Michel Temer não tem nada a ver com os R$ 10 milhões que a Odebrecht deu ao PMDB por baixo da mesa em 2014, como não teve nada a ver com o rateio do dinheiro
Da Redação
Marcelo Odebrecht, o provedor dos recursos, foi recebido em jantar no Jaburu. Seu funcionário Cláudio Melo Filho acertou a distribuição do dinheiro com o atual chefe da Casa Civil, Eliseu Padilha, amigo do presidente há três décadas. Mas Michel Temer não tem nada a ver com isso, diz o analista político Josias de Souza em seu blog, em tom irônico.
Diz-se que parte do dinheiro (R$ 6 milhões) foi para a campanha de Paulo Skaf, que era o candidato de Temer ao governo de São Paulo em 2014. Informa-se que coube a Padilha fazer a divisão do que sobrou (R$ 4 milhões). Mas Michel Temer não tem nada a ver com isso.
O delator Cláudio Melo diz que um dos endereços onde mandou entregar dinheiro vivo foi o escritório paulistano do advogado José Yunes. Amigo de Temer há 50 anos, Yunes demitiu-se da assessoria especial do Planalto quando a revelação ganhou as manchetes. Mas isso não tem nada a ver com o presidente.
Com um atraso de quase três meses, José Yunes levou os lábios ao trombone para admitir que, a pedido de Eliseu Padilha, recebera em seu escritório um ''pacote'' das mãos do notório doleiro Lúcio Funaro. Entregou a encomenda para alguém cujo nome não se lembra. O barulho de Yunes e o mutismo de Padilha se parecem muito com uma operação para blindar o amigo-presidente. Michel Temer, obviamente, não tem nada a ver com isso também.
As contas da campanha presidencial de 2014 estão apodrecidas. O departamento de propinas da Odebrecht enfiou dinheiro roubado da Petrobras e adjacências dentro da caixa registradora do comitê eleitoral. Michel Temer não tem nada a ver com isso. Nada a ver também com os pagamentos ilegais que a Odebrecht fez ao marqueteiro João Santana no estrangeiro. O vice virou presidente graças aos mesmos 54 milhões de votos dados pelo eleitorado à antecessora deposta. Mas por que diabos Michel Temer teria alguma coisa a ver com isso?
O ‘nada a ver’ é uma adaptação de Michel Temer ao ‘não sabia’ de Lula e Dilma. Permite que ele governe sem que nenhuma revelação abale o seu otimismo. Muita gente acredita em Temer porque sua desculpa tem lógica. O presidente deveria mandar tatuar na testa a frase: “Eu não tenho nada a ver com isso.” Pouparia o papel e a tinta das notas oficiais.
Hoje, Michel Temer está licenciado da presidência do PMDB. Mas comandou a legenda por 15 anos. Se durante todo esse período não teve nada a ver com descalabros como a sociedade que seu partido firmou com o PT para assaltar a Petrobras e converter obras como Belo Monte em usinas de propinas, por que Michel Temer teria algo a ver com qualquer coisa agora? Melhor indultá-lo preventivamente com uma amnésia coletiva fingida. Do contrário, seria necessário concluir que o Brasil está sendo presidido por um tolo.
Investigadores da Lava Jato suspeitam que Vinícius Claret agia como banqueiro clandestino
Com Agências
O doleiro Vinícius Claret, conhecido como Juca Bala, preso na última sexta-feira (3) no Uruguai, era peça-chave do esquema de propina da Odebrecht encabeçado pelo ex-governador do Rio de Janeiro Sérgio Cabral. Conforme revelado nesta segunda-feira (6) pelo "Jornal Nacional", Na porta da loja de pranchas dele, em Punta Del Este, havia um número de telefone, que era usado tanto pelos surfistas quanto pelos demais envolvidos no esquema de corrupção com a empreiteira brasileira. Este mesmo número de telefone fixado na porta estava na agenda da ex-secretária do setor de propinas da Odebrecht, Maria Lucia Tavares. Claret era, segundo os investigadores da força-tarefa, ele era usado pela empreiteira para fazer dinheiro. O envolvimento de Juca Bala foi revelado pelo ex-funcionário dos bancos AOB e sócio do Meinl Bank, em Antíqua, no Caribe, onde a Odebrecht movimentou cerca de 2,6 bilhões de dólares, mais de R$ 8 bilhões. Parte do lucro da empreiteira baiana em obras no exterior era depositado em contas de offshores ligadas à empresa, segundo a reportagem. A partir daí, uma sequência de transferências tentava esconder a origem dos valores, até que chegasse ao Brasil. E esta era a responsabilidade de Claret. O doleiro, mesmo vivendo em Montevidéu, tinha uma estrutura montada no Rio para entrega e retirada de valores. Pelas informações registradas na agenda da ex-secretária da Odebrecht, o endereço dele no Brasil era uma sala no Centro Empresarial Mourisco, em Botafogo, na zona sul do Rio. Os investigadores da Lava Jato suspeitam que ele agia como um banqueiro clandestino.
Da Redação
O fim do recesso de carnaval, nesta segunda-feira (6), traz na política brasileira uma grande expectativa com relação às próximas semanas. Expectativas em torno da abertura de inquéritos que o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, deverá solicitar ao Supremo Tribunal Federal (STF) agita a cúpula do governo. O fim do sigilo das delações de executivos da Odebrecht - que prometem não deixar pedra sobre pedra - também é esperado para as próximas semanas. No Congresso, as votações das propostas do governo - como a reforma da Previdência - também deverão ser um capítulo à parte.
Os vazamentos de trechos de depoimentos de executivos da Odebrecht no âmbito das ações no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) sobre a chapa Dilma-Temer, nas últimas semanas, já foram suficientes para abalar as estruturas do governo. Marcelo Odebrecht e Benedicto Junior deram uma mostra do tamanho do estrago que os depoimentos de executivos da empresa serão capazes de fazer.
RODRIGO JANOT E ODEBRECHT
O procurador-geral da República, Rodrigo Janot, pedirá nos próximos dias ao Supremo Tribunal Federal (STF) a abertura de inquéritos baseados nas delações de 77 executivos e ex-executivos da Odebrecht. Ministros do governo de Michel Temer, senadores do PMDB e do PSDB devem estar na lista.
A expectativa é de que mais de 200 pedidos sejam feitos, com base nas delações. Cerca de 950 depoimentos dos 77 delatores vêm sendo analisados desde dezembro.
VOTAÇÕES NO CONGRESSO
Enquanto isso, o presidente Michel Temer articula para fazer serem aprovadas no Congresso as medidas propostas pelo governo. Para garantir o sucesso nas votações, neste fim de semana Temer decidiu que o deputado André Moura (PSC-SE) será o novo líder do governo no Congresso. O senador Romero Jucá (PMDB-RR), por sua vez, será o novo líder do governo no Senado. Recentemente, Moura - que é aliado do deputado cassado Eduardo Cunha - foi retirado de liderança do governo na Câmara.
A manobra tem por objetivo estancar a ameaça do chamado Centrão de não votar a reforma da Previdência. André Moura dizia ter 50 parlamentares com ele, e chantageava o governo.
Por sua vez, há um grupo de senadores e deputados do partido que não querem Romero Jucá na liderança do Senado.
Com informações do Jornal do Brasil
VEJA
A chapa esquentou: as revelações do empreiteiro Marcelo Odebrecht
Assim que começaram a vazar os primeiros detalhes do depoimento de Marcelo Odebrecht, o mundo político oscilou entre aliviado e tenso. Aliviado, porque logo se divulgou uma leitura segundo a qual fora positivo para o presidente Michel Temer, pois o empreiteiro confirmara o controvertido jantar no Palácio do Jaburu, em maio de 2014, mas garantira que o então vice-presidente não mencionara valores. Tenso, porque não precisou mais de um dia para que se disseminasse a percepção de que as razões para o alívio eram um tanto ligeiras. Odebrecht falou por quatro horas, respondeu a mais de cem perguntas e destravou o pino de uma bomba. VEJA teve acesso aos principais trechos, como a confirmação de que a chapa Dilma-Temer disputou a eleição em 2014 forrada com dinheiro de caixa dois e que o PT recebeu 150 milhões de reais.
As revelações detonam a versão de Dilma Rousseff de que jamais tratou de dinheiro clandestino “com quem quer que seja”. Odebrecht rememorou o encontro com a então presidente durante viagem ao México, no qual lhe avisou que a Lava Jato podia chegar ao dinheiro “contaminado” que vinha de uma off-shore da empreiteira. No caso de Temer, o impacto é menos intenso, mas, por estar no auge do seu poder político, as consequências tendem a ser mais relevantes. Odebrecht deu elementos suficientes para o ministro Herman Benjamim, do Tribunal Superior Eleitoral, pedir a cassação da chapa vitoriosa em 2014. Para complicar, Lúcio Funaro, conhecido operador financeiro que atuava para o PMDB, envia recados ameaçadores ao Palácio. “Se eu quiser, eu destruo o Temer”, já disse ele a mais de um interlocutor. A VEJA, ele confirmou que esteve com José Yunes, amigo de Temer, quando lhe entregou um pacote, e com o próprio presidente. “Já estive com ele (Temer), já falei, mas não me lembro do contexto.”
Temer confirma Jucá como líder do governo no Senado
O presidente Michel Temer decidiu nomear o deputado André Moura (PSC-SE) como novo líder do governo no Congresso e confirmou o senador Romero Jucá (PMDB-RR) na liderança do governo no Senado.
As mudanças ocorrem em meio à transferência do senador Aloysio Nunes Ferreira (PSDB-SP) para o Ministério das Relações Exteriores no lugar de José Serra (PSDB-SP), que pediu demissão no dia 22 de fevereiro alegando problemas de saúde que o impedem de “manter o ritmo de viagens internacionais inerentes à função de chanceler.
Ao escolher Moura para liderar no Congresso, Temer tenta acalmar a turma do ‘centrão’ na Câmara, na tentativa de aprovar a Reforma da Previdência na Casa ainda no primeiro semestre. Segundo o jornal Folha de S.Paulo, citando um assessor de Temer, a escolha tem como objetivo “curar as feridas” da última eleição para a presidência da Câmara, no mês passado, quando o PTB e o PSD acusaram o Planalto de ter trabalhado para reeleger Rodrigo Maia (DEM-RJ).
ÉPOCA
Caixa dois e propina na eleição
O ministro Herman Benjamin já tinha deixado a sala do Tribunal Regional Federal no Rio de Janeiro quando a defesa do senador Aécio Neves, do PSDB de Minas Gerais, pediu que o nome do parlamentar fosse suprimido das degravações. O advogado do partido, José Eduardo Alckmin, alegou que o relator havia impedido um dos depoentes, Benedicto Barbosa Silva Júnior, de continuar seu relato, no qual mencionou o pagamento de caixa dois para o tucano, à época candidato à Presidência da República. Benjamin interrompeu o delator porque o caso apura se houve abuso de poder político e econômico pela chapa Dilma Rousseff e Michel Temer na eleição de 2014. Aécio, portanto, não era objeto da apuração. Na ausência de Benjamin, o juiz auxiliar Bruno Lorencini disse que não era possível retirar a menção a Aécio das gravações. Uma resposta definitiva ficou de ser dada pelo ministro. Naquela tarde, Benjamin ouvira, por mais de três horas, dois dos 77 delatores da Odebrecht: Benedicto Júnior, ex-presidente da Odebrecht Infraestrutura, e Fernando Cunha Reis, ex-presidente da Odebrecht Ambiental. No dia anterior, prestara depoimento o patrão deles, o empreiteiro Marcelo Odebrecht, todos como parte de uma ação tocada no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) que investiga irregularidades na campanha que elegeu Dilma e Temer.
Os três depoimentos deixaram claro mais uma vez o enorme valor da delação da Odebrecht na Operação Lava Jato para clarear também o subterrâneo da campanha eleitoral de 2014. Marcelo Odebrecht afirmou ter dado R$ 300 milhões ao PT entre 2008 e 2014. Só na disputa de 2014 injetou algo como R$ 150 milhões – parte por fora, no caixa dois. Confirmou que uma parte foi depositada em contas na Suíça para pagar serviços prestados ao PT pelo marqueteiro João Santana, que já passou uma temporada preso em Curitiba. Durante quatro horas, Marcelo afirmou, entre outras coisas, que Dilma sabia do pagamento de dinheiro ilegal a sua campanha. Ele disse que tratava de repasses ao PT com dois ex-ministros da Fazenda, Antonio Palocci e Guido Mantega. Em nota, Dilma disse que Marcelo Odebrecht mente.
UNIDOS
Os depoimentos da semana passada aniquiliam Dilma, mas ela já está fora do jogo. O potencial destrutivo recai, portanto, sobre Michel Temer. Marcelo Odebrecht confirmou que jantou com Temer em 2014 no Palácio do Jaburu para tratar de doações de campanha. Evitou, no entanto, comprometer o presidente. Disse que um de seus executivos, Cláudio Melo Filho, ex-diretor de Relações Institucionais, havia acordado antes com o hoje ministro da Casa Civil, Eliseu Padilha, o pagamento de R$ 10 milhões para a campanha do PMDB. Disse que nenhum valor foi tratado diretamente com Temer e deixou no ar qual o total repassado.
Em uma audiência feita para que os executivos falassem sobre a chapa Dilma-Temer, sobraram estilhaços até para Aécio Neves, presidente do PSDB. Logo após a campanha de 2014, quando iniciou a ação judicial contra a chapa PT-PMDB, o PSDB jamais imaginava que a Lava Jato chegaria aos segredos da Odebrecht. De acordo com Marcelo Odebrecht, Aécio o procurou três vezes ao longo da campanha e pediu R$ 15 milhões para o partido. Marcelo não disse como seria a contribuição. Disse que inicialmente negou o dinheiro, mas depois repassou a tarefa a Sérgio Neves, executivo da empresa em Minas Gerais. O valor bate com o que foi registrado numa das planilhas feitas pela empreiteira apreendidas pela Polícia Federal. A defesa do tucano nega qualquer irregularidade.
No dia seguinte ao depoimento de Marcelo Odebrecht, Temer discutiu o assunto com alguns de seus conselheiros no Palácio do Planalto. Sem rodeios, admitiu aos aliados que o trecho do relato do presidente da empreiteira que o cita era verdadeiro. Disse que ambos, de fato, se reuniram no Palácio do Jaburu em 2014 em um contexto claro de captação de doações eleitorais para o PMDB na disputa daquele ano, mas ponderou que a conversa se deu de maneira genérica, sem menção específica de valores ou de origem do dinheiro. Na fachada, o Palácio do Planalto fingiu dar de ombros diante da fala do empreiteiro. No conforto dos bastidores, auxiliares de Temer admitem que o depoimento de Marcelo Odebrecht é absolutamente arrasador, porque estabelece as ligações entre o financiamento da campanha presidencial e favores do governo à empresa. O empreiteiro disse que R$ 50 milhões dados à chapa presidencial eram o pagamento pela edição da Medida Provisória do Refis, enviada ao Congresso em 2009.
ISTOÉ
Odebrecht confirma propina de Dilma
EDIÇÃO Nº 2461 DE ISTOÉ DE 15 DE FEVEREIRO DE 2017 Em reportagem de capa sob o título “50 milhões em propinas para a campanha de Dilma”, ISTOÉ antecipou delação de Marcelo Odebrecht a integrantes da Lava Jato. Matéria contou como o empreiteiro arquitetou, junto com o ex-ministro da Fazenda, Guido Mantega, a pedido de Dilma, o financiamento da campanha da ex-presidente. Texto já dizia que dinheiro oriundo do departamento de propina da Odebrecht foi transferido ao caixa dois da petista numa negociata envolvendo a Braskem, em troca de uma MP que garantia benefícios fiscais à petroquímica
EDIÇÃO Nº 2461 DE ISTOÉ DE 15 DE FEVEREIRO DE 2017 Em reportagem de capa sob o título “50 milhões em propinas para a campanha de Dilma”, ISTOÉ antecipou delação de Marcelo Odebrecht a integrantes da Lava Jato. Matéria contou como o empreiteiro arquitetou, junto com o ex-ministro da Fazenda, Guido Mantega, a pedido de Dilma, o financiamento da campanha da ex-presidente. Texto já dizia que dinheiro oriundo do departamento de propina da Odebrecht foi transferido ao caixa dois da petista numa negociata envolvendo a Braskem, em troca de uma MP que garantia benefícios fiscais à petroquímica
Na quarta-feira 1º, Marcelo Odebrecht ficou frente a frente com autoridades do Tribunal Superior Eleitoral. Em depoimento de quatro horas de duração realizado em Curitiba, o empresário, herdeiro da maior empreiteira do País, discorreu sobre as doações de campanha e a relação quase umbilical da empresa, e dele próprio, com partidos e políticos de altíssimo calibre. Suas revelações envolveram um leque de personalidades políticas, mas principalmente a ex-presidente Dilma Rousseff. Ao ministro Herman Benjamin, Odebrecht foi taxativo. Afirmou que pagou R$ 50 milhões em propinas para a campanha de Dilma como contrapartida à votação de uma medida provisória que beneficiou a Braskem, petroquímica controlada pela Odebrecht, disse que a ex-presidente petista tinha total conhecimento dos pagamentos de caixa dois, inclusive no exterior, e ratificou ter sido ela quem indicou o ex-ministro da Fazenda, Guido Mantega, como intermediário dos acertos espúrios, em substituição ao também ex-auxiliar Antonio Palocci. Embora de caráter irrefutável, e obviamente gravíssimo, o conteúdo do depoimento de Odebrecht ao TSE não constitui uma novidade para o leitor de ISTOÉ. Em reportagem de capa sob o título “50 milhões em propinas para a campanha de Dilma”, de 15 de fevereiro deste ano, a revista lançava luz sobre a delação de Marcelo Odebrecht aos integrantes da força-tarefa da Lava Jato e antecipava o que o empreiteiro reitera agora a respeito das negociatas envolvendo a campanha da petista. Na ocasião, em nota virulenta, embebida de cólera, Dilma dizia que a revista praticava “jornalismo de guerra” e acusava a publicação de insinuar, “de maneira vil e irresponsável”, sua participação em atos suspeitos durante a campanha presidencial, o que ela negava.
Na semana passada, no conveniente discurso de Dilma, típico de quem tem culpa no cartório, quem virou irresponsável e “mentiroso” foi Marcelo Odebrecht. Não foi o que o empresário deixou transparecer em seu relato. Com fartura de detalhes, ele contou que o repasse via caixa dois para as campanhas de Dilma Rousseff era regra e os pagamentos registrados na Justiça Eleitoral, uma exceção. Marcelo contabilizou um total de R$ 150 milhões repassados ao PT e calculou que, de cada R$ 5 pagos, R$ 4 não eram registrados. Desses valores, R$ 50 milhões seriam propinas referentes à “compra” de uma medida provisória para a Braskem em 2009: a MP 470, que garantiu benefícios tributários à empresa, braço petroquímico da Odebrecht. A negociação, antecipada com exclusividade por ISTOÉ, começou ainda sob o governo Luiz Inácio Lula da Silva entre Marcelo e o ex-ministro da Fazenda Guido Mantega. Desta vez, o empreiteiro acrescentou um detalhe: apesar de a negociação para o pagamento ter ocorrido por volta de 2010, o PT não precisou usar imediatamente esses recursos. Guardou os R$ 50 milhões para a campanha seguinte, a de 2014.
Marcelo era o interlocutor da Odebrecht com a cúpula do governo petista. Avocava para si as tarefas mais importantes: fazia os acertos e dava o aval para os principais pagamentos de propina. Mas, a despeito de sua importância na hierarquia da República, surpreendeu aos participantes da audiência o tom humilde adotado por Marcelo, conhecido por sua postura altiva e orgulhosa. Em um desabafo recheado de ironia, ele afirmou: “Eu não era o dono do governo, eu era o otário do governo. Eu era o bobo da corte do governo”.
Seu depoimento finalmente esclareceu as suspeitas da Polícia Federal sobre quem eram “italiano” e “Pós Itália”. Segundo Marcelo, seu primeiro interlocutor no governo sobre os repasses era o italiano: o ex-ministro petista Antonio Palocci. Depois, por determinação de Dilma, o assunto passou a ser tratado pelo sucessor: Guido Mantega, ou “Pós Itália”, segundo as anotações apreendidas pela PF. Para ambos, entre 2008 e 2014, a Odebrecht disponibilizou R$ 300 milhões.
Além de Palocci e Mantega, o empresário contou que também tratava diretamente com o marqueteiro João Santana sobre os pagamentos ilícitos. Segundo ele, repasses via caixa dois tinham como destino as contas de João Santana no exterior, como remuneração aos serviços prestados por ele à campanha petista. Detalhe importante: segundo Marcelo Odebrecht, Dilma tinha conhecimento dos pagamentos a Santana no exterior. A maior parte dos repasses era em espécie. O marqueteiro aparecia com o codinome “Feira” nas planilhas da Odebrecht. O fato, em si, não representa novidade para os investigadores. A Lava Jato já havia detectado ao menos US$ 13 milhões em transferências de contas no exterior da Odebrecht a uma das contas ligadas a João Santana na Suíça.
Mas um episódio contado por Marcelo chamou atenção e serviu como a demonstração cabal do envolvimento de Dilma Rousseff. Trata-se de um encontro com ela no México no qual o empresário lhe avisou que os pagamentos feitos ao marqueteiro estariam “contaminados” porque partiram de contas que a Odebrecht usava para pagar propina. Ou seja: Dilma sabia do que estava acontecendo, ao contrário do que sempre negou com veemência.
CONEXÃO CERVEJA
Outra negociata antecipada em reportagem de capa de ISTOÉ, de agosto de 2015, foi confirmada por Marcelo Odebrecht em seu depoimento ao TSE. A chamada “Conexão-Cerveja”. Ao detalhar o esquema de caixa dois petista, o empresário afirmou que a empreiteira terceirizou repasses por meio da cervejaria Itaipava, do grupo Petrópolis. Em 2014, a campanha de Dilma havia recebido R$ 17,5 milhões de maneira oficial somente da cervejaria. Também à Justiça Eleitoral, Benedicto Junior, ex-presidente da Odebrecht Infraestrutura, atestou que a doação da Itaipava era “caixa dois travestido de caixa um”.
Um dos articuladores do esquema Itaipava, o ex-presidente Lula não atravessou incólume o depoimento, embora o ex-presidente não fosse objeto da ação. Ao TSE, Marcelo disse que a Odebrecht detinha forte influência no governo, principalmente depois que o PT chegou ao Palácio do Planalto, em 2003, ano em que Lula assumiu seu primeiro mandato. Marcelo Odebrecht acrescentou ainda que a empreiteira auxiliou campanhas no exterior nas quais o partido de Lula e Dilma tinha interesse. Os repasses ocorreram fora do País.
O depoimento de Marcelo Odebrecht ocorreu por determinação do ministro do TSE Herman Benjamin para fundamentar a ação que aponta irregularidades na chapa de Dilma Rousseff e seu vice Michel Temer em 2014. Por isso mesmo, o empresário respondeu a perguntas sobre um jantar que participou no Palácio do Jaburu com o então vice-presidente Michel Temer em 2014, no qual teria havido o acerto de doação de R$ 10 milhões para o PMDB. Suas declarações, porém, isentaram o presidente Temer. Marcelo disse que não tratou de valores com o peemedebista e afirmou que a doação havia sido discutida pelo diretor de relações institucionais da Odebrecht, Cláudio Melo Filho, com um intermediário de Temer, o hoje ministro da Casa Civil, Eliseu Padilha. Segundo Marcelo, o encontro com Temer foi apenas um “shake hands” (apertar de mãos), uma confraternização, e ele não forneceu maiores detalhes sobre a operacionalização do pagamento. Marcelo Odebrecht também foi instado a comentar sobre eventuais pagamentos às campanhas de Aécio Neves (PSDB) e de Eduardo Campos/Marina Silva (PSB) em 2014. Mais uma vez, o empreiteiro não se alongou. Limitou-se a dizer, por exemplo, que Aécio pediu R$ 15 milhões para a campanha. Após ser preso na Lava Jato, contudo, Odebrecht disse ter sido informado que o aporte financeiro acabou não se concretizando. Em seu relato, o empresário ainda afirmou só se recordar de doações oficiais para o tucano, ao contrário do que ocorreu em relação à campanha de Dilma.
Não é a primeira vez que a situação de Dilma Rousseff se complica no TSE. Peritos da corte eleitoral chegaram à conclusão de que três gráficas que receberam pagamento do PT não haviam prestado qualquer tipo de serviço à campanha, conforme antecipou a edição de ISTOÉ do dia 8 de julho de 2016. O caso está sendo investigado.
Para o Ministério Público Eleitoral, a campanha da petista lavou dinheiro nas gráficas VTPB, Focal e Red Seg. Juntas, elas receberam uma fortuna da campanha de Dilma em 2014: R$ 52 milhões. Aos poucos, a ex-presidente petista é destronada do pedestal que ela mesma criou.
Com as revelações das 78 delações da Odebrecht, muitos políticos tocantinenses podem estar fora do páreo na eleições de 2018
Por Edson Rodrigues
Finalmente a “hora H” chegou para muitos políticos Brasil Afora, e o Tocantins incluído . são nada menos que 78 executivos ou ex-executivos da Odebrecht abrindo o bico para a Justiça, entregando tudo o que fizeram de pouco ou nada republicano nos últimos 18 anos de governo, operações tocantinenses inclusas.
O ex-diretor da empreiteira no Tocantins, Mário Amato, está entre os delatores e pode rever a podridão e a patifaria que dominaram cenário político brasileiro e tocantinense por muito tempo.
Fontes palacianas e brasilienses já nos adiantem que há muita ci a vir à tona, mas tudo, na Justiça, precisa de confirmação, de provas, logo, não podemos nos adiantar às investigações e aos depoimentos já prestados.
Porém, podemos adiantar que “a casa caiu” para diversos homens públicos tocantinenses, entre políticos, autoridades e outras lideranças, envolvendo os três poderes – Executivo, Legislativo e Judiciário – principalmente os envolvidos no “sepultamento” da CPI que investigaria, justamente, a atuação da empreiteira na compra da concessionária do tratamento de água e esgoto do Tocantins, a Saneatins, num passado bem recente.
Nesse caso houve um “rastro de boi”, “cheiro de boi”, “mastigado de boi”, pata de bois”, “couro de boi”, “chifre de boi”, mas nada sobre o “boi” foi comprovado. Agora é esperar pelo amanhecer, pelo clarear, para se ter o verdadeiro “rastro do boi” e, finalmente, dar nome ao “boi”, ou, definitivamente, matar o “boi”, caso ele não tenha, efetivamente, pisado em terras tocantinenses.
QUE A VERDADE VENHA À TONA
Por enquanto, temos que esperar, no Tocantins, o resultado de todas as especulações que já foram feitas a respeito das possíveis ligações do caso. A população precisa saber se há ou não ligação entre ao delação que abala o País e o seu Estado natal.
Em outras palavras, o Tocantins e o Brasil, têm que ser outros em 2018, em que cada eleitor vai eleger de deputado estadual a presidente da República, passando por deputado federal e senador. Com tantas idas e vindas da Justiça, é preciso que o eleitor esteja atento ao seu voto, a quem vai dar sua chancela e em quem vai realmente confiar. Afinal, os fichas sujas estarão à espreita, de boca aberta, esperando que cada voto descuidado caia em sua goela, sem o menor esforço, enquanto os candidatos honestos esperarão pelos votos conscientes e, definitivamente, corretos, depois de uma análise rígida e consciente.
Resta saber quem vai ser maioria, quem será mais considerado e quem receberá mais atenção.
Com a palavra o eleitor tocantinense!