Governador de São Paulo disse a vários interlocutores que está fora da disputa pelo Planalto no ano que vem, só que o preferido de Bolsonaro também tem seu preferido
Por Henrique Rodrigues
Após uma série de movimentações que deixaram a fragmentação da extrema direita exposta para todo o Brasil, o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), surpreendeu aliados e adversários ao desistir da disputa presidencial de 2026. Em conversas reservadas, o político demonstrou seu desânimo com a possibilidade de enfrentar Luiz Inácio Lula da Silva nas urnas, sob o pretexto de que “a direita está desunida”, e se mostrou inclinado a apoiar outro nome da direita para a corrida eleitoral: Ratinho Júnior, governador do Paraná, do PSD. A bem da verdade, o pupilo de Bolsonaro sentiu o óbvio, que perderá para o petista de qualquer jeito.
O movimento de Tarcísio de Freitas foi, para muitos, esperado, mas não menos impactante. Após meses acalentando sua candidatura à Presidência, o governador paulista afirmou que seu foco no momento é garantir a reeleição para o governo de São Paulo. A decisão vem no rastro de uma série de fatos políticos que enfraqueceram seu nome como representante da direita no cenário nacional, como a oposição dos setores mais extremistas do bolsonarismo e a guinada maluca que deu após encarnar o personagem ultrarreacionário que ameaça o STF e grita com todo mundo.
Aliados de Tarcísio destacam que o governador ainda é considerado uma figura-chave no movimento bolsonarista, mas o apoio popular e as tensões internas têm diminuído suas perspectivas. A oposição de Eduardo Bolsonaro (PL-SP) e as disputas internas, especialmente em relação à PEC da Blindagem e à proposta de anistia, terminaram por mostrar um cenário sem saída para Tarcísio.
Ratinho Júnior como alternativa
Com a decisão de Tarcísio, o nome de Ratinho Júnior começa a ganhar força. Quer dizer, é o que dizem. Aliados próximos do carioca que governa São Paulo confirmaram que ele está analisando as movimentações do centrão, que já articula a candidatura do governador paranaense como uma alternativa “viável” contra o presidente Lula. A proximidade de Ratinho com o governo paulista, por meio do PSD e do apoio de figuras como Gilberto Kassab, abriria caminho para que o filho do apresentador de TV escandaloso seja visto como uma solução pragmática para uma direita fragmentada. Ok, pragmática. Mas é realista achar que ele ganhará de Lula?
Embora Tarcísio ainda não tenha oficializado seu apoio, há uma clara tendência de que ele se alie ao governador do Paraná, caso este se coloque como candidato. No entanto, para que essa decisão seja consolidada, muitos acreditam que Tarcísio buscará a aprovação de Jair Bolsonaro, considerando o peso do ex-presidente nas articulações do campo conservador.
Fragilidade da direita e alternativas
O cenário atual revela uma direita profundamente dividida, com disputas internas que enfraquecem qualquer tentativa de candidatura forte para enfrentar Lula nas urnas. A saída de Tarcísio da corrida presidencial é uma prova disso, deixando no ar o questionamento sobre quem poderá unificar a direita em uma tentativa real de disputa contra a máquina petista.
Com a desistência de Tarcísio, o espaço para Ratinho Júnior até pode crescer, mas, convenhamos, ele não tem nem cacoete de alguém que venceria Lula. A movimentação do centrão e o apoio de figuras-chave, como Kassab, reforçam a ideia de que, apesar das dificuldades, a alternativa paranaense pode ser a resposta para o vácuo de liderança no campo da direita. Entretanto, o nome não empolga ninguém, essa é a verdade.
Enquanto isso, Tarcísio de Freitas opta por seguir com um plano menos arriscado: garantir sua reeleição para o governo de São Paulo, onde mantém sua base de apoio e tenta recuperar sua imagem perante os eleitores depois de posar de radicalíssimo, enrolado na bandeira dos EUA e com o seu bonezinho do MAGA.
A decisão é vista como uma saída estratégica, considerando que a disputa presidencial seria um campo de batalha perdido, com o risco de perder o governo paulista sem conquistar o Planalto.
Senado arquivou proposta e irritou deputados; parlamentares dividem opinião sobre futuro da anistia
Por Lis Cappi
O embate no Congresso Nacional sobre a PEC (Proposta de Emenda à Constituição) das Prerrogativas deixou incerto o futuro de outras pautas defendidas pelo PL, do ex-presidente Jair Bolsonaro, como a anistia pelos atos do 8 de Janeiro.
A recusa do texto no Senado contrariou a votação de uma semana antes na Câmara e colocou fim à possibilidade de que os próprios deputados e senadores decidam se podem ser investigados ou presos em flagrante.
Com o resultado, deputados acenderam o alerta para aumentar as negociações de pautas futuras, como o caso da anistia. Ao R7, parlamentares comentaram que a proposta pode ter dois caminhos.
A base governista considera que o resultado da PEC enfraquece a anistia ou a versão defendida pelo relator da matéria, deputado Paulinho da Força (Solidariedade-SP), de atenuar o tempo das penas aplicadas aos envolvidos no 8 de Janeiro.
“Acho que nesse momento, com essa votação, outros temas perdem um pouco a força, entre eles a questão da anistia. Eu acho que vai suscitar aqui um debate bastante acirrado, não vai passar com facilidade, creio até que há uma perspectiva e uma possibilidade de rejeição. E essas propostas de implementação de impeachment contra juízes, ministros supremos, também acho que perdem um pouco a força”, avalia o senador Humberto Costa (PT-PE).
Defensores da proposta sustentam que a situação da PEC foi um caso isolado e que não vai afetar outras pautas defendidas pela oposição.
O líder do PL no Senado, Carlos Portinho (RJ), argumenta que a PEC só chegou ao Senado por votos concedidos por partidos ligados ao governo, como o próprio PT do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
“Não significa que a gente não vá discutir diversas questões que já estão em andamento. Era melhor que tivesse avançado com o fim do foro privilegiado, que é uma pauta que une a todos, que já foi aprovada aqui no Senado e está lá na Câmara parada, o fim das decisões monocráticas”, diz. “A anistia é função do Congresso Nacional”, defende.
Votação da anistia deve ser adiada
A votação do projeto da anistia estava prevista para acontecer na próxima semana, mas deve ser adiada.
A avaliação de representantes de partidos é de que o texto ainda depende de negociações entre deputados e com o Senado. A sugestão do relator de rever o tempo de prisão, e não conceder um perdão a todos os condenados, ainda não tem o apoio da oposição.
Nos bastidores, parlamentares consideram que a relação entre as duas Casas “azedou” com a rejeição da PEC e, por isso, será necessário amadurecer conversas dentro do Congresso.
Ele sai do cargo após determinação do partido, que deixou o governo
POR ANDREIA VERDÉLIO
O ministro do Turismo, Celso Sabino, anunciou, na tarde desta sexta-feira (26), a saída do comando da pasta. O anúncio foi feito no Palácio do Planalto, após uma conversa entre ele e o presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
No dia 18 de setembro, o União Brasil, partido de Sabino, anunciou o desembarque da base de apoio de Lula e deu um prazo de 24 horas para que seus filiados deixassem os cargos ou funções comissionadas no governo federal.
“Tive uma conversa hoje com o presidente da República, em virtude da decisão que o partido ao qual eu sou filiado tomou, de deixar o governo, e vim hoje aqui cumprir o meu papel”, disse à imprensa. “Entreguei ao presidente a minha carta e o meu pedido de saída do Ministério do Turismo, cumprindo a decisão do meu partido”, completou.
Ele afirmou que ainda cumprirá uma agenda como ministro, ao lado de Lula. Ambos estarão em Belém, na próxima sexta-feira (3) para inauguração de obras para a 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (COP30), que ocorrerá na cidade em novembro.
“O presidente pediu que eu acompanhasse nas obras que deve na entrega das obras que vai acontecer na próxima quinta-feira na cidade de Belém. Vou como ministro ainda”. Sabino assumiu como ministro em julho de 2023 e deixará definitivamente o cargo após esse compromisso.
Questionado sobre a possibilidade de sair do partido para continuar no governo, Sabino disse que “acredita no diálogo” e que “os homens públicos que tem compromisso a nação brasileira vão trabalhar juntos pelo bem do país”.
“A minha vontade é clara, é continuar o trabalho que a gente vem fazendo e a gente tem um trabalho de diálogo mantido e hoje o presidente acenou com essa possibilidade de ampliar esse diálogo junto com o partido União Brasil para que a gente possa ver como vai ser as cenas do próximo capítulo”, disse Sabino.
Além do União Brasil, outro partido que deixou o governo foi o PP. O filiado do PP no primeiro escalão do governo é André Fufuca, à frente do Ministério dos Esportes. Ainda não há, no entanto, confirmação sobre uma saída de Fufuca.
*Matéria alterada às 14h55 para correção de informação no último parágrafo. André Fufuca é filiado ao PP, e não ao União Brasil, como informado anteriormente.
Por Mônica Bergamo - UOL
O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) pediu a interlocutores que conversam com seu filho Eduardo Bolsonaro para que ele "feche a boca" e não atrapalhe as negociações políticas em torno da anistia e da redução de penas para o pai.
Os dois não podem se falar diretamente por determinação do ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Alexandre de Moraes. Ambos são investigados no inquérito que apura coação à Justiça desde que Eduardo foi para os EUA advogar por sanções contra o Brasil e os magistrados que julgam o ex-presidente na Corte.
O apresentador Paulo Figueiredo, principal aliado de Eduardo nos EUA, afirmou em seu perfil no X que "se [Bolsonaro] pediu [para o filho fechar a boca], o recado não chegou".
Um homem está de pé, com os braços cruzados e a cabeça baixa, demonstrando uma expressão de reflexão ou tristeza. Ele usa uma camisa polo verde e um relógio no pulso. Ao fundo, há uma janela com cortinas.
O ex-presidente Jair Bolsonaro na garagem de sua casa, em Brasília, na semana de seu julgamento pelo STF. Ele ficou por cerca de 25 minutos no local, ao lado do irmão de sua esposa, Eduardo Torres, acenando para fotógrafos e para transeuntes que passavam e o cumprimentavam - Pedro Ladeira/Folhapress
Um dos mensageiros se encontrou com o deputado federal nos EUA é o deputado Sóstenes Cavalcante (PL-SP), que visitou Bolsonaro na semana passada.
As tentativas de apaziguamento até agora foram em vão e só irritaram ainda mais o filho do presidente, que segue no ataque.
Ele diz a interlocutores acreditar firmemente que Bolsonaro não está conseguindo avaliar direito o quadro político por estar hoje na condição de "refém". Ou, como diz uma mensagem respostada por seu maior aliado nos EUA, Paulo Figueiredo, o ex-presidente "é uma vítima presa, doente e incapaz de decidir", que não pode negociar "os termos da própria soltura".
Eduardo escreveu nesta quinta (25) em seu perfil no X que a "PGR [Procuradoria-Geral da República] me denuncia [por] coação, mas quem está sob coação é o meu pai".
Além de limitado para decidir, Jair Bolsonaro, na visão dele, não estaria percebendo que querem enfiar um acordo goela abaixo de sua garganta, fazendo com que ele abra mão da bandeira da anistia. E induzindo-o também a apoiar Tarcísio de Freitas para disputar a Presidência em 2026, passando a ele de bandeja os votos bolsonaristas —que podem nunca mais voltar para a família.
"Existe um movimento para exterminar com a direita. Quem ignorar isso é um verdadeiro negacionista, apenas um peão no tabuleiro prestes a ser tirado do jogo", afirma Eduardo.
Nas últimas semanas, o deputado federal partiu para o ataque ao Centrão e até mesmo ao PL, partido dele e do pai.
Se lançou candidato a Presidente da República sem o aval de Bolsonaro, disse que disputará até mesmo contra Tarcísio de Freitas, comemorou as sanções à mulher de Alexandre de Moraes e manteve os ataques ao STF na temperatura máxima, chamando os ministros de "mafiosos".
Em um dos ataques mais virulentos, repostou mensagem crítica ao presidente do PL, Valdemar da Costa Netto, e disse que não tinha abdicado "de tudo"para "trocar afagos mentirosos com víboras"nem se "sujeitar aos esquemas espúrios dos batedores de carteira da ocasião".
Em seu perfil no X, Paulo Figueiredo, além de dizer que pelo menos até agora Eduardo não recebeu recados, afirmou que "o desespero agora parece ser que Eduardo Bolsonaro tomou uma 'enquadrada' e que está 'atrapalhando' e 'isolado'. Não sei o quanto é 'wishful thinking' e o quanto é só mentira mesmo. Mas, em breve, vocês verão se haverá qualquer recuo de nossa partee chegarão às conclusões".
Da Agência Senado
O senador Izalci Lucas (PL-DF) destacou, em pronunciamento nesta quarta-feira (27), a votação, na Comissão de Assuntos Econômicos (CAE), do projeto que isenta do Imposto de Renda quem ganha até R$ 5 mil (PL 1.952/2019). Ele relatou que suas emendas foram acatadas, incluindo a que garantiu que bolsas do Prouni não fossem afetadas pela tributação. O parlamentar reiterou sua posição favorável à ampliação da faixa de isenção, defendendo que o limite ideal deveria chegar a R$ 10 mil.
— Sempre fui a favor da questão do Imposto de Renda. Acho que R$ 5 mil é até pouco, devia ser R$ 10 mil, mas a prova disso é que a gente apresentou emendas. Na prática, no projeto que foi apresentado, no relatório apresentado, estava sendo tributado novamente, porque as bolsas do Prouni são oferecidas no percentual de 34%, ou seja, no limite máximo que o próprio projeto do Imposto de Renda colocava. O relator [senador Renan Calheiros (MDB-AL), presidente da CAE] acatou, modificando então o projeto, prova de que realmente você não tem como votar uma matéria dessa em horas, sem poder sequer ler o projeto — disse.
Ao comentar a PEC do Mandato Parlamentar — PEC 3/2021, rejeitada por unanimidade também nesta quarta-feira pela Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) —, Izalci reafirmou sua posição contrária à proposta e criticou os dispositivos aprovados pela Câmara.
— Fomos, desde o início, contrários e hoje essa PEC foi arquivada definitivamente, mas, de qualquer forma, há uma preocupação muito grande, por parte dos senadores e deputados, que é a questão da interferência do Supremo no Congresso Nacional. Precisamos resolver isso, talvez numa PEC separada ou num projeto de lei, mas a gente não pode continuar aceitando interferências nas votações, nas decisões aqui do Senado Federal, inclusive com relação à liberdade de expressão — disse.
O senador também chamou a atenção para a reforma tributária, que, segundo ele, reúne pontos preocupantes e precisa de ajustes em Plenário. Entre eles, Izalci destacou a tentativa de incluir a cobrança de impostos sobre contribuições patronais e as falhas na definição da tributação de combustíveis.