Por Matheus Teixeira

 

O presidente do STF (Supremo Tribunal Federal), Dias Toffoli, afirmou, nesta segunda-feira (8), que ações do presidente Jair Bolsonaro e de seu governo têm "trazido dubiedades que impressionam e assustam não só a sociedade brasileira, mas também a comunidade internacional”.

 

Toffoli ressaltou que é necessário estabelecer uma “trégua entre os Poderes” para o devido enfrentamento à pandemia do novo coronavírus. E avisou, em afirmação direcionada "diretamente e em especial” ao chefe do Executivo, que “não é mais possível atitudes dúbias”.

 

O discurso ocorreu em evento por videoconferência em que associações de magistrados, de integrantes da Polícia Federal e do Ministério Público e entidades da sociedade civil entregaram um manifesto de apoio ao Supremo e ao Judiciário.

 

O texto é considerado uma demonstração de força do STF em meio a atritos com Bolsonaro. Nele, as entidades afirmam que os ataques à Justiça ameaçam os valores democráticos do país, além de ressaltarem que a liberdade de expressão “não abarca discursos de ódio e a apologia ao autoritarismo, à ditadura e a ideologias totalitárias que já foram derrotadas no passado”.

 

Um dos principais pivôs das disputas com o Palácio do Planalto, Alexandre de Moraes fez questão de participar da solenidade e foi o único ministro presente além de Toffoli.

 

No discurso, o presidente da corte destacou que o Brasil tem uma “imprensa livre” e que tem atuado com qualidade na “defesa das instituições”.

 

Toffoli elogiou, ainda, a iniciativa de veículos de comunicação de se unirem para compilar os dados do novo coronavírus no Brasil.

 

Sobre a relação com Bolsonaro, o ministro lembrou que, ano passado, o chefe do Executivo foi “firme junto à sua base contra a abertura de CPI [sobre o STF] e se manifestou publicamente contra processos de impeachment” de ministros da corte.

 

Toffoli ressaltou que teve “relacionamento harmonioso” com Bolsonaro e seus auxiliares e disse ter certeza que são “democratas, chegaram ao poder pela democracia e pelo voto popular e merecem respeito”.

 

O magistrado também elogiou o empenho do Congresso em evitar crises e adotar as medidas necessárias de combate à Covid-19. E disse que é momento de “diálogo, em vez de confronto, de razão pública no lugar das paixões extremadas”.

 

“Os Poderes da República em todas as esferas da federação, as instituições públicas e privadas e a sociedade civil devem unir forças para, com diálogo, transparência e ciência, preservar vidas, vencer a pandemia e superar suas consequências nefastas nos âmbitos sociais e econômicas”, disse.

Posted On Terça, 09 Junho 2020 03:42 Escrito por O Paralelo 13

Carlos Fernando dos Santos Lima se aposentou em março passado, após 25 anos no Ministério Público Federal. Desde então, o ex-procurador da República tem se ocupado da reforma no escritório de 100 metros quadrados que pretende inaugurar em Curitiba.

 

 Por Wálter Nunes

 

Carlos Fernando esteve na origem da Operação Lava Jato, em 2014, e foi um dos líderes da força-tarefa de Curitiba até 2018. Por causa desse passado como investigador, diz que não atuará na área criminal. “Não posso ser um criminalista para desdizer aquilo que eu sempre disse. Procurei uma área que não ofenda o meu passado.”

 

O ex-procurador da República Carlos Fernando dos Santos Lima, que liderou a Operação Lava Jato no Paraná

 

A preocupação com a reputação da investigação que atuava na linha de frente transparece ao falar do ex-juiz federal Sergio Moro, que abandonou a magistratura e a Lava Jato para integrar o governo do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) como ministro da Justiça.

 

“Pessoalmente eu manifestei a ele minha dúvida sobre se seria uma decisão correta”, diz. “Eu vejo que num certo momento ela custou muito caro para a Lava Jato, obviamente, como movimento, porque contaminou uma discussão política desnecessária.”

 

Carlos Fernando considera Bolsonaro a pior pessoa para presidir o país neste momento e só vê um remédio para a situação atual. “Acho que a solução em relação a Bolsonaro é o impeachment. Para mim ele já cometeu crimes de responsabilidade muito maiores e mais graves que a Dilma.”

 

Como o senhor vê a atual situação do país, enfrentando pandemia e crises econômica e política simultaneamente? Eu acho que a pandemia veio para exacerbar os problemas que nós já tínhamos. O problema político ele já existe, ele é inerente a certos erros da Constituição de 88, que levou ao presidencialismo de coalizão e a um excesso de partidos. Infelizmente hoje não é o momento para discutir isso.

 

Segundo, nós tivemos o azar de ter a pior pessoa possível neste momento na Presidência da República. Bolsonaro é incapaz de assumir o preço de governar. Nesse atual momento de pandemia, governar é tentar salvar vidas humanas. Ele quer transformar esse fato da natureza numa questão política, jogar o custo dela em cima de governadores e prefeitos. Falta para ele qualquer capacidade mínima para liderar um país num momento difícil.

 

Como o senhor vê os atos do presidente de desrespeitar orientações de organismos de saúde? Ele não segue as orientações do seu próprio governo e sabota a tentativa de outros que estão tentando fazer o mínimo para diminuir o custo dessa pandemia.

 

Ele também incentiva atitudes como armar a população. Imagine nessa situação em que temos dificuldade de controlar pessoas que se acham no direito de fazer valer as suas opiniões de forma violenta, se nós armássemos a população? Nós teríamos milícias enfrentando milícias. O que também viola qualquer pacto constitucional.

 

Bolsonaro está numa política que é genocida e contraria a Constituição Federal. Eu acho que a solução em relação a Bolsonaro é o impeachment. Para mim ele já cometeu crimes de responsabilidade muito maiores e mais graves que a Dilma.

 

O presidente Bolsonaro foi eleito dizendo que iria por em prática uma nova política. Agora, porém, ele se aliou ao centrão. Como o senhor vê investigados da Lava Jato participando deste governo? O problema do discurso da nova política é que ele é populista em certos termos, porque nosso problema não é uma vontade pessoal de um governante. O nosso problema é o presidencialismo de coalizão, a ausência de partidos democráticos e transparentes em número mínimo que permita que se forme maiorias estáveis, sem precisar daquele toma lá dá cá que o centrão faz.

 

O Bolsonaro fez um discurso que ele mesmo sabia que ele não iria cumprir. Eu creio que Bolsonaro é essencialmente um mentiroso, mas um mentiroso que mente de forma tão convictamente que ele acredita na própria mentira até o momento em que a desdiz.

 

A Lava Jato teve papel atuante durante o impeachment da presidente Dilma, sobretudo quando do impedimento da nomeação do ex-presidente Lula para Casa Civil. Durante as eleições, foi divulgada a delação do Antonio Palocci, que atingia o candidato petista à Presidência. As investigações da Lava Jato de alguma forma contribuíram para a eleição do atual presidente? Essa é uma questão interessante. Eu vejo ela de uma maneira muito mais complexa. Quando você tem um fato —e eu pergunto assim para o jornalista— você tem uma investigação jornalística completa, que não é definitiva porque vai se submeter a outras investigações, mas você tem fatos que vão influenciar um determinado episódio, por exemplo a eleição, agir ou não agir é uma decisão política. Muito difícil, porque agir ou não agir vai influenciar a situação.

 

Dar conhecimento ou não para a população determina resultados diferentes. Você não tem o que fazer, por isso eu digo que a posição do Ministério Público Federal sempre foi de revelar tudo no momento em que aquilo deixe de ser útil para as investigações, porque a população tem que saber.

 

Agora, Bolsonaro evidentemente surfou na onda anticorrupção. A onda não é responsável pelo surfista. Se há alguém responsável pelo fenômeno Bolsonaro, chama-se Luiz Inácio Lula da Silva. Por dois motivos. Porque vendeu a esperança que o povo depositou no Partido dos Trabalhadores em troca da manutenção do poder através da utilização sistêmica da corrupção política. E elegeu o Bolsonaro quando o escolheu como adversário ideal. Uma polarização que eliminou o centro democrático.

 

A Lava Jato teve resultados muito mais tímidos durante o governo Bolsonaro do que nos governos do PT e de Michel Temer. Por quê? Eu sempre falei internamento que operação é como um avião. Precisa ter um plano de voo. Tem um momento em que ela vai arrancar, ganhar velocidade, vai alçar voo, se não for abatida ganha altura, atinge voo de cruzeiro, mas toda operação tem que descer, tem que saber como descer. Porque se você não sabe como aterrissar o seu destino é cair. Toda operação vai minguar, porque os assuntos investigados não são eternos.

 

Moro deixou a magistratura para integrar o governo Bolsonaro. Como o senhor viu essa decisão? Pessoalmente eu manifestei a ele minha dúvida sobre se seria uma decisão correta. Eu manifestei que eu tinha dificuldade com esse governo. Eu vejo que, num certo momento, ela [decisão de Moro] custou muito caro para a Lava Jato, obviamente, como movimento, porque contaminou uma discussão política desnecessária.

 

Mas eu acho que a esperança de mudança passa por uma mudança legislativa. Nós da Lava Jato sempre soubemos disso. O Sergio Moro acreditou nesta mudança. Mas desde o episódio da 'rachadinha' me pareceu claro que o Bolsonaro não tinha compromisso com essa mudança.

 

Como o senhor esta vendo o papel de Augusto Aras na Procuradoria-Geral da República? Eu sou crítico ao papel dele. Eu creio que existe uma corrida pelo STF [Supremo Tribunal Federal] e nós estamos numa crise das nossas instituições democráticas tão grande que as coisas estão sendo usadas.

 

Antigamente existia isso de uma forma velada, mas hoje é absurda a corrida para agradar Bolsonaro. O que está havendo é um verdadeiro aparelhamento da Procuradoria-Geral da República em relação ao interesse dessas pessoas em atingir a cadeira do ministro Celso de Mello [que se aposenta neste ano] e as outras cadeiras que vão abrir no futuro.

 

O presidente Bolsonaro se escora num suposto apoio dos militares para o enfrentamento com outros poderes. O senhor considera a possibilidade de um golpe militar? Eu acreditava que não. Eu não consigo entender que uma instituição que deveria ter aprendido muito com o que aconteceu durante a ditadura, que fosse liderada num momento histórico tão grave por uma pessoa que não representa os valores básicos das Forças Armadas. Entretanto, de repente, por conta dessa polarização política, por conta de movimentos equivocados e até por conta dessa posição ideológica da hierarquia, ‘mesmo que eu caminhe para o meio do inferno eu vou junto porque ele é o meu chefe hierárquico’. Infelizmente está levando os militares para um caminho e manifestações equivocados.

 

Carlos Fernando dos Santos Lima, 56

Em 1991 ingressou no Ministério Público do Paraná

Entrou no Ministério Público Federal em 1995

Entre 2003 e 2006 atuou na Operação Banestado, que combateu crimes financeiros

Foi um dos líderes da força-tarefa da Operação Lava Jato, entre 2014 e 2018

Aposentou-se em março de 2019

 

Posted On Segunda, 08 Junho 2020 13:39 Escrito por O Paralelo 13

Na mensagem que enviou a interlocutores, junto com uma cópia do editorial do Financial Times, Mello disse que a "advertência" era necessária

 

Por Agência Estado

 

O ministro Celso de Mello, do Supremo Tribunal Federal (STF), compartilhou entre interlocutores um editorial do jornal britânico Financial Times que atribui ao presidente Jair Bolsonaro ter acendido o "medo" na democracia brasileira e criado um risco real e crescente de uma virada autoritária.

 

O artigo cita o próprio ministro, que é o mais antigo nos quadros do Supremo. O jornal faz referência à mensagem que Celso de Mello encaminhou na semana passada a interlocutores, comparando o Brasil atual e a Alemanha nazista de Hitler. Em mensagem de WhatsApp, no domingo, 31, Mello acusou bolsonaristas de odiar a democracia e de pretender instaurar uma "desprezível e abjeta ditadura".

 

"Isso pode soar exagerado", disse o Financial Times sobre a mensagem do decano. "Mas poucos presidentes eleitos atenderiam e contemplariam protestos nos quais os manifestantes pedem pelo fechamento do Congresso e da Suprema Corte, sendo substituídos por uma lei militar. Ainda assim, isso é o que o Sr. Bolsonaro fez - não uma, mas várias vezes. No fim de semana passado, ele apareceu em uma dessas manifestações montado a cavalo", descreveu o jornal.

 

Na mensagem que enviou a interlocutores, junto com uma cópia do editorial do Financial Times, Mello disse que a "advertência" era necessária.

 

"Editorial de hoje, domingo, dia 07/06, do jornal britânico 'FINANCIAL TIMES' sobre a conduta inconstitucional de Bolsonaro, com referência à minha advertência, 'exaggerated', porém necessária em face dos contínuos ataques à Corte Suprema e ao Congresso Nacional , visando o seu 'shutdown' (fechamento)!", escreveu Celso de Mello no Whatsapp neste domingo, 7.

 

O decano do Supremo Tribunal Federal é o relator do inquérito que investiga a interferência de Bolsonaro na Polícia Federal, com base em acusação do ex-ministro da Justiça e Segurança Pública Sérgio Moro. A investigação pode levar ao afastamento do presidente da República se eventual denúncia da Procuradoria-Geral da República não for aceita pela Câmara dos Deputados.

 

O veículo de comunicação britânico, que tem orientação conservadora, também citou os militares colocados pelo presidente na administração federal e a resposta do ministro Augusto Heleno ao supremo, quando o celular do presidente foi solicitado pelo STF.

 

O Palácio do Planalto tem acompanhando com atenção as declarações de Celso de Mello. No início da semana, foi cogitado um pedido de suspeição do ministro - ideia que havia perdido força. A avaliação - do governo e do próprio STF - é de que as chances de o plenário do STF declarar Celso de Mello suspeito são quase nulas.

 

Ataque

O Financial Times comparou Bolsonaro a Trump, citando características comuns aos dois chefes de Estado, como o nacionalismo, a forma que usam o Twitter e as falas com objetivo de intensificar a divisão entre seus apoiadores e a oposição. "Mas, no Brasil, há uma possibilidade mais preocupante: que Bolsonaro, cada vez mais confrontado, esteja desiludido com o processo democrático pelo qual ele foi eleito e queira minar as instituições que sustentam o país", disse o jornal.

 

"Até o momento, as instituições brasileiras resistiram ao ataque, com forte apoio público. É improvável que o exército apoie um golpe militar para instalar Bolsonaro como um autocrata Mas outros países devem observar: os riscos para a maior democracia da América Latina são reais e estão crescendo", conclui o editorial.

 

Uma das publicações referência para investidores internacionais, o Financial Times também aponta problemas econômicos para o Brasil devido à instabilidade causada por Bolsonaro. "As esperanças de reforma econômica evaporaram e os investidores estão retirando capital do País", afirma o jornal.

Posted On Segunda, 08 Junho 2020 07:40 Escrito por O Paralelo 13

Primeira turma do Supremo entendeu que ele cometeu crimes contra o BNDES

Por Marcelo Camargo

 

O deputado Paulo Pereira da Silva (SD-SP), conhecido como Paulinho da Força, foi condenado pela 1ª turma do Supremo Tribunal Federal (STF) a cumprir pena de 10 anos e dois meses de prisão por crime contra o Sistema Financeiro Nacional e pelos crimes de lavagem de dinheiro e associação criminosa. As informações são do site G1.

 

Paulinho foi acusado de envolvimento em desvio de recursos no Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). Como a condenação é superior a oito anos, o Código Penal define que a pena deve ser cumprida inicialmente em regime fechado.

 

A defesa do deputado nega que ele tenha cometido crime e informou que vai recorrer da decisão ao plenário do Supremo. Ainda de acordo com o G1, o advogado do deputado, Marcelo Leal, disse que foram apresentadas provas de que houve prestação de serviço, com mais de 1,2 mil e-mails, auditorias e depoimentos. A defesa alega que Paulinho da Força foi vítima de tráfico de influência.

 

O político, que é presidente do partido Solidariedade, que compõe o bloco conhecido como Centrão, novo aliado do presidente Jair Bolsonaro, foi denunciado em 2012 pela Procuradoria Geral da República (PGR). A denúncia foi acolhida pelo STF em 2015, e Paulinho passou a responder a uma ação penal na condição de réu.

 

A PGR afirma que o parlamentar atuou para beneficiar empresas no BNDES. Também afirma que Paulinho indicou nomes de sua confiança para o Conselho de Administração do BNDES, em vaga destinada à Força Sindical, entidade controlada pelo deputado.

 

Entenda o caso

Paulinho da Força foi denunciado em 2012 pela Procuradoria Geral da República (PGR). A denúncia foi acolhida pelo STF em 2015, e Paulinho passou a responder a uma ação penal na condição de réu.

 

A PGR afirma que o parlamentar atuou para beneficiar empresas no BNDES. Também afirma que Paulinho indicou nomes de sua confiança para o Conselho de Administração do BNDES, em vaga destinada à Força Sindical, entidade controlada pelo deputado.

 

Depois que o BNDES autorizava os financiamentos, ainda de acordo com investigadores, o grupo apresentava notas que seriam falsas para justificar gastos e desviar recursos.

 

O julgamento da ação foi feito em plenário virtual, no qual os ministros incluíram os votos no sistema eletrônico do STF, sem a necessidade de reunião presencial.

 

Votaram pela absolvição do deputado: Alexandre de Mores e Marco Aurélio Mello;

Votaram pela condenação do deputado: Luís Roberto Barroso, Luiz Fux e Rosa Weber.

Votos

O ministro Alexandre de Moraes afirmou que existem suspeitas, mas não há provas da participação do deputado nos fatos.

 

"Os indícios de materialidade e de autoria que justificaram a instauração desta ação penal não são suficientes para a condenação do réu, a qual, para fins penais, exigiria um grau de certeza não alcançado na instrução processual do presente processo", declarou.

 

"Existem circunstâncias fáticas compatíveis com a acusação a ele imputada, os denominados 'indícios'. Entretanto, não há prova da sua participação nos fatos, apenas suspeitas sérias, as quais bem justificaram o recebimento da denúncia", completou.

 

Já o ministro Luís Roberto Barroso considerou que o caso conta com um "conjunto robusto de provas". "Em conclusão, o conjunto robusto de provas existentes nos autos me leva a concluir que, mais do que coincidências, há elementos suficientes para negar qualquer credibilidade à versão defensiva", afirmou.

 

"Os elementos dos autos indicam que ele concorreu para o delito, cedendo seu poder político e sua prerrogativa de indicação de Conselheiros do BNDES, para influenciar os responsáveis pela aplicação do dinheiro a repassarem os valores a ele", completou.

 

 

Posted On Sábado, 06 Junho 2020 16:35 Escrito por O Paralelo 13

Em uma disputa na Justiça por patrimônio familiar, o ministro da Educação fustiga o pai com o mesmo espírito bélico que demonstra na vida pública

 

Por João Batista Jr. - De VEJA

 

É conhecida a maior parte das polêmicas e batalhas de Abraham Weintraub, o (ainda) titular da pasta da Educação. A extensa relação de desatinos inclui piada de cunho racista com sotaque chinês, falsa acusação de plantações de maconha em universidades públicas e, recentemente, na mais grave de suas manifestações destemperadas, a bravata “por mim, botava esses vagabundos todos na cadeia, começando no STF”, dita na célebre reunião comandada por Jair Bolsonaro no dia 22 de abril. No ambiente familiar, longe dos holofotes das redes sociais, terreno que usa com frequência para despejar provocações a adversários e caneladas na língua portuguesa, o ministro trava uma outra guerra ao lado do irmão, Arthur Weintraub, assessor especial do presidente. O inimigo é o pai deles, o psiquiatra Mauro Weintraub, devido a uma discussão sobre patrimônio que se arrasta na Justiça nos últimos anos. Até agora, não se conhecia quase nenhum detalhe sobre a pendenga que rachou o clã e revela no âmbito particular a mesma disposição bélica demonstrada em público pelo ministro.

 

A briga tem como ponto central a doação de quatro imóveis do pai a Renata, sua segunda mulher, com quem está casado há 24 anos. O total é de estimados 3 milhões de reais. A discussão começou em 2011, quando os irmãos deram um ultimato: se o pai não anulasse a doação e transferisse tudo para o nome deles, ficaria sem ver os três netos (filhos de Abraham com a economista Daniela Weintraub). Mauro argumentou que eles não seriam lesados da expectativa da herança natural que cabe aos filhos, que é de 50% do patrimônio, e que havia dado um apartamento de presente para cada um. Os irmãos não se conformaram com o argumento e entraram com quatro ações: duas no Tribunal de Pequenas Causas, apenas no nome de Arthur, para o pai continuar pagando o plano de saúde dele e um pedido de busca no imóvel para recuperar seus desenhos infantis. As outras duas, essas em conjunto, eram mais delicadas: anulação de doação e interdição.

 

A alegação dos irmãos era que Mauro, então com 61 anos, não gozava de juízo perfeito para administrar os próprios bens. Listaram inúmeras razões para tanto, como senilidade e incapacidade cognitiva. Argumentaram que Mauro não conseguiria administrar mais de 1 milhão de reais em investimentos bancários. Psiquiatra formado pela USP, Mauro fala fluentemente oito línguas: hebraico, espanhol, francês, italiano, iídiche, japonês e alemão, além de português. Os irmãos perderam, mas recorreram. O pai precisou fazer tomografia do cérebro para provar que não tinha problemas cognitivos. Em uma audiência para requerer a interdição, quando Mauro e o filho Arthur estiveram cara a cara, pessoas presentes lembram de o pai falar da sensação de receber “uma facada pelas costas”. O juiz Alexandre Lazzarini, da 9ª Câmara de Direito Privado de São Paulo, encerrou a ação de interdição da seguinte forma: “Sem êxito quanto à comprovação da incapacidade de seu pai para os atos de sua vida civil e nem apresentaram evidência de patologia”, escreveu o magistrado. Já o processo de anulação de doação está em fase final e, mesmo colecionando derrotas, os irmãos não desistiram da briga (procurados por VEJA, nenhum dos envolvidos quis falar sobre o caso).

Os ALVOS - Mauro e Renata Weintraub, pai e madrasta, casados há 24 anos: o avô não vê os netos desde 2011 Arthur Vahia/.
Até então, nada no histórico familiar sugeria que a relação pudesse chegar a esse ponto. Mauro e Renata se casaram em 1996, seis anos após a separação de Mauro e Marilisa, mãe de Abraham e Arthur. Renata não foi o pivô do divórcio, conforme mostram os autos do processo. Os dois rapazes decidiram ficar com o pai após a separação e, quando ele se casou com Renata, conviveram em harmonia na mesma casa por cinco anos. Tudo corria bem até Marilisa morrer, em 2003, em decorrência de um acidente vascular cerebral. Os irmãos foram à Justiça para tirar da casa da mãe o padrasto, que se recusava a deixar a residência. Segundo pessoas próximas, a sensação de terem sido enganados pelo padrasto fez os irmãos, na sequência, centrar fogo na madrasta, mesmo que para isso fossem obrigados a romper com o pai.

 

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Mauro Weintraub sempre foi o maior ídolo intelectual dos filhos. Foi dentro de casa que ambos aprenderam a tocar flauta e violão. Todos são conhecedores de mitologia grega. Embora escorregue na grafia portuguesa, Abraham sabe de cor passagens de Os Lusíadas, de Luís de Camões, e Arthur tem inglês impecável graças ao apreço por línguas, por parte do pai. O atual ministro da Educação desde sempre mostrou vontade de liderar: integrou grupo de escoteiros e gostava de saraus literários. Já Arthur tinha comportamento tímido e com oscilações de humor. Os dois adoravam escutar as histórias dos avós paternos, Joseph e Frida Weintraub, que migraram para o Brasil no fim dos anos 40, após trabalhar como escravos do regime nazista em uma fábrica de munições na cidade polonesa de Skarzysko-Kamienna. Ao chegar aqui, Joseph instalou-se no bairro da Lapa, em São Paulo, onde ajudou a fundar a Sinagoga Israelita da Lapa.

 

Mauro sempre foi ateu — e seus filhos há até pouco tempo também declaravam seguir o mesmo caminho. “Estou nessa área há trinta anos e posso garantir que nenhum deles pisou nesta casa”, conta um religioso que cuida da Sinagoga da Lapa. Parentes afirmaram a VEJA que o ministro da Educação recorre ao judaísmo apenas quando lhe convém. No enterro do avô paterno, em 2015, ele e o irmão não deram as caras. No recente episódio da busca e apreensão na casa de bolsonaristas envolvidos no inquérito das fake news, Weintraub equiparou a ação à Noite dos Cristais (ele não foi alvo da operação, mas é também investigado no caso). Na triste passagem histórica em questão, ocorrida em 9 de novembro de 1938, nazistas atacaram milhares de judeus na Alemanha, matando 91 e depredando centenas de lojas, edifícios e sinagogas. A comparação absurda gerou protestos da comunidade judaica no Brasil.

 

RETÓRICA – Na célebre reunião em que falou em botar ministros do STF na cadeia; a fachada da sinagoga de São Paulo fundada por seu avô Joseph; e manifestação cobrando adiamento do Enem: muita confusão, pouca produção Marcos Corrêa/PR;Kaio Lakaio;Rafaela Felicciano/Metropoles/.
No governo Bolsonaro, Weintraub ocupa há algum tempo a lista de candidatos à demissão. Salvaram sua pele nos momentos mais críticos o fato de ser conhecido dentro do governo como o mais conservador dos ministros e, por isso, gozar do respaldo de Carlos e Eduardo Bolsonaro. A simpatia do Zero Dois e do Zero Três não o blindou, porém, de problemas com a Justiça. A bravata sobre a prisão dos ministros do STF lhe rendeu uma convocação da Polícia Federal para depor sobre o caso no último dia 29, quando optou por permanecer calado diante do delegado. No caso das fake news, um pedido do ministro da Justiça para anular o inquérito aguarda julgamento do plenário do STF, previsto para ocorrer no próximo dia 12. Weintraub responde ainda a um processo no Supremo por suposto racismo contra chineses. Ele foi aberto após o ministro insinuar em uma rede social que o país asiático lançou o coronavírus no mundo para se beneficiar com a doença. Como já foi destacado pelos próprios filhos do presidente, Weintraub serve muito mais à guerra cultural contra a esquerda do que à evolução da educação no país. Até projetos anunciados com alarde pelo governo, como os colégios militares, caminham a passos lentos. Na pandemia, o ministro fez uma enorme confusão sobre a necessidade de adiamento do Enem e só aceitou tomar a decisão óbvia depois da pressão do Senado. Nos últimos dias, aumentaram os rumores de que poderá pedir demissão do cargo em breve, conforme revelou a coluna Radar, de VEJA.

 

Embora tenha menos projeção que o irmão, Arthur não fica atrás na capacidade de criar confusões. No Palácio do Planalto, ganhou o apelido de “homem-tocha”, por inflamar todas as discussões e ser aliado dos integrantes do gabinete do ódio, como é conhecida a central de produção de fake news contra inimigos do governo. Ex-ateu, o advogado de formação virou evangélico recentemente. Nas hostes bolsonaristas, isso é um upgrade no currículo, uma vez que Bolsonaro declarou querer alguém “terrivelmente evangélico” para o STF. Em reuniões no Planalto, Arthur já se queixou de o pai ter deixado “tudo” para a madrasta, sem fazer cerimônia sobre a batalha familiar. A guerra dos Weintraub, que tanto influenciam a cabeça do presidente, começa dentro de casa.

Posted On Sábado, 06 Junho 2020 10:39 Escrito por O Paralelo 13
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