Renan deve ser oficializado, segundo acordo entre senadores, como relator da CPI que vai investigar "ações e omissões" do governo federal diante da pandemia de coronavírus

 

Com BBC

 

A primeira resposta a ser dada pela Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Covid é quantas vidas poderiam ter sido salvas no Brasil se o governo do presidente Jair Bolsonaro "tivesse acertado a mão", de acordo com o senador Renan Calheiros (MDB-AL).

 

Calheiros deve ser oficializado, segundo acordo entre senadores, como relator da CPI que vai investigar "ações e omissões" do governo federal diante da pandemia de coronavírus.

 

"A primeira resposta (a ser dada pela CPI) é se houve materialização da tese da imunização de rebanho. A CPI vai dizer se houve ação ou omissão do governo e se isso pode ter agravado as circunstâncias. Em outras palavras: se o governo tivesse acertado a mão, quantas vidas poderiam ter sido salvas no Brasil?", disse o senador em entrevista à BBC News Brasil.

 

"Muito mal explicado por que não compramos as 70 milhões de doses da Pfizer", diz futuro presidente da CPI da Covid, 6 perguntas que CPI da Covid deve responder sobre conduta do governo Bolsonaro na pandemia.

A primeira reunião da comissão está marcada para terça-feira (27/04), quando o senador Omar Aziz (PSD-AM) deve ser escolhido como presidente do colegiado.

 

Calheiros disse que a CPI também vai investigar "se o governo se omitiu, deixou de fazer pré-contratos quando laboratórios produtores estavam ofertando, se estimulou aglomeração, se minimizou o papel da máscara".

 

"A CPI precisa cumprir o seu papel. Precisa colaborar no sentido da agilização da vacinação e caminhar no rumo da investigação para responsabilizar ou não. Se o governo tem convicção de que acertou a mão em todos os momentos, não precisa ter preocupação, nem sobressalto, e a CPI será oportunidade para que demonstre o contrário."

 

'Meio ridículo'

Calheiros, que está sob forte pressão de aliados do presidente, diz que "não há predisposição contra ninguém". "O presidente da República não é nosso inimigo. A nossa inimiga é a pandemia. São os porões da pandemia que vamos investigar."

 

O fato de Calheiros ser pai do governador de Alagoas, Renan Filho, tem sido apontado por aliados do Palácio do Planalto como o que deveria ser um impeditivo para que o senador assuma a relatoria, visto que a CPI também investigará repasses a Estados e municípios de verbas federais para saúde.

Deputada  Carla Zambelli (PSL-SP)

 

"O fato que alegam, de não poder participar da CPI por ser pai de um governador, é meio ridículo. O governador não está sendo investigado e, se for - ninguém estará isento de investigação -, a comissão designará sub-relator para fazer qualquer investigação, com total responsabilidade."

 

A deputada governista Carla Zambelli (PSL-SP) anunciou em redes sociais que ingressou com ação na Justiça Federal do Distrito Federal para impedir que Calheiros assuma a relatoria.

 

"Acabamos de ingressar com ação na Justiça para barrar @renancalheiros na relatoria da CPI. A presença de alguém com 43 processos e 6 inquéritos no STF evidentemente fere o princípio da moralidade administrativa. Outros parlamentares também ingressarão com ações", escreveu a deputada em sua conta no Twitter.

 

Deputada federal Carla Zambelli (PSL-SP) disse que ingressou com ação na Justiça Federal do Distrito Federal para impedir que Renan Calheiros assuma relatoria da CPI
Calheiros diz que a judicialização antes de a CPI começar "só fortalece o trabalho da comissão".

 

No entanto, o senador admite a possibilidade de designar sub-relatores para cuidarem de temas específicos.

 

"A alternativa a isso (sub-relatorias) seria fazer investigação sobre amigos próximos, o que me deixa nessa zona da suspeição, e sobre familiares também. O prudente, para de logo afastar essa possibilidade, é designar sub-relatores e reafirmar que não decidirei monocraticamente nada, absolutamente nada."

 

E afirma que poderia aceitar deixar na mão de aliados do Palácio do Planalto a linha de investigação que interessa mais a Bolsonaro, que é a aplicação de recursos originados da União e enviados a Estados e municípios.

 

"Em havendo necessidade da indicação de sub-relatores, vamos indicar de acordo com a pluralidade da comissão. Não vamos indicar apenas pessoas da nossa corrente."

 

Questionado se, assim, a sub-relatoria relativa aos Estados poderia ficar com um senador alinhado ao Planalto, respondeu: "Se for necessário, sim".

Senador Jorge Kajuru (Cidadania-GO)

 

A apuração da aplicação de recursos por Estados e municípios, incluída posteriormente como objeto da CPI, foi defendida por Bolsonaro, inclusive em áudio divulgado pelo senador Jorge Kajuru (Cidadania-GO).

 

Desgaste

Calheiros diz que o governo federal está tratando a CPI de forma equivocada.

 

"Se o governo aproveitar melhor o espaço na CPI para demonstrar o contrário do que a sociedade pensa, será melhor. Será muito mais produtivo do que o governo arrastar a instalação da CPI, que deveria ter sido instalada em fevereiro", diz.

 

"O governo está tratando equivocadamente esta questão, tem que aproveitar a oportunidade para convencer as pessoas de que não errou, de que fez tudo certo, na hora certa. Se não conseguir, paciência, vai ampliar o desgaste na população."

PF investiga governo Renan Filho em esquema milionário na Saúde

 

Pesquisa do Instituto Datafolha divulgada em março mostra que 54% dos entrevistados avaliam como ruim ou péssimo o desempenho de Bolsonaro na gestão da pandemia e 22% consideram ótimo ou bom.

 

A importância do tema da CPI e o fato de ela acontecer um ano antes da próxima eleição levam a comissão a ser considerada a principal vitrine política dos próximos meses.

 

Calheiros diz que a tentativa de atrasar os trabalhos da CPI aproxima ainda mais os resultados da comissão às eleições de 2022.

 

"Na medida em que o governo delonga a instalação da CPI, colabora para que desfecho vá para diante. Teremos no próximo ano eleição nacional e, na medida em que os trabalhos da CPI cheguem mais próximos das eleições, é evidente que isso, de uma forma ou de outra, vai impactar."

 

E o senador tomou cloroquina, defendida pelo presidente Bolsonaro, em algum momento?

 

"Não tomei porque entre a crença e a ciência, sigo a ciência. Não tive coronavírus, tomei a primeira dose da vacina, estou pacientemente aguardando a segunda dose, mas nunca me expus a pré-tratamento exatamente para não complicar minha situação."

 

Posted On Sexta, 23 Abril 2021 05:45 Escrito por

Santana comandou campanhas de Lula em 2006 e de Dilma nos dois mandatos, e cumpre pena em regime aberto após condenação pela Lava Jato

 

Por Marlen Couto

 

Personagem central nas investigações da Operação Lava-Jato, o marqueteiro João Santana voltou ao cenário político e eleitoral nacional. Conhecido por comandar as bem-sucedidas campanhas dos ex-presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff, assim como a de outros presidentes na América Latina, Santana passará a atuar na comunicação do PDT, partido do presidenciável Ciro Gomes, que deve disputar as eleições de 2022.

 

A informação foi divulgada nesta quinta-feira por Ciro Gomes em sua conta no Twitter. O ex-ministro compartilhou uma foto ao lado de Santana e do presidente do PDT, Carlos Lupi, após os três participarem de uma reunião de trabalho.

 

Na Lava-Jato, Santana foi condenado por lavagem de dinheiro após confessar em delação premiada o uso de Caixa 2 nas eleições. O marqueteiro cumpre pena em regime aberto pelo crime e ao menos até o fim do ano passado usava tornozeleira eletrônica. Por determinação da Justiça, poderia voltar a atuar no marketing político a partir de outubro de 2020.

 

Em sua última aparição pública, uma entrevista ao programa Roda Viva no ano passado, Santana sugeriu uma chapa com Ciro Gomes e Lula, na qual o petista seria vice, para vencer o presidente Jair Bolsonaro nas eleições de 2022.

 

— Essa chapa seria imbatível, mas os egos, os venenos, é impossível acontecer. É imitar a solução eleitoral genial que a Cristina (Kirchner) fez na Argentina — disse na ocasião, citando a ex-presidente e atual vice-presidente da Argentina, Cristina Kirchner.

 

 

Posted On Quinta, 22 Abril 2021 18:15 Escrito por

O governador Mauro Carlesse, com seu estilo de “matuto”, que traz muita sabedoria sem deixar que os que estão à sua volta percebam, identificou três pessoas para os três postos-chave do seu governo e eles acabaram se tornando os “pilares” de sua administração

 

Por Edson Rodrigues

 

O secretário da Fazenda, Sandro Henrique Armando, o secretário de Captação de Recursos e Investimentos, Claudinei Quaresmin e o “coringa”, Chefe de Gabinete do governo, Alan Divino. Eles formam a tríade que realmente decide no governo estadual, e raramente são vistos concedendo entrevistas, em aparições na mídia ou demonstrando qualquer interesse maior, que não seja servir ao governo.

 

Com esses três pilares e seus demais auxiliares, Mauro Carlesse demonstra ser um político extremamente destemido e corajoso, mas que só age após haver planejamento, como demonstrou diante dos obstáculos que se lhe apresentaram após a posse para o “governo tampão”, herdados das gestões anteriores.

 

Governador Mauro Carlesse se filia ao PSL

Eleito, então, pela via indireta, após o afastamento de Marcelo Miranda, Carlesse partiu para a formação de uma maioria absoluta na Assembleia Legislativa e, com esse apoio, venceu as duas eleições seguintes, no mesmo ano.

 

Com base nesse apoio, tomou as medidas impopulares, mas necessárias, que incluíram milhares de demissões de servidores contratados, extinção de cargos em comissão, de secretarias e vários órgãos e congelou salários, para dar início ao reenquadramento do Tocantins à Lei de Responsabilidade Fiscal, formou seu grupo de aliados e vem dando um verdadeiro show na oposição e em seus adversários declarados, governando com o mínimo de preocupação política, com apoio dos membros da bancada federal no Senado e na Câmara.

 

CASA ARRUMADA

Agora, com a casa arrumada, as atenções voltadas apenas para o combate à pandemia, Mauro Carlesse demonstra estar seguro e confiante em relação ao processo sucessório de 2022, uma atitude que contagiou seus aliados na Assembleia Legislativa e em vários municípios do interior.

 


Com a casa arrumada e as ações políticas e administrativas em execução, a sua filiação relâmpago ao PSL, nada mais é do que o início dos preparativos para o processo eleitoral, em que se configura cada vez mais certa a sua candidatura à única vaga de senador a ser disputada, com todos os que irão acompanha-lo nessa empreitada já 99% integrados ao grupo político.

 

AS "OPOSIÇÕES"

Em primeiro lugar, é bom que se ressalte, não existe oposição ao governo Mauro Carlesse na Assembleia Legislativa. 90% dos deputados estaduais são aliados políticos do governador. Trocando em miúdos, a convivência entre os poderes Executivo e Legislativo estaduais é harmônica e, dificilmente essa situação mudará.

 

O Palácio Araguaia tem uma articulação política fortíssima e, pelo que a situação indica, cumpre os compromissos assumidos com os parlamentares pois, desde o início, nenhum dos deputados aliados esboçou qualquer opinião contrária ao governo.

 

Ex prefeito de Palmas Carlos Amastha (PSB)

Enquanto isso, os partidos de oposição precisão deixar de “estar” oposição e passar a ser, efetivamente oposição, como vem fazendo o PL dos Vicentinhos e o PSB de Carlos Amastha. Quanto aos demais partidos, precisam cobrar uma posição de seus membros na Assembleia Legislativa, se seguirão as legendas ou se irão solidificar seus posicionamentos, indo para o PSL, junto com Mauro Carlesse e, pela sigla concorrer às suas reeleições.

 

Deputado Federal Vicentinho Junior e ex-senador Vicentinho Alves (PL)

Esse posicionamento dos parlamentares deve ocorrer até o fim de setembro próximo, com ou sem Reforma Política. Esse é o limite para as definições partidárias e de seus membros que desejam disputar um cargo eletivo em outubro de 2022.

 

O certo nesta fotografia do momento político é que o Palácio Araguaia larga na frente ao conseguir colocar em prática a preparação de uma plataforma política sólida para o embate eleitoral de 2022, focado, fortemente, na disputa pela única vaga ao Senado, conseguindo trazer consigo a esmagadora maioria dos deputados estaduais candidatos à reeleição e outros, que tentarão um salto para deputado federal.

 

CINTHIA, AGORA, É CARLESSE

Já nesse início de trabalho, Carlesse marcou um gol de placa ao trazer para seu grupo a prefeita de Palmas, Cinthia Ribeiro, que representa, nada menos, que o maior colégio eleitoral do Tocantins, mesmo tendo sido eleita com 36% dos votos válidos e de ter conseguido o feito graças ao apoio fundamental do senador Eduardo Gomes, líder do governo de Jair Bolsonaro no Congresso Nacional, que trouxe consigo o MDB estadual e suas lideranças.

Prefeita de Palmas Cinthia Ribeiro (PSDB)

Agora, inserida nas hostes do Palácio Araguaia, Cinthia e quem conseguiu levar, devem frequentar o palanque de Carlesse e do seu candidato ao governo, muito provavelmente, o vice-governador Wanderlei Barbosa.

 

E o governador continua jogando seu jogo, ao priorizar as articulações para ser o candidato ao Senado, já que há só uma vaga disponível e, certamente, haverá muitos – bons – candidatos, e deixar a decisão do nome da sua chapa para concorrer ao governo do Estado para a ocasião certa, após pesquisas, conversações e acomodações de forças.

 

Isso é fato!

 

 

Posted On Quinta, 22 Abril 2021 06:47 Escrito por

O presidente Jair Bolsonaro sancionou hoje a lei que vai destravar o lançamento de programas emergenciais de combate à covid-19 e tirar os gastos nessas ações da contabilidade da meta fiscal de 2021, que permite rombo de até R$ 247,1 bilhões. O projeto fez parte das negociações para resolver o impasse do Orçamento deste ano

 

Por Idiana Tomazelli

 

O ato foi publicado em edição extra do Diário Oficial da União (DOU) nesta quarta-feira, 21, apenas dois dias após a aprovação do projeto pelo Congresso Nacional. A rapidez se deve à necessidade de dar respaldo legal ao lançamento dos programas, aguardados com ansiedade pelo setor empresarial, e também de dar à equipe econômica instrumentos para solucionar o problema das despesas subestimadas no Orçamento, que precisa ser sancionado até amanhã, 22.

 

A lei publicada hoje altera a Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) de 2021 para descontar do cálculo da meta fiscal deste ano os gastos emergenciais com saúde, o programa de manutenção de empregos (que permite redução de jornada e salário ou suspensão de contratos) e o programa de crédito a micro e pequenas empresas, o Pronampe. Essas despesas serão bancadas com crédito extraordinário, modalidade que também fica fora do teto de gastos, outra regra fiscal que limita o avanço das despesas à inflação.

 

Sem retirar esses gastos do cálculo do resultado primário, o governo corria risco de estourar a meta fiscal deste ano diante da necessidade de efetuar mais gastos para conter os efeitos econômicos da pandemia.

 

O texto não prevê limite de valor para essas ações. Segundo o Ministério da Economia, serão destinados R$ 10 bilhões ao programa de emprego e R$ 5 bilhões ao Pronampe. Mas o líder do DEM na Câmara, Efraim Filho (PB), que relatou o projeto sancionado hoje, disse ao Estadão na segunda que o valor do Pronampe seria maior, de R$ 10 bilhões. O parlamentar adiantou ainda que eram esperados R$ 20 bilhões para a saúde.

 

Como o governo já havia liberado R$ 44 bilhões para o auxílio emergencial a vulneráveis nas mesmas condições excepcionais, a nova lei pode elevar a mais de R$ 125 bilhões os gastos de combate à pandemia de covid-19 fora da meta fiscal e do teto de gastos, como mostrou o Estadão/Broadcast. A conta considera R$ 33,7 bilhões em restos a pagar da covid-19 herdados de 2020, dos quais R$ 7,8 bilhões já foram pagos.

 

A nova lei também retira da LDO o dispositivo que exigia uma compensação para aumentos de gastos temporários, como é o caso dos programas contra a covid-19. Isso travou o lançamento das medidas, uma vez que o governo seria obrigado a cortar outra despesa ou ampliar receitas para fazer a compensação.

 

Solução para o impasse do Orçamento

A mudança sancionada hoje ainda vai ajudar a equipe econômica na resolução do impasse em torno do Orçamento de 2021. Com o ato de Bolsonaro, a LDO passa a permitir ao governo bloquear por decreto despesas discricionárias (que incluem custeio e investimentos) para recompor despesas obrigatórias, como benefícios previdenciários, seguro-desemprego e subsídios, que ficaram maquiadas em R$ 21,3 bilhões, segundo parecer de técnicos da Câmara com base em dados do Ministério da Economia.

 

O dispositivo vai abrir caminho ao remanejamento que já vinha sendo estudado desde a semana passada e que tinha como objetivo preservar ao máximo as indicações de emendas de parlamentares, ainda que à custa de gastos do próprio Executivo. Esse “corte na carne” do governo deve ficar em R$ 9,5 bilhões, mas os cálculos exatos ainda estão sendo finalizados.

 

“Essa medida permitirá a recomposição das dotações orçamentárias da Previdência Social e de outros gastos obrigatórios que não possuíam cobertura orçamentária suficiente no autógrafo da lei orçamentária, o que auxiliará no aperfeiçoamento do Orçamento de 2021”, informou a Subchefia de Assuntos Jurídicos, órgão ligado à Secretaria-Geral da Presidência da República.

 

Outros R$ 10,5 bilhões do “ajuste” no Orçamento devem vir de emendas parlamentares, que foram ampliadas em R$ 29 bilhões durante a tramitação do Orçamento.

 

A lei foi sancionada com um único veto. A pedido do Ministério da Economia, Bolsonaro vetou o trecho que permitia a assinatura de contratos e a realização de transferências e doações para municípios em situação de inadimplência com a União. “Embora a intenção do legislador seja louvável, a medida enfraqueceria o controle das contas públicas e a fiscalização do correto emprego dos valores transferidos pela União”, justificou a SAJ.

 

 

Posted On Quinta, 22 Abril 2021 06:44 Escrito por

A suspeita é da Instituição Fiscal Independente (IFI) do Senado Federal, que em relatório divulgado nesta segunda-feira, 19

 

Por Adriana Fernandes

 

O governo pode ter superestimado os gastos obrigatórios com o pagamento dos benefícios previdenciários em 2022 na Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) para evitar uma "sanha" por aumento de despesas em ano eleitoral, principalmente gastos com reajustes salariais dos servidores públicos.

 

A suspeita é da Instituição Fiscal Independente (IFI) do Senado Federal, que em relatório divulgado nesta segunda-feira, 19, afirma que a previsão de gastos da Previdência está superestimada em, no mínimo, R$ 15,6 bilhões. A diferença entre os gastos projetados pelo Ministério da Economia e os cálculos do órgão do Senado pode ser ainda maior e chegar a R$ 21,1 bilhões.

 

A maior preocupação hoje é com o salário dos servidores, que estão congelados desde o ano passado e poderão ser reajustados a partir do ano que vem.

 

As despesas obrigatórias no projeto de LDO de 2022, enviado na semana passada ao Congresso, são R$ 35,2 bilhões maiores do que as projetadas pela IFI no seu relatório fiscal - desse total a maior parte da diferença está em gastos da Previdência.

 

"É uma estratégia para conter a sanha por aumento de gastos, que certamente aparecerá, como aconteceu com o Orçamento de 2021", disse ao Estadão o diretor-executivo da IFI, Felipe Salto. Com despesas projetadas para cima pelo governo, ressaltou Salto, a folga no teto de gastos projetada é igual a zero. O teto é regra prevista na Constituição que limita o crescimento das despesas à variação da inflação.

 

Para Salto, a superestimativa da Previdência ajudou a "mostrar" uma inexistência de folga no teto, quando, na verdade, haverá espaço. "Esse espaço poderá ensejar aumentos de salários, por exemplo, em ano eleitoral", avaliou.

 

Para o diretor-executivo da IFI, esse risco poderia ter sido evitado se a PEC emergencial tivesse sido bem calibrada para que os gatilhos (medidas de corte de gastos) fossem acionados já em 2022. Na sua avaliação, o governo vai tentar, como está fazendo no projeto da LDO 2022, mostrar que não haveria folga. "É uma tentativa inglória, porque o projeto ainda tramitará e, em agosto, vem o projeto de lei orçamentária", acrescentou.

 

Segundo a IFI, o governo fez um cenário mais pessimista para a Previdência Social. Nos cálculos do Ministério da Economia, a taxa de crescimento vegetativo dos benefícios do INSS é de 2,7% e a inflação considerada para reajustar os benefícios (até um salário mínimo e acima do mínimo) é de 4,3% (INPC de 2021). Nos cálculos da IFI, a taxa vegetativa nas projeções para 2022 é bem menor, de 1,8%.

 

Para a IFI, a evolução recente dos pagamentos de benefícios do INSS indica que a reforma da Previdência de 2019 já pode ter começado a surtir efeitos, de modo que essa dinâmica tem de ser contemplada nas projeções. A IFI lembra que o governo estimou gastos previdenciários mais altos para 2020, que não se confirmaram.

 

Os gastos com a Previdência estão também no centro do impasse no Orçamento de 2021, aprovado com corte de despesas obrigatórias, principalmente previdenciárias, para aumentar as emendas parlamentares. Para justificar o corte e a sanção do Orçamento pelo presidente Jair Bolsonaro, as lideranças do Centrão afirmam que as previsões de despesas estavam superestimadas.

 

A IFI prevê uma folga de R$ 38,9 bilhões no teto em 2022. É quanto o governo poderá gastar a mais. Esse espaço seria dado pela diferença entre o índice de inflação a corrigir o teto e aquele que indexa as despesas obrigatórias.

 

A IFI, porém, faz um alerta: o contexto fiscal complexo requer que se evite o uso da folga do teto. O diagnóstico é que o cenário fiscal será ainda bastante desafiador, com dívida pública em relação ao Produto Interno Bruto (PIB) crescente e déficit primário elevado. "A dívida acima de 90% do PIB, não avaliza uso automático da folga do teto em 2022", diz o relatório.

 

"O fenômeno contábil e fiscal derivado da provável folga no teto não deveria ser encarado, necessariamente, como espaço fiscal efetivo para promover aumento de despesas", recomendou a instituição.

 

Se houver necessidade de gastos no âmbito das respostas à covid-19, por outro lado, a IFI defende a necessidade de um planejamento transparente. "O risco é a pulverização desse espaço fiscal em despesas pouco relacionadas à recuperação da economia", afirma.

 

Para Salto, a estratégia de buscar aumento de discricionárias (despesas que não são obrigatórias e incluem investimentos e o custeio da máquina pública) poderá se repetir em 2022, mas com a diferença de que haverá folga no teto. Há espécie de antídoto preventivo na LDO, que passou a limitar a estratégia de subestimar despesas obrigatórias. " Mas isso não vai bastar, lembrando também que o texto ainda poderá modificado pelo Congresso", disse

 

No relatório, a IFI destaca também que o prêmio pelo risco cobrado pelos investidores para comprar os títulos públicos aumentou, refletindo incerteza quanto à política econômica doméstica e também a alta da taxa Selic iniciada pelo Banco Central. Os leilões de títulos públicos mostraram novos aumentos nas taxas de juros em março e abril.

 

Para 2021, a IFI vê risco de que novas despesas sejam necessárias além do planejado, como novas rodadas do auxílio emergencial e de outros tipos de despesas relacionadas à manutenção de empregos e suporte a empresas.

 

 

Posted On Terça, 20 Abril 2021 05:25 Escrito por
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