Com palavras como “fascista” e “traidoras”, documento do PT ofende deputadas Dulce Miranda e Josi Nunes e enfurece família Miranda
Por Edson Rodrigues
A nota publicada na imprensa tocantinense, assinada pelo presidente do PT estadual, Júlio César Ramos Brasil, trazendo duras críticas às duas deputadas federais do PMDB, Josi Nunes e Dulce Miranda, onde se diz traído pelas duas representantes do PMDB na Câmara Federal, traz indício claros de que o PT estadual pretende desembarcar do governo Marcelo Miranda.
A nota chama as “nobres deputadas” de “traidoras que preferiram abraçar o golpe” e, em outro momento é ainda mais contundente, associando a imagem das duas deputadas à palavras como “fascistas, conservadoras e hipócritas, que usaram o nome de Deus e de suas famílias para cravar um punhal e ferir de morte a democracia”.
Um membro do núcleo duro do PMDB palaciano afirmou, ressaltando não estar falando em nome do partido, mas como membro do partido, que seria “uma grande demonstração de caráter e vergonha, e um favor, que o presidente do PT estadual tivesse a iniciativa de solicitar aos seus companheiros que entreguem os cargos que ocupam no governo Marcelo Miranda “o mais breve possível”.
“Os incomodados que se mudem, mas aconselhamos que antes que se retirem das pastas que ocupam, façam uma prestação de contas do que fizeram pelo Tocantins, o que trouxeram de verbas do governo federal – não vale verba carimbada nem obrigatória. Até agora estão todos em silêncio”, continua exaltado.
Segundo esse membro do PMDB, o silêncio dos petistas, Paulo Mourão, Amália Santana, Zé Roberto e do Senador Donizete Nogueira, é um sinal de que a nota teve a aquiescência e aprovação de todos eles: “isso é muito bom, pois cumpriremos com tranquilidade a orientação do PMDB nacional de exterminar do governo estadual todo e qualquer resquício de PT”, completa.
Os petistas, talvez, apostem no fato de o governador Marcelo Miranda sempre ter sido uma pessoa humilde e de bom coração, mas, ao que parece, não será o caso desta vez. Afinal, uma das atacadas na nota, além de deputada federal é sua esposa, primeira-dama do estado e mãe de seus filhos, Dona Dulce Miranda. A mesma pessoa que, ao ver e ouvir o deputado federal Vicentinho Jr. atacar o seu marido nos 15 segundos que tinha para dar o seu voto – contrário – ao prosseguimento do impeachment, quase foi às vias de fato com o parlamentar, sendo contida pelo deputado federal Carlos Gaguim.
RESPOSTA DURA E DURADOURA
Esse mesmo membro do primeiro escalão do governo Marcelo Miranda completa suas informações, afirmando que “ as deputadas Dulce Miranda e Josi Nunes, e o governador Marcelo Miranda sempre foram preteridos pelo Palácio do Planalto, pela presidente Dilma Rousseff e pelos seus ministros. As duas parlamentares, inclusive, nunca conseguiram liberar nenhum recurso, nem mesmo carimbado, em seus nomes, ao contrário do que aconteceu com a senadora Kátia Abreu que sempre teve as portas abertas dos cofres federais e que, agora, vai morrer afogada, abraçada ao PT”, concluiu.
O PMDB do Tocantins, na figura do seu presidente, Derval de Paiva, ressalta que foi o primeiro diretório estadual da Região Norte do e o segundo do Brasil a defender o rompimento do partido com o PT do ex-presidente Lula e da presidente Dilma Rousseff.
Mais incisivamente, defendeu o desembarque do governo e a entrega dos cargos em Brasília e nos Estados.
O PMDB do Tocantins sempre foi transparentes quanto ao posicionamento pró impeachment e as deputadas Dulce Miranda e Josi Nunes, que são mães, devem ter pensado, mais que na unidade de ações do partido, no futuro de seus filhose dos filhos de todas as famílias tocantinenses e brasileiras, escolhendo votar a favor da continuidade do processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff, para pôr fim a esse governo que institucionalizou a própria corrupção, provocando a maior recessão econômica de todos os tempos, o empobrecimento das famílias brasileiras, mais de nove milhões de desempregados e os maiores índices de inadimplência da história.
Mesmo assim, os membros do PT tocantinense, que não merecem ter seus nomes divulgados, insistiram no apoio a esse governo corrupto e, mais ainda, publicam nota de repúdio, com palavras impróprias de serem associadas ás duas parlamentares do PMDB do Tocantins que, assim como milhões e milhões de brasileiras, são mães e querem o melhor para o futuro do Tocantins e do Brasil.
Confira, abaixo, a nota publicada pelo PT do Tocantins:
“O Partido dos Trabalhadores do Tocantins vê com tristeza e preocupação, o avanço do golpe. O dia 17 de abril de 2016 está marcado como o dia em que corruptos tentaram manchar a história de uma presidenta honesta, credenciada por 54 milhões de brasileiros, para dar continuidade a um projeto de governo que se difere pelo respeito a todos e todas.
Os fascistas, conservadores e hipócritas utilizaram o nome de Deus e de suas famílias para cravar um punhal e ferir de morte a democracia brasileira. Ironicamente, diziam “Tchau Querida”, se referindo a democracia, a liberdade, a ética e a vontade do povo, demonstrada nas urnas.
Porém convém relembrar que a luta e a caminhada não acabaram. Agora, mais do que nunca, haverá mais luta e resistência ao avanço do conservadorismo e da Direita Fascista. A Batalha agora será no Senado e no STF.
Ser militante em um momento difícil como este não é fácil, pois somos colocados a prova a cada minuto. Mas sabemos que a Luta nunca foi mais fácil para os companheiros do passado, e eles a fizeram e escreveram capítulos de muita honra e muito orgulho. Cabe a nós e a nossa geração fazer a resistência e o enfrentamento do agora. Resistir, enfrentar e avançar. Este será o nosso mantra. Ontem o mal saiu vencedor, mas não prevalecerá. Agora, mais do que antes, é preciso estarmos unidos e mobilizados, pois a Luta Continua!
Estamos igualmente entristecidos e decepcionados pela maneira como o PMDB do Tocantins se portou na Câmara: Como verdadeiro oportunista e aproveitador. Nós do Partido dos Trabalhadores do Tocantins, nos sentimos traídos pelos votos das deputadas Dulce Miranda e Josi Nunes, que preferiram abraçar o golpe, ao invés de ficar do lado do povo e da democracia.
Reafirmamos que o PT do Tocantins participa do governo do Estado, porque ajudou a elegê-lo. Sem nós, Marcelo Miranda não teria ganhado as eleições. Não estamos neste governo de favor.
Ressaltamos também, o apoio integral que a bancada do PT na Assembleia Legislativa do Estado deu ao Governo até aqui. Porém, iniciamos ainda hoje um debate com nosso partido para discutir a nossa permanência ou não, neste governo.
A luta continua. Vamos lutar até depois do fim. Pois, lutamos “pelo justo, pelo bom e pelo melhor do mundo” (Olga Benário Prestes).”
Júlio César Brasil
Presidente Estadual do PT-TO
COLIGAÇÕES PODEM SER PROIBIDAS
Após tomar conhecimento do teor da nota, segundo um membro da cúpula do PMDB do Tocantins, o partido está ultimando os preparativos de uma reunião em que deve ser baixada uma normativa orientando os diretórios municipais do partido nos municípios tocantinenses a não firmarem coligações com o PT.
Essa é uma resposta rápida e contundente ao que foi considerado uma afronta direta à honra e ao respeito merecidos pelos parlamentares do PMDB do Tocantins.
Como dissemos no artigo anterior, os efeitos da votação que selou a continuidade do processo de impeachment da presidente Dilma ainda terão muitos desdobramentos no Tocantins.
Aguardem as cenas dos próximos capítulos....
Por Edson Rodrigues
Como dizia o saudoso Tancredo Neves, “política é como as nuvens, que mudam constantemente sua configuração no céu”. Assim se sucedeu no domingo histórico de votação da continuidade do processo de impeachment contra a presidente Dilma Rousseff, com o placar de 367 votos em favor do Brasil e 137 em favor do PT.
Os maiores derrotados pela votação, na verdade, foram aqueles que firmaram pé e insistiram em apoiar a presidente. No Brasil, os grandes perdedores foram o ex-presidente Lula e o seu PT.
Já no Tocantins, quem mais perde é Kátia Abreu, senadora e até hoje ministra da Agricultura e, por sorte, tem seus dois grandes inimigos na berlinda: o PT pode ter seu registro de partido político cassado e sua maior estrela – com o perdão do trocadilho – o ex-presidente Lula, desafeto venal da tocantinense, dificilmente escapará das garras da Polícia Federal nas águas da operação Lava Jato.
Kátia, que não tem telhado de vidro, terá que mudar o tamanho de seu calçado e descer do salto alto para redesenhar sua vida política. Sua permanência ao lado da presidente da República, mesmo que por amizade pessoal, começa a ter reflexos em outras áreas, como na Confederação Nacional da Agricultura, entidade que preside pelo segundo mandato, que havia fechado questão em favor do impeachment e se sentiu traída com o posicionamento da senadora. Por lá, fala-se até em “impeachment” contra Kátia.
Essa correção de rota de Kátia Abreu deve partir dela própria e começar pela sucessão municipal de Palmas, Capital do seu Estado.
RAUL FILHO, CARTA FORA DO BARALHO
O homem mais popular na política partidária é, sem sombra de dúvidas, o ex-prefeito Raul Filho, filiado ao PR do senador Vicentinho Alves, e que já lidera várias pesquisas de opinião pública – as em que não figura em primeiro lugar, aparece invariavelmente na segunda posição com empate técnico.
Raul Filho está condenado por colegiado e inelegível, mas não está preso, não usa tornozeleira eletrônica, mas terá que pagar sua pena, que foi convertida em prestação de serviços, que podem ir desde lavar banheiros em creches ou abrigos públicos ou fazer trabalhos assistenciais. Caso não a cumpra, terá que usar roupa de presidiário, receber visitas na prisão aos fins de semana e não dormir em casa.
Mas, porque Raul foi condenado?
Raul foi condenado por crime ambiental, não político ou de improbidade. Mesmo assim, a condenação por colegiado o enquadra na Lei da Ficha Limpa. Com isso, o senador Vicentinho Alves perde sua “bala de prata” na sucessão da Capital, mas ganha um imenso poder de barganha, pois Raul Filho sempre foi figura fácil nas rodas políticas, goza de prestígio junto à população e será um dos grandes cabos eleitorais na campanha pela prefeitura de Palmas, com força significativa para mudar cenários e fortalecer candidaturas.
CARLOS AMASTHA, HOMEM DE SORTE
A condenação de Raul Filho caiu no colo do atual prefeito Carlos Amastha como um bilhete premiado de loteria, o que comprova que, além de jogar bem o jogo político e ser um expert em marketing pessoal, o colombiano tem muita sorte.
Filiado ao PSB e com o apoio do PSDB do senador Ataídes Oliveira, Amastha deve dispensar a presença da senadora Kátia Abreu e do seu filho, Irajá Abreu em seus palanques, mesmo que essa opção o obrigue a dar a vaga de vice-prefeito em sua chapa ao partido de Aécio Neves.
Se já aparecia bem nas campanhas, agora Amastha deve estar trabalhando em um planejamento para que os índices de intenção de votos pela sua reeleição permaneçam num patamar adequado, sem perder musculatura na reta final.
MARCELO MIRANDA E O PMDB PALACIANO
O governador Marcelo Miranda tem mais uma oportunidade dada por Deus ou pelo destino de dar uma virada em sua vida pública.
De preterido pelo Palácio do Planalto e pela presidente Dilma, caso Michel Temer assuma a presidência da República, o governador do Tocantins poderá alçar voo como o preferido do governo federal, com as portas ministeriais abertas para seu governo, com as deputadas federais Josi Nunes e Dulce Miranda recebendo tratamento VIP graças aos votos de domingo.
Outro peemedebista ex-aliado de Marcelo que, apesar de estar sem mandato, poderá ganhar influência em Brasília, é o ex-deputado federal Jr. Coimbra, que flanava no segundo escalão do governo federal por indicação da bancada do PMDB na Câmara federal e acabou demitido por Dilma por conta da sua amizade com o deputado Eduardo Cunha.
Mesmo assim, Marcelo Miranda ainda precisa ficar atento em relação aos seus “companheiros” que servem a Deus e ao diabo. A hora é de aproveitar a oportunidade e olhar para os peemedebistas que sempre estiveram ao seu lado, na vitória ou na derrota e que lutaram e trabalharam por sua volta ao Palácio Araguaia. Eles também merecem ser prestigiados. Muitos ainda estão “na sarjeta” à margem do poder.
As traições sofridas por Dilma durante a votação pela continuidade do seu impeachment devem servir de exemplo e valem uma reflexão a todo e qualquer governante sobre o grau de periculosidade de ter ao seu lado pessoas que não são totalmente confiáveis.
OS SEM-CANDIDATO
As atenções se voltam, novamente, para os senadores Kátia Abreu e Vicentinho Alves e seus filhos, os deputados federais Irajá Abreu e Vicentinho Jr., respectivamente. A primeira ficou sem Carlos Amastha e o segundo, sem Raul Filho e, ambos, sem rumo e sem candidato em Palmas.
Mas nada os impede de se unirem para aplicar suas forças e transformar candidaturas menos festejadas em potenciais concorrentes, tanto em Palmas quanto nos demais 138 municípios do Estado.
Os dois senadores, juntos, terão força e significância consideráveis em qualquer pleito em que se envolverem e em Palmas têm duas opções:
CARLOS GAGUIM
O deputado federal Carlos Gaguim é um nome identificado com a criação e emancipação política de Palmas, cidade onde iniciou sua história política, sendo eleito vereador e presidente da Câmara Municipal por dois mandatos. A partir daí, foi eleito para a Assembleia Legislativa, onde também foi presidente por dois mandatos e eleito governador para um mandato tampão, cargo no qual concedeu uma série de benefícios, progressões e promoções ao funcionalismo público, fato que o fez ser querido e respeitado pela grande massa de servidores estaduais.
O atual sonho político de Gaguim é chegar ao Senado, e sua candidatura à prefeitura da Capital ainda é uma incógnita. Nada o impede, no entanto, que do alto do seu prestígio junto aos servidores e ao seu bom trânsito e traquejo políticos, de agir como o catalisador de uma candidatura única para fazer frente ao atual prefeito Carlos Amastha.
Condições políticas e pessoais, Gaguim reúne de sobra para enfrentar essa empreitada. Resta saber se ele estará disponível para encabeçar esse movimento.
TOM LYRA
Bem sucedido como cidadão e como empresário, Tom Lyra, atualmente filiado ao PPS, traz consigo uma extensa bagagem administrativa adquirida no Brasil e no exterior, além de um excelente relacionamento com as classes empresarial e política da Capital. Vice-governador de Sandoval Cardoso, Lyra pode ser uma opção viável caso tenha em seu staff “fazedores de votos” como Kátia Abreu e Vicentinho Alves.
Sua disposição para concorrer ao cargo também é uma incógnita, mas, “onde há fumaça, há fogo”, logo, é um nome a ser considerado.
O EFEITO PALÁCIO ARAGUAIA
Dentro de todo esse contexto, é certo que o quadro sucessório de Palmas terá modificações profundas, principalmente com o PMDB de Marcelo Miranda livre das ingerências de Kátia Abreu e de Dilma Rousseff, o que cria condições para que construa uma candidatura com chances reais de vitória.
Outra certeza é que nem Carlos Gaguim muito menos Carlos Amastha serão os “ungidos” pelas hostes palacianas na corrida sucessória da Capital – e nem em qualquer outra corrida, diga-se de passagem – pois os dois são os maiores desafetos do PMDB de Marcelo Miranda.
Outras análises sobre os efeitos do impeachment na sucessão de Palmas e dos demais municípios tocantinenses só poderão ser feitas após o andamento do processo no Senado, tendo em vista que o Tocantins possui três votos em partidos diferentes – Kátia Abreu no PMDB (afastada, tendo em seu lugar Donizete Nogueira), Vicentinho Alves no PR e Ataídes Oliveira no PSDB – sendo que Kátia Abreu deve deixar o ministério da Agricultura para voltar ao Senado Federal para trabalhar contra o impedimento de sua amiga Dilma Rousseff.
O que cada um dos nossos senadores fará com seu voto terá consequências imediatas caso o impeachment passe ou não.
Até os próximos capítulos!
A sessão foi marcada por discursos acalorados de ambos os lados. 'Golpe ficará na história como ato vergonhoso', diz José Eduardo Cardozo
A abertura do processo de impeachment contra a presidente Dilma Rousseff (PT) foi aprovada na noite deste domingo no plenário da Câmara de Deputados. A sessão foi marcada por discursos acalorados de ambos os lados. O placar final ficou em 367 a favor, 137 contra, sete abstenções e dois ausentes. Ruas e avenidas de várias capitais do país foram tomadas por manifestantes - aqueles favoráveis ao impedimento comemoraram com fogos de artifício e buzinaço.
Com a aprovação, o rito de impeachment segue agora para o Senado. No primeiro momento, Os senadores terão de decidir se instauram o processo e afastam a presidente Dilma preventivamente do cargo por 180 dias. Neste período, o vice-presidente Michel Temer (PMDB), que acompanhou a votação neste domingo no Palácio do Jaburu, assume o cargo interinamente. Hoje, a tendência é que os senadores também aprovem o processo de impedimento, conforme levantamento de intenções junto aos parlamentares daquela Casa.
De acordo com o relator do processo aprovado na Câmara, deputado Jovair Arantes, a presidente desrespeitou a lei na abertura de créditos suplementares, por meio de decreto presidencial, sem autorização do Congresso Nacional e tomou emprestados recursos do Banco do Brasil para pagar benefícios do Plano Safra, nas chamadas pedaladas fiscais. Dilma nega ter cometido crime. A sessão deste domingo foi presidida por Eduardo Cunha (PMDB-RJ), alvo de inquérito no Supremo Tribunal Federal (STF) por conta das investigações da Operação Lava Jato.
A sessão deste domingo na Câmara dos Deputados começou às 14h. Os deputados começaram a ser chamados para declararem os seus votos por volta das 17h45. A cada fala, os parlamentares reagiam com aplausos ou vaias. Em alguns casos, os políticos eram interrompidos por gritos de colegas contrários.
Tiririca
Um dos votos mais comemorados foi do deputado federal Tiririca (PR/SP). Em poucos segundos, o parlamentar deu o seu parecer sobre a abertura do processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff (PT). “Seu presidente, pelo meu país o meu voto é sim”, declarou. A frase foi seguida com muitas palmas e comemoração de colegas favoráveis ao impedimento. Tiririca foi abraçado e cercado por parlamentares.
Cusparada
O clima esquentou depois do voto do deputado Jean Wyllys (PSOL-RJ). Ele disse estar "constrangido" de participar de uma "eleição indireta, conduzida por um ladrão, urdida por um traidor conspirador e apoiada por torturadores covardes, analfabetos políticos e vendidos. Uma farsa sexista". Ele declarou seu voto contra o impeachment em nome "dos direitos da população LGBT, do povo negro exterminado nas periferias, dos trabalhadores da cultura, dos sem teto, dos sem terra".
Logo depois de discursar, ele cuspiu em direção ao deputado Jair Bolsonaro (PSC-RJ). Segundo ele, foi em resposta a um insulto durante a votação. "Na hora em que fui votar esse canalha (Bolsonaro) decidiu me insultar na saída e tentar agarra meu braço. Ele ou alguém que estivesse perto dele. Quando ouvi o insulto eu devolvi, cuspi na cara dele que é o que ele merece", explicou Willys.
'Golpe ficará na história como ato vergonhoso', diz José Eduardo Cardozo
O advogado-geral da União se pronunciou após a aprovação do impeachment O advogado-geral da União, José Eduardo Cardozo, disse que a decisão dos deputados de aprovarem nesta segunda-feira (18/4) a abertura do processo de impeachment foi política e que as denúncias contra a presidenta Dilma Rousseff não têm procedência e “nunca foram discutidas em profundidade”. Segundo Cardozo, o governo recebeu com “indignação e tristeza” a notícia. “Não há como se afirmar que houve má-fé, dolo”, disse, em referência ao mérito do pedido de impeachment em apreciação no Congresso Nacional, que agora será apreciado pelos senadores. Reafirmando argumentações anteriores, o advogado disse que a defesa de Dilma já demonstrou “claramente” que não há ilegalidade nos decretos de crédito suplementar e nem no atraso do repasse de recursos do Tesouro aos bancos públicos, conhecido como “pedaladas fiscais”. Segundo o pedido de impeachment, esses configuram crime de responsabilidade fiscal. “Em nenhum momento isso pode ser visto como operação de crédito, portanto não há ofensa à Lei de Responsabilidade Fiscal”, disse. Cardozo afirmou que a decisão foi “eminentemente e puramente política”, “Estamos indignados. [A decisão é uma] ruptura à Constituição Federal, configura a nosso ver um golpe à democracia e aos 54 milhões de brasileiros que elegeram a presidenta, um golpe à Constituição. Temos hoje mais um ato na linha da configuração de um golpe, o golpe de abril de 2016, que ficará na história como um ato vergonhoso”, disse.
Com Agencias de noticias
A presidenta Dilma Rousseff disse que o processo de impeachment contra ela no Congresso Nacional é "a maior fraude jurídica e política da história" do Brasil.
Em pronunciamento à população veiculado nas redes sociais, gravado inicialmente para ir ao ar em cadeia de rádio e TV, Dilma fez um dos mais duros ataques ao que classificou de "aventura golpista", criticou indiretamente o vice-presidente Michel Temer e o presidente da Câmara, Eduardo Cunha, (ambos do PMDB) e disse que o impeachment, se aprovado, vai "humilhar" o país perante a comunidade internacional como se fosse uma "republiqueta qualquer". "A denúncia contra mim em análise no Congresso Nacional não passa de uma fraude, a maior jurídica e política da história de nosso país. Sem ela, o impeachment sequer seria votado. O Brasil e a democracia não merecem tamanha farsa", diz a presidenta no vídeo.
Durante os mais de seis minutos da gravação, a presidenta menciona diversas vezes as expressões "golpe" e "golpistas". Ela se dirige ao povo brasileiro para que continue defendendo a legalidade democrática, diz que é sua obrigação esclarecer os fatos e denunciar riscos do seu afastamento e alega que o que está em jogo é o "respeito às urnas, às conquistas sociais e aos direitos dos brasileiros". Cunha e Temer Sem citar nomes, Dilma faz referências ao seu desafeto político, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), que, segundo o governo, aceitou o pedido de impeachement por vingança contra o PT, e a seu vice, Michel Temer, que no início da semana declarou, por meio de uma mensagem de voz, que, caso assumisse o poder, o povo brasileiro teria de fazer sacrifícios. "Peço a todos os brasileiros que não se deixem enganar. Vejam quem está liderando esse processo e o que propõem para o futuro do Brasil. Os golpistas ja disseram que, se conseguirem usurpar o poder, será necessário impor sacrifícios à população brasileira. Com que legitimidade? Querem revogar direitos e cortar programas sociais, como o Bolsa Família e o Minha Casa, Minha Vida", disse. No vídeo, a presidenta diz fazer uma advertência aos que tratam o impeachment como um "atalho ao poder". Segundo ela, eles nunca poderão "olhar nos olhos da Nação" porque a "palavra golpe estará para sempre gravada na testa dos traidores da democracia".
Manifestações
Agradecendo manifestações em "defesa da democracia", mesmo dos que são críticos do governo, Dilma defendeu que o Brasil tem condições de sair da crise e reencontrar a "paz necessária" para "retomar o rumo das mudanças". "Não se trata de concordar ou não com o governo, mas de combater um golpe de estado, uma violação constitucional, que poderá mergulhar o Brasil em um doloroso processo de instabilidade e insegurança [...] Mas somente o respeito à ordem democrática pode assegurar a reunificação nacional".
Além de repetir que não cometeu crime de responsabilidade, a presidenta disse que "jamais" impediu investigações, que não possui o nome em "nenhuma lista de propina" e que não é suspeita "de qualquer delito contra o bem comum".
"Antes de tudo, o que move os golpistas são os nossos acertos. Eles querem derrotar, a qualquer custo, o que represento: o projeto de desenvolvimento e inclusão social pelo qual estamos trabalhando todos os dias nos ultimos 13 anos. Para alcançar seus objetivos, estão dispostos a violentar a democracia e a rasgar a Constituição Federal, espalhando intolerância, ódio e violência entre nós. Estão dispostos a humilhar o Brasil perante a comunidade internacional, como se fôssemos uma republiqueta qualquer e não uma das maiores democracias do mundo", disse.
Redes sociais
O pronunciamento foi divulgado nos perfis do PT no Facebook e no Twitter, e também veiculou no aplicativo WattsApp. A gravação inicialmente estava prevista para ir ao ar em rede nacional de rádio e televisão na noite dessa sexta-feira (15). Após o PSDB e o partido Solidariedade entrarem com pedidos na Justiça para impedir a veiculação do vídeo, alegando desvio de finalidade no uso da prerrogativa presidencial de convocar a rede, o Planalto decidiu cancelar a exibição nas emissoras.
Depois de confirmado o cancelamento, a Secretaria de Comunicação Social da Presidência informou que a equipe de Dilma decidiu que o alcance da mensagem seria mais amplo pela internet. O vídeo foi publicado também na conta do PT no Youtube, cujos comentários de internautas são desativados.
Senador Vicente Alves de Oliveira
Somos mais de duzentos milhões de brasileiros de cor, raças, crenças diferentes. Nós todos, filhos de uma nação que contempla e preserva a diversidade de idéias, de culturas, de gostos. Exemplo: uns são botafoguenses, como eu; outros torcem para outros times. Formamos legiões de torcedores que vestimos as camisas de nossos clubes - alvinegros, rubronegros, cruzmaltinos, esmeraldinos, tricolores, colorados, azulinos...Ao fim, isso pouco importa. Isso nunca nos impediu de compartilharmos a mesa, de dialogarmos amistosamente, de nos aceitarmos como diferentes nos detalhes, mas iguais no fundamental: homens e mulheres merecedores de tratamento digno e respeitoso.
De algum tempo para cá, no entanto, entramos em uma preocupante espiral de ódio e ressentimento. Não foram as religiões, o futebol, etc. que nos dividiu profundamente: foi a Política. A crise que ameaça a presidente da República de ser afastada no processo de impeachment deflagrou sentimentos que estão a colocar o país em radical divisão.Muitos dentre nós passaram a tratar parentes, amigos antigos, colegas de trabalho por palavras duras, rudes. Vivemos em um momento de crescente intolerância.
Isso não contribui em nada para o diálogo tão necessário nesse tempo de crise. Ninguém é obrigado a concordar como governo que aí está, nem qualquer outro governo. Mas é preciso saber que seja quem for que nos governe, é governante de todos, tem responsabilidade com que o apoia e com quem o critica. E que não adianta querer transformar quem diverge de nós em inimigo: os governos, nas democracias, são transitórios. As urnas que hoje ungem uns, amanhã ungirão outros. Só o país permanece, só o povo fica.
O muro que se ergueu na Esplanada dos Ministérios, em Brasília, nas portas do Congresso Nacional, é uma parede que nos envergonha. Mostra que estamos, pela primeira vez na história republicana, fracassando como povo capaz de conversar com civilidade. Apesar de ser uma medida que visa a proteção dos manifestantes, ela expõe o quanto estamos nos tornando incapazes de ver no outro um igual, apesar das diferenças de opinião.
Após a votação na Câmara dos Deputados, agendada para o domingo, dia 17 de abril, o Brasil seguirá com ou sem o comando da presidente Dilma Rousseff. O lado vencedor não terá o direito de esmagar o vencido e este não terá o direito de contestar violentamente o resultado da decisão do parlamento. A nossa evolução como democracia exige isso.
Já vivemos momentos de grande mobilização popular e apreensão cívica - as Diretas-Já, a eleição de Tancredo Neves, o impeachment do presidente Collor... Nunca, antes, porém, o Brasil foi tão dividido. Nunca foi necessário erguer muros. Até porque a praça é do Povo, como já dizia o poeta Castro Alves.
A nós, homens públicos, cabe a serenidade nessa hora complicada. Mas aos cidadãos também se deve exigir maturidade. O Brasil ainda é um país jovem, mas damos sinais de evolução institucional. O Estado de Direito está funcionando como nunca antes. Os juízes estão atuando com liberdade. O Ministério Público tem acionado o Judiciário com bravura. A Polícia tem investigado a todos destemidamente, sem se curvar à autoridade. O Congresso está processando a chefe do Poder Executivo. A tudo isso vigia uma imprensa independente, que ora registra os acertos, ora anota os erros de todos esses agentes públicos. Os olhos da nação estão abertos e o povo está nas ruas.
Que o domingo seja de tranquilidade. Que os dias seguintes sejam pacíficos. Que os derrotados saibam respeitar os vencedores. E que os vencedores saibam ser tolerantes. Todos passarão, mas o Brasil ficará. E os brasileiros precisaremos viver em paz. Há uma crise econômica para resolver. Há desafios sociais para enfrentar. Será muito menos difícil a tarefa se não estivermos calados pelo preconceito e paralisados pela cegueira de nossas paixões políticas.