Afirmação foi dada durante 1° Encontro Fraternal de Líderes Evangélicos de Goiás. Sem máscara, presidente causou aglomeração ao participar do evento, em Goiânia.
Por Millena Barbosa, G1 GO
O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) disse, na manhã deste sábado (28), durante o 1° Encontro Fraternal de Líderes Evangélicos de Goiás, que tem três alterativas para o futuro: estar preso, morto, ou obter "vitória". Sem máscara, ele causou aglomeração ao cumprimentar apoiadores na porta da igreja, em Goiânia.
"Eu tenho três alternativas para o meu futuro: estar preso, estar morto ou a vitória. Pode ter certeza que a primeira alternativa não existe. Estou fazendo a coisa certa e não devo nada a ninguém. Sempre onde o povo esteve, eu estive", afirmou.
A declaração de Bolsonaro ocorre em meio a um momento de crise para o governo e para o presidente.
Do ponto de vista judicial, Bolsonaro é investigado em cinco inquéritos, que tramitam no Supremo Tribunal Federal (STF) e no Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
Um deles, no STF, o chamado inquérito das fake news, investiga um esquema de disseminação sistemática e organizada de informações falsas com o objetivo de fragilizar as instituições e a democracia.
Outro inquérito, no TSE, investiga Bolsonaro por ataques sem provas às urnas eletrônicas e tentativa de deslegitimar o sistema eleitoral brasileiro.
Além disso, nos últimos dias, aliados do presidente foram alvo de operações contra atos ofensivos à democracia e às instituições do Estado.
Bolsonaro também enfrenta desgaste nos campos político e econômico, com inflação, desemprego e pobreza em alta, e o risco de apagão no fornecimento de energia elétrica, diante do baixo nível dos reservatórios das hidrelétricas.
Em Goiânia, ao lado de líderes evangélicos, o presidente discursou por cerca de 20 minutos. No fim, disse: "Deus me colocou aqui, e somente Deus me tira daqui", repetindo uma frase já comum em declarações do presidente
Já do lado de fora da igreja, Bolsonaro tirou fotos com apoiadores e tomou caldo de cana. Depois de falar com o público, ele se encontrou com políticos e empresários de Goiás em um local onde foram colocadas tendas e montado um palco.
O governador de Goiás Ronaldo Caiado (DEM) e o prefeito de Goiânia, Rogério Cruz (Republicanos) estiveram no local. Caiado e Rogério Cruz usaram máscaras durante o evento.
Ex-presidente foi o protagonista do lançamento de uma espécie de reedição do programa Ponte para o Futuro
Por João Bosco Rabello
Dois anos e meio após deixar o cargo, o ex-presidente Michel Temer retornou a Brasília e à cena pública em evento que serviu de marco ao primeiro movimento formal do MDB no contexto da sucessão presidencial. Trouxe consigo o lema – Basta! -, que serve a múltiplas traduções, entre as quais não se deve descartar a de sua candidatura.
A reaparição do ex-presidente, mais do que a agenda formal sugere, indica uma exposição preliminar e gradual de lideranças consistentes na ocupação do espaço político marginalizado pela estratégia de confronto do governo Bolsonaro, do quadro de judicialização exacerbada e da crise institucional daí consequente.
Temer foi o protagonista do lançamento de uma espécie de reedição do programa Ponte para o Futuro, base de seu curto mandato presidencial, transformado em manifesto suprapartidário do MDB, que enfatiza a combinação de princípio federativo, rigor fiscal e subordinação ao princípio constitucional da harmonia e independência entre os poderes.
Como sublinhou em sua fala no evento na Fundação Ulysses Guimarães, por mais óbvia que seja a receita, sua oferta é escassa no mercado político. Reunidas, as pregações que fez na sua passagem pela sede do poder político formam um diagnóstico tóxico do governo Bolsonaro sem uma citação sequer ao presidente da República.
Tudo foi dito de forma calculada para dar coerência à essência do discurso de pacificação nacional baseado em dois pilares: governar com espírito federativo, em permanente diálogo com o Judiciário e junto com o Congresso Nacional em adoção prática do semipresidencialismo que aplicou ao seu mandato e que defende como sistema de governo formal e permanente.
Fora à parte, como costuma se expressar quando importa a linguagem jurídica para a política, afirma que é preciso dar um basta no ciclo nocivo de polarização que trocou diálogo e negociação por intolerância e rancor e fez do cidadão um eleitor excludente. “Hoje não se vota mais em quem se quer, mas naquele que não se quer”, resume.
Em conversas reservadas arrisca um tom mais crítico à intransigência que retarda o processo de construção da chamada terceira via. Confessa desalento com o que considera, na fotografia do momento, a prevalência da vontade própria sobre a vontade política – esta, na sua opinião, fator incondicional para o reencontro do país com a governança sóbria e de resultados.
Não toma a iniciativa de condenar o comportamento presidencial, mas não se furta a concordar, por vezes com veemência, com as críticas consensuais a Jair Bolsonaro. Confirma, por exemplo – “não em tom de conselho, mas de palpite” -, que já lhe sugeriu abandonar a verborragia diária. “O presidente da República não fala, mas se pronuncia, porque o que diz pauta o país”.
Depois de conversas com patentes militares de comando, em conjunto com outros ex-presidentes, diz não acreditar em ruptura democrática e avalia que o aprofundamento da crise, nas circunstâncias atuais, tem como segunda vítima o próprio governo. “A primeira é a população”.
É nesse contexto que, provocado sobre como se sente quando ouve o bordão “Fora Temer”, responde espirituosamente que não o tem escutado mais. “O bordão era melhor antes, porque significava que eu estava dentro”. Hoje, conta, transita sem ser agredido e insultado. Antes, relata ser alvo de assédio positivo em locais públicos e já ouve outro bordão – o do “Volta, Temer”.
Se isso o anima a pensar em uma candidatura diz que não. Mas talvez seja aquela parte da conversa em que menos convence. Seu empenho e animação com o propósito de resgatar a política – cuja perda de imagem debita, em parte, à ambição ilegítima de agentes de Estado que dela desejam se apropriar -, autoriza a dúvida do interlocutor.
De toda a forma, como ele mesmo diz em outro contexto, é cedo para intensificar o processo sucessório, que precisa antes construir a unidade do centro. Sua receptividade a provocações acaba quando se tenta obter alguma resposta às especulações sobre as chances da candidatura de Bolsonaro à reeleição.
No entanto, confrontado sobre a eventual inviabilidade, não só da vitória de Bolsonaro, mas até mesmo de sua candidatura – de paulista se torna mineiro. “Tudo é possível”. Mas para o MDB, o “Volta, Temer” se encaixa nessa resposta de aparente desconversa, o que faz do evento na Fundação Ulysses Guimarães, senão um pré-lançamento, pelo menos, um balão de ensaio.
“Todos os senhores acompanharam os episódios recentes ligados à pandemia, liberação de recursos e vimos o que ocorreu. Certamente, aqui ou acolá deve ter havido algum exagero das autoridades de investigação, mas é inegável que houve corrupção.” (Gilmar Mendes, ministro do STF)
DIAP DIVULGA LISTA DOS “CABEÇAS” DO CONGRESSO” NACIONAL E DOS PARLAMENTARES EM “ASCENSÃO” 2021
Com Assessoria
Os “Cabeças” do Congresso Nacional são, na definição do DIAP, aqueles parlamentares — depuados se senaores — que conseguem se diferenciar dos demais pelo exercício de todas ou algumas das qualidades e habilidades aqui descritas. Entre os atributos que caracterizam um protagonista do processo legislativo1, destacam-se a capacidade de conduzir debates, negociações, votações, articulações e formulações, seja pelo saber, senso de oportunidade, eficiência na leitura da realidade, que é dinâmica, e, principalmente, facilidade para conceber ideias, constituir posições, elaborar propostas e projetá-las para o centro do debate, liderando a repercussão dessas, e tomada de decisão. Enfim, é o parlamentar que, isoladamente ou em conjunto com outras forças, é capaz de criar o papel e o contexto para desempenhá-lo.
Neste ano de 2021, a escolha dos parlamentares mais influentes foi impactada por 2 episódios, ambos decorrentes da Pandemia, que levou ao isolamento social. O primeiro foi a adoção do sistema remoto de deliberação, que dificulta identificar os parlamentares mais presentes nas articulações e negociações, já que estas ficam muito restritas aos líderes e relatores nesse período. O segundo foi o início da instalação das comissões permanentes da Câmara dos Deputados, em meados de março, que se estendendo até abril. Esses colegiados são instâncias importantes de poder, que ajudam a identificar quem tinha prestígio para ser indicado pelas respectivas bancadas para presidir colegiado temático. Isto, entretanto, não impediu que se chegasse aos parlamentares mais influentes do ano em curso.
A pesquisa inclui apenas os parlamentares que estavam no efetivo exercício do mandato no período de avaliação, correspondente ao período de fevereiro a junho de 2021. Assim, quem esteve ou está licenciado do mandato, mesmo influente, não foi incluído na publicação. Por isto, não constam entre os 100 mais influentes de 2020, os deputados nomeados ministros no governo Jair Bolsonaro, como Onyx Lorenzoni (DEM-RS), ministro do Trabalho e Previdência; e Tereza Cristina (DEM-MS), ministra da Agricultura, Pecuária e Abastecimento.
Entre os 100 parlamentares que comandam o processo decisório no Congresso, 66 são deputados e 34 são senadores.
Além dos 100 “Cabeças”, desde a 7ª edição da série, o DIAP divulga levantamento incluindo na publicação anexo com outros parlamentares que, mesmo não fazendo parte do grupo dos 100 mais influentes, estão em plena ascensão, podendo, mantida a trajetória ascendente, estar futuramente na elite parlamentar. Pode-se dizer que estão entre os 150 mais influentes.
100 “CABEÇAS” DO CONGRESSO NACIONAL 2021
POR ORDEM ALFABÉTICA
Aécio Neves (PSDB-MG)
Afonso Florence (PT-BA)
Afonso Motta (PDT-RS)
Aguinaldo Ribeiro (PP-PB)
Alessandro Molon (PSB-RJ)
ALESSANDRO VIEIRA (Cidadania-SE)
ALEX MANENTE (Cidadania-SP)
Alexandre Padilha (PT-SP)
Alice Portugal (PCdoB-BA)
Alvaro Dias (Podemos-PR)
André Figueiredo (PDT-CE)
Antonio Anastasia (PSD-MG)
ANTONIO BRITO (PSD-BA)
Arlindo Chinaglia (PT-SP)
Arnaldo Jardim (Cidadania-SP)
Arthur Lira (PP-AL)
ARTHUR OLIVEIRA MAIA (DEM-BA)
Baleia Rossi (MDB-SP)
BOHN GASS (PT-RS)
CACÁ LEÃO (PP-BA)
Carlos Zarattini (PT-SP)
Cid Gomes (PDT-CE)
Ciro Nogueira (PP-PI)
Daniel Almeida (PCdoB-BA)
Daniella Ribeiro (PP-PB)
Danilo Cabral (PSB-PE)
Davi Alcolumbre (DEM-AP)
Eduardo Bolsonaro (PSL-SP)
Eduardo Braga (MDB-AM)
Eduardo Gomes (MDB-TO)
Efraim Filho (DEM-PB)
ELIZIANE GAMA (Cidadania-MA)
Enio Verri (PT-PR)
Erika Kokay (PT-DF)
Fábio Trad (PSD-MS)
Fernanda Melchionna (PSol-RS)
Fernando Bezerra Coelho (MDB-PE)
Fernando Coelho Filho (DEM-PE)
Flávio Bolsonaro (Patriota-RJ)
Gleisi Hoffmann (PT-PR)
Gustavo Fruet (PDT-PR)
Hugo Motta (Republicanos-PB)
Humberto Costa (PT-PE)
ISNALDO BULHÕES JR (MDB-AL)
Ivan Valente (PSol-SP)
IZALCI LUCAS (PSDB-DF)
Jandira Feghali (PCdoB-RJ)
Jaques Wagner (PT-BA)
JEAN PAUL PRATES (PT-RN)
José Guimarães (PT-CE)
José Serra (PSDB-SP)
KÁTIA ABREU (PP-TO)
Kim Kataguiri (DEM-SP)
Laercio Oliveira (PP-SE)
Lincoln Portela (PL-MG)
Luciano Bivar (PSL-PE)
LUISA CANZIANI (PTB-PR)
LUIZ CARLOS MOTTA (PL-SP)
Luiza Erundina (PSol-SP)
Marcelo Freixo (PSB-RJ)
Marcelo Ramos (PL-AM)
Marcos Pereira (Republicanos-SP)
Marcos Rogério (DEM-RO)
MARGARETE COELHO (PP-PI)
NELSINHO TRAD (PSD-MS)
Omar Aziz (PSD-AM)
Orlando Silva (PCdoB-SP)
Otto Alencar (PSD-BA)
Paulo Abi-Ackel (PSDB-MG)
Paulo Paim (PT-RS)
Paulo Pereira da Silva (Solidariedade-SP)
Paulo Pimenta (PT-RS)
PAULO ROCHA (PT-PA)
Paulo Teixeira (PT-SP)
Perpétua Almeida (PCdoB-AC)
PROFESSOR ISRAEL BATISTA (PV-DF)
Professora Dorinha Seabra Rezende (DEM-TO)
Randolfe Rodrigues (REDE-AP)
Renan Calheiros (MDB-AL)
Renildo Calheiros (PCdoB-PE)
Ricardo Barros (PP-PR)
Roberto Rocha (PSDB-MA)
RODRIGO DE CASTRO (PSDB-MG)
Rodrigo Maia (DEM-RJ)
Rodrigo Pacheco (DEM-MG)
Rogério Carvalho (PT-SE)
Rubens Bueno (Cidadania-PR)
Sérgio Petecão (PSD-AC)
Silvio Costa Filho (Republicanos-PE)
Simone Tebet (MDB-MS)
Tabata Amaral (PDT-SP)
Tadeu Alencar (PSB-PE)
TALÍRIA PETRONE (PSol-RJ)
Tasso Jereissati (PSDB-CE)
Veneziano Vital do Rêgo (MDB-PB)
VINICIUS POIT (Novo-SP)
Vitor Hugo (PSL-GO)
Wellington Roberto (PL-PB)
Weverton Rocha (PDT-MA)
Wolney Queiroz (PDT-PE)
(Os parlamentares em caixa alta e negrito são os novos “Cabeças” do Congresso Nacional 2021)
PARLAMENTARES EM “ASCENSÃO” 2021
Entende-se por parlamentar em “ascensão” aquele deputado ou senador que vem recebendo missões partidárias, políticas ou institucionais e se desincumbindo bem dessas. Estão também nessa categoria, os parlamentares que têm buscado abrir canais de interlocução, criando seus próprios espaços e se credenciando para o exercício de lideranças formais ou informais no âmbito do Parlamento. Integram esse grupo, ainda, os deputados ou senadores que já fizeram parte dos “Cabeças”, mas por razões circunstanciais, perderam interlocução.
Pode-se afirmar, portanto, que os parlamentares em ascensão estão entre os 150 mais influentes do Congresso.
DEPUTADOS E SENADORES EM ‘ASCENSÃO” 2021
DEPUTADO ALCEU MOREIRA (MDB-RS)
DEPUTADO ALUISIO MENDES (PSC-MA)
Deputado André de Paula (PSD-PE)
DEPUTADO ANDRÉ FUFUCA (PP-MA)
Deputado Beto Pereira (PSDB-MS)
Deputada Bia Kicis (PSL-DF)
Deputado Capitão Augusto (PL-SP)
DEPUTADA CELINA LEÃO (PP-DF)
Deputado Celso Russomanno (REPUBLICANOS-SP)
DEPUTADO CELSO SABINO (PSDB-PA)
Deputado Claudio Cajado (PP-BA)
Deputado Domingos Neto (PSD-CE)
Deputado Domingos Sávio (PSDB-MG)
DEPUTADO DR. LUIZ ANTONIO TEIXEIRA JR (PP-RJ)
DEPUTADO EDUARDO BISMARK (PDT-CE)
DEPUTADO ELMAR NASCIMENTO (DEM-BA)
Deputado Enrico Misasi (PV-SP)
DEPUTADO EVAIR VIEIRA DE MELO (PP-ES)
Deputado Fausto Pinato (PP-SP)
DEPUTADO FERNANDO MONTEIRO (PP-PE)
Deputado Fred Costa (PATRIOTA-MG)
Deputado Geninho Zuliani (DEM-SP)
Deputado Gervásio Maia (PSB-PB)
Deputado Hildo Rocha (MDB-MA)
Deputado Hiran Gonçalves (PP-RR)
DEPUTADO HUGO LEAL (PSD-RJ)
DEPUTADO IGOR TIMO (PODEMOS-MG)
DEPUTADO JERÔNIMO GOERGEN (PP-RS)
DEPUTADO JOÃO CARLOS BACELAR (PL-BA)
DEPUTADO JÚLIO CESAR (PSD-PI)
SENADOR LASIER MARTINS (Podemos-RS)
Deputado Léo Moraes (Podemos-RO)
Deputada Lídice da Mata (PSB-BA)
Deputado Lucas Vergilio (Solidariedade-GO)
Senador Luis Carlos Heinze (PP-RS)
DEPUTADO LUIS TIBÉ (Avante-MG)
DEPUTADO MARCEL VAN HATTEM (Novo-RS)
Deputada Maria do Rosário (PT-RS)
Deputado Mário Heringer (PDT-MG)
DEPUTADO NIVALDO ALBUQUERQUE (PTB-AL)
Deputado Paulo Ramos (PDT-RJ)
DEPUTADO PEDRO LUCAS FERNANDES (PTB-MA)
Deputado Pedro Lupion (DEM-PR)
Deputado Reginaldo Lopes (PT-MG)
Deputado Rodrigo Agostinho (PSB-SP)
Deputada Sâmia Bomfim (PSol-SP)
DEPUTADO SEBASTIÃO OLIVEIRA (Avante-PE)
DEPUTADO SERGIO SOUZA (MDB-PR)
Deputado Túlio Gadêlha (PDT-PE)
SENADORA ZENAIDE MAIA (Pros-RN)
(Os parlamentares em negrito e caixa alta são os novos em “ascensão” 2021)
1 Processo legislativo, para efeito deste trabalho, é entendido como algo além dos procedimentos formais de elaboração, apresentação e deliberação de leis no âmbito do Poder Legislativo. Esse, neste particular, precede e extrapola essas fases da tomada de decisão no rito de tramitação do Congresso para alcançar a influência da sociedade, das organizações e dos demais poderes interessados na formulação e conclusão das negociações que antecedem a institucionalização das leis.
Esta é a 3ª vez seguida em que o julgamento acaba postergado, desde que foi levado ao plenário do Supremo, sem nem mesmo um voto proferido
Por Weslley Galzo
Com aproximadamente 6 mil indígenas aguardando a decisão em frente ao prédio do Supremo Tribunal Federal (STF), o julgamento sobre a tese do "marco temporal" das demarcações de terras tradicionalmente ocupadas por povos originários foi novamente adiado. A pauta será retomada na quarta-feira, 1º, mas ainda sem previsão de encerramento a curto prazo.
Até que os ministros possam finalmente votar, os 39 advogados e instituições inscritas na Corte para orientar o processo terão direito a fazer sustentação pelo tempo regimental de 15 minutos. O presidente do Supremo, Luiz Fux, afirmou no encerramento da sessão desta quinta-feira, 26, ser impossível que todos se manifestem a tempo de finalizar o julgamento em um só dia. Dessa forma, um arranjo deve ser feito para encurtar as manifestações. A pauta é vista como prioridade no STF.
Esta é a terceira vez seguida em que o julgamento acaba postergado, desde que foi levado ao plenário do Supremo, sem nem mesmo um voto proferido. O ministro Edson Fachin, relator da ação, teve tempo de ler o relatório, mas não conseguiu dar novamente o voto já manifestado contra a constitucionalidade da tese do marco temporal.
Fachin argumentou no voto proferido ainda no plenário virtual da Corte que a tese promove um progressivo "etnocídio" entre os povos indígenas, com a eliminação de elementos culturais de determinado grupo.
A frase dura e a mobilização de indígenas na última semana pela Esplanada dos Ministérios dão dimensão do que está em disputa no Supremo. O julgamento é aguardado desde julho, quando foi pautado e suspenso por falta de tempo para análise em razão do recesso no Judiciário. O recurso extraordinário a ser analisado pelos ministros gira em torno de uma disputa entre a Fundação Nacional do Índio (Funai) e o governo do Estado de Santa Catarina.
Mega acampamento com shows e pessoas não indígenas na esplanada dos ministerios
A Fundação Amparo Tecnológico ao Meio Ambiente (Fatma), do governo de Santa Catarina, pede a reintegração de posse das terras sob tutela das etnias Xokleng, Kaigang e Guarani, que exigem a demarcação da Reserva Indígena de Ibirama-La Klanõ.
O argumento principal que embasa o pedido é a tese do Marco Temporal, na qual seus defensores, muitos deles ruralistas, argumentam que uma terra indígena só pode ser demarcada se for comprovado que as comunidades originárias já estavam estabelecidas sobre o território requerido na data da promulgação da Constituição, ou seja, em 5 de outubro de 1988. As centenas de povos que não conseguirem comprovar legalmente a ocupação das terras nesta data não terão direito a pedir demarcação e poderão ser removidas compulsoriamente dos territórios que ocupam há décadas.
A decisão a ser tomada pelos ministros do Supremo na próxima semana deve impactar o futuro de 303 demarcações de terras indígenas em andamento no País, um direito fundamental dos povos originários, previsto na Constituição. Dados publicados no Diário Oficial da União (DOU) mostram que essas terras ainda não foram analisadas pelo poder público, a fim de obter homologação presidencial. Diante da falta de avaliação, o processo de demarcação está pendente para cerca de 197 mil indígenas que ocupam os 11 milhões de hectares de terras não demarcadas.
A tese do marco temporal é há muito tempo aplicada em casos diversos de disputas contra comunidades indígenas. Em 2013, por exemplo, o ex-procurador-geral de Mato Grosso Jenz Prochnow Junior entrou com ação no Supremo pela anulação de um decreto assinado pela então presidente Dilma Roussef (PT), que homologou a demarcação da terra indígena Kayabi. O caso segue em tramitação na Corte.
"O marco temporal de ocupação: a Constituição Federal trabalhou com data certa - a data da promulgação dela própria (5 de outubro de 1988) - como insubstituível referencial para o dado da ocupação de um determinado espaço geográfico por essa ou aquela etnia aborígene", escreveu o procurador-geral. O termo aborígene é geralmente usado com conotação pejorativa.
Os defensores da tese apontam o uso do verbo "ocupar" no tempo presente para justificar a necessidade de os indígenas estarem ocupando as terras no momento da promulgação do texto constitucional.
A Procuradoria-Geral do Estado de Santa Catarina, que defende o governo estadual contra o povo Xokleng na disputa pela reintegração de posse, diz que, caso a tese do marco temporal se torne inconstitucional, cerca de 2 mil pessoas, dentre eles produtores rurais, que vivem na área desejada serão atingidas.
"Este julgamento pode ser capaz de equacionar as questões sociais, culturais, antropológicas e federativas que envolvem a matéria. A Constituição incentiva o resgate da dignidade dos povos indígenas, superando a 'diretriz de integração' e constituindo o 'paradigma da interação', mas sem que para isso se violem outros direitos fundamentais igualmente relevantes à sociedade brasileira e decorrentes da Carta", declarou a Procuradoria-Geral de Santa Catarina, por meio de nota.
Em análise mais ampla dos impactos, Eloy Terena, advogado da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib), afirma que o reconhecimento da legitimidade faria com que povos isolados fossem "condenados ao extermínio" no processo de tomada das terras que ocupam. Segundo Terena, o marco temporal pode intensificar os assassinatos no campo.
"Nos tempos em que estamos vivendo, eu não duvido que no dia seguinte os fazendeiros, os garimpeiros não iriam nem esperar a publicação da decisão e, tampouco, uma decisão da Funai. Eles iriam com as próprias mãos fazer a retirada de comunidades inteiras", disse o advogado.
O presidente Jair Bolsonaro negou nesta sexta-feira, 27, que esteja planejando dar um golpe de Estado no País. “Estão dizendo que quero dar golpe. São idiotas. Já sou presidente”, declarou o chefe do Executivo a apoiadores aglomerados sem máscaras de proteção contra a covid-19, em frente ao Palácio do Planalto.
Por Eduardo Gayer e Sofia Aguiar
Bolsonaro já disse, em diversas ocasiões, que as eleições de 2022 poderiam não ocorrer sem a adoção do voto impresso, proposta do governo que foi derrotada na Câmara dos Deputados. Além do presidente, o ministro da Defesa, Walter Braga Netto, fez a mesma ameaça ao presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), por meio de um interlocutor, como revelou o Estadão/Broadcast Político.
Ao convocar, mais uma vez, simpatizantes para as manifestações do 7 de Setembro, o presidente disse que fará um discurso mais longo no ato da Avenida Paulista, em São Paulo. Segundo Bolsonaro, as manifestações vão mostrar para o mundo “que o Brasil está sofrendo”. “O que está em risco é o futuro de vocês e a minha vida física. Tem uma van ali para evitar o sniper. É o tempo todo essa preocupação do que pode acontecer”, afirmou.
Mantendo sua posição de confronto com os demais Poderes, Bolsonaro afirmou que não pode sofrer interferências de outros entes da federação. “Não quero interferir do lado de lá, nem vou, mas precisam me deixar trabalhar do lado de cá. Está difícil governar o País dessa forma”, declarou, desferindo novos ataques, embora indiretos, a ministros do Supremo Tribunal Federal (STF). “Não pode um ou dois caras estragar a democracia no Brasil. Começaram a prender na base do canetaço, bloquear redes sociais. Agora, o câncer já foi para o TSE. Temos que colocar um ponto final nisso.”
Hoje, o Tribunal Superior Eleitoral é presidido pelo ministro do STF Luís Roberto Barroso. Em 2022, no entanto, ano das eleições, o tribunal passará a ser chefiado pelo ministro do STF Alexandre de Moraes, alvo do pedido de impeachment apresentado por Bolsonaro, o qual foi rejeitado pelo presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG).
O chefe do Executivo voltou a defender o chamado "tratamento precoce" contra a covid-19, medidas que já se mostraram ineficazes, conforme apontaram inúmeros estudos científicos. “Deu certo para mim e para muita gente.”
Mesmo sem comprovação científica de eficácia, Bolsonaro reiterou seus ataques à Coronavac, vacina desenvolvida pelo Instituto Butantã, em parceria com o laboratório chinês Sinovac: “Essa vacina, estão vendo que é uma… Não precisa nem falar”.