Com CNN Brasil
A Polícia Federal cumpre, na manhã desta quinta-feira (7), um mandado de prisão preventiva e 10 mandados de busca e apreensão, no Rio de Janeiro e em São Paulo, contra um grupo responsável pela prática de diversos crimes contra o Sistema Financeiro Nacional, além de recuperar bens e ativos adquiridos a partir das condutas ilícitas.
As investigações começaram após o recebimento de denúncias das vítimas relatando que os investigados se apropriaram dos valores aplicados em uma empresa de investimentos em criptomoedas e mercado Forex.
A PF diz que os investigados articularam uma complexa estrutura empresarial para captar investidores e, em seguida, se apropriar dos recursos aplicados e remetê-los para o exterior sem o conhecimento das vítimas. Os valores foram enviados ao exterior por meio de exchanges (corretoras de criptomoedas).
Os investigadores dizem que o líder do grupo se utilizava da religião para atrair os investidores.
A operação também cumpre o sequestro de bens e valores no montante de R$ 262 milhões, que é o valor investigado de prejuízo.
Os agentes cumprem os mandados no Rio de Janeiro e em Barueri (SP,) Guarulhos (SP), Cajamar (SP) e Salto (SP).
Os crimes investigados no âmbito da operação “Profeta” incluem delitos contra o Sistema Financeiro Nacional (apropriação indevida de valores; negociação de títulos ou valores mobiliários sem registro prévio e sem autorização da autoridade competente; fazer operar instituição financeira sem a devida autorização; e evasão de divisas), além dos crimes de exercer a atividade de administrador de carteira no mercado de valores mobiliários sem a devida autorização; organização criminosa transnacional; e lavagem de dinheiro por meio de ativo virtual.
"Vou baixar o salário? Não conte comigo. Vou deixar de ter ganho real? Não conte comigo. Se isso acontecer, não tenho como ficar no governo. Acho que o governo não fará isso", afirmou o ministro da Previdência
Por Fábio Matos
O ministro da Previdência, Carlos Lupi, não parece estar muito satisfeito com as discussões dentro do governo sobre o pacote de medidas de corte de gastos, que vem sendo apresentado pela equipe econômica, nos últimos dias, e deve ser anunciado até a semana que vem.
Em entrevista ao jornal O Globo, publicada nesta quinta-feira (7), Lupi deixou no ar a possibilidade até de deixar o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) caso as medidas afetem benefícios previdenciários que seriam, em sua visão, “direitos adquiridos” – ou alterem a política de aumento do salário mínimo.
Na manhã desta quinta, Lula se reúne mais uma vez com o ministro da Fazenda, Fernando Haddad (PT), para fechar os últimos pontos de um pacote de medidas de corte de gastos elaborado pela equipe econômica.
Desde a semana passada, as medidas têm sido levadas a ministros de outras pastas – que possivelmente serão afetadas pelos cortes. Ainda não há definição sobre quando esse pacote será anunciado oficialmente.
O governo deve encaminhar ao Congresso Nacional uma Proposta de Emenda à Constituição (PEC) e um projeto de lei complementar com as medidas.
“Nosso grande desafio é o equilíbrio fiscal. Como fazê-lo em cima da miséria do povo brasileiro? Quero discutir taxação das grandes fortunas. O Haddad até está propondo isso. Quem tem que doar algo nesse processo é quem tem muito, não quem não tem nada. Como vai pegar a Previdência?”, questiona Lupi.
“A média salarial das pessoas é R$ 1.860. Vou fazer o quê com isso? Tirar direito adquirido? Não conte comigo. Vou baixar o salário? Não conte comigo. Vou deixar de ter ganho real [no salário mínimo]? Não conte comigo. Se isso acontecer, não tenho como ficar no governo. Acho que o governo não fará isso. Temos que cobrar os grandes devedores, a sonegação e as isenções indevidas”, afirmou o ministro.
Segundo Carlos Lupi, “despesa obrigatória não tem como ser cortada”. “Acha que algum congressista vai tirar direito de aposentado? Tenho que nascer de novo para acreditar nessa história. O que podemos fazer, e estamos fazendo, é apertar as irregularidades. Estamos fazendo uma economia grande conferindo gente que não tem mais direito à licença por doença. Se um cara teve uma doença e se curou, como continua tendo licença?”, explicou.
“O grande desafio da Previdência é que mais da metade dos nossos pedidos são de auxílio-doença. O Brasil está doente assim? Temos que melhorar, por exemplo, a biometria. Precisamos botar tecnologia de ponta e ajudar quem tem direito, separar o joio do trigo.”
Anúncio depende de reunião de Lula com Lira e Pacheco
POR WELLTON MÁXIMO
O pacote de medidas de corte de gastos obrigatórios será anunciado após o presidente Luiz Inácio Lula da Silva explicar as propostas aos presidentes da Câmara dos Deputados, Arthur Lira, e do Senado, Rodrigo Pacheco. Caso as conversas ocorram até o início da tarde desta quinta-feira (7), as ações podem ser anunciadas no mesmo dia, disse agora à noite o ministro da Fazenda Fernando Haddad.
Segundo o ministro, faltam apenas dois detalhes jurídicos para fechar o pacote, antes de o presidente Lula tomar a decisão definitiva sobre as medidas. O encontro final, que ocorreria nesta quarta (6) à tarde, foi adiado para esta quinta, às 9h30, porque uma reunião para discutir ações de combate às mudanças climáticas atrasou e durou até o fim da tarde.
“Eu creio que a reunião de amanhã é uma reunião que pelo nível de decisão que vai ter que ser tomada por ele [presidente Lula], são coisas realmente muito singelas para decidir”, disse o ministro. Haddad ressaltou que a equipe econômica e o presidente Lula reuniram-se com todos os ministérios envolvidos nas medidas: Previdência, Desenvolvimento Social, Trabalho e Emprego, Saúde e Educação.
Sem adiantar medidas, Haddad afirmou que o pacote será composto por uma proposta de emenda à Constituição e um projeto de lei complementar. O ministro admitiu que alguns pontos foram retirados porque gerariam economia pequena sobre o Orçamento. “Não adianta levantar uma proposta com uma bandeira polêmica que tenha baixo impacto fiscal”, declarou ao sair do Ministério da Fazenda.
Haddad não comentou a reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), que elevou a Taxa Selic (juros básicos da economia) em 0,5 ponto percentual, para 11,25% ao ano. O ministro afirmou não ter tido tempo de ler o comunicado emitido após a reunião e disse que esperará a ata, que só sairá na próxima terça-feira (12), para opinar sobre a decisão do Banco Central.
Decisão do Comitê de Política Monetária atende às expectativas do mercado, que projetam Selic encerrando 2024 em 11,75%
Por Gabriel Sponton
O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central do Brasil voltou a elevar a taxa Selic nesta quarta-feira (6), desta vez em 0,5 ponto percentual, chegando em 11,25% ao ano.
O aumento consecutivo da taxa básica de juros básica da economia brasileira, que já era previsto pelo mercado financeiro, é o primeiro desde 2022. Segundo o boletim Focus, divulgado nesta segunda-feira (4), além do aumento de 0,5 ponto percentual, também é projetado que o país encerre 2024 com a taxa Selic em 11,75%.
A elevação nos juros acontece em meio a uma escalada do dólar. Nesta quarta-feira (6), a moeda estrangeira chegou a ser negociada a R$ 5,86, por volta das 9h da manhã. Também nesta quarta, o republicano Donald Trump foi eleito presidente dos Estados Unidos, outro fator de pressão para a moeda, devido às promessas de medidas protecionistas durante a campanha, freando as importações e diminuindo a entrada de divisas no Brasil.
A decisão do Copom também é ancorada em na pressão do mercado de trabalho brasileiro, assim como na última alta, em setembro, segundo o texto que acompanha a decisão do comitê. Confira o texto na íntegra:
O ambiente externo permanece desafiador, em função, principalmente, da conjuntura econômica incerta nos Estados Unidos, o que suscita maiores dúvidas sobre os ritmos da desaceleração, da desinflação e, consequentemente, sobre a postura do Fed. Os bancos centrais das principais economias permanecem determinados em promover a convergência das taxas de inflação para suas metas em um ambiente marcado por pressões nos mercados de trabalho. O Comitê avalia que o cenário externo, também marcado por menor sincronia nos ciclos de política monetária entre os países, segue exigindo cautela por parte de países emergentes.
Em relação ao cenário doméstico, o conjunto dos indicadores de atividade econômica e do mercado de trabalho segue apresentando dinamismo. A inflação cheia e as medidas subjacentes se situaram acima da meta para a inflação nas divulgações mais recentes.
As expectativas de inflação para 2024 e 2025 apuradas pela pesquisa Focus encontram-se em torno de 4,6% e 4,0%, respectivamente. A projeção de inflação do Copom para o segundo trimestre de 2026, atual horizonte relevante de política monetária, situa-se em 3,6% no cenário de referência (Tabela 1).
O Comitê avalia que há uma assimetria altista em seu balanço de riscos para os cenários prospectivos para a inflação. Entre os riscos de alta para o cenário inflacionário e as expectativas de inflação, destacam-se (i) uma desancoragem das expectativas de inflação por período mais prolongado; (ii) uma maior resiliência na inflação de serviços do que a projetada em função de um hiato do produto mais apertado; e (iii) uma conjunção de políticas econômicas externa e interna que tenham impacto inflacionário, por exemplo, por meio de uma taxa de câmbio persistentemente mais depreciada. Entre os riscos de baixa, ressaltam-se (i) uma desaceleração da atividade econômica global mais acentuada do que a projetada; e (ii) os impactos do aperto monetário sobre a desinflação global se mostrarem mais fortes do que o esperado.
O Comitê tem acompanhado com atenção como os desenvolvimentos recentes da política fiscal impactam a política monetária e os ativos financeiros. A percepção dos agentes econômicos sobre o cenário fiscal tem afetado, de forma relevante, os preços de ativos e as expectativas dos agentes, especialmente o prêmio de risco e a taxa de câmbio. O Comitê reafirma que uma política fiscal crível e comprometida com a sustentabilidade da dívida, com a apresentação e execução de medidas estruturais para o orçamento fiscal, contribuirá para a ancoragem das expectativas de inflação e para a redução dos prêmios de risco dos ativos financeiros, consequentemente impactando a política monetária.
O cenário segue marcado por resiliência na atividade, pressões no mercado de trabalho, hiato do produto positivo, elevação das projeções de inflação e expectativas desancoradas, o que demanda uma política monetária mais contracionista. Considerando a evolução do processo de desinflação, os cenários avaliados, o balanço de riscos e o amplo conjunto de informações disponíveis, o Copom decidiu, por unanimidade, elevar a taxa básica de juros em 0,50 ponto percentual, para 11,25% a.a., e entende que essa decisão é compatível com a estratégia de convergência da inflação para o redor da meta ao longo do horizonte relevante. Sem prejuízo de seu objetivo fundamental de assegurar a estabilidade de preços, essa decisão também implica suavização das flutuações do nível de atividade econômica e fomento do pleno emprego.
O ritmo de ajustes futuros na taxa de juros e a magnitude total do ciclo de aperto monetário serão ditados pelo firme compromisso de convergência da inflação à meta e dependerão da evolução da dinâmica da inflação, em especial dos componentes mais sensíveis à atividade econômica e à política monetária, das projeções de inflação, das expectativas de inflação, do hiato do produto e do balanço de riscos.
Votaram por essa decisão os seguintes membros do Comitê: Roberto de Oliveira Campos Neto (presidente), Ailton de Aquino Santos, Carolina de Assis Barros, Diogo Abry Guillen, Gabriel Muricca Galípolo, Otávio Ribeiro Damaso, Paulo Picchetti, Renato Dias de Brito Gomes e Rodrigo Alves Teixeira.
Segundo analistas, políticas propostas pelo republicano podem provocar efeito na valorização do dólar, na pressão inflacionária e na alta dos juros
Por Ana Vinhas
A vitória de Donald Trump, que conquistou o segundo mandato de presidente dos Estados Unidos nesta terça-feira (6), deve trazer mais desafios para a economia brasileira. Segundo analistas, as políticas propostas pelo republicano podem provocar um efeito na valorização do dólar, na pressão inflacionária e na alta dos juros.
“A vitória contundente de Donald Trump, acompanhada pelo fortalecimento significativo dos republicanos, reforça a percepção de um cenário marcado por políticas mais protecionistas e uma tendência de aumento da pressão inflacionária, o que pode resultar na elevação das taxas de juros nos Estados Unidos”, afirma Gesner Oliveira, sócio da GO Associados e professor da FGV.
Segundo ele, a expectativa é de que isso leve a um fortalecimento do dólar e, por consequência, a uma desvalorização das moedas de países emergentes, incluindo o real.
No Brasil, explica, essa conjuntura externa projeta uma pressão sobre a moeda local, elevando as expectativas de desvalorização do real e, por tabela, aumentando a pressão inflacionária. “Esse contexto reforça a necessidade de uma política fiscal mais rigorosa e cuidadosa com o equilíbrio das contas públicas, para controlar a inflação e evitar aumentos significativos nas taxas de juros”, acrescenta.
A moeda norte-americana registrou recuo de 1,82% em novembro, mas, no ano, acumula ganhos de 16,95%. Nesta semana, a expectativa do mercado é que o governo federal anuncie pacote de corte de gastos, para manter as contas públicas dentro do arcabouço fiscal.
No mesmo dia da vitória de Trump, o Copom (Comitê de Política Monetária), do Banco Central, anunciou aumento de 0,5 ponto percentual da taxa básica de juros, a Selic, que passou de 10,75% para 11,25%. Os juros altos combatem a alta dos preços, mas dificultam o crédito, afetando a atividade econômica.
Investimentos
Para o professor Diogo Carneiro, da Fipecafi (Fundação Instituto de Pesquisas Contábeis, Atuariais e Financeiras), o desfecho da eleição norte-americana pode trazer diversas consequências para o Brasil, sendo algumas delas mais diretas e imediatas e outras mais indiretas e com desdobramentos de longo prazo.
O possível aumento na taxa de juros norte-americana também seria ruim para o Brasil, enquanto atrairia divisas internacionais para títulos do governo americano, contribuindo para minguar investimentos em outras partes do mundo, sobretudo mercados emergentes como o Brasil.
“Ou seja: do ponto de vista do investidor, é melhor deixar o dinheiro ‘emprestado’ para o governo norte-americano a uma taxa de juros alta do que investir no Brasil, que é considerado muito mais arriscado. Isso deve prejudicar investimentos no Brasil e tornar o dólar mais caro”, explica Carneiro.
Ele destaca ainda que a imposição de tarifas “lineares” de importação afetará as vendas do Brasil para os EUA, e isso deve ser particularmente ruim para as commodities (e os EUA são um importante mercado para o Brasil).
“Ainda que não haja expectativa de que um governo Trump adote medidas diretas contra o Brasil, as possíveis medidas adotadas devem prejudicar o país indiretamente. Isso deve ocorrer por meio de restrições nas importações norte-americanas, de efeitos na taxa de câmbio e também pelo arrefecimento do mercado internacional global, além do enfraquecimento de relações multilaterais”, acrescenta.
Pressão inflacionária
O entendimento de que vitória de Trump tende a fortalecer o dólar no longo prazo também é defendido por Fernando Moulin, partner da Sponsorb, professor e especialista em negócios e transformação digital.
“O câmbio deve aumentar, o que traz mais pressão inflacionária e também, por outro lado, faz com que o governo, economicamente, tenha que trabalhar mais forte seus fundamentos para poder evitar que o dinheiro, que vai para os mercados emergentes, fuja dos capitais, isso é importante para fechar as contas públicas”, afirma Moulin.
Ele diz que é possível imaginar, em termos de balanço de comércio exterior, não haver tanta mudança, uma vez que os Estados Unidos, historicamente, a despeito de republicanos ou democratas, tendem a ter uma agenda econômica ou comercial muito pragmática. Nesse sentido, o Brasil é um grande parceiro comercial de alguns produtos, sobretudo do agronegócio, avalia o analista.
“Vemos uma valorização do dólar contra moedas dos países emergentes, a valorização do bitcoin e das criptomoedas porque foram defendidas publicamente por Trump. Portanto, é um cenário com muito espaço para desdobramentos”, acrescenta.