A Assembleia Legislativa do Estado do Tocantins ficará fechada por tempo indeterminado a partir da tarde desta segunda-feira, 16. A decisão é parte do Ato número 09, desta segunda, da Mesa Diretora desta Casa. O objetivo, segundo o documento, é prevenir a infecção e propagação do coronavírus (Covid-19), no âmbito da Assembleia, até decisão em contrário da Mesa Diretora.
Da Assessoria
O ato suspende o acesso de visitantes às dependências da Casa; determina aos gabinetes a suspensão de visitação e audiências de apoiadores ou líderes políticos do interior; determina também que os assessores parlamentares que desenvolvem suas atividades no interior do Estado permaneçam em seus municípios.
Além disso, fica suspensa a realização – nas dependências da Casa – de eventos coletivos, incluindo as atividades legislativas do Plenário e das Comissões, “podendo ser convocadas, extraordinariamente, pelo presidente, para votações emergenciais de interesse público.
Dispensas e afastamentos
O ato da Mesa determina também a dispensa do registro de ponto e comparecimento ao trabalho, até o próximo dia 31, as gestantes, estagiários e servidores com mais de 60 anos de idade.
Ficam suspensas ainda as autorizações de servidores e de parlamentares para missão diplomática de caráter transitório, para participação em congressos, conferências ou reuniões culturais, viagens de observação e estudos ao exterior para locais onde houve infecções por coronavírus, constantes da lista do Ministério da Saúde.
Os atos ontem em apoio ao presidente Jair Bolsonaro (sem partido) mostram que ele deu mais um passo rumo ao isolamento político, na avaliação de analistas consultados pelo UOL.
Nathan Lopes Do UOL, em São Paulo
O fato de ele ter ignorado as recomendações de prevenção contra a pandemia do novo coronavírus —que já matou mais de 5.700 pessoas no mundo todo— também foi visto como "irresponsabilidade".
As manifestações que aconteceram ao longo do domingo (15) tiveram como alvos preferenciais os líderes do Congresso: os presidentes da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), e do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP). O STF (Supremo Tribunal Federal) também esteve na mira dos apoiadores de Bolsonaro.
"Ele ainda não está isolado, mas está se isolando. Ele está dificultando o diálogo com os outros Poderes", avalia o doutor em Ciência Política e professor da Universidade Mackenzie Mauricio Fronzaglia. "É preocupante que o presidente apoie manifestações contra os outros Poderes."
Submissão
Glauco Peres, professor de Ciência Política da USP (Universidade de São Paulo), diz que Bolsonaro "não está sabendo dialogar, negociar, entender o papel dos outros Poderes". "Ele está tentando fazer com que os outros Poderes se submetam a ele".
Peres lembra que, desde o começo do governo, Bolsonaro buscou falar para seus seguidores. "Se isola. E o grupo acaba ficando cada vez menor. O discurso nunca foi de composição."
Para a professora de Ciência Política da PUC (Pontifícia Universidade Católica) de São Paulo Vera Chaia, Bolsonaro "passa a ideia equivocada de que o Legislativo não deixa ele governar". "Mas ele não tem uma liderança efetiva. Ele tem toda a liberdade para trabalhar, mas ele é incapaz de governar: é confuso, contraditório, ambíguo".
O próprio presidente chegou a endossar os protestos antes de a pandemia da covid-19 se agravar. Ontem, ele indicou que a população foi às ruas por vontade própria e chegou a dizer que isso não tinha "preço".
Hostilidade
Para os especialistas, a manifestação foi uma busca por apoio. "Acho que ele já não se sente tão forte quanto como quando ele iniciou o governo, um ano atrás", pontua Lilian Furquim, doutora em Ciência Política e professora da FGV (Fundação Getulio Vargas) de São Paulo.
Fronzaglia lembra "que a base de apoio que ajudou a eleger o presidente Bolsonaro, uma série de políticos, já não está mais com ele". "Ele está jogando para uma plateia que já é a dele, para um eleitorado que já é cativo", comenta o acadêmico. "É mais uma demonstração de fidelidade de um eleitorado que já lhe é fiel."
O que preocupa os analistas é o teor dos atos, com um "ambiente que parece muito mais hostil às instituições democráticas", avalia Furquim. "A gente não tem um questionamento só da qualidade daqueles que estão nos Poderes, mas da estrutura institucional como um todo."
A democracia tem seus defeitos, mas ela ainda é a grande alternativa para a gente garantir uma sociedade mais justa, igualitária e, obviamente, livre
Lilian Furquim, professora da FGV
"Banana" à covid-19
O ato do presidente de ter ido a seus apoiadores, contrariando recomendações do Ministério da Saúde, também é alvo de críticas por parte dos analistas. Para Chaia, a atitude foi uma "irresponsabilidade". "Ele está dando uma 'banana' para o coronavírus e para toda essa situação que a gente está vivendo."
No mundo todo, os casos da covid-19 passam 153.000, o que fez a OMS (Organização Mundial da Saúde) declarar pandemia. Mas Bolsonaro considera que a situação envolvendo o novo coronavírus é "histeria".
"As pessoas que foram para as ruas devem ter acreditado que essa pandemia não era tão séria, ou que as informações não eram minimamente verdadeiras", comenta Furquim. "O problema é tornar esse debate sobre o coronavírus uma questão política."
Para Peres, o ato de Bolsonaro "é só mais uma ação de alguém que desconfia dos meios de comunicação por completo, que entende que tem algo acima, que é sempre muito vago".
Atos em apoio a Bolsonaro pelo Brasil
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15.mar.2020 - Atos em apoio ao presidente Jair Bolsonaro (sem partido) e contra instituições dos Três Poderes foram registrados neste domingo (15) pelo país. Foto mostra concentração de apoiadores em frente ao Congresso na manhã deste domingo
Leia mais Felipe Pereira/UOL
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15.mar.2020 - Manifestantes ignoraram orientação do Ministério da Saúde de evitar aglomerações em razão da pandemia de coronavírus. Alguns dos participantes do ato em Brasília utilizavam máscaras
Leia mais Felipe Pereira/UOL
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15.mar.2020 - O ato em Brasília trazia faixas com mensagens contra órgãos como o Congresso e o STF (Supremo Tribunal Federal)
Leia mais Felipe Pereira/UOL
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15.mar.2020 - Uma das faixas exibidas em ato em Brasília classificava parlamentares e ministros do Supremo como "parasitas"
Leia mais Felipe Pereira/UOL
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15.mar.2020 - A secretária da Cultura, Regina Duarte, também foi alvo do ato deste domingo (15) em Brasília
Leia mais Felipe Pereira/UOL
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15.mar.2020 - O presidente Jair Bolsonaro contrariou orientações do Ministério da Saúde e teve contato direto com apoiadores no ato em Brasília. Bolsonaro pegou celulares de manifestantes para fazer selfies
Leia mais Felipe Pereira/UOL
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15.mar.2020 - Bolsonaro também fez uma transmissão ao vivo no Facebook comentando o ato em seu apoio
Leia mais Reprodução/Facebook/jairmessias.bolsonaro
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15.mar.2020 - No Rio de Janeiro, apoiadores de Bolsonaro usaram máscaras no ato em que participaram
Leia mais Pauline Almeida/Colaboração para o UOL
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15.mar.2020 - Bolsonaro compartilhou em suas redes sociais imagens de protesto em Belém a seu favor
Leia mais Reprodução
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15.mar.2020 - Aos gritos de mito, Bolsonaro sob a rampa do Palácio do Planalto após ter contato com apoiadores em ato a seu favor em Brasília
Leia mais Felipe Pereira/UOL
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15.mar.2020 - Manifestantes mostram mensagem de despreocupação quanto à pandemia de coronavírus em ato no Rio de Janeiro
Leia mais Saulo Angelo/Futura Press/Estadão Conteúdo
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15.mar.2020 - Apoiadora de Bolsonaro em São Paulo usa máscara com o termo "foda-se" em ato realizado apesar da recomendação para se resguardar contra a pandemia do novo coronavírus
Leia mais Ettore Chiereguini/Futura Press/Estadão Conteúdo
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15.mar.2020 - Manifestantes demonstram apoio à ditadura militar e críticas ao Congresso e ao STF (Supremo Tribunal Federal) em ato em São Paulo
Leia mais Ettore Chiereguini/Futura Press/Estadão Conteúdo
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15.mar.2020 - Faixa a favor da ditadura é exibida em protesto na avenida Paulista, em São Paulo
Leia mais Breno Castro Alves/Colaboração para o UOL
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15.mar.2020 - Faixa na avenida Paulista pediu a eliminação dos presidente da Câmara, Rodrigo Maia, e do Senado, Davi Alcolumbre, além da do ministro do STF Gilmar Mendes
Leia mais Breno Castro Alves/Colaboração para o UOL
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15.mar.2020 - Apoiadora de Bolsonaro usa máscara para fazer crítica ao Congresso Nacional
Leia mais Érica Martin/AM Press & Imagens/Estadão Conteúdo
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15.mar.2020 - Manifestante de ato em apoio a Bolsonaro usou bandeira dos Estados Unidos
Leia mais Roberto Sungi/Futura Press/Estadão Conteúdo
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15.mar.2020 - "Astronauta" participou de ato a favor do presidente da República no Rio
Leia mais Wilton Junior/Estadão Conteúdo
Por Edson Rodrigues
PORTO NACIONAL
Álvaro da A7, Ronivon Maciel, o empresário Agamenon e o ex-presidente da Câmara Municipal e vereador Miúdo
Ao que tudo indica, o impossível será fato em Porto Nacional, onde tudo caminha para que as oposições à candidatura do atual prefeito, Joaquim Maia, irão se unir para derrotá-lo nas urnas em outubro próximo.
Os principais pré-candidatos a prefeito na cidade, Álvaro da A7, Ronivon Maciel, o empresário Agamenon e o ex-presidente da Câmara Municipal e vereador Miúdo (este último, por sinal, excelente articulador político), estiveram reunidos durante o sábado e o domingo na residência de Álvaro da A7, à beira do lago da usina Luiz Eduardo Magalhães, com “porteira fechada” para intrusos e sem nenhum vazamento do que foi alinhavado.
Sabe-se que a reunião teve como objetivo a escolha dos candidatos a prefeito e vice e a formação de, pelo menos, três chapas de candidatos a vereador, dentre eles, alguns candidatos à reeleição, que trabalharão suas campanhas vinculadas aos candidatos escolhidos, a serem anunciados em momento oportuno.
Parte do domingo foi reservada para que cada um dos membros dessa “cúpula” oposicionista mantivesse reuniões individuais com suas bases para ajustar o discurso e adotarem a mesma linguagem. Nesta semana que se inicia, todos têm agenda com as direções estaduais dos seus partidos para buscar a bênção para a união de forças que utilizará uma estratégia conjunta para alcançarem a vitória contra Joaquim Maia e, também Otoniel Andrade, que lidera as pesquisas de intenção de voto encomendadas pelos partidos para consumo interno e tem o apoio do Palácio Araguaia, leia-se, do governador Mauro Carlesse.
Mesmo assim, muitas novidades são aguardadas até o dia quatro de abril, última data para as filiações partidárias.
PALMAS
A sucessão de Palmas terá surpresas agradáveis para uns e decepcionantes para outros. O ex-prefeito Raul Filho é quem está mais ansioso pelas surpresas reservadas para o pleito palmense, uma vez que, para a Justiça Eleitoral, continua inelegível, mas, como sua condenação não foi por corrupção e, sim, envolvendo questões de meio ambiente, ainda tem esperanças de reverter a inelegibilidade, uma vez que já cumpriu a pena na esfera cível. Portanto, as esperanças de Raul duram até agosto, quando serão feitos os registros de candidatura. Até lá, ainda há espaço para a contestação de sua condição política.
Outro que está no aguardo das surpresas é o vice-governador Wanderlei Barbosa, um dos principais líderes políticos da Capital e que pode vir a ser um candidato com potencial de vitória, faltando para isso, apenas a entrada definitiva do Palácio Araguaia em sua campanha.
Outros nomes correm por fora, também dependentes de surpresas, pois precisam de fatos novos para fazer suas candidaturas decolarem. Já outros, só por milagre conseguirão emplacar seus nomes como reais candidatos ao Paço Municipal.
CINTHIA RIBEIRO
A atual prefeita e candidata á reeleição, Cinthia Ribeiro, apesar das vitórias internas dentro do PSDB e de sua administração cheia de pontos positivos, como compromissos cumpridos, obras realizadas e a serem terminadas, pagamento de servidores, fornecedores e prestadores de serviços em dia, precisa estar atenta à outro aspecto do seu governo: a “importação” de auxiliares.
Em política já é sabido que apenas obras, aprovação popular e cumprimento de obrigações não garantem uma eleição. Que o digam o saudoso Juscelino Kubitscheck, Ary Valadão e Nilmar Ruiz.
Não se sabe se por aconselhamento político ou vontade própria, Cinthia tem nomeado pessoas desconhecidas da população palmense, ignorando valores locais, técnicos e servidores com capacidade e talento reconhecidos, em detrimento de forasteiros que acabam sendo rotulados como pára-quedistas. Não que sejam incapazes ou incompetentes, longe disso, mas são nomeações encaradas pelos palmenses como feitas “goela abaixo”.
E os insatisfeitos com esse tipo de nomeação, consideram esse fato como “deslizes” que podem comprometer a campanha de Cinthia à reeleição, e já alardearam que vêm por aí, pelo menos, mais duas nomeações do mesmo “padrão”, além de uma “adesão de ata” que envolve milhões de reais, que podem comprometer ainda mais suas pretensões de reeleição.
Cinthia Ribeiro tem tudo para disputar com tranqüilidade – e vencer – a eleição de outubro próximo, mas precisa estar atenta a esses detalhes, pois, a disputa pela prefeitura de Palmas promete ser acirrada, a ponto de qualquer erro ser fatal para as pretensões de qualquer um dos postulantes.
GURUPI
Já em Gurupi as conversações entre as oposições ao escolhido pelo prefeito Laurez Moreira para ser seu sucessor, Gutierres Torquato, estão em ritmo mais lento, mas já houve contato com o Palácio Araguaia, para a formação de uma “grande aliança” com o respaldo do governador Mauro Carlesse.
A “Capital da Amizade” é uma cidade muito importante para a economia do Estado, com um campus universitário de suma importância na formação profissional, reunindo grandes instituições de ensino superior, públicas e privadas, além de ser a terceira cidade em economia e habitantes do Tocantins, reunindo várias retransmissoras de Rádio e TV e um pólo comercial e industrial de suma importância para o desenvolvimento do Tocantins.
É um colégio eleitoral que não pode ser ignorado, além de ser berço político do governador, Mauro Carlesse. A participação do governo na sucessão em Gurupi deve seguir os moldes da atuação que será desencadeada nos principais colégios eleitorais do Estado.
MARCANDO PRESENÇA
Segundo uma fonte palaciana, o governo do Estado vai “marcar presença” nos principais colégios eleitorais do Tocantins “mostrando serviço”. Em Gurupi, a intenção é inaugurar a primeira fase do Hospital Regional e dar início às duas fases de conclusão da obra ainda este ano e iniciar as obras de pavimentação do “Trevo do Tocantins”, com 66 quilômetros de extensão.
Em Araguaína o governo pretende reiniciar o Hospital Regional de Araguaína, concluir as obras do “Buracão” e continuar com as obras de asfaltamento dos setores periféricos, incluindo o bairro Novo Horizonte.
O governador ainda deve anunciar a implantação da Faculdade de Medicina do Bico do Papagaio, com sede em Augustinópolis, nas instalações da Unitins, com 50% das vagas reservadas para estudantes oriundos da rede pública de ensino.
Deputado Elenil da Penha (MDB); Jornalista Tony Veras (Portal O Norte); Vereador e suplente de deputado Marcus Marcelo (PL); Deputado Jorge Federico (MDB); Ex-Secretário de Comunicação João Neto
Segundo nossa fonte, após o fim do período chuvoso, que este ano se apresentou severo, uma série de obras por todo o Estado vão mostrar a que veio o governo de Mauro Carlesse e servirão de exemplo à população da capacidade do governo do Estado e dos seus candidatos em mudar a realidade do Tocantins.
Vale ressaltar que o resultado das próximas eleições municipais nos quatro maiores colégios eleitorais, servirá de “fiel da balança” para as eleições majoritárias de 2022. Os municípios de Palmas, Araguaína, Gurupi e Porto Nacional concentram 38,14% do eleitorado tocantinense. Logo, quer queira ou não queira, o grupo político vitorioso nesses quatro municípios saem na frente dos demais, principalmente se mantiveram bons nomes em seus quadros como candidatos majoritários.
É esperar pra ver. Como já foi dito, muitas surpresas ainda estão por acontecer, com potencial para mudar certezas, tanto de vitórias quanto de derrotas.
Até breve!
'Manifestação não é minha, é espontânea do povo', disse Bolsonaro em transmissão ao vivo no Facebook
Com Agências
Jair Bolsonaro saiu do isolamento e apareceu em público na manifestação pró-governo deste domingo (15/3). O presidente havia sido orientado pelos médicos a se manter isolado, mesmo após testar negativo para a Covid-19.
Separado por duas grades, Bolsonaro cumprimentou apoiadores que o esperavam vestidos de verde e amarelo segurando cartazes. “Manifestação não é minha, é espontânea do povo”, disse Bolsonaro em transmissão ao vivo do Palácio do Planalto. O presidente não estava usando máscara.
Bolsonaro chegou a pedir aos apoiadores que adiassem as manifestações marcadas para este domingo, no entanto, na manhã de hoje, o presidente passou a incentivar os protestos nas redes sociais. Ele postou, em sua página no Twitter, imagens dos atos a favor do governo em diversas cidades. No Facebook, Bolsonaro compartilhou uma transmissão ao vivo de uma manifestação em Brasília. "Devemos lealdade ao povo brasileiro", registrou.
Concentração no Museu Nacional
Em Brasília, apoiadores do presidente se concentraram em frente ao Museu Nacional e um carro de som comandou a manifestação. Os simpatizantes do governo negam que o protesto seja contra as instituições, mas criticam os presidentes da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), e do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP).
Em nota, a Secretaria de Segurança Pública do Distrito Federal (SSP/DF) informou que faz a segurança da manifestação e que o decreto do GDF limitou apenas os eventos esportivos e aqueles que dependem de Licenciamento do Poder Público. "Eventos familiares, espontâneos ou manifestações não dependem de licenciamento, por isto, estão fora das limitações do Decreto", esclareceu.
Epidemiologistas ouvidos pela Folha afirmam que o governo deveria adotar em breve providências a fim de impedir ou limitar em grande medida aglomerações e movimentações de pessoas, a exemplo do que fizeram países asiáticos e agora a Itália para atenuar a epidemia de Covid-19.
Vinicius Torres Freire/Folha de São Paulo
Isto é, seria necessário suspender aulas, espetáculos esportivos e artísticos, cultos religiosos e qualquer grande reunião e restringir a presença física em locais de trabalho e a circulação pelas cidades.
A medida deveria ser implementada daqui a 7 e no máximo dentro de 20 dias, na visão de médicos estudiosos da biologia e da matemática da disseminação de doenças infecciosas.
Em países como Hong Kong, Singapura e Japão, o ritmo de crescimento do número de casos de Covid-19 é bem inferior ao do registrado em grandes países europeus.
Na Coreia do Sul, apesar de uma explosão inicial de contágio, o país está perto de estabilizar o número total de casos.
“Não teria muita dúvida de dizer que foi a intervenção. Fizeram um esforço brutal, inédito”, diz Claudio Struchiner, a respeito do impacto positivo das medidas adotadas em certos países asiáticos. Ele é professor de matemática aplicada na FGV-RJ, graduado em medicina na UFRJ e doutor em dinâmica populacional de doenças infecciosas pela Universidade Harvard.
“Quando se comparam a velocidade do ritmo de casos totais, as curvas, entre países asiáticos e a Europa, parece evidente que a diferença se deveu às medidas drásticas dos governos”, diz Mirian Dal Ben, infectologista do Hospital Sírio-Líbanês que também trabalha com modelos matemáticos.
Dal Ben e Struchiner concordam que ainda se sabe pouco do ritmo da evolução dos casos no Brasil ou de como se dá o ritmo de contágio local (excluídos casos importados e correlatos).
Acreditam, porém, que não será prudente esperar dados consolidados: é melhor observar a história da doença e o resultado das medidas eficazes de outros países, antes que seja tarde.
“Se nada for feito, a coisa pode ser terrível. Vamos ter uma epidemia, ela vai crescer. Já não estamos na fase de contenção, de evitá-la, mas de suavizar efeitos, reduzir o número de pessoas atingidas”, diz Roberto Kraenkel, professor do Instituto de Física Teórica da Unesp e estudioso do comportamento de epidemias.
Dal Ben diz que existe uma janela de tempo para a adoção das medidas restritivas. “Nem pode ser tão cedo, pois a restrição não pode durar muito, nem tão tarde que a epidemia esteja descontrolada e os hospitais sobrecarregados.”
Kraenkel explica que o início da epidemia é o instante mais crítico. “Se ele for muito forte, pode haver um número de casos tal que o sistema de saúde não aguente, como usar o metrô na hora do rush —não tem como entrar no vagão”.
Quando então deve começar a restrição, o “lockdown”? “O mais cedo possível”, diz Kraenkel. Para Dal Ben, daqui a duas semanas ou dias além disso. Struchiner concorda em parte. Acha que a restrição deve começar em uma semana, duas no mais tardar.
Acha mesmo que, em tese, é possível um esforço de erradicação do vírus. Isto é, um “lockdown” que durasse o tempo da incubação da doença com o período de contágio, uns 25 dias, por exemplo. Seria uma medida de interrupção da cadeia de contágio. Não é uma proposta, necessariamente, mas um exemplo do que pode ser pensado a respeito do controle da epidemia. “O coronavírus da Sars, em 2003 foi erradicado”, diz.
Dal Ben e Struchiner lembram também que o número de casos já é maior do que aquele que aparece nas estatísticas. Possivelmente, a discrepância entre o que se sabe e o número de doentes é maior do que na China ou em outros países da Ásia, onde os controles e testes foram maiores.
O epidemiologista Expedito Luna, professor do Instituto de Medicina Tropical da USP, avalia que as medidas adotadas pelo governo têm sido claras e têm evitado pânico.
Para ele é positivo o exemplo da Coreia do Sul, que faz testagem ampliada para diagnóstico do novo coronavírus. O país, apesar de ser o quarto com mais casos identificados (7.979, atrás de China, Itália e Irã), tem apenas 66 mortes (o Irã, com 11.364 casos, tem 514).
“É uma estratégia interessante, mas o Brasil não teria essa capacidade. O diagnóstico de doenças infecciosas, como dengue, zika e influenza, é uma velha debilidade da rede pública de saúde.”
Ainda assim, Luna avalia como positivas as medidas tomadas pelo governo, como estímulo ao isolamento domiciliar de pessoas com sintomas e de estrangeiros que chegam ao país. “Ainda estamos tateando. O clima tropical também molda a transmissão de agentes por via respiratória. Tradicionalmente não há epidemias de gripe por aqui do mesmo porte dos países temperados”.
Em São Paulo, maior estado e centro de trânsito de passageiros internacionais do país, as discussões são dominadas por ora por David Uip, infectologista e ex-secretário estadual da Saúde, com o aval do governador João Doria (PSDB).
Até aqui, Uip tem dito que não é preciso tomar medidas draconianas. À Folha Doria disse que seguirá a opinião da área de saúde do governo e que não teme críticas caso as medidas tomadas se mostrem insuficientes. “Decido com razão, não emoção”, disse.
A depender do cenário, o Ministério da Saúde não descarta medidas como restrição de voos e fechamento de fronteiras, diz o secretário de vigilância em saúde do ministério da Saúde, Wanderson Oliveira, mas por ora essas medidas estão descartadas.
Especialistas que fazem parte do comitê de contingência do coronavírus em São Paulo não foram consultados sobre a estratégia gradualista do governo paulista, que teria sido adotada por recomendação do Ministério da Saúde.
Um integrante do comitê estadual disse que nunca viu nada parecido, que as pessoas de Brasília queriam reinventar a roda. Foi uma medida unilateral do ministério e ninguém conversou sobre isso com o comitê nem apresentou argumentos que justificassem a estratégia, afirmou.
Promotoria de SP cobra explicações sobre falta de ações antiaglomeração
Em documento enviado aos governos estadual e municipal de São Paulo, o Ministério Público Estadual pede que, em 48 horas, eles informem as justificativas técnicas que dão suporte à decisão de ainda não terem adotado medidas governamentais para evitar aglomerações com objetivo de conter o avanço do novo coronavírus.
Os promotores Dora Martin Strilicherk e Arthur Pinto Filho questionam que, mesmo diante do avanço de casos, o governador João Doria (PSDB) afirmou nesta sexta que não há necessidade, por hora, da tomada de medidas oficiais contra aglomerações em geral.
No entanto, eles lembram que, na mesma data, o infectologista David Uip, coordenador do grupo de contingenciamento do coronavírus, recomendou à população de risco que evite aglomerações.“As manifestações apresentam evidentes contradições, transmitindo informações dissonantes, que geram insegurança na população.”
Como exemplo de que a própria comunidade científica teme o contágio progressivo e sem controle do vírus, os promotores citam a suspensão das aulas em várias faculdades particulares, além de algumas estaduais, como a Unicamp.Os promotores também argumentam que a decisão de Doria de não adotar medidas imediatas de prevenção no combate às aglomerações também são dissonantes das recentes manifestações de médicos gabaritados em redes sociais.
Eles pedem ainda que o governos comprovem a realização de campanha oficial, por todos os meios de comunicação adequados, informando a população sobre riscos de letalidade do vírus para as populações jovens e idosa e com comorbidades.
Colaboraram Natália Cancian, de Brasília, e Cláudia Collucci e Phillippe Watanabe, de São Paulo