Absolutamente desqualificado para a vida pública, Bolsonaro subordina-se, e a seu governo, ao “gabinete do ódio”
Por Ricardo Noblat
Os primeiros depoimentos na CPI da Pandemia confirmam que há uma espécie de “gabinete paralelo” no Palácio do Planalto, cuja influência sobre o presidente Jair Bolsonaro parece ser maior do que a exercida pelo gabinete de ministros.
Esse “poder paraestatal”, na definição do relator da CPI, senador Renan Calheiros, já era mais ou menos conhecido. O espantoso foi observar em detalhes sua imensa capacidade de determinar os atos e palavras do presidente da República.
Como informado pelo próprio Bolsonaro em discurso, o tal “gabinete paralelo”, chamado também de “gabinete do ódio” e qualificado pelo presidente como “gabinete da liberdade”, é liderado por Carlos Bolsonaro. O segundo filho do presidente, embora seja vereador no Rio de Janeiro, passa vários dias em Brasília assessorando o pai. Carlos Bolsonaro, sem cargo no governo, é na prática, o mais poderoso ministro de Bolsonaro, a julgar pelo que veio à luz na CPI.
Soube-se que Carlos Bolsonaro participou de várias reuniões do presidente com ministros, “tomando notas”, segundo informou o ex-ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta. Conforme o testemunho de Mandetta, isso fazia parte de “um assessoramento paralelo” – que, em resumo, confrontava as decisões técnicas do Ministério da Saúde e insistia na adoção formal da cloroquina como medicamento contra a covid-19, embora já houvesse evidências de que o remédio era ineficaz. A queda de dois ministros da Saúde, entre outras razões por sua resistência à cloroquina, mostra a força desse “poder paraestatal”.
Carlos Bolsonaro não tem a menor qualificação para dar opinião sobre os grandes temas de Estado, em especial sobre a pandemia, mas o “gabinete” que ele lidera tem uma qualidade muito valorizada pelo presidente: julga-se capaz de traduzir para Bolsonaro a mixórdia das redes sociais.
Como parece acreditar piamente que foi eleito graças a essa interação com lunáticos da internet, o presidente Bolsonaro concluiu que as redes sociais são uma genuína expressão dos desejos populares. Sendo o intérprete das redes, dando sentido, por assim dizer, às teorias da conspiração que pululam naquele ambiente, o “gabinete paralelo” sobrepõe-se, na hierarquia do governo, aos ministros de Estado – que, por definição, devem se ater à realidade fria de decisões muitas vezes impopulares.
O governo formal, então, é submetido ao filtro do “gabinete paralelo”, tornando-se, na prática, refém da irresponsabilidade dos agitadores de internet. O presidente da República, exatamente por ter consciência de que não tem a menor capacidade para governar, parece sentir-se o tempo todo ameaçado pelo poder formal, institucionalizado, o qual desrespeita desde seus tempos de deputado. As demissões de ministros que o presidente tratou como inimigos, por se concentrarem em fatos concretos e não em delírios do clã presidencial, ilustram o clima de paranoia existente no Palácio do Planalto – alimentado dia e noite pelo “gabinete paralelo”.
O fato é que hoje o País é governado a partir das fantasias das redes sociais, sem qualquer lastro institucional e, sobretudo, moral. A esta altura, já é possível concluir que o presidente Bolsonaro não toma nenhuma decisão sem levar em conta os conselhos do “gabinete paralelo”.
É sintomático que Bolsonaro tenha recrudescido recentemente os ataques a seus inimigos imaginários – a lista, extensa, é encabeçada pelo Judiciário, pelos governadores e pelos comunistas chineses – depois de passar dias recebendo conselhos de Carlos Bolsonaro. E as recomendações foram seguidas à risca, a julgar pela truculência do presidente, como reação à pressão exercida pela CPI, em particular, e pela crise, em geral. De Carlos Bolsonaro – chamado pelo próprio pai de “pitbull” e orgulhoso exegeta do “pensamento” raivoso das redes sociais – não se esperava que sugerisse moderação ao presidente.
Nesse sentido, Bolsonaro mostra-se ainda menor do que sempre foi. Absolutamente desqualificado para a vida pública, que dirá para a Presidência da República, subordina-se, e a seu governo, à ralé virtual – a cujo irresponsável arbítrio Bolsonaro submete o Brasil.
O ex-presidente aproveitou a visita a Brasília para dizer aos companheiros que é preferível Bolsonaro na situação em que está a ele no chão
Por Ricardo Noblat
Lula aproveitou a visita de três dias que fez a Brasília para manifestar a interlocutores sua preocupação com o mau estado da saúde política do presidente Jair Bolsonaro. Voltou a São Paulo com a certeza de que ela inspira cuidados, inclusive da parte da oposição ao governo. Nem tanto ao mar, nem tanto à terra.
A oposição, PT na cabeça, deve continuar batendo em Bolsonaro, mas não a ponto de inviabilizá-lo como adversário a ser batido nas eleições do ano que vem. O senador Renan Calheiros (MDB-AL), relator da CPI da Covid-19, sabe disso e compartilha a opinião de Lula. Devagar com o andor para que o santo não caia.
Tem lembrado Lula que Bolsonaro radicaliza o discurso sempre que se vê ameaçado, e assim procede desde o início do governo. É para manter refém os bolsonaristas de raiz. Acontece que isso não o salvou de perder o apoio de devotos que lhe pareciam os mais confiáveis. E é aí que o bicho pode pegar a oposição.
A ela não deve interessar que Bolsonaro se enfraqueça e corra o risco de ficar de fora do segundo turno da eleição, dando passagem desde já a um nome, ou a mais de um, do que se convencionou chamar de terceira via, um candidato capaz de apresentar-se como alternativa a Bolsonaro e a Lula. Isso seria o pior dos mundos.
Lula está convencido de que tem lugar assegurado no segundo turno. Concordam com ele Bolsonaro, seus ministros, e líderes de partidos fechados com o governo até aqui. Mas Lula quer Bolsonaro no ringue para com ele trocar socos. Nada, pois, de apeá-lo do poder. Melhor mantê-lo de pé, sangrando
A opção pelo “deixa ele sangrar” foi escolha da oposição ao governo de Lula no segundo semestre de 2015 quando estourou o escândalo do mensalão do PT – a compra de votos de deputados para que aprovassem projetos despachados ao Congresso pelo Palácio do Planalto. O tiro saiu pela culatra, matando a oposição.
Era o PSDB quem a comandava. O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, o ex-ministro da Saúde José Serra e outras estrelas do partido concluíram que um Lula vulnerável, a ter que se explicar, seria melhor do que um Lula vítima de um processo de impeachment, ovelha golpeada pelas elites perversas.
Houve um momento em que Lula quase se rendeu. Num sábado de porre na Granja do Torto, uma das residências oficiais do presidente, Lula admitiu renunciar. Foi demovido da ideia pelos companheiros – um deles José Dirceu, chefe da Casa Civil, que estava em São Paulo e teve que voar às pressas a Brasília.
A economia ia bem, obrigado. Lula aproveitou a trégua que a oposição lhe deu para recuperar-se. No primeiro turno da eleição de 2016, derrotou Geraldo Alckmin (PSDB) por uma margem pequena de votos. No segundo turno, Alckmin cometeu o prodígio de ter menos votos do que no primeiro. Nunca se viu nada igual.
A economia, hoje, voa baixo como as galinhas. O desemprego está em alta. As reformas do Estado empacaram. A pandemia com quase meio milhão de mortos tão cedo sairá da memória dos brasileiros. Lula conta com tudo isso para vencer, mas também com Bolsonaro. Estará errado no seu cálculo? A ver.
Entre os encontros mais relevantes, Lula esteve com o deputado Rodrigo Maia (DEM-RJ), ex-presidente da Câmara, e com o presidente nacional do PSD, Gilberto Kassab
Por Augusto Fernandes
O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva encerrou ontem a agenda de compromissos em Brasília fazendo um balanço positivo dos contatos que fez. Durante os cinco dias de encontros com parlamentares, políticos e embaixadores, o petista deu os primeiros passos para tentar a construção de uma aliança entre a esquerda e o centro para as eleições de 2022, com o objetivo principal de impedir a reeleição do presidente Jair Bolsonaro.
“Para mim, pessoalmente, e para o PT, é importante a gente restabelecer as conversações com as forças políticas do país. Fazia tempo que eu não tinha reuniões com partidos políticos. Conversei com vários, e o assunto principal foi a vacina, que possa chegar com urgência para todo mundo”, disse, ao lado da presidente do PT, deputada Gleisi Hoffmann (PR), classificando a peregrinação como “um sucesso”.
Fernando Haddad, Lula da Silva, Gilberto Kassab e Gleisi Hoffmann, durante encontro
Entre os encontros mais relevantes, Lula esteve com o deputado Rodrigo Maia (DEM-RJ), ex-presidente da Câmara, e com o presidente nacional do PSD, Gilberto Kassab. A ambos, propôs uma união para fortalecer a oposição a Bolsonaro nos estados, em especial no Rio de Janeiro, onde o presidente da República tem reduto eleitoral. Segundo o petista, seu partido concordaria em não concorrer em algumas unidades da Federação para que esquerda e centro derrotassem candidatos bolsonaristas.
O ex-presidente também esteve com um dos seus antecessores, o ex-presidente José Sarney — um dos caciques do MDB e ainda um personagem político de peso. Mas evitou classificar a passagem por Brasília como preparação para as eleições de 2022. Após publicar uma foto de despedida, ontem à tarde, com o Congresso ao fundo, fez um balanço dos compromissos e destacou que o principal objetivo foi a discussão de propostas que possam auxiliar o país a contornar os reflexos da pandemia da covid-19, como o auxílio emergencial a R$ 600, mais vacinas e socorro financeiro a pequenas e médias empresas.
Lula frisou que os encontros dos últimos dias, principalmente com embaixadores, foram importantes para discutir ações contra o “desgoverno” de Bolsonaro. Segundo o ex-presidente, há uma inquietação de diplomatas estrangeiros com a atual política externa. “O nosso governo está se afastando das relações internacionais com todo mundo. Ninguém convoca o Brasil para uma reunião”, ponderou o petista.
E acrescentou: “Todo mundo está preocupado com o desgoverno, o desmatamento, a despreocupação com covid-19, com vacinas, com o cuidado do povo. Foi muito importante essa conversa, porque essas pessoas já conheceram o Brasil em outros governos. O Brasil era um país levado muito a sério, sobretudo quando se discute combate à pobreza, miséria e fome e a questão do meio ambiente, porque ganhou muita respeitabilidade”.
Lula disse estar feliz com a agenda e prometeu novos encontros em Brasília. “A gente precisa voltar a conversar com todo mundo. Com empresários, com sindicatos, com trabalhadores, com partidos políticos, para que a gente possa ter certeza de que nós estamos trabalhando para recuperar a democracia no nosso país e voltarmos a ter um país feliz, onde as pessoas todas possam viver em paz”.
Veja.com divulga pesquisa realizado pela Paraná Pesquisas
Em meio a uma crise sanitária, política e econômica pressionando a sua gestão — inclusive com o início de uma barulhenta CPI investigando os erros cometidos na pandemia —, Jair Bolsonaro mostra mais uma vez a sua impressionante resiliência eleitoral. Mesmo durante a tempestade, um em cada três brasileiros não só apoia o seu desempenho no Palácio do Planalto como está inclinado a lhe conceder um segundo mandato na eleição presidencial de 2022 — algo que ele planeja, aliás, desde o dia em que iniciou o primeiro —, conforme revela um novo levantamento exclusivo feito para VEJA pelo instituto Paraná Pesquisas.
O presidente Jair Bolsonaro continua sendo favorito em 2022, mostra levantamento do Instituto Paraná, encomendado pela revista “Veja” e divulgado nesta sexta-feira (07). No cenário de segundo turno mais provável, contra Lula, o presidente tem 42,5% das intenções de votos, contra 39,8% de Lula.
No primeiro turno, Bolsonaro tem 32,7% das intenções de voto e Lula tem 29,3%.
O presidente, no entanto, perdeu cerca de 5% da intenção de votos de dezembro/2020 para janeiro/2021.
Os demais virtuais candidatos demonstram dificuldade para conquistar a preferência do eleitorado. Em terceiro lugar, Ciro Gomes (PDT) tem 6,2% das intenções de voto. Confira os cenários:
Deputado também destacou o trabalho que o Governador vem desenvolvendo frente ao Tocantins
Com Assessoria
O vice-líder da maioria do Congresso Nacional, o deputado federal pelo Tocantins, Carlos Gaguim, usou a tribuna da Câmara dos Deputados para parabenizar o Governador do Tocantins, Mauro Carlesse, pela vitória no Tribunal Superior Eleitoral na ação que pedia cassação do seu mandato e sua inelegibilidade.
Gaguim disse que o processo foi vencido e que ficou claro que a gestão, que ele apoia, é feita com transparência e com honestidade. “O Governo administra com transparência e administra para todos . E é esse projeto de Governo que vem sendo alvo de críticas daqueles que perderam a eleição.”, disse ao ressaltar que Carlesse trabalha 24 horas por dia para o desenvolvimento do Tocantins e que para isso conta com o apoio dele, do Senador Eduardo Gomes e do presidente Jair Bolsonaro.
Deputado Carlos Gaguim e o governador Mauro Carlesse
O deputado federal parabenizou ainda o trabalho que o Governador e que sua equipe vem desenvolvendo em todas as áreas do estado. De acordo com Gaguim, a gestão de Carlesse tem levado desenvolvimento e cuidado a população de todas as regiões sem esquecer nenhuma.