Para jornalista, pleito fortalece governadores Tarcísio de Freitas e Ronaldo Caiado e impõe desafios ao campo político de Bolsonaro para 2026
Com site SBT
As eleições municipais de 2024 terminaram neste domingo (27), com realização do segundo turno em 51 cidades, incluindo 15 capitais. Para o jornalista Leonardo Cavalcanti, resultados expressivos da direita evidenciam possíveis segmentações e impõem desafios ao campo político do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), que segue inelegível, no pleito de 2026. "Direita vem avançando com tanta força, que pode se dividir", comenta o repórter do SBT News. Assista à análise no programa Brasil Agora desta segunda-feira (28), no canal do portal de notícias no YouTube (veja mais abaixo).
Na esteira de prefeitos eleitos e reeleitos, a direita consolidou a atuação de governadores como padrinhos políticos, sobretudo Tarcísio de Freitas (Republicanos) apoiando Ricardo Nunes (MDB) em São Paulo e Ronaldo Caiado (União Brasil) acompanhando Sandro Mabel (União) em Goiânia. Das nove disputas em capitais no segundo turno, o PL, sigla de Bolsonaro, perdeu sete. Ao todo, elegeu quatro chefes de Executivo municipais em 2024.
"Aconteceu em Goiânia [Fred Rodrigues, apoiado por Bolsonaro, perdeu para Mabel]. Essa força da direita pode fazer com que [eleitores] conservadores se dividam. Mas a gente sabe que divisão da direita é um risco maior em qualquer eleição, seja municipal, estadual ou federal", diz Cavalcanti.
Em São Paulo, Bolsonaro deu apoio discreto a Nunes. No cenário acirrado contra Pablo Marçal (PRTB) e Guilherme Boulos (PSOL), o prefeito reeleito encontrou em Tarcísio um apoiador constante durante a campanha.
"Ex-presidente se move muito pela emoção", analisa o jornalista. "Em São Paulo, quando viu que grupo de Nunes não o colocava como protagonista, acabou flertando com Marçal no início. Quando vê que Marçal pode acabar atrapalhando próprio capital político dele, ele recua. Se moveu, inclusive, por ciúme, que, na política, a gente sabe que tem muito", lembra.
Já em relação a Caiado, Cavalcanti considera o racha com Bolsonaro ruim para os planos do governador de Goiás em 2026. "Eleição de Mabel mostra força de Caiado em Goiás, isso é evidente. Mas ele é um político ainda muito regionalizado. Essa vitória de ontem representa muito no estado, na capital. Do ponto de vista nacional, essa briga não é boa para ele", disse.
"Candidato da direita, por mais que possa ter desenvoltura própria, tem que ter apoio de Bolsonaro. Pode ser que isso mude em dois anos, mas é muito difícil. Bolsonaro ainda é figura importante em 2026. Essa briga é ruim para ambos. No caso de Caiado, já tinha dificuldade na direita, com pessoas mais propensas a apoiar Tarcísio, que vai ter que definir seu futuro, tem reeleição mais tranquila [em SP] do que enfrentamento nacional. Mas, com essa briga, Caiado pode ter mais dificuldade de ser nome da direita [em 2026]", concluiu Cavalcanti.
Dos 20 prefeitos de capitais que tentaram a reeleição, 16 conseguiram um novo mandato nas eleições municipais de 2024
Com site NSC Total
Com o fim do segundo turno das Eleições 2024, estão definidos os prefeitos nas capitais brasileiras. Das 26 cidades que tiveram eleições para prefeito, quinze foram definidas neste domingo (27). As outras 11 foram definidas no primeiro turno, em 6 de outubro, incluindo Florianópolis.
Dos 20 prefeitos de capitais que tentaram a reeleição, 16 conseguiram um novo mandato nas eleições municipais de 2024. Desses, 10 conquistaram o cargo no primeiro turno e seis, no segundo. Outros quatro prefeitos de capitais que tentaram se reeleger perderam a disputa já no 1º turno de 2024, segundo dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
Prefeitos eleitos nas capitais do Brasil
Aracaju (Sergipe): Emília Corrêa (PL)
Belém (Pará): Igor (MDB)
Belo Horizonte (Minas Gerais): Fuad Noman (PSD)
Boa Vista (Roraima): Arthur Henrique (MDB)
Campo Grande (Mato Grosso do Sul): Adriane Lopes (PP)
Cuiabá (Mato Grosso): Abílio Brunini (PL)
Curitiba (Paraná): Eduardo Pimentel (PSD)
Florianópolis (Santa Catarina): Topázio (PSD)
Fortaleza (Ceará): Evandro Leitão (PT)
Goiânia (Goiás): Sandro Mabel (União Brasil)
João Pessoa (Paraíba): Cicero Lucena (PP)
Macapá (Amapá): Dr. Furlan (MDB)
Maceió (Alagoas): JHC (PL)
Manaus (Amazonas): David Almeida (Avante)
Natal (Rio Grande do Norte): Paulinho Freire (União)
Palmas (Tocantins): Eduardo Siqueira (Podemos)
Porto Alegre (Rio Grande do Sul): Sebastião Melo (MDB)
Porto Velho (Rondônia): Léo (Podemos)
Recife (Pernambuco): João Campos (PSB)
Rio Branco (Acre): Tião Bocalom (PL)
Rio de Janeiro (Rio de Janeiro): Eduardo Paes (PSD)
Salvador (Bahia): Bruno Reis (União)
São Luís (Maranhão): Eduardo Braide (PSD)
São Paulo (São Paulo): Ricardo Nunes (MDB)
Teresina (Piauí): Silvio Mendes (União)
Vitória (Espírito Santo): Lorenzo Pazolini (REP)
Partidos que mais elegeram prefeitos
O MDB e PSD foram os partidos que mais elegeram prefeitos, em cinco capitais cada — incluindo Topázio Neto, do PSD em Florianópolis. O União Brasil e o PL, partido do ex-presidente Jair Bolsonaro, elegeram quatro candidatos.
O ranking é seguido pelo Progressistas e Podemos, com dois prefeitos eleitos cada. Já o PT, sigla do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, saiu com um candidato vitorioso: Evandro Leitão, em Fortaleza
Jogo político
Governadores de 10 estados tiveram sucesso ao apoiar a eleição de um candidato à prefeitura das capitais brasileiras. Por outro lado, 16 terão pelos próximos 4 anos adversários políticos ou nomes que não apoiaram no comando da cidade mais importante do seu estado.
O levantamento, feito pelo g1, inclui nomes que tiveram o aval dos governadores desde o primeiro turno ou que passaram a ser apoiados somente na segunda parte do pleito. Em Porto Alegre, por exemplo, o governador Eduardo Leite (PSDB) só anunciou apoio a Sebastião Melo (MDB) no segundo turno.
Já a vitória de Tarcísio de Freitas (Republicanos) foi ainda mais significativa já que foi um dos principais apoiadores da reeleição de Ricardo Nunes (MDB) na capital de São Paulo. Seu nome foi o principal lembrado pelo prefeito reeleito em seu discurso de vitória.
Mesmo caso ocorreu em Florianópolis, com o apoio do governador Jorginho Mello (PL) a Topázio (PSD), eleito no primeiro turno. Situações semelhantes ocorreram também em Rio Branco (AC), Fortaleza (CE), Belém (PA), Campo Grande (MS), Curitiba (PR), Goiânia (GO) e João Pessoa (PB).
Da Assessoria
Os prefeitos reeleitos de Gurupi, Porto Nacional e Paraíso, Josi Nunes (UB), Ronivon Maciel (UB) e Celso Morais (MDB), se reuniram nesta quinta-feira, 24, em Palmas, com o presidente do PL Tocantins, senador Eduardo Gomes, e a senadora Professora Dorinha Seabra (UB) para manifestar apoio à candidatura de Janad Valcari (PL) à Prefeitura de Palmas. A candidata também esteve presente no encontro.
A prefeita de Gurupi, Josi Nunes, (Foto) ressaltou a importância de eleger uma mulher na Capital. “Como mulher, estou aqui para apoiar outra mulher. Nós, mulheres, precisamos nos unir e mostrar que temos competência, credibilidade e força para trabalhar. Palmas merece Janad 22”, afirmou.
O prefeito de Porto Nacional, Ronivon Maciel, reforçou a necessidade de renovar a gestão da Capital. “Janad tem uma visão inovadora e uma capacidade de liderança que Palmas precisa. O que ela propõe para a cidade vai transformar a vida de muita gente e fazer Palmas crescer ainda mais”, pontuou.
O prefeito de Paraíso, Celso Morais, destacou que Janad representa estabilidade e progresso para Palmas. “Não tenho dúvida de que, unindo forças com pessoas comprometidas com o bem do nosso estado, vamos trabalhar pela vitória dela aqui na capital”, frisou.
O senador Eduardo Gomes agradeceu o apoio dos prefeitos reeleitos. “Temos aqui três nomes de peso na política do Tocantins que agregam muito à campanha da Janad. Ela é a candidata mais preparada e, ao lado do governador Wanderlei Barbosa, da senadora Dorinha e da nossa bancada estadual e federal na Câmara e na Assembleia, vai fazer Palmas avançar muito”, assegurou.
A ocasião contou ainda com a presença dos deputados federais Pedro Júnior (PL) e Carlos Gaguim (UB), do deputado estadual Marcus Marcelo (PL) e dos vice-prefeitos eleitos de Gurupi e Paraíso, Adailton Fonseca (PL) e Ubiratan Carvalho (PL).
PT nacional já deu o start internamente, mas um seminário está sendo organizado para ocorrer em dezembro, em meio à avaliação do desempenho nas eleições municipais
Por Magno Martins
Extremamente fragilizado com o resultado das eleições municipais, onde no primeiro turno não elegeu nenhum prefeito de capital, com risco de repetir o vexame no segundo turno, o PT começou a discutir o seu futuro, que passa pela renovação da sua executiva nacional, hoje sob o comando de Gleisi Hoffmann.
O start já foi dado internamente, mas um seminário está sendo organizado para ocorrer em dezembro. O tema do encontro serão novas formas de comunicação do PT que se mostraram urgentes, com as derrotas na eleição municipal deste ano. O debate sobre o processo sucessório deve começar a ocorrer neste encontro, mesmo que de maneira informal.
A presidente do PT defende que haja um consenso sobre o nome que vai sucedê-la. Na avaliação que Gleisi faz a aliados, seria interessante avaliar um nome do Nordeste para ocupar o posto. O prefeito de Araraquara (SP), Edinho Silva, no entanto, já sinalizou que seu nome está colocado na disputa e que ele não vai recuar.
Segundo o jornal O Globo, o impasse pode causar um racha na CNB, a corrente majoritária do PT que integra nomes como Gleisi, Edinho, Lula, Fernando Haddad, Humberto Costa e José Dirceu. Edinho continua tendo apoios de peso na legenda, incluindo ministros do governo Lula.
A ala que defende a eleição do prefeito para o comando do partido afirma que ele seria o “sinal de mudança” que o PT mostrou precisar, após o resultado das eleições municipais deste ano. A pressão sobre Edinho cresceu depois que ele não conseguiu eleger sua sucessora em Araraquara. Em paralelo, um grupo da legenda alinhado à atual presidente do PT, Gleisi Hoffmann, tem defendido que um nome do Nordeste seja o novo presidente. A própria Gleisi advoga para que seja encontrado um nome de consenso, evitando, assim, uma disputa interna no PT.
Se Edinho conseguir superar resistências do grupo, Gleisi pode virar ministra na reforma ministerial que está prevista para após o segundo turno das eleições municipais. Mas há quem defenda que essa reforma seja mais ampla, num momento mais à frente, em fevereiro, quando sair o resultado das eleições das mesas diretoras do Senado e Câmara, hoje ocupadas respectivamente pelo deputado alagoano Arthur Lira (PP) e o senador mineiro Rodrigo Pacheco (PSD).
O prefeito de Araraquara (SP), Edinho Silva, não vai ceder a nenhuma pressão para retirar sua candidatura para presidência do PT. Com ele decidido a não abrir mão da disputa, existe o risco de haver uma racha na CNB, corrente majoritária do PT da qual Edinho, Gleisi e Lula fazem parte. Pelo menos até o momento, Lula está em cima do muro, mas é provável que se manifeste pela indicação de Edinho, diante da derrota do aliado em Araraquara.
Texto é visto como uma ‘moeda de troca’ na disputa pela Presidência da Casa em 2024
Por Rute Moraes e Hellen Leite
O PL (Projeto de Lei) que anistia os presos do 8 de janeiro pode ser levado, ainda este ano, ao plenário da Câmara dos Deputados. Aliados do presidente da Casa, Arthur Lira (PP-AL), consideram que se trata de um “problema” da gestão do deputado alagoano e que, portanto, ele resolveria antes da eleição da Mesa.
Conforme interlocutores, a ideia é que a proposta não seja repassada para o novo presidente da Câmara, a ser eleito em fevereiro de 2025.
Contudo, a possibilidade de Lira pautar pode vir acompanhada de ampla rejeição do plenário. A ideia seria “resolver” o assunto, independentemente de qual será o resultado da votação. Procurada, a equipe de Lira não retornou até a publicação desta reportagem. O espaço segue aberto.
Atualmente, o texto tramita na CCJ (Comissão de Constituição e Justiça) da Câmara e deve ser votado na próxima semana após um pedido de vista.
Concorrem a sucessão de Lira os deputados Hugo Motta (Republicanos-PB), Elmar Nascimento (União Brasil-BA) e Antônio Britto (PSD-BA). O texto é visto como uma “moeda de troca” na disputa pela Presidência da Casa em 2025.
A anistia aos presos do 8 de Janeiro é uma pauta prioritária da oposição, e o bloco vai tentar colocar a apreciação do texto como condição para apoiar um candidato na disputa. Enquanto isso, os postulantes ao cargo se movimentam nos bastidores para atrair a ala oposicionista, ainda que isso signifique tentar segurar ou impulsionar a votação.
Apesar disso, a interlocutores, Motta tem sinalizado que o projeto não pode ser uma pauta de campanha e que dificilmente teria um consenso em torno do tema. Enquanto isso, o PT estaria colocando como prioridade, em troca de apoio na disputa, o compromisso de não dar celeridade na proposição.
Entenda a proposta
Em 8 de janeiro de 2023, manifestantes invadiram as sedes dos Três Poderes e depredaram as instalações. Eles não concordavam com a eleição nem com a posse do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
O relator do PL da Anistia, deputado federal Rodrigo Valadares (União Brasil-SE), contudo, defende que os atos de vandalismo “foram inflamados principalmente pelo sentimento de injustiça aos quais muitos brasileiros sentiram após o resultado do segundo turno das eleições presidenciais de 2022″.
O texto, que teve sete projetos como base, anistia “todos os que participaram de manifestações com motivação política e/ou eleitoral, ou as apoiaram, por quaisquer meios, inclusive contribuições, doações, apoio logístico ou prestação de serviços e publicações em mídias sociais e plataformas, entre o dia 08 de janeiro de 2023 e o dia de entrada em vigor desta lei”.
Conforme o projeto, o perdão alcança os “crimes com motivação política e/ou eleitoral”. A anistia abrange “quaisquer medidas de restrições de direitos, inclusive impostas por liminares, medidas cautelares, sentenças transitadas ou não em julgado que limitem a liberdade de expressão e manifestação de caráter político e/ou eleitoral, nos meios de comunicação social, plataformas e mídias sociais”.
O projeto ainda inclui no perdão todos que participaram de “eventos subsequentes ou eventos anteriores” ao 8 de janeiro, “desde que mantenham correlação com os eventos acima citados”.
A anistia, contudo, não alcança os crimes de:
Prática da tortura;
Tráfico ilícito de entorpecentes, drogas e afins;
Terrorismo e os definidos como crimes hediondos;
Crimes contra a vida;
Crime contra patrimônio histórico; e
Crime contra coisa alheia
O relator ainda incluiu um trecho que anula as multas aplicadas pela Justiça Eleitoral ou comum às pessoas físicas e jurídicas em decorrência do 8 de Janeiro.
Isso poderia alcançar o Partido Liberal, multado em mais de R$ 22 milhões por litigância de má-fé após a legenda pedir a anulação de votos do segundo turno da disputa presidencial em 2022. Como a sigla pagou o montante, o valor teria de ser estornado, caso a redação final do texto seja promulgada dessa forma.
Mudança em tese do STF
O projeto ainda inclui um artigo que, se aprovado, derrubaria a principal tese do STF (Supremo Tribunal Federal) para condenar os presos do 8 de Janeiro: o crime multitudinário — cometido por uma multidão em tumulto, de forma espontânea e organizada. O STF aplicou essa tese para condenar os envolvidos no episódio por atentado ao Estado Democrático de Direito.
Com a proposta, só poderá haver condenação por tal crime se for individualizada, ou seja, não poderá ter condenação conjunta quando o crime for contra ou para depor a democracia.
O projeto altera ainda o decreto-lei nº 2.848 de 7 de dezembro de 1940, que trata sobre os crimes contra o Estado Democrático de Direito. A redação atual prevê que atentar contra a democracia é “tentar, com emprego de violência ou grave ameaça, abolir o Estado Democrático de Direito, impedindo ou restringindo o exercício dos poderes constitucionais”.
Mas com a alteração da proposta, o crime contra o Estado Democrático de Direito só será considerado se for contra a “pessoa”, com a seguinte redação: “Tentar, com emprego de violência contra a pessoa ou grave ameaça, abolir o Estado Democrático de Direito, impedindo ou restringindo o exercício dos Poderes constitucionais”.
Segundo o texto, a condenação pelos crimes contra a democracia “não admite a incidência da figura do crime multitudinário, tampouco de qualquer teoria similar fundada na desindividualização ou na generalidade das condutas, exigindo-se, como pressuposto para a condenação, a individualização concreta dos atos praticados por cada coautor ou partícipe”.
O PL da Anistia ainda altera trechos da lei sobre o foro privilegiado, estabelecendo que, nos casos que envolvam pessoas com prerrogativa de foro e pessoas comuns, as que têm foro deverão ser julgadas primeiro e, depois disso, os demais investigados serão deslocados para a instância da Justiça comum.