‘Nós vamos colapsar o sistema, nós vamos sitiar Brasília’, disse uma extremista; outro, com nome de Bolsonaro no boné, orientou pichações no Supremo; mais de 1.500 foram presos após ataques contra STF, Congresso e Planalto

 

Por: Julia Affonso, Vinícius Valfré, Daniel Weterman, André Borges, Felipe Frazão, Levy Teles -Estadão

 

Fotografias, vídeos e trocas de mensagens em grupos restritos comprovam que a invasão ao Palácio do Planalto, ao Congresso e ao Supremo Tribunal Federal (STF) por extremistas foi um ato premeditado e organizado em seus detalhes, e não uma ação espontânea. Nos últimos dois dias, o Estadão analisou cerca de 26 horas de transmissões ao vivo, listas de passageiros de ônibus, postagens em redes sociais e centenas de imagens. O material deixa claro que os manifestantes foram para Brasília dispostos, efetivamente, a invadir as sedes dos três Poderes.

 

 

O Estadão identificou a participação de 88 pessoas nas invasões e depredações dos espaços públicos. A convocação para os atos já tinha um propósito golpista estabelecido: “Nós vamos colapsar o sistema, nós vamos sitiar Brasília, nós vamos tomar o poder de assalto, o poder que nos pertence”, disse Ana Priscilla Azevedo, numa live realizada em 5 de janeiro, no acampamento bolsonarista montado no entorno do Quartel General do Exército, em Brasília. Não era um grito isolado. Mensagens de mesmo teor foram reforçadas em centenas de postagens produzidas por manifestantes, que também trataram de destacar o papel de liderança do ex-presidente Jair Bolsonaro sobre a mobilização golpista.

 

Ana Priscila Azevedo Foto: Reprodução/Redes Sociais

“Jair Messias Bolsonaro, você vai estar voltando para essa nação para continuar o seu governo”, disse o missionário Felício Quitito, ao invadir o plenário do Senado. Com a foto presidencial de Bolsonaro arrancada da galeria de ex-presidentes do Palácio do Planalto, Alcimar Francisco da Silva deixou clara a sua inspiração para invadir a casa oficial do governo federal. “Meu herói. Estamos na casa dele aqui, na nossa casa”, afirmou Silva, exibindo o retrato.

 

As provas que mostram a intenção golpista também revelam a conivência da Polícia Militar do Distrito Federal. A caminho do Congresso, uma mulher que se identificou como Margarida disse aos seus seguidores que o objetivo era “tomar” o local. “Orem por nós”, pediu. Já Jussara Oliveira elogiou os policiais. “Um agradecimento todo especial à PM, que a todo tempo está nos apoiando”, afirmou. Era um clima de confraternização. “Não tem Dubai, não tem Paris, não tem viagem que eu tenha feito na vida que seja melhor do que esse dia que eu sonhei tanto, que a gente ia tomar isso daqui”, vibrou Aline Magalhães em vídeo que exibiu nas suas redes sociais.

 

Golpistas que atacaram Brasília

 

Dentro do Congresso, Alessandra Faria Rondon ocupou a cadeira e mesa do senador licenciado e atual ministro da Agricultura, Carlos Fávaro (PSD-MT), no Senado. “Eu só saio daqui a hora que os traidores da Pátria estiverem presos”, afirmou, aos berros. “Queremos intervenção militar.”

 

O guarda municipal Joelson Sebastião Freitas comemorou o êxito golpista e até mesmo a direção do vento, que jogava a fumaça das bombas de gás na direção dos policiais. “Como Deus é bom, a fumaça vai só para a polícia”, celebrou, enquanto invadia o Palácio do Planalto ao lado da mulher, Marisa Nogueira. “Amor, venha, vamos subir a rampa antes que a polícia chegue.”

 

Joelson Sebastião Freitas

 

Joelson Sebastião Freitas Foto: Reprodução/Redes Sociais

Houve quem lamentasse a perda de itens pessoais, mas dizendo que o caos valia o preço. “Estamos quebrando tudo, fazer o quê? O povo é soberano. Eu perdi o meu Ray-Ban, caiu nessa porra toda. Mas valeu”, disse Beto Rossi, ao invadir o Planalto.

 

Próximo dali, Fabrizio Cisneros mostrava o Supremo depredado, ao som de vidros sendo quebrados, e pedia que seus seguidores compartilhassem as imagens. “O mundo inteiro tem que saber que a gente tomou o poder de novo e a gente não vai sair daqui. A gente não vai recuar”, disse o extremista. “Infelizmente, tivemos que ser um pouco mais ríspidos.”

 

Cisneros vestia um boné com o nome de Bolsonaro, que tinha o rosto estampado em uma infinidade de camisetas. Em um dos vídeos, ele pediu a outro extremista para pichar a sede do Supremo. “Não seria interessante escrever nela (janela): Supremo é o povo? Pega essa tinta e escreve nela”, disse. “É a revolução dos manés.”

 

Durante a transmissão ao vivo, as palavras de Cisneros repercutiam o sentimento de milhares de pessoas que se entocaram por mais de um mês dentro de barracas erguidas na porta do Exército. Disse que os radicais haviam ficado 70 dias nas ruas, “esperando que se fizesse algo” sobre a vitória de Lula Inácio Lula da Silva (PT). “Nada foi feito. Então, viemos tomar o poder, que é nosso por direito”, afirmou. “A gente vai ser resistência até o dia que o Exército intervier com a GLO (Garantia da Lei e da Ordem).”

 

Os apoiadores do ex-presidente acreditavam que, ao causar o caos nos prédios públicos, as Forças Armadas teriam uma justificativa para dar um golpe e tirar Lula do Palácio do Planalto. “Já tomamos aqui, o pior já foi feito”, afirmou Cineroso. “Não podemos perder essa única e última oportunidade. O Exército tem que vir, tem que intervir.” Após a depredação, o petista decretou intervenção federal na segurança do Distrito Federal e mais de 1.500 extremistas foram presos.

 

No início da noite, Rafael Faus mostrou que a Esplanada dos Ministérios já estava tomada pelas forças de segurança. “Polícia para c* jogando bomba na gente”, reclamou. “Vamos para cima, vamos entrar de novo.”

 

Rafael Faus

 

Rafael Faus Foto: Reprodução/Redes Sociais

Desde o quebra-quebra, muitos extremistas têm apagados seus perfis nas redes sociais ou os vídeos que fizeram do ato golpista. No domingo, o Estadão assistiu e gravou trechos das lives que os radicais fizeram, o que permitiu a identificação de Karoll Dias, Gilmar Faria, do “Patriota Guilherme” e de Gilberto Mariano, por exemplo.

 

Veja os 88 invasores identificados pelo Estadão:

 

- Fátima Mendonça: Aos 67 anos, confirmou em vídeo que participava da invasão e que ia “pegar o Xandão”. “Quebrando tudo e cagando nessa bosta aqui”, disse.

 

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Fátima Mendonça

 

Fátima Mendonça Foto: Reprodução/Redes Sociais

- Adriano Castro: Ex-BBB, participou da invasão ao espaço público, convocou as pessoas a aderirem ao ato golpista e fez quatro horas de transmissão ao vivo do vandalismo. “A galera estava ansiosa para sair do quartel. Ninguém aguentava mais. Acabou, chega”.

 

Adriano Castro

 

Adriano Castro Foto: Reprodução/Redes Sociais

- Alcimar Francisco da Silva (à esquerda na foto): Invadiu o Palácio do Planalto. Gravou uma live com o retrato de Bolsonaro retirado pelos golpistas da galeria de ex-presidentes do Palácio do Planalto. Foi a única preservada. “Meu herói aqui. Estamos na casa dele”.

 

Alcimar Francisco da Silva

 

 

Alcimar Francisco da Silva

- Cabo Correa: Invadiu o Congresso em 2016 pedindo intervenção militar, não foi punido e voltou a atacar no dia 8 o mesmo prédio público.

 

Cabo Correa

 

Cabo Correa Foto: Reprodução/Redes Sociais

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- Camila Mendonça Marques: Com máscara e óculos de natação para se proteger de armas de efeito moral, invadiu o Palácio do Planalto.

 

Camila Mendonça Marques

 

Camila Mendonça Marques Foto: Reprodução/Redes Sociais

- Daniel Muller Xerife: Candidato a deputado estadual em SP, invadiu o STF gritando “o Supremo é nosso”.

 

Daniel Miller Xerife

 

Daniel Miller Xerife Foto: Reprodução/Redes Sociais

- Edina Cordeiro: Na marcha à Praça dos Três Poderes já avisava que objetivo era a invasão para “tomar o que é nosso”.

 

- Pamela Monique Cardoso Bório: Ex-primeira-dama da Paraíba foi flagrada na rampa do Congresso com outros manifestantes, invadindo um espaço de acesso restrito.

 

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- Samuel Faria: Invadiu o Congresso, sentou-se na cadeira do presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, e gravou vídeo pedindo Pix para sustentar o golpe.

 

Samuel Faria

 

Samuel Faria Foto: Reprodução/Redes Sociais

- Thiago Bezerra: Pastor em Goiânia, transmitiu invasão ao vivo e apagou a conta após ser investigado. Invadiu o Congresso.

 

Thiago Bezerra

 

Thiago Bezerra Foto: Reprodução/Redes Sociais

- Vitória Gonçalves: Namorada de Gilbert Klier, posou fazendo o “V” da vitória”

 

- Patriota Guilherme: Transmitiu ao vivo a ação dos vândalos; teve o perfil bloqueado por ordem de Moraes. Invadiu o espaço público.

 

- Gisele Guedes: Invadiu espaço público. Da Praça dos Três Poderes gravou vídeo dizendo que a invasão era “reintegração de posse”

 

- Moyses Douglas Zaramella: Esteve em um dos primeiros grupos a tomar o teto do Congresso e mostrar tentativa de acesso às cúpulas

 

Moyses Zaramella

 

Moyses Zaramella Foto: Reprodução/Redes Sociais

- Alexandra Moscoso: Participou da invasão do Senado Federal, celebrando o ato criminoso com os demais golpistas

 

Alexandra Moscoso

 

Alexandra Moscoso Foto: Reprodução/Redes Sociais

- Erlon Paiotta Ferrite: Foi flagrado na invasão do Supremo Tribunal Federal, chutando um busto de metal caído no chão

 

- José Donizete Correa: Político bolsonarista, invadiu o Congresso e gravou vídeo no teto do prédio, em frente às cúpulas

 

- Gilbert Klier: Tenista suspenso por doping, esteve nos atos golpistas e divulgou foto, mas depois disse ter se arrependido. Invadiu espaço público.

 

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Vitória Gonçalves Gilbert Klier

 

Vitória Gonçalves Gilbert Klier Foto: Reprodução/Redes Sociais

- Josafá Ramos dos Santos: Sargento da Polícia Militar da Bahia, estava acampado em Brasília e participou da invasão.

 

- Salomão Vieira: Cantor gospel, foi um dos incentivadores das invasões por meio de diversas lives. Transmitiu os atos golpistas direto da Esplanada.

 

Salomao Vieira

 

Salomao Vieira Foto: Reprodução/Redes Sociais

- Vânia Regina Mielke: Invadiu o teto do Congresso. Nas redes, usa foto de Bolsonaro

 

Vania Regina Mielke

 

Vania Regina Mielke Foto: Reprodução/Redes Sociais

- Alessandra Faria Rondon: Invadiu Senado e gravou na cadeira de senador Carlos Fávaro, a quem chamou de “traidor”. “Só saio daqui na hora que s traidores da pátria estiverem presos”.

 

- Ana Priscila Azevedo: Organizadora de grupo extremista no Telegram, comemorou invasão e vandalismo e atacou STF. Invadiu o Supremo e o Planalto. “Nós vamos colapsar o sistema, sitiar Brasília, tomar o poder de assalto”.

 

- Fabrizio Cisneros: Invadiu o Supremo. Usava boné com nome de Bolsonaro e orientou pichações na fachada do prédio.

 

Fabrizio Cisneros

 

Fabrizio Cisneros Foto: Reprodução/Redes Sociais

- Felicio Quitito: Invadiu Senado e gravou vídeo dizendo que Bolsonaro voltaria para continuar governo.

 

Felício Quitito

 

Felício Quitito Foto: Reprodução/Redes Sociais

- Rafael Faus: Ao mostrar a Esplanada tomada pela polícia, ameaçou: “Vamos para cima, vamos entrar de novo.”

 

- Ridauto Lucio Fernandes: General da reserva do Exército, foi diretor de Logística do Ministério da Saúde no governo Bolsonaro. Invadiu a Praça dos Três Poderes e exaltou ato.

 

Ridauto Lucio Fernandes

 

Ridauto Lucio Fernandes Foto: Reprodução/Redes Sociais

- Joelson Sebastião Freitas: Guarda municipal em Foz do Iguaçu (PR), invadiu o Congresso e o Planalto e defendeu em vídeo reação a policiais e militares.

 

- Simone Tosato: Esteve no acampamento em frente ao QG e participou da invasão na Praça dos Três Poderes.

 

Simone Tosato

 

Simone Tosato Foto: Reprodução/Redes Sociais

- Ana Flávia Batista: Transmitiu todo o deslocamento do QG do Exército para a Praça dos Três Poderes. Invadiu o Senado Federal e ocupou o plenário, de onde fez uma live de 2h30 e pedia um golpe de Estado das Forças Armadas.

 

- Adriano Camargo Testoni: Coronel aposentado aparece na área restrita do Congresso xingando o Exército.

 

- Beto Rossi: Participou de invasão e reclamou ter perdido um óculos: “perdi meu Ray-Ban, caiu nessa p*, mas valeu”.

 

- Gilmar Faria: Invadiu o Planalto pensando que o local era o Congresso.

 

- Karoll Dias: Transmitiu o ato golpista pelo Tik Tok e comemorou a invasão do Supremo: “Xandão do cão”.

 

Karoll Dias

 

Karoll Dias Foto: Reprodução/Redes Sociais

- Aline Magalhães: No Congresso, disse que era melhor dia de sua vida, “mesmo com bomba, com gás lacrimogêneo”. “Não tem Dubai, não tem Paris. Não tem viagem que tenha feito na vida que seja melhor que esse dia que sonhei tanto. Que a gente iria tomar isso daqui”.

 

- Paulo Silva: Pastor, missionário e apoiador de Bolsonaro, invadiu a sede do Congresso Nacional.

 

Paulo Silva

 

Paulo Silva Foto: Reprodução/Redes Sociais

- Aline Bastos: Subiu no teto do Congresso, área proibida, e gravou vídeos dizendo não aceitar “ser governada por ladrão”.

 

- Ederson Diniz: Tomou o teto do Congresso com pedido de golpe militar, o que é inconstitucional: “Forças Armadas, venham!”.

 

- Edson Feitosa: Estava em grupo que invadiu área do Congresso bloqueada e disse que ato era vitória dos patriotas.

 

- Gilberto da Silva Ferreira: É suplente de vereador em Nova Santa Rita (RS) e invadiu a sede do Congresso.

 

Gilberto da Silva Ferreira

 

Gilberto da Silva Ferreira Foto: Reprodução/Redes Sociais

- Gilberto Mariano: Invadiu a Praça dos Três Poderes. Na saída do ato, quis voltar para o quartel-general do Exército e manter o movimento golpista.

 

- João Salas: Tentou minimizar a atuação após a depredação dos prédios: “Entrei para mostrar como estava lá dentro”. Invadiu os prédios públicos.

 

- Leandro Alves: Participou do movimento de invasão da Praça dos Três Poderes.

 

- Luciano Oliveira dos Santos: É conhecido como Popó Bolsonaro e ironizou a reação da polícia: ”o pessoal está empurrrando bala de borracha na gente, é normal, estamos protestando”. Invadiu a Praça dos Três Poderes.

 

- Lucimario Benedito Camargo: É flagrado em imagens durante a invasão do Palácio do Planalto, carregando uma bandeira do Brasil.

 

- Luiz Fernandes Ferreira: ”Vamos tomar, tem que ser desse jeito”, gritava Ferreira, dentro das invasões em Brasília.

 

- Mathews Lukkas Phellype: Teve a participação registrada nos atos de invasão.

 

- Pedro Noronha: Esteve no acampamento no QG do Exército, em Brasília e participou da invasão a Praça dos Três Poderes.

 

- Rodrigo Raul Tara: Participou da invasão do gramado do Congresso.

 

- Romario Garcia: Participou da invasão do gramado do Congresso.

 

- “sergio_brucutu”: Participou da invasão ao Congresso.

 

- Thiago Queiroz: Invadiu o Senado Federal. É advogado.

 

- Dayane Muhammad: Participou da invasão. ”É tudo ou nada, quebramos tudo”, afirmou em vídeo.

 

- Jussara Oliveira: Invadiu o Congresso alegando que “tinha permissão”.

 

- Leo Indio: Sobrinho de Bolsonaro. Invadiu o Congresso.

 

- Zuleica Portes Machado: “Tomamos”, anunciou ao invadir o Congresso.

 

- Margarida (sobrenome não identificado): A caminho do Congresso, disse que o objetivo era “tomar” o local e pediu oração aos seguidores.

 

- Roniclei Teixeira: ”Botamos os vagabundos para correr”, anunciou na porta do STF. Participou da invasão.

 

- Luis Fernando, o “Sabugueiro”: Invadiu o Congresso. “Invadindo essa bosta”, disse em vídeo.

 

- Erlindo Cruz: Pastor e ex-candidato a vice-prefeito de Chapadas dos Guimarães invadiu o Planalto pela rampa.

 

- Eduardo Arantes Barcelos: Participou da invasão na Praça dos Três Poderes.

 

- Francisco Andrade da Conceição: Veio de Santarém (PA) e postou vídeo para anunciar a invasão do Congresso, Palácio e STF.

 

- Francisco Gaudêncio Schena: Participou da invasão a Praça dos Três Poderes.

 

- Natália Karina: Participou da invasão na Praça dos Três Poderes e fez vídeos no teto do Congresso, área de acesso proibido.

 

- Nelma Barros Braga Perovani: Participou e celebrou as invasões do Congresso Nacional, com vídeos divulgados com golpistas nas redes.

 

- Rieny Munhoz Marçula: Participou da invasão na Praça dos Três Poderes. Na invasão, disse que o gás lacrimogêneo veio, mas seria “resistência”.

 

- Sara Sany: É de Sete Lagoas (MG) e participou dos atos que resultaram na invasão do Congresso Nacional.

 

- Yago Sampaio: Participou da invasão na Praça dos Três Poderes

 

- Gaspar Rafael: Eletricista, gravou um vídeo próximo ao Espelho D’Água do Congresso: “Dominamos tudo”

 

- Rodrigo Cardoso: Participou da invasão na Praça dos Três Poderes.

 

- Marta Calliari: Guarda Municipal em Gravataí (RS), ela participou das mobilizações na Esplanada dos Ministérios. ‘Acabamos de invadir o Congresso Nacional”, postou.

 

- Luciana Novaes: Do Paraná, ela participou da invasão ao Congresso Nacional.

 

- Marcos Poggetti de Menezes: Apoiador de Bolsonaro e do PL, fez selfie na invasão ao Salão Negro do Congresso.

 

- Marcos Alexandre Mataveli de Morais: Ex-vice-prefeito de Pancas (ES), participou da invasão ao Salão Nobre do Palácio do Planalto e transmitiu os atos.

 

- Rafael Schmitt: Foi um dos invasores do Salão Verde da Câmara, com ameaças: “ou eles fazem acordo com nós ou já era para eles”.

 

- Robson Pereira Stenpim: Posou para as redes sociais no teto do Congresso, área de segurança com acesso proibido ao público.

 

- Edmara Cardin Teixeira: Transmitiu a invasão do Congresso na altura do Salão Negro. De Lins (SP), cobrava intervenção militar e atribuia o quebra-quebra a infiltrados.

 

- Mari Cristina Bizari: Participou da invasão na Praça dos Três Poderes. Falava em salvar o Brasil durante a invasão. Foi candidata derrotada a deputada estadual em SP.

 

- Perpétua Aguiar Germano: a fisioterapeuta Maria Do Perpétuo Socorro Aguiar Germano invadiu o Congresso e celebrou nas redes sociais, dizendo que as bombas não impediriam o mesmo no Planalto. Candidatou-se a deputada estadual no Ceará pelo PL e foi derrotada candidata derrotada.

 

- Vanessa Harume Takasaki: Invadiu o Palácio do Planalto, de peruca rosa, e subiu a rampa interna até o 3º andar, onde fica o gabinete presidencial. É de Tupã (SP) e foi presa no Planalto.

 

- Veri Mendes: Participou de ato golpista se apresentando como “ativista política bolsonarista”.

 

- Vinicius Matsunaga Sanches: Dono de uma cutelaria em São Paulo, ele foi flagrado na tomada da Praça dos Três Poderes.

 

- Caio Enrico Lima: De Hortolândia (SP) invadiu o Congresso Nacional e disse ter reagido por não estar de acordo com o comunismo. Segundo ele, atos totalmente pacíficos não resultam em nada

 

- Marisa Aparecida Aires Nogueira: Mulher de Joelson Freitas, também é guarda municipal e participou de invasões às sedes dos Poderes

 

- Wallace França: Policial legislativo posou ao lado dos golpistas durante a invasão do Senado Federal.

 

- Silvia Waiãpi: Deputada federal eleita pelo PL no Amapá, chegou a publicar vídeos de cima do Congresso Nacional. Depois, apagou o material das redes.

 

- Gilberto Carlos da Nóbrega: Veio de Cáceres (MT) e divulgou imagens utilizando uma balaclava para esconder o rosto.

 

- Ruy Garcia: vereador de Inhumas (GO), participou da invasão à área do Congresso e posou para fotos com amigos.

 

Posted On Quarta, 11 Janeiro 2023 18:59 Escrito por O Paralelo 13

Ministro da Justiça afirmou que 1.500 pessoas foram detidas desde o último domingo, 8

 

Por Vanessa Ortiz

 

O ministro da Justiça, Flávio Dino, afirmou nesta segunda-feira, 9, durante uma entrevista a jornalistas, que 1.500 pessoas foram detidas, desde domingo, 8, após os atentados terroristas no Distrito Federal. Desse número, 1.200 estavam em frente ao QG do Exército, em Brasília. Dino disse que eles serão ouvidos até terça-feira, 10, e caberá ao Judiciário decidir se serão presos ou não.

 

O Exército e a Polícia Militar do DF realizaram, nesta segunda, uma operação para desmontar o acampamento de bolsonaristas que participaram dos atos. O grupo foi encaminhado para a Polícia Federal.

 

"É claro que eles estão sendo ouvidos e as providências de polícia judiciária serão tomadas, inclusive com a posterior comunicação ao Poder Judiciário. Caberá ao Judiciário dizer o que vai acontecer com eles. Alguns serão submetidos à audiência de custódia, outros podem eventualmente receber o benefício da liberdade provisória. Então, não podemos dizer o que vai acontecer com cada um. Haverá encaminhamento ao Poder Judiciário, creio que hoje ou amanhã”, declarou.

 

Ele salientou que houve no domingo 209 prisões em flagrante e que foram apreendidos, nos dois dias, 40 ônibus, inclusive em deslocamento, tentando sair de Brasília. “Em um desses ônibus havia arma de fogo".

 

‘Tentativa de golpe de Estado’


Dino classificou os atos como criminosos e afirmou que o grupo bolsonarista tentou “golpe de Estado” e praticou danos ao patrimônio público, já que invadiu e destruiu parte da área do Três Poderes, bem como “formação de quadrilha” e promoção de “lesões corporais”, contra jornalistas que trabalhavam no local e policiais.

 

O ministro também afirmou que as pessoas envolvidas serão punidas, não só no âmbito penal, como civil, arcando com a depredação do patrimônio público que ocorreu no domingo. De acordo com ele, isso caberá à Advocacia-Geral da União (AGU).

 

"Faço questão também de mencionar que foram realizadas também as perícias pela Polícia Federal nos edifícios-sede do Executivo, no Congresso Nacional e do Supremo. Perícias essas visando os inquéritos que estão sendo instaurados na Polícia Federal e, também, para promoção da responsabilidade civil", afirmou.

 

“Nós vimos a manifestação de um ódio contra instituições que foram duramente atacadas nos últimos anos, a exemplo do STF. Quem viu imagens, viu a materialização e o efeito do discurso de ódio, que não era anedótico, como nós alertamos esses anos todos. Palavras tem poder e essas palavras se transformaram em ódio e destruição. Mas essa é outra cadeia de responsabilidade jurídica ainda, é política”, completou.‘Capitólio brasileiro’

Dino chamou o episódio extremista e criminoso que ocorreu no Distrito Federal de "Capitólio brasileiro”, em comparação com o ataque ao Congresso dos EUA, em 6 de janeiro de 2021, para impedir que Joe Biden assumisse a Casa Branca, após as eleições. O ataque foi liderado por apoiadores do ex-presidente Donald Trump.

 

"Deus abençoou o Brasil, porque não tivemos nenhuma morte. [...] Nós ontem tivemos o ‘Capitólio Brasileiro’, com duas diferenças: a primeira, não houve óbitos e segundo, teve mais presos aqui do que lá, e com muita velocidade. O que mostra que as instituições sobreviveram a esse estresse a que foram submetidas. Mas não tenho dúvida que vivemos no ‘Capitólio brasileiro’.”

 

 

"Em primeiro lugar, quero afirmar que o nosso país caminha para a absoluta normalização institucional com muita velocidade. Hoje, o presidente Lula realizou reuniões com os Três Poderes da República e os comandantes das Forças Armadas de modo que, tanto no que refere às instituições civis quanto às militares, reina a plena compreensão quanto à importância da proteção da Constituição e da democracia", disse.

 

Financiamento dos atos

O ministro confirmou que a Polícia já busca por aqueles que financiaram os atos, embora, ainda não seja possível saber como isso se organizou. Agora, serão mapeados os contratantes de ônibus, e chamados para prestar depoimento.

 

"Não é possível ainda distinguir o financiamento. O que é possível dizer é que havia financiamento. Temos a relação de todos os contratantes dos ônibus, e eles serão chamados. Todos os que contrataram ônibus e vieram para Brasília nesse período serão chamados", afirmou.

 

Reunião com governadores

Nesta segunda-feira, Lula deve se reunir com governadores dos Estados, a fim de discutir medidas para que o movimento extremista não cresça. Segundo Dino, a medida vai configurar a “união geral do País”.

 

“A reunião com os governadores já é fruto de uma ideia de união nacional para proteger a Constituição e a democracia”, declarou.

 

 

Posted On Terça, 10 Janeiro 2023 05:10 Escrito por O Paralelo 13

Decreto foi aprovado em votação simbólica e passará pelo Senado

 

Com Agência Câmara

 

A Câmara dos Deputados confirmou em Plenário a intervenção federal na segurança pública do Distrito Federal decretada pelo presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, como resposta aos atos de vandalismo ocorridos neste domingo em Brasília.

 

A votação foi simbólica. O texto segue agora para o Senado Federal na forma do Projeto de Decreto Legislativo (PDL) 1/23, que deverá ser votado pelos senadores nesta terça-feira (10).

 

Relator da proposta, o deputado Rubens Pereira Júnior (PT-MA) afirmou que se trata de medida “amarga”, mas “necessária e proporcional” em face dos fatos tão graves ocorridos. O objetivo é recuperar o controle da ordem pública no Distrito Federal.

 

O parlamentar ressaltou que as forças de segurança pública do Distrito Federal se mostraram incapazes de impedir, de coibir e de reprimir os ataques conduzidos por pessoas com intenção de depor o governo democraticamente eleito. “Com efeito, o governo do Distrito Federal e sua Secretaria de Segurança Pública foram, para dizer o mínimo, inábeis, negligentes e omissos ao cuidar de um tema tão sensível, porquanto se tratava de tragédia anunciada”, disse.

 

O relator considerou os atos como criminosos e incompatíveis com os fundamentos democráticos da Constituição. “Incitam a ruptura com a ordem constituída; conclamam a dissolução das instituições democráticas e dos Poderes instituídos; e exortam o estabelecimento de um novo governo, alicerçado em bases autoritárias e antidemocráticas”, condenou.

 

Para o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), o ataque de vandalismo às instituições, sobretudo à Câmara, é inaceitável:

 

Lira: deputados serão sempre altivos em defesa da democracia

Intervenção

A intervenção é limitada à área de segurança pública do Distrito Federal no período entre 8 e 31 de janeiro de 2023, com o objetivo de encerrar o “grave comprometimento da ordem pública no Distrito Federal marcado por atos de violência e invasão de prédios públicos”. O governo federal será responsável por todas as atividades com relação direta ou indireta com a segurança pública.

 

O secretário-executivo do Ministério da Justiça, Ricardo Capelli, foi nomeado interventor e terá o controle operacional de todos os órgãos distritais de segurança pública no período. Capelli ficará subordinado ao presidente da República e poderá requisitar recursos financeiros, tecnológicos, estruturais e humanos do Distrito Federal e de órgãos, civis e militares, da administração pública federal para atingir os objetivos da intervenção.

 

Até o momento, mais de 1 mil manifestantes foram detidos para esclarecimentos e mais de 300 foram presos em flagrante. Após determinação do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes, foi desmontado o acampamento de bolsonaristas existente no quartel-general do Exército, em Brasília, desde a vitória eleitoral do presidente Lula. Também foi afastado, por 90 dias, o governador do Distrito Federal, Ibaneis Rocha.

 

Rio de Janeiro

Esta é a segunda vez que um presidente da República decreta intervenção na segurança pública de um ente federativo no período democrático. Em fevereiro de 2018, o então presidente Michel Temer decretou intervenção federal na segurança pública do estado do Rio de Janeiro por um ano.

 

O ato foi ratificado pela Câmara e pelo Senado no mesmo mês.

 

Debate em Plenário

A líder do Psol, deputada Sâmia Bomfim (SP), acusou diretamente o ex-presidente Jair Bolsonaro de responsabilidade sobre os atos golpistas. “Nos últimos quatro anos, o ex-presidente da República aparelhou todas as instituições para que esse momento acontecesse, insuflou seus seguidores para que isso acontecesse, em especial desde que perdeu as eleições para o presidente Lula”, disse.

 

Para o líder do PSB, deputado Bira do Pindaré (MA), as cenas presenciadas ontem provocaram “tristeza” e “indignação”. “Bolsonaristas promoveram atos deploráveis na capital do nosso País, rasgaram a Constituição, afrontaram os símbolos maiores da nossa República, tudo isso porque não aceitam o resultado da eleição.”, disse.

 

Ex-presidente da Câmara dos Deputados, o deputado Marco Maia (PT-RS) afirmou que o ataque de bolsonaristas contra as instituições democráticas foi um ataque “vil” e celebrou os “discursos duros” dos parlamentares em Plenário.

Já a deputada Bia Kicis (PL-DF) afirmou ser contrária à intervenção federal na segurança pública do DF. Ela disse que os vândalos não podem ser chamados de “terroristas” e considerou que houve falhas, mas não omissão das forças de segurança do Distrito Federal.

 

“Os atos de vandalismo devem ser repudiados, investigados e punidos na pessoa de seus autores e na forma da lei. A narrativa dominante, contudo, tem sido a de se responsabilizar e punir também não só os autores, mas o ex-presidente Bolsonaro e seus apoiadores, bem como todas as pessoas que estavam se manifestando na tarde de domingo”, declarou.

 

O deputado Marcelo Ramos (PSD-AM), no entanto, afirmou que só a “ignorância” ou a “má-fé” podem justificar a crítica à intervenção na segurança do DF diante dos fatos ocorridos. “A clara desordem pública; a incapacidade do aparato de segurança do Distrito Federal para o enfrentamento dessa desordem; e a anuência, a cumplicidade do aparato de segurança pública do Distrito Federal para com os atos que vilipendiaram os três Poderes da República”, disse.

 

Marcelo Ramos classificou os envolvidos como “terroristas”, “criminosos”, e “golpistas”. “Patriota não é só vestir uma camisa da Seleção Brasileira, não é só cantar o Hino Nacional, não é só se abraçar na bandeira do Brasil. Patriota é amar o povo brasileiro, é respeitar as decisões da maioria do povo brasileiro e respeitar as instituições que representam o povo brasileiro”, ressaltou.

 

Fonte: Agência Câmara de Notícias

 

Posted On Terça, 10 Janeiro 2023 05:08 Escrito por O Paralelo 13

O Jornal Nacional identificou dois apoiadores de campanha de Daniela Carneiro que são réus pelo crime de constituir milícia. Um deles é Cristiano de Oliveira Gouveia, conhecido como Babu

Por Jornal Nacional

 
Durante a campanha eleitoral na disputa por uma cadeira na Câmara dos Deputados, a atual ministra do Turismo, Daniela Carneiro, recebeu apoio de acusados de envolvimento com milícias do Rio de Janeiro. Dois nomes vieram a público nesta semana e o Jornal Nacional descobriu outros dois.

 

Daniela Carneiro, a Daniela do Waguinho, do União Brasil, foi a deputada federal mais votada do Rio. Recebeu 213 mil votos e muitos apoios.

 

O Jornal Nacional identificou dois apoiadores de campanha da ministra que são réus pelo crime de constituir milícia. Um deles é Cristiano de Oliveira Gouveia, conhecido como Babu.

 

Em um vídeo postado em uma rede social, Babu aparece adesivado com o número de Daniela - no áudio, o jingle da candidata. Em uma foto, Babu aparece em um comício, ao lado de Daniela Carneiro e de outros candidatos, nas eleições de outubro. Em outra, está ao lado da agora ministra e do marido dela, Waguinho, prefeito de Belford Roxo, na Baixada Fluminense.

Babu apoiando Daniela em campanha — Foto: JN

 

Para o Ministério Público, Babu era o responsável por promover alianças entre a milícia e traficantes de uma facção criminosa que fornecia dinheiro e armas para o grupo na cidade de Queimados, também na Baixada. Segundo a denúncia, Babu recebia dinheiro da exploração de TV por assinatura clandestina.

 

A Justiça aceitou a denúncia contra Babu e o Ministério Público do Rio recorre, na segunda instância, da decisão, na primeira instância, que o livrou da condenação.

 

Outro réu por milícia que apoiou a campanha de Daniela Carneiro é um vereador de Belford Roxo. Eduardo Araujo, do MDB, está afastado do cargo porque foi nomeado secretário de Energia Sustentável na prefeitura comandada pelo marido de Daniela.

Ele participou de carreatas com Daniela. O Ministério Público afirma que Eduardo era responsável por evitar prisões dos outros integrantes da quadrilha.

 

Nesta quinta-feira (5), o jornal “O Globo” revelou que outro vereador de Belford Roxo, que também ocupa o cargo de secretário na prefeitura, é réu por extorsão e porte ilegal de arma de fogo, e apoiou a candidatura de Daniela em 2022.

 

Fábio Augusto de Oliveira Brasil, conhecido como Fabinho Varandão, do MDB, chegou a ser preso em 2018, acusado de comandar um grupo que ameaçava moradores e explorava serviço clandestino de internet.

 

O jornal “Folha de S.Paulo” apontou também ligações da ministra com parentes do ex-vereador da cidade Marcinho Bombeiro, preso acusado de integrar a milícia. A irmã e o pai de Marcinho fizeram campanha para Daniela e estavam nomeados na prefeitura de Belford Roxo.

O Ministério Público do Rio abriu outra investigação, dessa vez para apurar se a demissão em massa de funcionários na prefeitura de Belford Roxo vai paralisar serviços essenciais. O prefeito exonerou todos os ocupantes de cargos em comissão, com exceção de médicos e dentistas e de servidores de quatro secretarias estratégicas.

 

O número de demitidos chega a 5 mil. Parte dos ex-funcionários foi contratada no ano passado e diz que, entre suas funções, estava fazer campanha para os candidatos do prefeito, como a agora ministra Daniela Carneiro.

Vídeos e fotos registram agendas de campanha em vários horários. Depois da demissão, o grupo fez um protesto na porta da prefeitura.

 

A ministra Daniela Carneiro afirmou que não compactua com qualquer ato ilícito e que cabe à Justiça o papel de julgar e punir. Também declarou que recebeu apoio de milhares de eleitores em diversos municípios durante a campanha.

 

A Prefeitura de Belford Roxo declarou que não há risco de paralisação das atividades, porque não exonerou trabalhadores de serviços essenciais; que nenhum servidor era coagido a participar de comícios e reuniões de campanha, e que eles iam por livre e espontânea vontade, porque confiam no trabalho de Daniela Carneiro.

 

O JN não conseguiu contato com os outros citados.

 

Em Brasília, depois da reunião do presidente Lula com todo o ministério, o ministro da Casa Civil, Rui Costa, foi questionado sobre a ministra do Turismo, Daniela Carneiro. Costa disse que o assunto não foi tratado na reunião e que, neste momento, não tem nada relevante ou substantivo que justifique qualquer preocupação no governo.

 

 

Posted On Sábado, 07 Janeiro 2023 04:24 Escrito por O Paralelo 13

Dois dias antes, embaixador da Argentina disse ter discutido moeda comum com ministro da Fazenda. Haddad já defendeu criação de moeda sul-americana

Com Folhapress

 

O ministro da Fazendao Fernando Haddad (PT) disse nesta quinta-feira (5/1) a um jornalista para "se informar primeiro" quando questionado, no Palácio do Planalto, sobre a possível criação de uma moeda única para o Mercosul.

 

"Que moeda única? Não existe moeda única, não existe essa proposta. Vai se informar primeiro", afirmou Haddad antes de deixar o local onde aconteceu a cerimônia de posse da ministra do Planejamento e Orçamento, Simone Tebet (MDB).

 

O ministro foi procurado por meio da assessoria de imprensa para comentar a fala, mas não enviou uma resposta até a publicação deste texto.

 

A declaração do titular da pasta econômica foi dada dois dias depois de o embaixador da Argentina, Daniel Scioli, ter dito que conversou com Haddad sobre a criação de uma moeda comum para o bloco regional em reunião na sede do Ministério da Fazenda.

 

Na ocasião, Scioli afirmou que o objetivo é fortalecer o bloco comercial e ampliar o vínculo entre os países da região e disse que cada país preservaria a sua própria divisa, sinalizando que estava descartada a criação de uma moeda única.

 

"Trabalharemos pela moeda em comum. Isso não significa que cada país não tenha a sua moeda, significa uma unidade para a integração e aumento de intercâmbio comercial em todo esse bloco regional. E, como disse o presidente Lula, fortalecer o Mercosul, ampliar a união latino-americana é muito importante", disse o embaixador.

 

Há uma diferença técnica entre os termos. A moeda comum seria usada em negociações comerciais entre os membros do bloco sul-americano, enquanto a moeda única substituiria a unidade monetária dos países que integram o grupo –isso significaria o Brasil abrir mão do real, por exemplo. A moeda única mais conhecida é o euro, divisa usada por países-membros da União Europeia.

 

Moeda sul-americana

 

Em 1º de abril de 2022, Haddad publicou um artigo na Folha, em coautoria com o economista Gabriel Galípolo (atual secretário-executivo da Fazenda), defendendo a criação de uma moeda sul-americana.

 

No texto, a dupla sustentava que a moeda poderia "impulsionar o processo de integração regional, marcado pelo ritmo lento e por momentos de recuo, e fortalecer a soberania monetária dos países da América do Sul, que enfrentam limitações econômicas decorrentes da fragilidade internacional de suas moedas".

 

Após a conversa com Haddad, Scioli exaltou o compromisso do ministro, a quem se referiu como "uma pessoa que tem muita experiência". "Haddad é um economista que tem uma ambição muito produtivista, uma ambição da economia real, um compromisso também muito forte com grandes objetivos da moeda comum, que terá também um impacto positivo", afirmou.

 

Segundo o embaixador da Argentina, os principais temas tratados com Haddad na última terça foram a integração financeira e energética entre os países e o aumento do intercâmbio comercial entre Brasil e Argentina.

 

A criação de uma moeda comum com a Argentina chegou a ser discutida durante o governo Jair Bolsonaro (PL). Em 2019, o então presidente e o seu ministro da Economia, Paulo Guedes, tiveram um encontro com empresários em Buenos Aires no qual falaram sobre um plano incipiente sobre o tema.

 

Desde a criação do Mercosul, os países do bloco mencionam a possibilidade da criação de uma moeda comum, mas nenhuma iniciativa nesse sentido foi concretizada devido às diferenças de políticas cambiais dos membros.

 

Posted On Sexta, 06 Janeiro 2023 06:32 Escrito por O Paralelo 13
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