Em Washington, percepção é de que, após encontro com enviados de Joe Biden, em que Jair Bolsonaro disse ter havido fraude em eleições americanas, imagem de presidente brasileiro sofreu abalo significativo como possível interlocutor.
Por Mariana Sanches - Da BBC News Brasil em Washington
Quando o Conselheiro de Segurança Nacional dos Estados Unidos, Jake Sullivan, e o Assessor Especial do presidente americano Joe Biden, Juan González, entraram no gabinete de Jair Bolsonaro, no Palácio do Planalto, no último dia 5, não esperavam uma conversa de melhores amigos. Mas o que encontraram foi descrito à BBC News Brasil como "nonsense" e "tenso" por oficiais americanos.
Do encontro sobraram não só uma foto de um aperto de mão de Sullivan, de máscara, e Bolsonaro, sem máscara e oficialmente não vacinado, mas também uma preocupação dos americanos com a saúde da democracia brasileira, diante das alegações sem provas do presidente brasileiro de fraude eleitoral nas urnas eletrônicas.
Originalmente, a agenda dos enviados de Biden ao Brasil não teria a democracia brasileira como destaque principal.
A pauta deles incluía oferecer ao país o status de parceiro global da Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte), condição que dará acesso ao Brasil à compra de equipamentos de guerra de última linha, além de sessões de treinamento militares com os americanos em bases nos EUA.
Por outro lado, a missão americana pretendia pressionar o Brasil a estabelecer — e cumprir — metas de redução de desmatamento ambiciosas e dissuadir o Brasil de usar equipamentos da gigante chinesa de telecomunicações Huawei em sua rede 5G — um dos argumentos dos americanos foi, inclusive, o de que a empresa poderia não entregar os materiais contratados pelo governo Bolsonaro por crise de matérias-primas.
A conversa, no entanto, saiu do script normal com insinuações de Bolsonaro de que o pleito americano de 2020 havia sido roubado — o que faria de Joe Biden um presidente ilegítimo.
A administração Biden sempre esteve ciente de que Bolsonaro defendia publicamente as falsas alegações de Trump sobre as eleições. O republicano fazia múltiplas acusações ao sistema eleitoral dos EUA, questionando tanto aos votos de papel quanto àqueles depositados em urna eletrônica, mesmo antes do dia da votação. Bolsonaro foi o último líder do G-20 a reconhecer a vitória de Biden.
O que os americanos não esperavam é que Bolsonaro dissesse tais coisas diante de Sullivan e Gonzalez, ambos altos representantes do governo a serviços dos democratas há anos.
Segundo autoridades com conhecimento dos fatos, ambos ouviram o suficiente para deixar o encontro preocupados com a democracia no Brasil. Sullivan foi às redes sociais enunciar que a "gestão Biden defende um hemisfério seguro e democrático".
Já Juan Gonzalez fez uma coletiva de imprensa sobre a viagem para Brasil e Argentina na qual falou, na maior parte do tempo, da democracia brasileira. "Fomos muito diretos em expressar nossa confiança na capacidade de as instituições brasileiras conduzirem uma eleição livre e limpa e enfatizamos a importância de não ser minada a confiança no processo de eleições, especialmente porque não há indício de fraude nas eleições passadas", disse Gonzalez, sobre o teor da conversa com Bolsonaro.
A Cartilha Trump
Dentro do governo americano, tanto no Executivo quanto no Congresso, tem ganhado força a percepção de que Bolsonaro segue estritamente a cartilha que Trump adotou ao tentar se perpetuar no poder: denunciar fraudes sem prova, antes mesmo do pleito ocorrer, e criar descrença em parte do eleitorado sobre o processo eleitoral, a ponto de levar a cenas como a invasão do Capitólio por apoiadores, em 6 de janeiro.
A diplomacia de Biden não deixou de notar, por exemplo, o interesse do ex-estrategista de Trump, Steve Bannon, nas eleições de 2022, no Brasil.
O próprio Gonzalez foi explícito sobre o assunto. "Fomos sinceros sobre nossa posição, especialmente em vista dos paralelos em relação à tentativa de invalidar as eleições antes do tempo, algo que, é óbvio, tem um paralelo com o que aconteceu nos Estados Unidos."
Em Washington, a percepção é de que a imagem de Bolsonaro sofreu um abalo significativo como um possível interlocutor após a visita.
"Acho que o governo Biden, especialmente depois dessa reunião em Brasília, vê Bolsonaro como uma figura errática, ou pelo menos como alguém que age de uma forma muito excêntrica e difícil de prever. Ele diz coisas que parecem ir contra seu próprio interesse nacional. Por que ele iria querer brigar com o novo governo dos EUA dizendo que a eleição (americana) foi fraudada? Dá pra entender o porquê Trump faz isso, já que ele quer disputar a presidência de novo e fazer disso um tema, mas para um líder estrangeiro dizer esse tipo de coisa é, no mínimo, estranho", afirma Melvyn Levitsky, ex-secretário executivo do Departamento de Estado e embaixador no Brasil entre 1994-1998.
Militares longe do golpe
Levitsky, que hoje é professor de políticas internacionais da Universidade de Michigan, afirma que nessa situação, os americanos vão jogar (quase) parados, sem qualquer ação que possa soar como interferência nas eleições brasileiras.
E isso também porque a diplomacia americana não vê como provável a possibilidade de que as Forças Armadas embarquem em uma eventual aventura golpista de Bolsonaro. Reservadamente, autoridades dos EUA citaram as ações recentes do ex-comandante do Exército, o general Edson Pujol, e de seu atual líder, o general Paulo Sérgio de Oliveira, como sinais de anteparos ao presidente no uso político das forças armadas. Em discurso no dia do soldado, Oliveira afirmou que o Exército quer ser respeitado "nacional e internacionalmente" e tem "compromisso com os valores mais nobres da Pátria e com a sociedade brasileira em seus anseios de tranquilidade, estabilidade e desenvolvimento".
"Eu conhecia muito bem os militares brasileiros. E embora faça algum tempo que não fale com eles, meu senso é de que os militares estavam muito subordinados ao governo civil e eu não acho que isso mudou. Não acho que os militares queiram entrar de vez na política. Seria devastador para eles fazer isso. E se isso acontecesse, seria devastador para as relações entre Brasil e Estados Unidos também", afirma Levitsky.
É essa percepção que explica, em parte, porque os americanos não viram problemas em oferecer ao Brasil uma posição como parceiro global na Otan que fortalece diretamente o Exército brasileiro. Se avaliasse haver tendência golpista nas forças, esse não teria sido um caminho para Biden, asseguram os diplomatas. Além disso, nem todos os parceiros globais da Otan são países de democracia perfeita — a Turquia, por exemplo, é tido como um deles.
Por fim, para os militares brasileiros a possibilidade de acessar contratos de vendas de armamento de ponta e participar em treinamentos com os americanos é algo de que eles provavelmente não estariam dispostos a abrir mão em troca da tentativa de um golpe ao lado de Bolsonaro. É o que argumenta Ryan Berg, cientista-político especialista em regimes autoritários na América Latina do Centro de Estratégias e Estudos Internacionais (CSIS, na sigla em inglês).
"A visão do governo dos EUA é que, embora os movimentos de Bolsonaro sejam muito preocupantes, com desfile de tanques pelas ruas de Brasília e atos para desacreditar as eleições, ainda assim o Congresso rejeitou o voto impresso e isso, para o governo dos Estados Unidos, indica que as instituições do Brasil são mais fortes do que algumas pessoas gostam de dizer. O governo dos EUA tem muita confiança que os militares brasileiros não ficariam do lado do Bolsonaro se ele tentasse cometer algum tipo de autogolpe, como vimos com Trump, na invasão do Capitólio em 6 de janeiro", afirma Ryan Berg.
É consenso entre diplomatas e especialistas internacionais americanos que os EUA não podem e nem querem virar as costas para o Brasil. Primeiro porque o país, com suas florestas tropicais, é visto como chave para avançar no combate ao aquecimento global, pauta prioritária do governo Biden.
Segundo, porque a China tenta ganhar espaço na América Latina a passos largos, e os americanos não estão dispostos a ceder, ao principal rival, espaço de influência na segunda maior democracia do continente — ainda mais com a disputa do 5G a pleno vapor.
E terceiro, porque, em que pesem as ações de Bolsonaro sobre a democracia brasileira ou sobre o meio ambiente, seu governo promoveu um alinhamento ideológico com os Estados Unidos no continente, adotando tom duro contra Venezuela e Cuba, algo bastante valorizado no Departamento de Estado.
No entanto, dada a percepção de que "Bolsonaro não é um líder plenamente confiável", como afirma Levitsky, os próximos movimentos na relação dependerão de seu governo. E a diplomacia americana diz que não vai se furtar da possibilidade de se engajar com outros atores políticos, em diferentes níveis de poder e sem a intermediação do Executivo federal, para fazer avançar sua agenda.
Foi exatamente o que fez, há um mês, o Enviado Climático de Biden, John Kerry. Diante de promessas não cumpridas e do mal-estar que representava a presença do então ministro do Meio Ambiente Ricardo Salles, que os americanos veem como envolvido em um possível esquema de tráfico ilegal de madeira amazônica para os EUA, Kerry driblou Brasília e se reuniu por uma hora e meia com os governadores do Fórum de Governadores, que inclui quase todos os Estados.
Na semana seguinte, Jake Sullivan não esteve apenas no Palácio do Planalto, mas fez também uma reunião com governadores do Consórcio da Amazônia Legal.
"Há uma percepção dos EUA de que o governo federal infelizmente não vai avançar muito na questão do desmatamento. Então falar com os governadores não chega a ser uma exclusão do governo federal, mas uma forma de jogar nas duas vias", afirmou à BBC News Brasil o governador do Maranhão, Flávio Dino (PSB), que esteve no encontro com Kerry.
Depois de três meses sem encontros com a equipe de Kerry, na última semana, técnicos do Ministério do Meio Ambiente e representantes do Itamaraty retomaram conversas com os americanos. Isso acontece a menos de três meses da Conferência do Clima, em Glasgow, na Escócia, encarada pelos americanos como a última grande oportunidade para que o governo Bolsonaro mostre algum avanço na agenda ambiental.
Consultado pela BBC News Brasil, o Departamento de Estado afirmou, por meio de um porta-voz, que "esperamos ver progressos adicionais à medida que o Brasil avança para combater o desmatamento ilegal e reduzir suas emissões de gases do efeito estufa, em linha com os compromissos assumidos pelo presidente Bolsonaro na Cúpula dos Líderes sobre o Clima realizada em abril".
O Itamaraty defende que as metas de redução de desmatamento (que deve ser zerado até 2030) e de emissões (zero até 2050) são as mais ambiciosas entre os países em desenvolvimento. Reservadamente, no entanto, diplomatas envolvidos nas negociações com os americanos reconhecem "dificuldades internas do governo" para entregar reduções expressivas no desmatamento ainda em 2021. Dados do INPE mostram que o acumulado de desmatamento entre janeiro e julho deste ano é o maior desde 2016.
Para o embaixador Levitsky, até a eleição do próximo ano, EUA e Brasil devem levar uma relação "em banho-maria". De um lado, os americanos não demonstram grandes expectativas de novos compromissos de Bolsonaro, a quem veem majoritariamente voltado à agenda eleitoral doméstica.
Por outro, preferem ver quem assumirá o país pelos quatro anos seguintes para tentar implementar qualquer ação fora das relações rotineiras. E já avisaram a Bolsonaro que reconhecerão como presidente quem quer que a Justiça Eleitoral aponte como vencedor do pleito em outubro de 2022.
A quem interessar possa
Por Rafaela Felicciano
O presidente Jair Bolsonaro detesta ler, gosta mais de figurinhas como já disse, mas alguém deve ler os jornais por ele, atento aos fatos mais importantes que possam despertar seu interesse.
Sendo assim, ele tomou conhecimento, quando nada por alto, do artigo publicado, ontem, na Folha de S. Paulo e assinado pelo ministro Ricardo Lewandowski, do Supremo Tribunal Federal.
O título do artigo diz tudo: “Intervenção armada: crime inafiançável e imprescritível”. Seu autor é professor titular de teoria do Estado da Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo.
Lewandowski lembra que na Roma antiga, para segurança do governo, existia uma lei segundo a qual nenhum general poderia atravessar, acompanhado das respectivas tropas, o rio Rubicão.
Mas em 49 a.C., à frente das legiões que comandava, o general romano Júlio César atravessou o rio pronunciando a célebre frase: “A sorte está lançada”. Empalmou depois o poder político.
Em seguida, instaurou uma ditadura. Mas ao cabo de cinco anos foi assassinado “a punhaladas por adversários políticos, dentre os quais seu filho adotivo, Marco Júnio Bruto”.
Segundo o ministro, o episódio revela “que distintas civilizações sempre adotaram, com maior ou menor sucesso, regras preventivas para impedir a usurpação do poder legítimo pela força”.
A Constituição de 1988 estabeleceu que “constitui crime inafiançável e imprescritível a ação de grupos armados, civis e militares, contra a ordem constitucional e o Estado democrático”.
Por sua parte, o projeto de lei há pouco aprovado pelo Congresso, que revogou a Lei de Segurança Nacional, desdobrou esse crime em vários delitos autônomos, inserindo-os no Código Penal.
É criminosa a conduta de subverter as instituições vigentes, “impedindo ou restringindo o exercício dos poderes constitucionais”. Golpe de Estado para depor governo eleito é crime.
Ambos os ilícitos, como observa Lewandowski em seu artigo, “são sancionados com penas severas, agravadas se houver o emprego da violência”. E ele vai adiante:
“Cumpre registrar que não constitui excludente de culpabilidade a eventual convocação das Forças Armadas e tropas auxiliares, com fundamento no artigo 142 da [Constituição], para a ‘defesa da lei e da ordem’, quando realizada fora das hipóteses legais, cuja configuração, aliás, pode ser apreciada em momento posterior pelos órgãos competentes”.
Entendeu o recado, Bolsonaro? Ou prefere que o ministro desenhe?
Afirmação foi dada durante 1° Encontro Fraternal de Líderes Evangélicos de Goiás. Sem máscara, presidente causou aglomeração ao participar do evento, em Goiânia.
Por Millena Barbosa, G1 GO
O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) disse, na manhã deste sábado (28), durante o 1° Encontro Fraternal de Líderes Evangélicos de Goiás, que tem três alterativas para o futuro: estar preso, morto, ou obter "vitória". Sem máscara, ele causou aglomeração ao cumprimentar apoiadores na porta da igreja, em Goiânia.
"Eu tenho três alternativas para o meu futuro: estar preso, estar morto ou a vitória. Pode ter certeza que a primeira alternativa não existe. Estou fazendo a coisa certa e não devo nada a ninguém. Sempre onde o povo esteve, eu estive", afirmou.
A declaração de Bolsonaro ocorre em meio a um momento de crise para o governo e para o presidente.
Do ponto de vista judicial, Bolsonaro é investigado em cinco inquéritos, que tramitam no Supremo Tribunal Federal (STF) e no Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
Um deles, no STF, o chamado inquérito das fake news, investiga um esquema de disseminação sistemática e organizada de informações falsas com o objetivo de fragilizar as instituições e a democracia.
Outro inquérito, no TSE, investiga Bolsonaro por ataques sem provas às urnas eletrônicas e tentativa de deslegitimar o sistema eleitoral brasileiro.
Além disso, nos últimos dias, aliados do presidente foram alvo de operações contra atos ofensivos à democracia e às instituições do Estado.
Bolsonaro também enfrenta desgaste nos campos político e econômico, com inflação, desemprego e pobreza em alta, e o risco de apagão no fornecimento de energia elétrica, diante do baixo nível dos reservatórios das hidrelétricas.
Em Goiânia, ao lado de líderes evangélicos, o presidente discursou por cerca de 20 minutos. No fim, disse: "Deus me colocou aqui, e somente Deus me tira daqui", repetindo uma frase já comum em declarações do presidente
Já do lado de fora da igreja, Bolsonaro tirou fotos com apoiadores e tomou caldo de cana. Depois de falar com o público, ele se encontrou com políticos e empresários de Goiás em um local onde foram colocadas tendas e montado um palco.
O governador de Goiás Ronaldo Caiado (DEM) e o prefeito de Goiânia, Rogério Cruz (Republicanos) estiveram no local. Caiado e Rogério Cruz usaram máscaras durante o evento.
Ex-presidente foi o protagonista do lançamento de uma espécie de reedição do programa Ponte para o Futuro
Por João Bosco Rabello
Dois anos e meio após deixar o cargo, o ex-presidente Michel Temer retornou a Brasília e à cena pública em evento que serviu de marco ao primeiro movimento formal do MDB no contexto da sucessão presidencial. Trouxe consigo o lema – Basta! -, que serve a múltiplas traduções, entre as quais não se deve descartar a de sua candidatura.
A reaparição do ex-presidente, mais do que a agenda formal sugere, indica uma exposição preliminar e gradual de lideranças consistentes na ocupação do espaço político marginalizado pela estratégia de confronto do governo Bolsonaro, do quadro de judicialização exacerbada e da crise institucional daí consequente.
Temer foi o protagonista do lançamento de uma espécie de reedição do programa Ponte para o Futuro, base de seu curto mandato presidencial, transformado em manifesto suprapartidário do MDB, que enfatiza a combinação de princípio federativo, rigor fiscal e subordinação ao princípio constitucional da harmonia e independência entre os poderes.
Como sublinhou em sua fala no evento na Fundação Ulysses Guimarães, por mais óbvia que seja a receita, sua oferta é escassa no mercado político. Reunidas, as pregações que fez na sua passagem pela sede do poder político formam um diagnóstico tóxico do governo Bolsonaro sem uma citação sequer ao presidente da República.
Tudo foi dito de forma calculada para dar coerência à essência do discurso de pacificação nacional baseado em dois pilares: governar com espírito federativo, em permanente diálogo com o Judiciário e junto com o Congresso Nacional em adoção prática do semipresidencialismo que aplicou ao seu mandato e que defende como sistema de governo formal e permanente.
Fora à parte, como costuma se expressar quando importa a linguagem jurídica para a política, afirma que é preciso dar um basta no ciclo nocivo de polarização que trocou diálogo e negociação por intolerância e rancor e fez do cidadão um eleitor excludente. “Hoje não se vota mais em quem se quer, mas naquele que não se quer”, resume.
Em conversas reservadas arrisca um tom mais crítico à intransigência que retarda o processo de construção da chamada terceira via. Confessa desalento com o que considera, na fotografia do momento, a prevalência da vontade própria sobre a vontade política – esta, na sua opinião, fator incondicional para o reencontro do país com a governança sóbria e de resultados.
Não toma a iniciativa de condenar o comportamento presidencial, mas não se furta a concordar, por vezes com veemência, com as críticas consensuais a Jair Bolsonaro. Confirma, por exemplo – “não em tom de conselho, mas de palpite” -, que já lhe sugeriu abandonar a verborragia diária. “O presidente da República não fala, mas se pronuncia, porque o que diz pauta o país”.
Depois de conversas com patentes militares de comando, em conjunto com outros ex-presidentes, diz não acreditar em ruptura democrática e avalia que o aprofundamento da crise, nas circunstâncias atuais, tem como segunda vítima o próprio governo. “A primeira é a população”.
É nesse contexto que, provocado sobre como se sente quando ouve o bordão “Fora Temer”, responde espirituosamente que não o tem escutado mais. “O bordão era melhor antes, porque significava que eu estava dentro”. Hoje, conta, transita sem ser agredido e insultado. Antes, relata ser alvo de assédio positivo em locais públicos e já ouve outro bordão – o do “Volta, Temer”.
Se isso o anima a pensar em uma candidatura diz que não. Mas talvez seja aquela parte da conversa em que menos convence. Seu empenho e animação com o propósito de resgatar a política – cuja perda de imagem debita, em parte, à ambição ilegítima de agentes de Estado que dela desejam se apropriar -, autoriza a dúvida do interlocutor.
De toda a forma, como ele mesmo diz em outro contexto, é cedo para intensificar o processo sucessório, que precisa antes construir a unidade do centro. Sua receptividade a provocações acaba quando se tenta obter alguma resposta às especulações sobre as chances da candidatura de Bolsonaro à reeleição.
No entanto, confrontado sobre a eventual inviabilidade, não só da vitória de Bolsonaro, mas até mesmo de sua candidatura – de paulista se torna mineiro. “Tudo é possível”. Mas para o MDB, o “Volta, Temer” se encaixa nessa resposta de aparente desconversa, o que faz do evento na Fundação Ulysses Guimarães, senão um pré-lançamento, pelo menos, um balão de ensaio.
“Todos os senhores acompanharam os episódios recentes ligados à pandemia, liberação de recursos e vimos o que ocorreu. Certamente, aqui ou acolá deve ter havido algum exagero das autoridades de investigação, mas é inegável que houve corrupção.” (Gilmar Mendes, ministro do STF)
DIAP DIVULGA LISTA DOS “CABEÇAS” DO CONGRESSO” NACIONAL E DOS PARLAMENTARES EM “ASCENSÃO” 2021
Com Assessoria
Os “Cabeças” do Congresso Nacional são, na definição do DIAP, aqueles parlamentares — depuados se senaores — que conseguem se diferenciar dos demais pelo exercício de todas ou algumas das qualidades e habilidades aqui descritas. Entre os atributos que caracterizam um protagonista do processo legislativo1, destacam-se a capacidade de conduzir debates, negociações, votações, articulações e formulações, seja pelo saber, senso de oportunidade, eficiência na leitura da realidade, que é dinâmica, e, principalmente, facilidade para conceber ideias, constituir posições, elaborar propostas e projetá-las para o centro do debate, liderando a repercussão dessas, e tomada de decisão. Enfim, é o parlamentar que, isoladamente ou em conjunto com outras forças, é capaz de criar o papel e o contexto para desempenhá-lo.
Neste ano de 2021, a escolha dos parlamentares mais influentes foi impactada por 2 episódios, ambos decorrentes da Pandemia, que levou ao isolamento social. O primeiro foi a adoção do sistema remoto de deliberação, que dificulta identificar os parlamentares mais presentes nas articulações e negociações, já que estas ficam muito restritas aos líderes e relatores nesse período. O segundo foi o início da instalação das comissões permanentes da Câmara dos Deputados, em meados de março, que se estendendo até abril. Esses colegiados são instâncias importantes de poder, que ajudam a identificar quem tinha prestígio para ser indicado pelas respectivas bancadas para presidir colegiado temático. Isto, entretanto, não impediu que se chegasse aos parlamentares mais influentes do ano em curso.
A pesquisa inclui apenas os parlamentares que estavam no efetivo exercício do mandato no período de avaliação, correspondente ao período de fevereiro a junho de 2021. Assim, quem esteve ou está licenciado do mandato, mesmo influente, não foi incluído na publicação. Por isto, não constam entre os 100 mais influentes de 2020, os deputados nomeados ministros no governo Jair Bolsonaro, como Onyx Lorenzoni (DEM-RS), ministro do Trabalho e Previdência; e Tereza Cristina (DEM-MS), ministra da Agricultura, Pecuária e Abastecimento.
Entre os 100 parlamentares que comandam o processo decisório no Congresso, 66 são deputados e 34 são senadores.
Além dos 100 “Cabeças”, desde a 7ª edição da série, o DIAP divulga levantamento incluindo na publicação anexo com outros parlamentares que, mesmo não fazendo parte do grupo dos 100 mais influentes, estão em plena ascensão, podendo, mantida a trajetória ascendente, estar futuramente na elite parlamentar. Pode-se dizer que estão entre os 150 mais influentes.
100 “CABEÇAS” DO CONGRESSO NACIONAL 2021
POR ORDEM ALFABÉTICA
Aécio Neves (PSDB-MG)
Afonso Florence (PT-BA)
Afonso Motta (PDT-RS)
Aguinaldo Ribeiro (PP-PB)
Alessandro Molon (PSB-RJ)
ALESSANDRO VIEIRA (Cidadania-SE)
ALEX MANENTE (Cidadania-SP)
Alexandre Padilha (PT-SP)
Alice Portugal (PCdoB-BA)
Alvaro Dias (Podemos-PR)
André Figueiredo (PDT-CE)
Antonio Anastasia (PSD-MG)
ANTONIO BRITO (PSD-BA)
Arlindo Chinaglia (PT-SP)
Arnaldo Jardim (Cidadania-SP)
Arthur Lira (PP-AL)
ARTHUR OLIVEIRA MAIA (DEM-BA)
Baleia Rossi (MDB-SP)
BOHN GASS (PT-RS)
CACÁ LEÃO (PP-BA)
Carlos Zarattini (PT-SP)
Cid Gomes (PDT-CE)
Ciro Nogueira (PP-PI)
Daniel Almeida (PCdoB-BA)
Daniella Ribeiro (PP-PB)
Danilo Cabral (PSB-PE)
Davi Alcolumbre (DEM-AP)
Eduardo Bolsonaro (PSL-SP)
Eduardo Braga (MDB-AM)
Eduardo Gomes (MDB-TO)
Efraim Filho (DEM-PB)
ELIZIANE GAMA (Cidadania-MA)
Enio Verri (PT-PR)
Erika Kokay (PT-DF)
Fábio Trad (PSD-MS)
Fernanda Melchionna (PSol-RS)
Fernando Bezerra Coelho (MDB-PE)
Fernando Coelho Filho (DEM-PE)
Flávio Bolsonaro (Patriota-RJ)
Gleisi Hoffmann (PT-PR)
Gustavo Fruet (PDT-PR)
Hugo Motta (Republicanos-PB)
Humberto Costa (PT-PE)
ISNALDO BULHÕES JR (MDB-AL)
Ivan Valente (PSol-SP)
IZALCI LUCAS (PSDB-DF)
Jandira Feghali (PCdoB-RJ)
Jaques Wagner (PT-BA)
JEAN PAUL PRATES (PT-RN)
José Guimarães (PT-CE)
José Serra (PSDB-SP)
KÁTIA ABREU (PP-TO)
Kim Kataguiri (DEM-SP)
Laercio Oliveira (PP-SE)
Lincoln Portela (PL-MG)
Luciano Bivar (PSL-PE)
LUISA CANZIANI (PTB-PR)
LUIZ CARLOS MOTTA (PL-SP)
Luiza Erundina (PSol-SP)
Marcelo Freixo (PSB-RJ)
Marcelo Ramos (PL-AM)
Marcos Pereira (Republicanos-SP)
Marcos Rogério (DEM-RO)
MARGARETE COELHO (PP-PI)
NELSINHO TRAD (PSD-MS)
Omar Aziz (PSD-AM)
Orlando Silva (PCdoB-SP)
Otto Alencar (PSD-BA)
Paulo Abi-Ackel (PSDB-MG)
Paulo Paim (PT-RS)
Paulo Pereira da Silva (Solidariedade-SP)
Paulo Pimenta (PT-RS)
PAULO ROCHA (PT-PA)
Paulo Teixeira (PT-SP)
Perpétua Almeida (PCdoB-AC)
PROFESSOR ISRAEL BATISTA (PV-DF)
Professora Dorinha Seabra Rezende (DEM-TO)
Randolfe Rodrigues (REDE-AP)
Renan Calheiros (MDB-AL)
Renildo Calheiros (PCdoB-PE)
Ricardo Barros (PP-PR)
Roberto Rocha (PSDB-MA)
RODRIGO DE CASTRO (PSDB-MG)
Rodrigo Maia (DEM-RJ)
Rodrigo Pacheco (DEM-MG)
Rogério Carvalho (PT-SE)
Rubens Bueno (Cidadania-PR)
Sérgio Petecão (PSD-AC)
Silvio Costa Filho (Republicanos-PE)
Simone Tebet (MDB-MS)
Tabata Amaral (PDT-SP)
Tadeu Alencar (PSB-PE)
TALÍRIA PETRONE (PSol-RJ)
Tasso Jereissati (PSDB-CE)
Veneziano Vital do Rêgo (MDB-PB)
VINICIUS POIT (Novo-SP)
Vitor Hugo (PSL-GO)
Wellington Roberto (PL-PB)
Weverton Rocha (PDT-MA)
Wolney Queiroz (PDT-PE)
(Os parlamentares em caixa alta e negrito são os novos “Cabeças” do Congresso Nacional 2021)
PARLAMENTARES EM “ASCENSÃO” 2021
Entende-se por parlamentar em “ascensão” aquele deputado ou senador que vem recebendo missões partidárias, políticas ou institucionais e se desincumbindo bem dessas. Estão também nessa categoria, os parlamentares que têm buscado abrir canais de interlocução, criando seus próprios espaços e se credenciando para o exercício de lideranças formais ou informais no âmbito do Parlamento. Integram esse grupo, ainda, os deputados ou senadores que já fizeram parte dos “Cabeças”, mas por razões circunstanciais, perderam interlocução.
Pode-se afirmar, portanto, que os parlamentares em ascensão estão entre os 150 mais influentes do Congresso.
DEPUTADOS E SENADORES EM ‘ASCENSÃO” 2021
DEPUTADO ALCEU MOREIRA (MDB-RS)
DEPUTADO ALUISIO MENDES (PSC-MA)
Deputado André de Paula (PSD-PE)
DEPUTADO ANDRÉ FUFUCA (PP-MA)
Deputado Beto Pereira (PSDB-MS)
Deputada Bia Kicis (PSL-DF)
Deputado Capitão Augusto (PL-SP)
DEPUTADA CELINA LEÃO (PP-DF)
Deputado Celso Russomanno (REPUBLICANOS-SP)
DEPUTADO CELSO SABINO (PSDB-PA)
Deputado Claudio Cajado (PP-BA)
Deputado Domingos Neto (PSD-CE)
Deputado Domingos Sávio (PSDB-MG)
DEPUTADO DR. LUIZ ANTONIO TEIXEIRA JR (PP-RJ)
DEPUTADO EDUARDO BISMARK (PDT-CE)
DEPUTADO ELMAR NASCIMENTO (DEM-BA)
Deputado Enrico Misasi (PV-SP)
DEPUTADO EVAIR VIEIRA DE MELO (PP-ES)
Deputado Fausto Pinato (PP-SP)
DEPUTADO FERNANDO MONTEIRO (PP-PE)
Deputado Fred Costa (PATRIOTA-MG)
Deputado Geninho Zuliani (DEM-SP)
Deputado Gervásio Maia (PSB-PB)
Deputado Hildo Rocha (MDB-MA)
Deputado Hiran Gonçalves (PP-RR)
DEPUTADO HUGO LEAL (PSD-RJ)
DEPUTADO IGOR TIMO (PODEMOS-MG)
DEPUTADO JERÔNIMO GOERGEN (PP-RS)
DEPUTADO JOÃO CARLOS BACELAR (PL-BA)
DEPUTADO JÚLIO CESAR (PSD-PI)
SENADOR LASIER MARTINS (Podemos-RS)
Deputado Léo Moraes (Podemos-RO)
Deputada Lídice da Mata (PSB-BA)
Deputado Lucas Vergilio (Solidariedade-GO)
Senador Luis Carlos Heinze (PP-RS)
DEPUTADO LUIS TIBÉ (Avante-MG)
DEPUTADO MARCEL VAN HATTEM (Novo-RS)
Deputada Maria do Rosário (PT-RS)
Deputado Mário Heringer (PDT-MG)
DEPUTADO NIVALDO ALBUQUERQUE (PTB-AL)
Deputado Paulo Ramos (PDT-RJ)
DEPUTADO PEDRO LUCAS FERNANDES (PTB-MA)
Deputado Pedro Lupion (DEM-PR)
Deputado Reginaldo Lopes (PT-MG)
Deputado Rodrigo Agostinho (PSB-SP)
Deputada Sâmia Bomfim (PSol-SP)
DEPUTADO SEBASTIÃO OLIVEIRA (Avante-PE)
DEPUTADO SERGIO SOUZA (MDB-PR)
Deputado Túlio Gadêlha (PDT-PE)
SENADORA ZENAIDE MAIA (Pros-RN)
(Os parlamentares em negrito e caixa alta são os novos em “ascensão” 2021)
1 Processo legislativo, para efeito deste trabalho, é entendido como algo além dos procedimentos formais de elaboração, apresentação e deliberação de leis no âmbito do Poder Legislativo. Esse, neste particular, precede e extrapola essas fases da tomada de decisão no rito de tramitação do Congresso para alcançar a influência da sociedade, das organizações e dos demais poderes interessados na formulação e conclusão das negociações que antecedem a institucionalização das leis.