo com analistas, o IPCA deve estourar novamente a meta. Há instituições financeiras que projetam alta superior a 7% no acumulado até dezembro.
Se as estimativas forem confirmadas, 2022 será o segundo ano consecutivo de descumprimento da meta. Em 2021, o IPCA teve alta de 10,06%.
Em uma tentativa de frear a inflação, o BC vem subindo a taxa básica de juros. Em março, a Selic alcançou 11,75% ao ano. O mercado vê espaço para uma taxa ainda mais alta.
A inflação persistente pressiona o presidente Jair Bolsonaro (PL), que deve tentar a reeleição neste ano e teme os impactos da perda do poder de compra do eleitorado.
Bolsonaro, incomodado com a alta dos combustíveis, decidiu trocar o comando da Petrobras.
Paulo Guedes também promete nova redução em tarifas de importação
Por Wellton Máximo
Pelo menos uma parte do excesso de arrecadação decorrente da recuperação da economia poderá ser usado para corrigir da tabela do Imposto de Renda Pessoa Física, disse hoje (7) o ministro da Economia, Paulo Guedes. Em evento promovido pelo banco Bradesco, ele também prometeu uma nova redução do Imposto de Importação.
“Conversamos se corrigimos a tabela do IR agora ou deixamos para primeira ação de novo governo. Não queremos usar toda a alta de arrecadação de uma vez. Vamos devolver apenas parte para não corrermos riscos fiscais”, declarou o ministro durante a conferência virtual.
De acordo com o ministro, a equipe econômica também gostaria de usar a melhoria da arrecadação para financiar a renegociação de dívidas do Simples Nacional e a isenção para investidores estrangeiros. Ele, no entanto, disse que a alteração de medidas econômicas pela ala política do governo nem sempre viabilizam essas medidas.
“Ficam com a parte boa das medidas e retiram a parte ruim, que é a fonte de recursos. Com isso, acabamos tendo que vetar medidas por bater cabeça no governo”, explicou Guedes.
IPI
Em relação à desoneração das importações, o ministro disse que o governo pretende promover uma nova rodada de redução de 10% no Imposto de Importação, mas ressaltou que a medida depende de acordo para o corte adicional que fará o desconto no Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) aumentar de 25% para 33%.
Segundo o ministro, 12 produtos devem ser contemplados com a redução das tarifas de importação. “Vamos abrir a economia respeitando nosso parque industrial. Se o outro governo for social democrata, ele que aumente os impostos. Para o próximo mandato, a prioridade é a reforma tributária no primeiro dia de trabalho”, explicou.No início do mês, o governo prorrogou, por 30 dias, o corte de 25% no IPI. De acordo com Guedes, a equipe econômica queria elevar a redução para 33%, mas a medida foi travada porque os governadores não concordaram em reduzir o Imposto sobre a Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) sobre o diesel.
“Os governadores não reduziram o ICMS do diesel, como se comprometeram a reduzir. Zeramos o imposto do diesel do nosso lado e os governadores não fizeram do lado deles”, afirmou.
Greves
Em relação às pressões do funcionalismo federal por aumentos salariais, Guedes disse que a ideia é populista. Segundo ele, a concessão de qualquer reajuste num momento em que o país ainda se recupera da crise econômica gerada pela pandemia de covid-19 trará mais custos para as gerações futuras.
“Se começar a dar reajuste para todo mundo, estamos empurrando o custo para filhos e netos”, declarou. Na avaliação do ministro, a reposição das perdas da inflação não pode ser feita neste momento porque o “mundo viveu uma guerra” contra o novo coronavírus.
Presidente ainda repetiu que nunca errou na pandemia. Covid-19 já vitimou fatalmente mais de 661 mil brasileiros
Por Ingrid Soares
Sem citar datas, o presidente Jair Bolsonaro (PL) voltou a dizer nesta quinta-feira (7/4) que “nos próximos dias”, o Brasil mudará a classificação de pandemia para endemia. A declaração ocorreu durante a cerimônia de lançamento do "BB Antecipa Frete" e "BB CPR Preservação", que contou com a presença, entre outras, do presidente do Banco do Brasil, Fausto Ribeiro. O evento ocorreu na sede da estatal, onde Bolsonaro disse aos presentes que usavam máscara, que não eram mais obrigados a usar o equipamento.
“Eu acho que nos próximos dias, passaremos de pandemia para endemia. Até conversei agora com o Fausto. Quem tá de máscara aí, por ventura, ele acabou de dizer para mim que é facultativo, não é obrigado usar máscara mais. A gente vai se adequando, a gente vai buscando cada vez mais agir de forma correta no tocante a essa pandemia que está acabando”, alegou.
O presidente ainda repetiu que nunca errou na pandemia, que já vitimou fatalmente mais de 661 mil brasileiros.
“E digo a vocês, não errei nada sobre a pandemia, mas tudo bem. Não sou médico, não, mas antes de tudo, sempre busquei zelar pela autonomia do médico”, completou.
A data prevista até então era fim de março, o que não ocorreu. Na semana passada, no entanto, o ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, disse que a mudança “depende de uma série de análises”.