Número inclui quatro integrantes da equipe de apoio, que está isolada desde o retorno ao Brasil. Testes de Bolsonaro e familiares deram negativo, mas há recomendação para novos exames

 

Por Mateus Rodrigues

 

Chegou a 11, neste domingo (15), o número de membros da comitiva do presidente Jair Bolsonaro na viagem aos Estados Unidos, na última semana, com teste positivo para o novo coronavírus.

 

A lista inclui quatro membros da "equipe de apoio" à viagem oficial. Segundo o Gabinete de Segurança Institucional da Presidência da República (GSI), toda essa equipe – seguranças, assessores de comunicação e de cerimonial, por exemplo – já tinha "optado por um regime de auto-isolamento" desde a chegada ao Brasil.

 

"Dentro desse grupo, quatro indivíduos apresentaram resultado positivo, porém todos eles estão com um quadro de saúde ainda assintomático. Dessa forma, cumprirão em suas residências o isolamento recomendado de 14 dias", informou o GSI em nota.

 

O gabinete aguarda a contraprova de um quinto membro da equipe, que recebeu "resultado inconclusivo" do primeiro teste. Todos os funcionários que prestaram apoio à viagem seguem em autoisolamento – o prazo para a liberação não foi informado.

 

O teste de Jair Bolsonaro deu negativo, mas o Ministério da Saúde recomendou que o exame seja refeito na próxima semana. Enquanto isso, a recomendação é para que Bolsonaro siga em "monitoramento".

 

Neste domingo, Bolsonaro quebrou a recomendação de cautela e participou de um ato a favor do governo e com críticas ao Judiciário e ao Legislativo. Ele chegou a apertar a mão de apoiadores em frente ao Palácio do Planalto.

 

Das autoridades que integraram oficialmente a comitiva presidencial, estão com o novo coronavírus:

o senador Nelsinho Trad (PSD-MS);

o encarregado de negócios do Brasil nos Estados Unidos, Nestor Forster, e o secretário de Comunicação da Presidência, Fábio Wajngarten.

Além deles, há três infectados que se encontraram com Jair Bolsonaro e autoridades brasileiras em Miami, durante a viagem:

o secretário Especial Adjunto de Comunicação Social da Presidência, Samy Libermam – "número dois" de Wajngarten na pasta;

o publicitário Sérgio Lima, que trabalha com a família Bolsonaro na criação do partido Aliança pelo Brasil;

a advogada de Jair Bolsonaro, Karina Kufa e

o prefeito de Miami, Francis Suarez.

Karina e Suarez chegaram a posar para fotos com Jair Bolsonaro durante a viagem oficial.

 

Resultados negativos

Na quinta (12), após o anúncio do diagnóstico positivo de Wajngarten, outras autoridades que também viajaram no avião presidencial ou se encontraram com a comitiva nos EUA deram início a uma rodada de testes.

 

A maior parte teve resultados negativos. Estão nesta lista o presidente Jair Bolsonaro, a primeira-dama Michelle Bolsonaro, o deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), o governador do Paraná, Ratinho Junior (PSD), e os ministros Bento Albuquerque (Minas e Energia), Fernando Azevedo e Silva (Defesa) e Augusto Heleno (Gabinete de Segurança Institucional).

 

O ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, viajou para os EUA antes da comitiva e permaneceu em solo norte-americano ao fim da viagem presidencial. Em nota, o Itamaraty informou que a agenda foi cancelada após o diagnóstico de Fábio Wajngarten.

 

"Ernesto Araújo cancelou o restante da sua agenda em Washington e retorna a Brasília, onde observará todos os protocolos vigentes", disse a postagem em rede social. O teste dele também deu resultado negativo.

 

O deputado Daniel Freitas (PSL-SC) e o senador Jorginho Mello (PL-SC) também fizeram testes, e não estavam com o vírus.

Posted On Segunda, 16 Março 2020 15:36 Escrito por

Os atos ontem em apoio ao presidente Jair Bolsonaro (sem partido) mostram que ele deu mais um passo rumo ao isolamento político, na avaliação de analistas consultados pelo UOL.

 

 

Nathan Lopes Do UOL, em São Paulo

 

O fato de ele ter ignorado as recomendações de prevenção contra a pandemia do novo coronavírus —que já matou mais de 5.700 pessoas no mundo todo— também foi visto como "irresponsabilidade".

 

As manifestações que aconteceram ao longo do domingo (15) tiveram como alvos preferenciais os líderes do Congresso: os presidentes da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), e do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP). O STF (Supremo Tribunal Federal) também esteve na mira dos apoiadores de Bolsonaro.

 

"Ele ainda não está isolado, mas está se isolando. Ele está dificultando o diálogo com os outros Poderes", avalia o doutor em Ciência Política e professor da Universidade Mackenzie Mauricio Fronzaglia. "É preocupante que o presidente apoie manifestações contra os outros Poderes."

 

Submissão

Glauco Peres, professor de Ciência Política da USP (Universidade de São Paulo), diz que Bolsonaro "não está sabendo dialogar, negociar, entender o papel dos outros Poderes". "Ele está tentando fazer com que os outros Poderes se submetam a ele".

 

Peres lembra que, desde o começo do governo, Bolsonaro buscou falar para seus seguidores. "Se isola. E o grupo acaba ficando cada vez menor. O discurso nunca foi de composição."

 

Para a professora de Ciência Política da PUC (Pontifícia Universidade Católica) de São Paulo Vera Chaia, Bolsonaro "passa a ideia equivocada de que o Legislativo não deixa ele governar". "Mas ele não tem uma liderança efetiva. Ele tem toda a liberdade para trabalhar, mas ele é incapaz de governar: é confuso, contraditório, ambíguo".

 

O próprio presidente chegou a endossar os protestos antes de a pandemia da covid-19 se agravar. Ontem, ele indicou que a população foi às ruas por vontade própria e chegou a dizer que isso não tinha "preço".

 

Hostilidade

Para os especialistas, a manifestação foi uma busca por apoio. "Acho que ele já não se sente tão forte quanto como quando ele iniciou o governo, um ano atrás", pontua Lilian Furquim, doutora em Ciência Política e professora da FGV (Fundação Getulio Vargas) de São Paulo.

 

Fronzaglia lembra "que a base de apoio que ajudou a eleger o presidente Bolsonaro, uma série de políticos, já não está mais com ele". "Ele está jogando para uma plateia que já é a dele, para um eleitorado que já é cativo", comenta o acadêmico. "É mais uma demonstração de fidelidade de um eleitorado que já lhe é fiel."

 

O que preocupa os analistas é o teor dos atos, com um "ambiente que parece muito mais hostil às instituições democráticas", avalia Furquim. "A gente não tem um questionamento só da qualidade daqueles que estão nos Poderes, mas da estrutura institucional como um todo."

 

A democracia tem seus defeitos, mas ela ainda é a grande alternativa para a gente garantir uma sociedade mais justa, igualitária e, obviamente, livre

Lilian Furquim, professora da FGV

 

"Banana" à covid-19

O ato do presidente de ter ido a seus apoiadores, contrariando recomendações do Ministério da Saúde, também é alvo de críticas por parte dos analistas. Para Chaia, a atitude foi uma "irresponsabilidade". "Ele está dando uma 'banana' para o coronavírus e para toda essa situação que a gente está vivendo."

 

No mundo todo, os casos da covid-19 passam 153.000, o que fez a OMS (Organização Mundial da Saúde) declarar pandemia. Mas Bolsonaro considera que a situação envolvendo o novo coronavírus é "histeria".

 

"As pessoas que foram para as ruas devem ter acreditado que essa pandemia não era tão séria, ou que as informações não eram minimamente verdadeiras", comenta Furquim. "O problema é tornar esse debate sobre o coronavírus uma questão política."

 

Para Peres, o ato de Bolsonaro "é só mais uma ação de alguém que desconfia dos meios de comunicação por completo, que entende que tem algo acima, que é sempre muito vago".

 

Atos em apoio a Bolsonaro pelo Brasil

 

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15.mar.2020 - Atos em apoio ao presidente Jair Bolsonaro (sem partido) e contra instituições dos Três Poderes foram registrados neste domingo (15) pelo país. Foto mostra concentração de apoiadores em frente ao Congresso na manhã deste domingo

 

Leia mais Felipe Pereira/UOL

 

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15.mar.2020 - Manifestantes ignoraram orientação do Ministério da Saúde de evitar aglomerações em razão da pandemia de coronavírus. Alguns dos participantes do ato em Brasília utilizavam máscaras

 

Leia mais Felipe Pereira/UOL

 

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15.mar.2020 - O ato em Brasília trazia faixas com mensagens contra órgãos como o Congresso e o STF (Supremo Tribunal Federal)

 

Leia mais Felipe Pereira/UOL

 

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15.mar.2020 - Uma das faixas exibidas em ato em Brasília classificava parlamentares e ministros do Supremo como "parasitas"

 

Leia mais Felipe Pereira/UOL

 

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15.mar.2020 - A secretária da Cultura, Regina Duarte, também foi alvo do ato deste domingo (15) em Brasília

 

Leia mais Felipe Pereira/UOL

 

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15.mar.2020 - O presidente Jair Bolsonaro contrariou orientações do Ministério da Saúde e teve contato direto com apoiadores no ato em Brasília. Bolsonaro pegou celulares de manifestantes para fazer selfies

 

Leia mais Felipe Pereira/UOL

 

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15.mar.2020 - Bolsonaro também fez uma transmissão ao vivo no Facebook comentando o ato em seu apoio

 

Leia mais Reprodução/Facebook/jairmessias.bolsonaro

 

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15.mar.2020 - No Rio de Janeiro, apoiadores de Bolsonaro usaram máscaras no ato em que participaram

 

Leia mais Pauline Almeida/Colaboração para o UOL

 

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15.mar.2020 - Bolsonaro compartilhou em suas redes sociais imagens de protesto em Belém a seu favor

 

Leia mais Reprodução

 

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15.mar.2020 - Aos gritos de mito, Bolsonaro sob a rampa do Palácio do Planalto após ter contato com apoiadores em ato a seu favor em Brasília

 

Leia mais Felipe Pereira/UOL

 

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15.mar.2020 - Manifestantes mostram mensagem de despreocupação quanto à pandemia de coronavírus em ato no Rio de Janeiro

 

Leia mais Saulo Angelo/Futura Press/Estadão Conteúdo

 

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15.mar.2020 - Apoiadora de Bolsonaro em São Paulo usa máscara com o termo "foda-se" em ato realizado apesar da recomendação para se resguardar contra a pandemia do novo coronavírus

 

Leia mais Ettore Chiereguini/Futura Press/Estadão Conteúdo

 

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15.mar.2020 - Manifestantes demonstram apoio à ditadura militar e críticas ao Congresso e ao STF (Supremo Tribunal Federal) em ato em São Paulo

 

Leia mais Ettore Chiereguini/Futura Press/Estadão Conteúdo

 

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15.mar.2020 - Faixa a favor da ditadura é exibida em protesto na avenida Paulista, em São Paulo

 

Leia mais Breno Castro Alves/Colaboração para o UOL

 

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15.mar.2020 - Faixa na avenida Paulista pediu a eliminação dos presidente da Câmara, Rodrigo Maia, e do Senado, Davi Alcolumbre, além da do ministro do STF Gilmar Mendes

 

Leia mais Breno Castro Alves/Colaboração para o UOL

 

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15.mar.2020 - Apoiadora de Bolsonaro usa máscara para fazer crítica ao Congresso Nacional

 

Leia mais Érica Martin/AM Press & Imagens/Estadão Conteúdo

 

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15.mar.2020 - Manifestante de ato em apoio a Bolsonaro usou bandeira dos Estados Unidos

 

Leia mais Roberto Sungi/Futura Press/Estadão Conteúdo

 

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15.mar.2020 - "Astronauta" participou de ato a favor do presidente da República no Rio

 

Leia mais Wilton Junior/Estadão Conteúdo

 

 

Posted On Segunda, 16 Março 2020 13:28 Escrito por

'Manifestação não é minha, é espontânea do povo', disse Bolsonaro em transmissão ao vivo no Facebook

 

Com Agências

 

Jair Bolsonaro saiu do isolamento e apareceu em público na manifestação pró-governo deste domingo (15/3). O presidente havia sido orientado pelos médicos a se manter isolado, mesmo após testar negativo para a Covid-19.

 

Separado por duas grades, Bolsonaro cumprimentou apoiadores que o esperavam vestidos de verde e amarelo segurando cartazes. “Manifestação não é minha, é espontânea do povo”, disse Bolsonaro em transmissão ao vivo do Palácio do Planalto. O presidente não estava usando máscara.

 

Bolsonaro chegou a pedir aos apoiadores que adiassem as manifestações marcadas para este domingo, no entanto, na manhã de hoje, o presidente passou a incentivar os protestos nas redes sociais. Ele postou, em sua página no Twitter, imagens dos atos a favor do governo em diversas cidades. No Facebook, Bolsonaro compartilhou uma transmissão ao vivo de uma manifestação em Brasília. "Devemos lealdade ao povo brasileiro", registrou.
Concentração no Museu Nacional

 

Em Brasília, apoiadores do presidente se concentraram em frente ao Museu Nacional e um carro de som comandou a manifestação. Os simpatizantes do governo negam que o protesto seja contra as instituições, mas criticam os presidentes da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), e do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP).

 

Em nota, a Secretaria de Segurança Pública do Distrito Federal (SSP/DF) informou que faz a segurança da manifestação e que o decreto do GDF limitou apenas os eventos esportivos e aqueles que dependem de Licenciamento do Poder Público. "Eventos familiares, espontâneos ou manifestações não dependem de licenciamento, por isto, estão fora das limitações do Decreto", esclareceu.

 

Posted On Segunda, 16 Março 2020 05:47 Escrito por

Epidemiologistas ouvidos pela Folha afirmam que o governo deveria adotar em breve providências a fim de impedir ou limitar em grande medida aglomerações e movimentações de pessoas, a exemplo do que fizeram países asiáticos e agora a Itália para atenuar a epidemia de Covid-19.

 

Vinicius Torres Freire/Folha de São Paulo

 

Isto é, seria necessário suspender aulas, espetáculos esportivos e artísticos, cultos religiosos e qualquer grande reunião e restringir a presença física em locais de trabalho e a circulação pelas cidades.

 

A medida deveria ser implementada daqui a 7 e no máximo dentro de 20 dias, na visão de médicos estudiosos da biologia e da matemática da disseminação de doenças infecciosas.

 

Em países como Hong Kong, Singapura e Japão, o ritmo de crescimento do número de casos de Covid-19 é bem inferior ao do registrado em grandes países europeus.

 

Na Coreia do Sul, apesar de uma explosão inicial de contágio, o país está perto de estabilizar o número total de casos.

 

“Não teria muita dúvida de dizer que foi a intervenção. Fizeram um esforço brutal, inédito”, diz Claudio Struchiner, a respeito do impacto positivo das medidas adotadas em certos países asiáticos. Ele é professor de matemática aplicada na FGV-RJ, graduado em medicina na UFRJ e doutor em dinâmica populacional de doenças infecciosas pela Universidade Harvard.

 

“Quando se comparam a velocidade do ritmo de casos totais, as curvas, entre países asiáticos e a Europa, parece evidente que a diferença se deveu às medidas drásticas dos governos”, diz Mirian Dal Ben, infectologista do Hospital Sírio-Líbanês que também trabalha com modelos matemáticos.

 

Dal Ben e Struchiner concordam que ainda se sabe pouco do ritmo da evolução dos casos no Brasil ou de como se dá o ritmo de contágio local (excluídos casos importados e correlatos).

 

Acreditam, porém, que não será prudente esperar dados consolidados: é melhor observar a história da doença e o resultado das medidas eficazes de outros países, antes que seja tarde.

 

“Se nada for feito, a coisa pode ser terrível. Vamos ter uma epidemia, ela vai crescer. Já não estamos na fase de contenção, de evitá-la, mas de suavizar efeitos, reduzir o número de pessoas atingidas”, diz Roberto Kraenkel, professor do Instituto de Física Teórica da Unesp e estudioso do comportamento de epidemias.

 

Dal Ben diz que existe uma janela de tempo para a adoção das medidas restritivas. “Nem pode ser tão cedo, pois a restrição não pode durar muito, nem tão tarde que a epidemia esteja descontrolada e os hospitais sobrecarregados.”

 

Kraenkel explica que o início da epidemia é o instante mais crítico. “Se ele for muito forte, pode haver um número de casos tal que o sistema de saúde não aguente, como usar o metrô na hora do rush —não tem como entrar no vagão”.

 

Quando então deve começar a restrição, o “lockdown”? “O mais cedo possível”, diz Kraenkel. Para Dal Ben, daqui a duas semanas ou dias além disso. Struchiner concorda em parte. Acha que a restrição deve começar em uma semana, duas no mais tardar.

 

Acha mesmo que, em tese, é possível um esforço de erradicação do vírus. Isto é, um “lockdown” que durasse o tempo da incubação da doença com o período de contágio, uns 25 dias, por exemplo. Seria uma medida de interrupção da cadeia de contágio. Não é uma proposta, necessariamente, mas um exemplo do que pode ser pensado a respeito do controle da epidemia. “O coronavírus da Sars, em 2003 foi erradicado”, diz.

 

Dal Ben e Struchiner lembram também que o número de casos já é maior do que aquele que aparece nas estatísticas. Possivelmente, a discrepância entre o que se sabe e o número de doentes é maior do que na China ou em outros países da Ásia, onde os controles e testes foram maiores.

 

O epidemiologista Expedito Luna, professor do Instituto de Medicina Tropical da USP, avalia que as medidas adotadas pelo governo têm sido claras e têm evitado pânico.

 

Para ele é positivo o exemplo da Coreia do Sul, que faz testagem ampliada para diagnóstico do novo coronavírus. O país, apesar de ser o quarto com mais casos identificados (7.979, atrás de China, Itália e Irã), tem apenas 66 mortes (o Irã, com 11.364 casos, tem 514).

 

“É uma estratégia interessante, mas o Brasil não teria essa capacidade. O diagnóstico de doenças infecciosas, como dengue, zika e influenza, é uma velha debilidade da rede pública de saúde.”

 

Ainda assim, Luna avalia como positivas as medidas tomadas pelo governo, como estímulo ao isolamento domiciliar de pessoas com sintomas e de estrangeiros que chegam ao país. “Ainda estamos tateando. O clima tropical também molda a transmissão de agentes por via respiratória. Tradicionalmente não há epidemias de gripe por aqui do mesmo porte dos países temperados”.

 

Em São Paulo, maior estado e centro de trânsito de passageiros internacionais do país, as discussões são dominadas por ora por David Uip, infectologista e ex-secretário estadual da Saúde, com o aval do governador João Doria (PSDB).

Até aqui, Uip tem dito que não é preciso tomar medidas draconianas. À Folha Doria disse que seguirá a opinião da área de saúde do governo e que não teme críticas caso as medidas tomadas se mostrem insuficientes. “Decido com razão, não emoção”, disse.

 

A depender do cenário, o Ministério da Saúde não descarta medidas como restrição de voos e fechamento de fronteiras, diz o secretário de vigilância em saúde do ministério da Saúde, Wanderson Oliveira, mas por ora essas medidas estão descartadas.

 

Especialistas que fazem parte do comitê de contingência do coronavírus em São Paulo não foram consultados sobre a estratégia gradualista do governo paulista, que teria sido adotada por recomendação do Ministério da Saúde.

 

Um integrante do comitê estadual disse que nunca viu nada parecido, que as pessoas de Brasília queriam reinventar a roda. Foi uma medida unilateral do ministério e ninguém conversou sobre isso com o comitê nem apresentou argumentos que justificassem a estratégia, afirmou.

 

Promotoria de SP cobra explicações sobre falta de ações antiaglomeração

Em documento enviado aos governos estadual e municipal de São Paulo, o Ministério Público Estadual pede que, em 48 horas, eles informem as justificativas técnicas que dão suporte à decisão de ainda não terem adotado medidas governamentais para evitar aglomerações com objetivo de conter o avanço do novo coronavírus.

 

Os promotores Dora Martin Strilicherk e Arthur Pinto Filho questionam que, mesmo diante do avanço de casos, o governador João Doria (PSDB) afirmou nesta sexta que não há necessidade, por hora, da tomada de medidas oficiais contra aglomerações em geral.

 

No entanto, eles lembram que, na mesma data, o infectologista David Uip, coordenador do grupo de contingenciamento do coronavírus, recomendou à população de risco que evite aglomerações.“As manifestações apresentam evidentes contradições, transmitindo informações dissonantes, que geram insegurança na população.”

 

Como exemplo de que a própria comunidade científica teme o contágio progressivo e sem controle do vírus, os promotores citam a suspensão das aulas em várias faculdades particulares, além de algumas estaduais, como a Unicamp.Os promotores também argumentam que a decisão de Doria de não adotar medidas imediatas de prevenção no combate às aglomerações também são dissonantes das recentes manifestações de médicos gabaritados em redes sociais.

 

Eles pedem ainda que o governos comprovem a realização de campanha oficial, por todos os meios de comunicação adequados, informando a população sobre riscos de letalidade do vírus para as populações jovens e idosa e com comorbidades.

 

Colaboraram Natália Cancian, de Brasília, e Cláudia Collucci e Phillippe Watanabe, de São Paulo

 

 

Posted On Domingo, 15 Março 2020 05:05 Escrito por

Bebianno presidiu o PSL durante a campanha presidencial de Bolsonaro e foi ministro por menos de dois meses

 

Por Edson Sardinha e Congresso em Foco

 

A morte do ex-ministro Gustavo Bebianno, aos 56 anos, chocou amigos e parceiros políticos. Lutador de jiu-jitsu desde a juventude, Bebianno não bebia nem fumava e inspirava às pessoas de seu convívio a imagem de uma pessoa saudável, magoada com o presidente Jair Bolsonaro, a quem ajudou a eleger, mas estimulada por seu novo projeto político, a disputa à prefeitura do Rio de Janeiro pelo PSDB. Por esses motivos, amigos defendem que seja investigada a causa da morte dele na última madrugada em seu sítio em Teresópolis (RJ). As informações são de que ele sofreu um infarto por volta das 4 horas.

 

Em 29 de outubro de 2019, o ex-ministro revelou com exclusividade ao Congresso em Foco sua filiação ao PSDB e que temia que Bolsonaro desse um golpe de Estado. Recentemente, Bebianno disse em entrevistas que tinha receio do que poderia lhe acontecer em razão de suas manifestações públicas a respeito do presidente e dos bastidores de sua eleição. O advogado disse a jornalistas e amigos que tinha material guardado no exterior para que fosse revelado após sua morte. Também contou que havia enviado cartas a pessoas próximas, contando em detalhes quem seriam as pessoas interessadas em sua morte caso isso ocorresse.

 

Arquivo vivo

Fundadora do movimento Política Viva, do qual Bebianno participava, a empresária Rosangela Lyra defende que haja uma investigação sobre as circunstâncias da morte do ex-ministro. “Temos de ver o que aconteceu. Tudo tem de ser apurado muito em função das mensagens que ele mencionava nas entrevistas. Ficamos pensativos, até pelo momento político do país. Escuta-se falar muito de queima de arquivo, de que existem várias formas de matar alguém”, afirmou Rosangela ao Congresso em Foco.

Vice-presidente do PSL, o deputado Junior Bozzella (SP) disse que ainda não conversou com familiares do ex-ministro, mas considera importante que sejam tomadas todas as providências para esclarecer o episódio. “Ele era um arquivo vivo, a pessoa mais próxima de Bolsonaro na campanha. A mim nunca me confidenciou nada. Sempre foi muito republicano e não fazia ilações. Mas é natural que agora surja todo tipo de especulação”, observou.

 

“Quando se trata de política, poder, interesse, tudo tem de ser analisado. Crimes políticos não são raridade no Brasil. Quando há divergências emblemáticas, como no caso dele, é natural que terceiros queiram aprofundar as circunstâncias da morte”, completou o deputado, porta-voz do grupo do presidente do PSL, Luciano Bivar, que faz oposição à ala bolsonarista.

 

Entusiasmo com candidatura

 

Rosangela e Bozzella contam que perceberam um Bebianno entusiasmado nos últimos contatos. “Ele estava empolgado com a candidatura no Rio, buscando alianças. Isso estava dando combustível para ele. Estava bem focado e convicto de que poderia provocar um processo de transformação. Eu acreditava muito nele”, disse o deputado.

 

A líder do movimento Política Viva também guarda a mesma lembrança. “Ficava impressionada como ele era doce, educado e gentil naquele corpão. Estava tão entusiasmado com a campanha no Rio. Chorei por ele ser tão jovem, um atleta. Temos de ver o que aconteceu”, afirmou Rosangela. Segundo ela, o seu contato com o advogado era mais virtual do que pessoal e se intensificou com sua chegada ao grupo que fundou para discutir práticas de renovação política.

 

Bebianno presidiu o PSL durante a campanha de Jair Bolsonaro ao Planalto em 2018, a pedido do então candidato. Considerado homem de confiança do presidente, foi o primeiro grande aliado com quem Bolsonaro rompeu após assumir o mandato. Sua permanência no cargo não chegou a dois meses. Foi demitido por influência do vereador carioca Carlos Bolsonaro (PSC), filho do presidente. Carlos via no então ministro o maior obstáculo para sua estratégia de controlar a comunicação do pai. Ele acusava o ex-presidente do partido de tramar contra Bolsonaro. Bebianno deixou o governo e, desde então, havia se tornado forte crítico do presidente.

Material guardado

Em dezembro do ano passado, Gustavo Bebianno afirmou em entrevista à Jovem Pan que havia deixado material sobre Bolsonaro no exterior caso acontecesse alguma coisa com ele. “Se o presidente acha que eu tenho medo dele, ele está enganado. Eu sou tão ou mais homem que ele. Tenho um material, sim, e fora do Brasil. Tenho muita coisa e não tenho medo. Uma vez o presidente disse que eu voltaria para minhas origens, mas minha origem é muito boa”, afirmou. Também disse à revista Veja que havia mandado material para que amigos só revelassem após sua morte.

 

Nos bastidores do programa de televisão Roda Viva, do qual participou no último dia 2, Bebianno relatou ter medo de falar tudo o que sabia sobre os atos que envolvem Bolsonaro. Pressionado por jornalistas, fora do ar, respondeu: "Está vendo aquele ali [apontando para o seu filho]? É o meu único segurança", afirmou. O jovem era o único na plateia de convidados de Bebianno.

 

No programa, o ex-ministro contou ter estreitado o relacionamento com Bolsonaro em meados de 2017 e apontou a facada sofrida pelo presidente durante a campanha como um divisor de águas no "grau de loucura" e no aumento de teorias de conspiração dentro do Planalto. Segundo ele, a família do presidente trata como traidores todos aqueles que fazem crítica à sua atuação.

 

Tentativa de golpe

 

Em outubro, o ex-ministro deu entrevista exclusiva ao Congresso em Foco que gerou grande repercussão. Entre outras coisas, disse que Bolsonaro deixou o poder subir à cabeça, abandonou suas promessas de campanha para proteger e favorecer os filhos, cercou-se de “loucos” e fazia uma gestão marcada pelo autoritarismo, pelo “desarranjo mental”, pela irresponsabilidade e pelo “desgoverno”.

 

O ex-ministro afirmou, na ocasião, acreditar que o desfecho da passagem de Bolsonaro pelo Palácio do Planalto será mais uma página triste da história política brasileira: ou ele renunciará, ou sofrerá impeachment ou, na hipótese mais grave, tentará uma ruptura institucional, um golpe de Estado. “Não acredito que ele conseguiria consolidar uma ruptura institucional, mas tudo indica que ele vai tentar. É muito preocupante. Uma simples tentativa pode gerar muito derramamento de sangue. O Brasil não precisa disso. É um risco real”, disse.

Assassinato de miliciano

 

O nome de Bebianno foi parar na lista dos assuntos mais comentados do Twitter. Parte dos seguidores associava a morte do ex-ministro ao assassinato, em fevereiro, do ex-policial Adriano Nóbrega, apontado pelos investigadores como chefe da milícia Escritório do Crime. Ele estava foragido desde janeiro de 2019 e morreu durante uma operação policial no interior da Bahia. A morte dos dois foi citada como uma possível queima de arquivo.

 

Foragido desde janeiro de 2019, Nóbrega morreu durante uma operação policial no interior da Bahia. A trajetória de Nóbrega se cruzou com a da família Bolsonaro algumas vezes. O senador Flávio Bolsonaro (sem partido-RJ) já fez homenagens ao ex-policial militar e empregou em seu gabinete a mãe e a mulher dele.

 

Quando era deputado, Bolsonaro também defendeu na Câmara a atuação do miliciano. As ligações vieram a público após a abertura de investigações sobre o esquema de rachadinha no gabinete de Flávio na Assembleia Legislativa e o assassinato da vereadora Marielle Franco (Psol).

 

Adriano era acusado de chefiar o grupo de assassinos profissionais aos quais estão ligados os principais suspeitos de participação no assassinato de Marielle e seu motorista, Anderson Gomes. Também era suspeito de participar do esquema de apropriação indevida de salários de servidores do gabinete de Flávio na Alerj.

Posted On Domingo, 15 Março 2020 04:49 Escrito por
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