Da Coluna Painel da Folha
A cúpula da Polícia Federal vetou pedido para realização de entrevista à imprensa que seria realizada no Ceará sobre a operação que realizou busca e apreensão contra Ciro e Cid Gomes nesta quarta (15).
A proibição, segundo dirigentes da PF, foi para evitar maior exposição e uso político da investigação.
Após receber os policiais durante a manhã, o pré-candidato a presidente pelo PDT disse ter "absoluta certeza" de que a operação foi ordenada por Jair Bolsonaro.
A direção da PF diz temer que haja o uso político da ação com base na interpretação de que a investigação foi direcionada.
Internamente, delegados afirmam que se trata de um inquérito de 2017, aberto com base em acordos de colaboração fechados pela Procuradoria-Geral da República, que há ainda "herança" da Lava Jato, no sentido de exageros nas medidas.
Eles dizem que os pedidos de buscas e apreensão são no modelo "lavajatista", sendo midiáticos.
Na opinião de parte da cúpula, como se trata de um caso que envolve políticos, poderiam ter sido realizadas outras medidas, como quebras de sigilo bancário e fiscal, antes da fase mais ostensiva.
“Quero prestar minha solidariedade ao senador Cid Gomes e ao pré-candidato a presidente Ciro Gomes, que tiveram suas casas invadidas sem necessidade, sem serem intimados para depor e sem levar em conta a trajetória de vida idônea dos dois. Eles merecem ser respeitados”, declarou Lula nas redes sociais.
POR RUDOLFO LAGO
A ação da Polícia Federal contra o pré-candidato do PDT à presidência, Ciro Gomes, pode ter o condão de promover uma reaproximação entre ele e o também concorrente do PT, Luiz Inácio Lula da Silva.
Quando Lula foi condenado e preso, Ciro foi uma das vozes mais atuantes em solidariedade a ele. Ciro também foi solidário à ex-presidente Dilma Rousseff durante o seu processo de impeachment. Até que Ciro e o PT foram se afastando durante a campanha presidencial de 2018.
Ciro esperava obter apoio do PT quando Lula não pode disputar a eleição, primeiro condenado e impedido pela Lei da Ficha Limpa e depois preso. O PT insistiu na candidatura própria com Fernando Haddad. Pesquisas mostravam que Ciro talvez tivesse maior possibilidade que Haddad de vencer Bolsonaro no segundo turno. Ciro insistiu nesse ponto, e a relação foi se esgarçando. Quando houve o segundo turno, ele preferiu viajar para a Europa a apoiar Haddad na disputa com Bolsonaro.
Agora, como candidato à Presidência, Ciro vinha usando como estratégia atacar Lula para se colocar como opção de terceira via.
Ainda que tal estratégia não tenha sido abandonada, o episódio da ação da PF que investiga Ciro e seu irmão, o senador Cid Gomes (PDT-CE), geraram solidariedade de Lula e da presidente do PT, deputada Gleisi Hoffmann (PR), pela repetição do argumento de que tal ação agora teria viés político.
Outro alvo das críticas de Ciro, a ex-presidente Dilma Rousseff engrossou o coro – que também contou com a solidariedade do senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP) e do governador do estado, Camilo Santana.
Na sequência, foi Ciro quem afirmou numa entrevista ao UOL: “Não acho que Lula seja ladrão. Nunca disse isso”. Depois foi ao Twitter: “Obrigado presidente @LulaOficial. O estado policial de Bolsonaro é uma ameaça à democracia e a todos os democratas. Me considero na obrigação de dar todos os esclarecimentos necessários, em respeito ao povo brasileiro, e o farei.”
Até onde irá prosperar tal reaproximação, não se pode dizer. Mas a PF reuniu Lula e Ciro.
Dilma
Minha solidariedade ao senador Cid Gomes e ao pré-candidato Ciro Gomes. Suas casas foram invadidas, sem terem sido sequer intimados a depor. Como cidadãos brasileiros, merecem ser tratados com o respeito às leis vigentes ao país. Repudio o arbítrio e a perseguição a eles, Escreveu ela.
O ex-presidente Lula deu indícios nesta quarta-feira 15 do discurso que deve adotar na campanha da eleição de 2022 quando for questionado pelo presidente Jair Bolsonaro e pelo ex-juiz Sergio Moro sobre a corrupção nos governos do PT.
Com Metrópoles
Em entrevista à Rádio Clube de Blumenau, em Santa Catarina, o petista primeiro comparou as denúncias do tempo do mensalão às mais recentes, que envolvem o orçamento secreto.
É uma vergonha o que está acontecendo. São 20 bilhões [de reais] para comprar voto de deputado. Isso nunca aconteceu. Isso sim é corrupção”, afirmou o ex-presidente.
Na conversa, ele ainda citou os avanços que atribui aos governos do PT. “Todos os mecanismos de combate à corrupção foram criados no nosso governo. O Portal da Transparência é elogiado no mundo inteiro. A Lei de Acesso à Informação, a Lei da delação premiada, a preparação da PF, a independência do Ministério Público e o investimento na inteligência”, avaliou Lula.
Na conversa, o petista ainda relembrou outros supostos casos de desvio de dinheiro público durante o governo atual. “Bolsonaro protege os filhos e o chefe das rachadinhas. O Queiroz até hoje não foi prestar depoimento. O filho dele não foi prestar depoimento. O Pazuello na saúde montou uma quadrilha para comprar vacina. É só pegar o relatório da CPI da Covid”, citou o ex-presidente.
Já em relação a Moro, que o condenou na Lava Jato, Lula voltou a dizer que foi vítima de mentiras do hoje pré-candidato à Presidência
Presidência
“Se protegido com um a toga ele mentiu, eu fico imaginando o que ele pode fazer na campanha”, declarou. “Desmentimos esse deus de barro e vai ficar mais claro ainda na campanha. Quero saber se ele tem estrutura para aguentar uma campanha”, acrescentou.
Ainda sobre a operação, Lula disse que o PT fez um mea-culpa ao deixar a investigação acontecer.
“Não houve um gesto da Dilma para impedir a investigação [da Lava Jato] A melhor forma para se combater corrupção é deixar investigar”, afirmou. “Os diretores da Petrobras tinham mais de 30 anos de empresa, não foram indicação. No Brasil houve uma tomada de decisão de punir a empresa e os trabalhadores em benefícios de multinacionais”, disse.
O presidenciável Ciro Gomes (PDT-CE) diz ter "absoluta certeza" de que a operação da Polícia Federal em sua residência e de seus irmãos Lucio e Cid Gomes teve a influência do presidente Jair Bolsonaro.
Monica Bergamo - Folha S Paulo
"Eu tenho absoluta segurança de que é ordem de Bolsonaro, tal a violência e arbitrariedade", afirmou ele à coluna.
A Polícia Federal deflagrou operação na manhã desta quarta (15) contra supostos desvios de recursos públicos nas obras do estádio Castelão, no Ceará.
A PF cumpre 14 mandados de busca e apreensão determinados pela Justiça.
De acordo com Ciro Gomes, a origem do inquérito é uma delação premiada de "uma pessoa que diz na própria delação que nunca falou comigo".
A colaboração foi feita por um executivo de uma empreiteira, a Galvão Engenharia, que participou de concorrência para reformar o estádio do Castelão, que sediou partidas da Copa do Mundo.
Ciro afirma que a concorrência foi vencida por quem ofereceu o menor preço. "Soube agora por meus advogados que o custo do assento do Castelão foi o mais barato do mundo desde 2002, de todas as Copas do Mundo. Pode investigar isso", afirma ele.
Ele afirma ainda que foi arrolado como agente público, sendo que não exerce cargos públicos desde 2010, quando cumpriu mandato de deputado federal.
"É completamente aberrante e calunioso. Vou processar todos os envolvidos", afirma ele.
Nas redes sociais, Ciro afirmou: "Até esta manhã eu imaginava que vivíamos, mesmo com todas imperfeições, em um país democrático. Mas depois da Policia Federal subordinada a Bolsonaro, com ordem judicial abusiva de busca e apreensão, ter vindo a minha casa, não tenho mais dúvida de que Bolsonaro transformou o Brasil num Estado Policial que se oculta sob falsa capa de legalidade."
Segundo Ciro, a operação "tão tardia e despropositada tem o objetivo claro de tentar criar danos" à sua pré-candidatura à Presidência. "O braço do estado policialesco de Bolsonaro, que trata opositores como inimigos a serem destruídos fisicamente, levanta-se novamente contra mim."
"O pretexto era de recolher supostas provas de um suposto esquema de favorecimento a uma empresa na licitação das obras do Estádio do Castelão para a Copa do Mundo de 2014. Chega a ser pitoresco", seguiu Ciro pelas redes sociais.
"O Brasil todo sabe que o Castelão foi o estádio da Copa com maior concorrência, o primeiro a ser entregue e o mais barato construído para Copas do Mundo desde 2002. Ou seja, foi o estádio mais econômico e transparente já feito para a Copa do Mundo."
"Mas não é isso. E sejamos claros. Não tenho nenhuma ligação com os supostos fatos apurados. Não exerci nenhum cargo público relacionado com eles. Nunca mantive nenhum tipo de contato com os delatores. O que, aliás, o próprio delator reconhece quando diz que nunca me encontrou. Tenho 40 anos de vida pública e nunca fui acusado nem processado por corrupção", disse Ciro.
Por 3 votos a 1, Segunda Turma entendeu que competência não era da Justiça Federal porque não há conexão entre operações da Lava Jato. Caso será enviado à Justiça Estadual do Rio
Por Rayssa Motta
A Segunda Turma do Supremo Tribunal Federal (STF) declarou nesta terça-feira, 14, a competência da Justiça do Estado do Rio de Janeiro para processar e julgar o empresário Jacob Barata Filho, o 'Rei do Ônibus', e o ex-governador Sérgio Cabral na Operação Ponto Final, desdobramento da Lava Jato fluminense que investigou suspeitas de propinas de donos de empresas de transportes.
A decisão impõe mais uma derrota ao juiz Marcelo Bretas, da 7.ª Vara Federal Criminal do Rio de Janeiro, responsável pelos processos derivados da Lava Jato Rio. Na semana passada, os ministros também tiraram de seu guarda-chuva as ações penais derivadas da Operação Fatura Exposta.
Barata Filho e Cabral foram denunciados pelo Ministério Público Federal e condenados por corrupção, lavagem de dinheiro e organização criminosa. A acusação diz que empresários teriam oferecido vantagem indevida ao então governador em troca de benefícios ao setor de transportes. A investigação teve como ponto de partida a delação premiada de Álvaro Novis, apontado como operador financeiro do ex-governador.
O ministro Gilmar Mendes, relator do habeas corpus movido pela defesa do empresário, observou que o fato de a investigação ter sido conduzida pela força-tarefa da Lava Jato, por si só, não atrai a competência para a 7.ª Vara Federal.
Em sua avaliação, a investigação não tem conexão probatória com outros processos da Lava Jato no Rio e não envolve recursos da União, por isso não deveria ficar na Justiça Federal.
O entendimento foi seguido pelos ministros Ricardo Lewandowski e Nunes Marques. O ministro Edson Fachin ficou isolado na divergência. Ele viu ligação com a Operação Calicute.
Com a decisão da Segunda Turma, a ação penal será redistribuída livremente na Justiça Estadual do Rio de Janeiro e caberá ao juiz natural deliberar se confirma ou não os atos decisórios proferidos até o momento.