Após o acordo costurado para o presidente Lula (PT) ceder dois ministérios ao PP e Republicanos, o presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), disse em entrevista à Folha de S.Paulo que as bancadas desses partidos na Casa agora fazem parte da base de apoio ao governo.

 

POR JULIA CHAIB, THIAGO RESENDE E CAMILA MATTOSO

 

Lira ainda afirmou que a Caixa Econômica está nas negociações com o governo e reconheceu que as indicações políticas para as 12 vice-presidências do banco passarão por ele.

 

"Há uma aproximação de partidos de centro que não faziam parte da base do governo para essa adesão. É claro que, quando um partido indica um ministro que era líder de um partido na Câmara [caso de André Fufuca, do PP, que virou ministro do Esporte], a tendência natural é que esse partido passe a ser base de apoio ao governo na Câmara dos Deputados, como Republicanos, como outros partidos", disse.

 

Lira afirmou que o PP na Câmara passou a integrar a base de Lula, apesar de o presidente do partido, o senador piauiense Ciro Nogueira, defender a oposição ao governo.

 

"Estamos tratando de base de apoio. Não estamos tratando de outros tipos de projetos [políticos], por enquanto. Não quer dizer que [isso] não possa avançar, mas por enquanto nós estamos falando de apoio político no Congresso."

 

No entanto, Lira afirmou que não é possível garantir que todos os 49 deputados do PP votem conforme os interesses do Palácio do Planalto. "Não [é possível], porque nenhum partido dá todos os votos. Mas eu acredito em uma base tranquila".

 

Com a entrada do PP e Republicanos no primeiro escalão governo, o presidente da Câmara acredita que a base de apoio ao petista na Casa fique entre 340 e 350 votos, suficiente para aprovação de PEC (proposta de emenda à Constituição).

 

"O acordo foi mais amplo, envolve outros partidos, envolve outras composições, tem parte do PL que quer fazer parte e já vota com o governo", explicou ele.

 

Lira nega que as negociações que ocorreram nos últimos meses tenham caráter de fisiologismo.

 

"Eu sempre combati isso [presidencialismo de coalizão]. Mas essa é a maneira escolhida pelo governo que foi eleito democraticamente. O presidente Lula escolheu essa maneira de formar sua base, trazendo os partidos para ocupar espaço na Esplanada dos Ministérios".

 

Ele afirmou que esse acordo político com PP e Republicanos tem o mesmo fundamento que o acerto do início do governo, que deu ministérios para PSD, União Brasil e MDB.

 

"Não há diferença entre PP, Republicanos, PSD, União Brasil, enfim, todos esses partidos que não fizeram parte da base de apoio da eleição do presidente Lula. [Alguns] aderiram num primeiro momento e outros aderiram agora, numa composição."

 

Lira negou que haja ruídos por causa da demora na conclusão da reforma ministerial ou críticas de parlamentares à condução do processo pelo ministro Alexandre Padilha (Relações Institucionais).

 

"Eu não ouvi isso. Na realidade, não é o ministro Padilha quem dá o ok. Ele serve de interlocutor. O tempo é o tempo do governo. Aquela cadeira não é fácil."

 

O presidente da Câmara deixou claro, porém, que ainda há parte do acordo a ser cumprido.

 

Lira afirmou que a Caixa terá indicações políticas e reconheceu que as nomeações passarão por ele. Mas a ideia é contemplar não só o PP, e sim mais partidos do centrão, grupo político ligado a Lira, como União Brasil, Republicanos e mesmo parte do PL.

 

"Ali as coisas têm que ser tratadas com muita transparência e vão ser tratadas com muita clareza. E vão ter, claro, indicações políticas que não serão criminalizadas por isso. A turma terá responsabilidade. A exoneração é o primeiro convite para quem não andar corretamente", disse.

 

Outra parte do acordo que ainda falta ser efetivado é que o Republicanos ficará com os cargos da Funasa (Fundação Nacional de Saúde), que foi recriada por decisão do Congresso.

 

Lira disse que, a partir do próximo ano, o modelo de distribuição de emendas parlamentares terá que mudar, devolvendo ao Congresso um poder maior na gestão desses recursos e ampliando as emendas de bancada ou de comissão.

Depois que o STF (Supremo Tribunal Federal) acabou com as emendas de relator, que eram usadas como moeda de troca em negociações políticas na gestão Jair Bolsonaro (PL), houve um acordo entre Lula e a cúpula do Congresso para que parte do dinheiro das extintas emendas ficasse no caixa de ministérios. Mas com a promessa que atenderiam a pedidos de parlamentares.

 

Esse sistema não tem funcionado, na avaliação de parlamentares. Houve ajustes, de acordo com Lira, e as liberações começaram a ocorrer, mas ainda é necessário rever o modelo.

 

"Penso que nós temos que evoluir, seja com emendas de bancada obrigatórias, emendas de comissão obrigatórias, ou as individuais para que a política pública siga para o que ela se destina. Eu sempre defendi emenda parlamentar e continuarei defendendo, porque ninguém conhece mais o Brasil do que o parlamentar."

 

Segundo Lira, está superado o episódio em que o ministro Fernando Haddad (Fazenda) disse que a Câmara está com muito poder. Na entrevista, o presidente da Câmara não descartou a possibilidade de o plano de déficit zero, de Haddad, ser apoiado pelos deputados. "Se tomarmos as medidas, sim [é factível]."

 

Ele também afirmou que mantém uma boa relação com Padilha, apesar dos percalços da articulação política do governo.

 

Na reta final de sua gestão à frente da Câmara, o presidente quer dar prioridades para projetos de economia verde.

 

Além disso, ele pretende concluir a votação da PEC da Reforma Tributária assim que o texto sair do Senado. A previsão para isso, segundo ele, é outubro. Lira prevê ainda a aprovação do projeto de lei das offshores, após negociação com o governo que mudou alguns pontos, como a questão da variação cambial.

 

"O acordo que foi feito com o governo, depois da não votação da medida provisória e do reenvio da nova medida provisória de onshore com o novo projeto de offshore, é que haverá, a princípio, taxação cambial e variação cambial. Haverá uma tributação de 15% a 22%, a depender do tempo das aplicações dos fundos. Prazo de investimento mais curto, mais imposto, mais longo, menos imposto."

 

O presidente da Câmara afirmou também que a medida provisória que permite ao governo federal tributar, a partir de 2024, o aumento de lucro gerado por incentivos fiscais de ICMS (imposto estadual) está enfrentando resistência e que conversará com Haddad a respeito do tema.

 

"Esse tá tendo muita grita. Quando está tendo muita grita, tanto aqui em Brasília quanto nos estados e nos setores produtivos, eles reclamam de que na realidade a medida provisória, ela veio além da decisão do STJ (Superior Tribunal de Justiça)", diz.

 

"Criou-se uma nova legislação ali. E isso acaba com os créditos presumidos, alguns incentivos lá em cima, principalmente no Nordeste muito duramente."

 

Posted On Segunda, 18 Setembro 2023 06:59 Escrito por O Paralelo 13

Lula discursou neste sábado (16/9) em Havana, na Cúpula do G77 + China. Grupo reúne 134 países e é o principal espaço para coordenação multilateral das nações em desenvolvimento no sistema ONU

 

Da Secom - PR

 

Ao discursar neste sábado (16/9) em Havana, na Cúpula de Chefes de Estado e Governo do G77 + China, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva agradeceu a hospitalidade, declarou seu apoio ao país anfitrião e condenou o embargo econômico imposto a Cuba pelos Estados Unidos, bem como a entrada da ilha na lista dos países que patrocinam o terrorismo.

 

"Precisamos reforçar nossas reivindicações à luz da Quarta Revolução Industrial. Há duas grandes transformações em curso. Elas não podem ser moldadas por um punhado de economias ricas, reeditando a relação de dependência entre centro e periferia. A primeira é a revolução digital. A segunda grande mudança em curso no mundo é a transição energética”

 

“Cuba tem sido defensora de uma governança global mais justa. E até hoje é vítima de um embargo econômico ilegal. O Brasil é contra qualquer medida coercitiva de caráter unilateral. Rechaçamos a inclusão de Cuba na lista de Estados patrocinadores do terrorismo”, afirmou o líder brasileiro.

 

Ao longo de sua fala, Lula destacou a abrangência e a diversidade do G77 e ressaltou temas caros para o Brasil e o mundo, como revolução digital, transição energética, industrialização sustentável, ao mesmo tempo em que voltou a cobrar dos países ricos o financiamento prometido para que as nações em desenvolvimento possam trabalhar com mais eficiência no combate às mudanças climáticas.

 

“A emergência climática nos impõe novos imperativos, mas a transição justa traz oportunidades. Com ela, podemos ter ar mais limpo, rios sem contaminação, cidades mais acolhedoras, comida de qualidade na mesa, empregos dignos e crianças mais saudáveis”, frisou Lula.

 

Ele lembrou que o peso da atuação dos países ricos nas mudanças climáticas em curso no planeta não é o mesmo de várias outras nações em desenvolvimento.

 

“Não temos a mesma dívida histórica dos países ricos pelo aquecimento global. O princípio das responsabilidades comuns, mas diferenciadas permanece válido. É por isso que o financiamento climático tem de ser assegurado a todos os países em desenvolvimento, segundo suas necessidades e prioridades. No caminho entre a COP28, em Dubai, e a COP30, em Belém, será necessário insistir na implementação dos compromissos nunca cumpridos pelos países ricos”, destacou o presidente.

 

G77 + CHINA – Considerado o principal instrumento de coordenação multilateral dos países em desenvolvimento dentro do sistema das Nações Unidas, o G77 + China foi fundado em 1964, quando 77 nações do então chamado ‘terceiro mundo’ decidiram se unir para poder defender posições em comum diante das nações industrializadas.

 

O G77 + China é o maior bloco de países em desenvolvimento dentro da ONU e tem hoje 134 países-membros, após a entrada do Sudão do Sul em 2015, mas mantém o nome original por tradição histórica.

 

Logo na abertura de seu discurso, Lula lembrou que neste ano já esteve presente em diversas cúpulas internacionais, mas exaltou o G77 + China, elevando-o a uma posição de destaque.

 

“Desde que assumi meu novo mandato, estive em diversos foros com a presença de países em desenvolvimento, como a CELAC, o BRICS e o G20. Mas nenhum desses espaços conta com a abrangência e a diversidade do G77. Nosso grupo corresponde a 79% da população mundial e 49% do PIB global em paridade do poder de compra. Há quase sessenta anos, tem sido um vetor de importantes mudanças nas instituições multilaterais. O G77 foi fundamental para expor as anomalias do comércio global e para defender a construção de uma Nova Ordem Econômica Internacional. Infelizmente, muitas das nossas demandas nunca foram atendidas”, declarou Lula.

 

QUARTA REVOLUÇÃO INDUSTRIAL – Ao se referir às mudanças experimentadas pela humanidade, principalmente neste terceiro milênio, o presidente brasileiro classificou o período atual como a Quarta Revolução Industrial. Nesse sentido, ele ressaltou que dois tópicos, em especial, merecem ser trabalhados com muita atenção. Segundo Lula, nesse processo, os países ricos não podem ditar as regras sozinhos.

 

“Precisamos reforçar nossas reivindicações à luz da Quarta Revolução Industrial. Há duas grandes transformações em curso. Elas não podem ser moldadas por um punhado de economias ricas, reeditando a relação de dependência entre centro e periferia. A primeira é a revolução digital. A segunda grande mudança em curso no mundo é a transição energética”, afirmou Lula.

 

Sobre a revolução digital, o líder brasileiro disse que os países em desenvolvimento precisam estar mais inseridos neste contexto. “Avanços como a computação em rede, a inteligência artificial, a biotecnologia de ponta e a digitalização trazem possibilidades que, há poucas décadas, sequer imaginávamos. A ideia de estabelecer um painel científico para a inteligência artificial é bem-vinda, mas é preciso assegurar a participação de especialistas do mundo em desenvolvimento.”

 

AÇÃO CONJUNTA – Ao final de seu discurso, Lula desejou boa sorte a Uganda, que assumirá o comando do G77 + China no ano que vem, e conclamou que o grupo trabalhe ainda mais em conjunto para que os objetivos dos países em desenvolvimento possam ser alcançados.

 

“Os países do Sul têm plenas condições de ocupar a vanguarda da ciência, tecnologia e inovação. Por isso, precisamos voltar a agir juntos, porque juntos seremos fortes como nós já fizemos no passado”, encerrou o presidente brasileiro.

 

Países que integram o G77+China (* fundador do grupo)

 

América do Sul e Caribe (32): Antígua e Barbuda, Argentina*, Bahamas, Barbados, Belize, Bolívia*, Brasil*, Chile*, Colômbia*, Costa Rica*, Cuba, Dominica, Equador*, El Salvador*, Granada, Guatemala*, Guiana, Haiti*, Honduras*, Jamaica*, Nicarágua*, Panamá*, Paraguai*, Peru*, República Dominicana*, Santa Lúcia, São Cristóvão e Névis, São Vicente e Granadinas, Suriname, Trinidad e Tobago*, Uruguai*, Venezuela*

 

Ásia (38): Afeganistão*, Arábia Saudita*, Azerbaijão, Bangladesh*, Bahrein, Brunei, Butão, Camboja*, Catar, China, Coreia do Norte, Emirados Árabes, Filipinas*, Fiji, Iêmen*, Índia*, Indonésia*, Irã*, Iraque*, Jordânia*, Kuwait*, Laos*, Líbano*, Malásia*, Maldivas, Mianmar*, Mongólia, Nepal*, Omã, Palestina, Paquistão*, Sri Lanka*, Síria*, Tadjiquistão, Tailândia*, Timor Leste, Turcomenistão, Vietnã*

 

África (55): África do Sul, Angola, Argélia*, Benim*, Botsuana, Burkina Faso*, Burundi*, Cabo Verde, Camarões*, Chade*, Comores, Congo*, Costa do Marfim, Djibouti, Egito*, Eritreia, Eswatini, Etiópia*, Gabão*, Gâmbia, Gana*, Guiné*, Guiné-Bissau, Guiné Equatorial, Ilhas Maurício, Lesoto, Libéria*, Líbia*, Madagascar*, Malaui, Mali*, Mauritânia*, Marrocos*, Moçambique, Namíbia, Niger*, Nigéria*, Quênia*, República Centro Africana*, República Democrática do Congo*, Ruanda*, São Tomé e Príncipe, Senegal*, Serra Leoa*, Seychelles, Singapura, Somália*, Sudão*, Sudão do Sul, Tanzânia*, Togo*, Tunísia*, Uganda*, Zâmbia, Zimbábue

 

Oceania (9): Ilhas Marshall, Ilhas Salomão, Kiribati, Micronésia, Nauru, Papua Nova Guiné, Samoa, Tonga, Vanuatu

 

Fonte: Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República

 

 

 

Posted On Domingo, 17 Setembro 2023 04:55 Escrito por O Paralelo 13

Cidades que criaram regimes próprios de Previdência para seus servidores já recolhem metade da alíquota exigida pelo Regime Geral

 

  Agência Câmara

 

 

A Comissão de Previdência, Assistência Social, Infância, Adolescência e Família da Câmara dos Deputados aprovou projeto que reduz em 50% a contribuição ao Regime Geral de Previdência Social (RGPS) devida por servidores de prefeituras, incluídos os de autarquias e fundações municipais.

 

Segundo o Anuário Estatístico da Previdência Social, até dezembro de 2021, apenas 2.144 prefeituras haviam adotado Regimes Próprios de Previdência Social (RPPS). Desses, aproximadamente metade instituiu alíquota igual ou inferior a 14%.

 

De outro lado, cerca de 3.500 municípios brasileiros não possuem regimes próprios de previdência para seus servidores, que recolhem ao RGPS, em média, 22% a título de contribuição previdenciária sobre a folha salarial.

 

O texto aprovado é o substitutivo do relator, deputado Romero Rodrigues (Pode-PB), ao Projeto de Lei 6110/13, do ex-deputado José Nunes (BA), e apensados.

 

Rodrigues ressaltou que a ideia do projeto – substituir a atual alíquota de 22% sobre os salários por uma alíquota de 2% sobre a receita corrente líquida (RCL) do município – ficou prejudicada com a promulgação da Emenda Constitucional 103 (Reforma da Previdência), que passou a proibir bases de cálculo diferenciadas para a contribuição, salvo exceções.

 

Por isso, o relator propôs um novo texto. “Julgamos adequada a redução em 50% na alíquota da folha de salários, como previsto nos projetos apensados, preservando a atual alíquota destinada ao financiamento dos benefícios por incapacidade (RAT).” As alíquotas relacionadas à incapacidade variam entre 1% e 3%.

 

A proposta altera a Lei 8.212/91.

 

Tramitação

 

O projeto tramita em caráter conclusivo será ainda analisada pelas comissões de Finanças e Tributação; e de Constituição e Justiça e de Cidadania.

 

Fonte: Agência Câmara de Notícias

Posted On Sábado, 16 Setembro 2023 07:11 Escrito por O Paralelo 13

Correção vai beneficiar ao menos 1,1 milhão; auxílio-alimentação também foi ampliado, passando de R$ 458 para R$ 658 mensais

Por Augusto Fernandes

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) sancionou a lei que concede reajuste salarial de 9% dos servidores públicos federais, aposentados e pensionistas. O aumento também vale para cargos em comissão, funções de confiança e funções comissionadas. O reajuste está em vigor desde maio, quando o presidente assinou uma medida provisória para conceder o aumento. O texto, no entanto, precisava ser aprovado pelo Congresso Nacional para não perder a validade. A sanção foi publicada nesta sexta-feira (15) no Diário Oficial da União.

 

O auxílio-alimentação também aumentou. O reajuste foi de 43%, passando de R$ 458 para R$ 658 mensais. O reajuste proposto pelo governo federal resultou de acordo entre o Executivo e mais de 100 entidades representativas dos servidores na chamada mesa de negociação permanente, que estava suspensa desde 2016 e foi retomada neste ano.

 

Segundo o governo, a correção vai beneficiar ao menos 1,1 milhão de pessoas, sendo 520 mil servidores civis ativos, 13,6 mil empregados públicos, 450 mil aposentados e 167 mil pensionistas. O custo do reajuste é de R$ 9,62 bilhões para 2023 e de R$ 13,82 bilhões anualizados a partir do próximo ano.

 

O texto precisou ser sancionado por Lula porque passou por alterações no Parlamento. Uma das mudanças introduzidas no texto cria mais uma diretoria na Companhia de Desenvolvimento do Vale do São Francisco (Codevasf), que passa de três para quatro.

 

Durante a tramitação do texto na Câmara dos Deputados, a relatora da proposta, Alice Portugal (PCdoB-BA), propôs a ampliação da margem consignável de servidores federais, de um total de 35% para 45% do salário para contratar empréstimos.

 

A ideia da deputada era aumentar a margem para opção livre, pois 10% estão obrigatoriamente destinados à utilização de cartão de crédito consignado e cartão de benefícios consignado.

 

No entanto, a Câmara não aceitou a proposta. O tema será analisado em outro projeto de lei a ser enviado pelo Executivo.

 

 

 

Posted On Sexta, 15 Setembro 2023 14:48 Escrito por O Paralelo 13

Há muito Brasília não vivia um clima de suspense parecido com o que se viu nos últimos dias — mais precisamente desde sábado 9, quando o tenente-coronel Mauro Cid foi libertado após assinar um acordo de colaboração premiada.

 

 

Por Marcela Mattos -revista Veja

 

 

Ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro, ele foi braço direito do ex-presidente durante os quatro anos de mandato. Nada — ou quase nada — acontecia no terceiro andar do Palácio do Planalto sem o conhecimento do militar, que acompanhava reuniões, viagens, atendia as ligações do presidente, agendava encontros e cuidava das contas pessoais da família. Com essa miríade de atribuições sensíveis, Cid viu, ouviu e compartilhou das mais íntimas situações. O coronel estava preso preventivamente havia quatro meses. Dias antes de ser solto, ele prestou depoimentos à Polícia Federal e confessou sua participação em dois casos investigados pelo Supremo Tribunal Federal — a falsificação de cartões de vacinação e a tentativa de vender joias, relógios, canetas e outros presentes recebidos por Bolsonaro durante o governo.

 

 

 

    “O presidente estava preocupado com a vida financeira. A venda pode ter sido imoral? Pode. Mas a gente achava que não era ilegal”

 

No primeiro caso, o dos cartões de vacina, Cid assumiu a responsabilidade por tentar fraudar os registros do Ministério da Saúde ao emitir documentos que atestavam que ele, a mulher e as filhas haviam recebido os imunizantes contra a Covid-19. Segundo o militar, o objetivo seria apenas o de ter em mãos uma espécie de salvo-conduto para ser usado caso a família fosse alvo de eventuais perseguições depois de terminado o governo. Cid temia que a esposa e as filhas pudessem sofrer algum tipo de retaliação futura por não terem se vacinado. “Eu estava com medo de perseguição, a gente não sabia o que ia acontecer. Estava com medo de a minha filha não poder ir para a escola, a minha esposa não poder entrar no mercado”, explicou, contrariando uma das linhas de investigação da polícia, que viu na iniciativa do coronel uma forma de driblar a fiscalização sanitária em viagens ao exterior depois de deixar o governo.

 

PF identifica o rosto do pai de Mauro Cid em reflexo de foto usada para negociar esculturas nos EUA

 

No segundo caso, o da venda de joias, a confissão do coronel embute revelações que comprometem e certamente vão agravar a situação jurídica de Jair Bolsonaro. Cid admitiu ter participado da venda de dois relógios de luxo recebidos pelo mandatário — um Patek Philippe e um Rolex. E, no ponto mais sensível do depoimento, confirmou ter repassado o dinheiro obtido no negócio ao ex-presidente. Foi a Polícia Federal quem descobriu a transação, realizada na surdina nos Estados Unidos, para onde Bolsonaro viajou no fim do ano passado acompanhado do ajudante de ordens e levando na bagagem dois kits de joias. Ao ser confrontado com a informação, o ex-presidente disse que desconhecia o negócio e não havia recebido nenhum dinheiro proveniente de venda dos presentes. O depoimento de Cid desmonta essa versão. “O presidente estava preocupado com a vida financeira. Ele já havia sido condenado a pagar várias multas”, contou. A ideia de vender as peças, portanto, surgiu de uma necessidade de levantar recursos para bancar suas despesas.

 

 

    “Eu recebia um monte de besteira nesse sentido, de gente que defendia intervenção, mas não repassava para o presidente. Qual o valor daquele texto encontrado no meu celular?”

 

Na última segunda-feira, já em liberdade e usando tornozeleira eletrônica, Cid visitou um colega. Os boatos sobre o conteúdo de sua colaboração, mantida em sigilo, ganhavam dimensão, especialmente em relação à venda das joias. Ele então explicou que, apesar de tudo, não houve intenção de nenhum deles em fazer nada errado. Antes de terminar o governo, o presidente pediu ao coronel que avaliasse alguns presentes — itens, segundo ele, classificados como “personalíssimos”, ou seja, faziam parte do acervo pessoal do presidente e, por essa razão, podiam ser comercializados. “A venda pode ter sido imoral? Pode. Mas a gente achava que não era ilegal”, contou o ex-ajudante de ordens. A polícia já havia rastreado praticamente tudo sobre a transação, mas ainda faltavam peças importantes para completar o quebra-­cabeça. O relógio Patek Philippe, por exemplo, nem sequer chegou a ser registrado no setor responsável pelo recebimento de presentes — ou seja, oficialmente, o regalo nunca existiu para o Estado brasileiro. Para os investigadores, Bolsonaro criou uma estrutura para desviar bens públicos de alto valor para fins de enriquecimento ilícito. Faltava, porém, uma informação fundamental para fechar a investigação: a prova de que o ex-presidente recebeu o dinheiro proveniente do negócio. Cid elucidou o caso. Segundo ele, o dinheiro da venda dos relógios foi depositado na conta do pai dele, o general Mauro Lourena Cid, sacado em espécie e repassado em mãos a Bolsonaro — “Em mãos. Para ele”. A entrega dos valores— 68 000 dólares, segundo os federais — se deu de maneira parcelada, parte do pagamento ainda em solo americano.

 

 

 

Apesar da colaboração, Cid tem de cumprir algumas exigências impostas pelo ministro Alexandre de Moraes. Além da tornozeleira, é obrigado a permanecer em casa durante a noite e nos fins de semana e comparecer semanalmente à Justiça de Brasília. Ele não pode deixar o país ou se comunicar com os outros investigados nos processos, como o próprio presidente Bolsonaro ou seus advogados. Não há, porém, restrições para ele conversar com amigos e familiares. O coronel tem se dedicado a tentar retomar a rotina, visitar pessoas próximas e ficar com a esposa e a filha de 6 anos. Nessas conversas, ele faz questão de contar sua versão dos fatos, deixando claro que “cumpria ordens” e sempre ressaltando a admiração que ainda cultiva pelo antigo chefe.

 

 

 

    “Eu estava com medo de perseguição, medo de a minha filha não poder ir para a escola, a minha esposa não poder entrar no mercado. Foi isso que aconteceu em relação ao cartão de vacina”

 

O ex-ajudante de ordens também precisou dar explicações sobre um roteiro de teor golpista encontrado em seu celular que discorria sobre a anulação das eleições do ano passado, que se somaria a uma intervenção no Supremo Tribunal Federal (STF) e à convocação de um novo pleito. Cid afirmou que, pelas funções que exercia, seu telefone canalizava incontáveis mensagens sobre diversos assuntos, e mais de uma pessoa lhe encaminhou planos mirabolantes com conotação golpista — mas garante que não passou de um choro livre e que não deu prosseguimento ao material. “Eu recebia um monte de besteira nesse sentido, de gente que defendia intervenção, mas não repassava para o presidente. Qual o valor daquele texto encontrado no meu celular?”, disse.

 

A blindagem é estendida à trinca de generais que compuseram o alto escalão do governo Bolsonaro. Tidos pela PF como incitadores de um movimento golpista, os ex-ministros Augusto Heleno (Gabinete de Segurança Institucional), Luiz Eduardo Ramos (Secretaria de Governo) e Walter Braga Netto (Casa Civil) foram poupados por Cid em suas tratativas. Por essa versão, não há nada que macule os ex-auxiliares. “Nunca vi o general Braga Netto levando nada ao presidente, nenhuma proposta. O general Ramos desapareceu naquele período. O general Heleno estava mais preocupado com a saúde do presidente do que com os manifestantes”, afirmou ele. Nos últimos dias, o pai do ex-ajudante de ordens se empenhou pessoalmente em disparar telefonemas para negar as notícias divulgadas de que o filho teria incluído os generais no seu cardápio de colaboração.

 

    “Nunca vi o general Braga Netto levando nada ao presidente, nenhuma proposta, nada. O general Ramos desapareceu naquele período. Já o general Heleno estava mais preocupado com a saúde do presidente do que com os manifestantes”

 

O avanço das investigações sobre Cid chacoalha o meio militar desde o início do ano. Em janeiro, o então comandante do Exército, Júlio Cesar de Arruda, acabou demitido pelo presidente Lula após se negar a revogar a promoção do tenente-coronel ao comando de um batalhão em Goiânia e impor resistência a uma operação da PF contra Cid, que à época morava em uma área da vila militar em Brasília reservada para generais e seus assessores. Agora, a nova cúpula da Força, comandada pelo general Tomás Paiva, tenta virar a página. Por determinação de Moraes, Cid foi afastado de suas funções no Exército e não tem prazo para que a medida seja revista — entre o Alto-Comando, é tido como certo que ele será punido, podendo até ser expulso, ao fim das investigações.

 

Ciente de que seu futuro dentro das Forças Armadas pode estar com os dias contados, o ex-ajudante de ordens tenta preservar os seus subordinados e, principalmente, o prestígio do pai dentro do Exército. O general Cid, que chefiou o Comando Militar do Sudeste e chegou a atuar, como substituto, no comando da Força, é (até aqui) um militar respeitado e de trajetória exemplar durante os mais de quarenta anos de farda. Quando o filho foi preso, ele se mudou do Rio de Janeiro para Brasília. Desde então, travava uma batalha para contestar a legalidade da prisão, considerada como política, e para reforçar a tese de que Mauro Cid estava apenas cumprindo suas funções militares ao lado de Bolsonaro. Em busca de apoio jurídico, o general também narrou detalhes do drama do filho a pelo menos três advogados diferentes. Quem esteve por perto do ajudante de ordens na prisão e ouviu algumas de suas confidências conta que ele caiu em prantos quando o pai e seus subordinados foram envolvidos nas investigações. “A gente é leal ao superior, mas protege o subordinado”, desabafou logo depois de deixar a cadeia. Alguns entenderam essa declaração como um recado.

 

Publicado em VEJA de 15 de setembro de 2023, edição nº 2859

 

 

Posted On Sexta, 15 Setembro 2023 07:03 Escrito por O Paralelo 13
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