Ministra viu risco de interferência no Legislativo; PT queria que Corte obrigasse presidente da Câmara a dar seguimento a um pedido apresentado em 2020
Com Agências
A ministra Cármen Lúcia , do Supremo Tribunal Federal (STF), negou o pedido do ex-prefeito de São Paulo Fernando Haddad e do deputado Rui Falcão para que a Corte determinasse que o presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), analise um pedido de impeachment contra o presidente Jair Bolsonaro apresentado por eles em maio de 2020.
De acordo com a ministra, "a imposição do imediato processamento da denúncia para apuração de responsabilidade do Presidente da República, pelo Poder Judiciário, macularia o princípio da separação dos poderes".
"E para atendimento deste princípio garantidor da eficiência do sistema de freios e contrapesos é que a jurisprudência deste Supremo Tribunal consolidou-se no sentido de se estabelecer, na matéria, a autocontenção do exercício jurisdicional constitucional", argumentou Cármen Lúcia.
No mandado de segurança, os petistas argumentavam que Lira estaria se omitindo das suas responsabilidades ao não examinar ou encaminhar internamente a petição de impeachment por crimes de responsabilidade. O pedido de 2020 teve 159 assinaturas.
O pedido de impeachment citado pelos petistas foi apresentado à Câmara na esteira da participação do presidente em ato com faixas pedindo o fechamento do Congresso e do STF , além da volta do Ato Institucional nº5 (AI-5), o mais duro da ditadura, em frente ao quartel-general do Exército. Os atos antidemocráticos resultaram até em inquérito no STF.
"O presidente da Câmara dos Deputados promove desvio de finalidade nítido, no exercício passivo de atribuições cogentes vinculadas a funções de desempenho obrigatório. Trata-se, portanto, da atitude afrontosa aos atributos do cargo que ocupa, além de constituir um rematado abuso de poder, ensejador do presente mandado de segurança", alegam.
No acumulado do primeiro semestre, a arrecadação federal somou R$ 896,877 bilhões, o maior volume para o período na série histórica da Receita, iniciada em 2007
Com Isto É dinheiro
A arrecadação de impostos e contribuições federais somou R$ 137 169 bilhões em junho. O resultado representa um aumento real (descontada a inflação) de 46,77% na comparação com o mesmo mês de 2020. Em relação a maio deste ano, houve queda real de 3,98% no recolhimento de impostos. O valor arrecadado no mês passado foi o maior para meses de junho desde 2011, quando a arrecadação no sexto mês do ano foi de R$ 143,793 bilhões.
O resultado das receitas veio dentro do intervalo de expectativas das instituições ouvidas pelo Broadcast Projeções, que ia de R$ 119,800 bilhões a R$ 156,700 bilhões, com mediana de R$ 137,450 bilhões.
De acordo com a Receita Federal, o comportamento da arrecadação de junho decorre do comportamento das principais variáveis macroeconômicas no mês e do crescimento de 89,4% dos valores compensados de tributos. Também influenciaram o desempenho o crescimento da arrecadação das principais formas de apuração de IRPJ/CSLL, que resultaram em alta de 77% nos valores arrecadados e o diferimento de tributos em 2020 que respondem por uma redução na arrecadação daquele mês, frente a junho de 2021, de aproximadamente R$ 17,9 bilhões. Outro fator foi a redução de alíquotas em 2020 do IOF Crédito.
No acumulado do primeiro semestre, a arrecadação federal somou R$ 896,877 bilhões, o maior volume para o período na série histórica da Receita, iniciada em 2007. O montante representa um avanço real de 24,49% na comparação com os primeiros seis meses do ano passado.
Desonerações
As desonerações concedidas pelo governo resultaram em uma renúncia fiscal de R$ 46,956 bilhões no primeiro semestre deste ano, valor maior do que em igual período do ano passado, quando ficou em R$ 45,607 bilhões. Apenas em junho, as desonerações totalizaram R$ 7,083 bilhões, abaixo do registrado em igual mês do ano passado (R$ 8,394 bilhões).
A PEC Emergencial aprovada pelo Congresso Nacional no começo do ano incluiu um plano de redução gradual dos incentivos e benefícios de natureza tributária (subsídios, isenções e desonerações) para 2% do PIB em oito anos (o patamar atual é de aproximadamente 4,2% do PIB). A equipe econômica pretende usar a reforma tributária do Imposto de Renda para cortar benefícios em troca de uma redução maior no IRPJ cobrado das empresas.
Procurador-geral terá que ser aprovado pelo Senado
Giovanna Galvani, da CNN
O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) afirmou nesta terça-feira (20) que encaminhou ao Senado Federal a proposta de recondução de Augusto Aras à Procuradoria-Geral da República. A mensagem foi publicada nas redes sociais do presidente.
Com isso, Aras poderá continuar no cargo que ocupa desde setembro de 2019 por mais dois anos caso seja aprovado pela maioria absoluta dos senadores.
Em nota enviada à CNN após o anúncio, Augusto Aras disse sentir-se "honrado" com a escolha do presidente.
“Honrado com a recondução para o cargo de procurador-geral da República, reafirmo meu compromisso de bem e fielmente cumprir a Constituição e as Leis do País”, afirmou o PGR no comunicado.
Ao indicá-lo para a recondução, Bolsonaro ignora pela segunda vez a lista tríplice da Associação Nacional dos Procuradores da República (ANPR). Na primeira vez que foi nomeado procurador-geral, Aras sequer disputou a eleição interna.
O presidente não é obrigado a nomear o primeiro colocado dentre os escolhidos pela ANPR, mas Bolsonaro rompeu com uma tradição bem vista dentro do Ministério Público Federal. A prática era considerada vinha sendo seguida desde 2003 pelos presidentes Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Dilma Rousseff (PT). Já Michel Temer (MDB) escolheu indicar Raquel Dodge, a segunda da lista enviada ao ex-presidente.
Para os procuradores, esse pleito garante uma postura de independência do ocupante da PGR em relação ao presidente.
As últimas eleições internas da ANPR tiveram como mais votados os nomes de Luiza Frischeisen, Mario Bonsaglia e Nicolao Dino.
Em entrevista à CNN às vésperas da eleição interna, Júlio José Araújo Júnior, diretor da ANPR, afirmou que é preciso buscar meios de “institucionalizar” o instrumento da lista tríplice para “resguardar a independência” do Ministério Publico.
“Mesmo que a lista não seja seguida, é importante institucionalizar ela como acontece em todos os outros Ministérios Públicos. Independente do prognóstico para a escolha do próximo PGR, a associação entende que lista é importante, pois resguarda a independência do Ministério Público", afirmou.
O presidente voltou a defender a adoção do voto auditável e fazer críticas ao presidente do TSE, Luís Roberto Barroso
Por Sofia Aguiar, Matheus de Souza e Pedro Caramuru
O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) voltou a defender a adoção do voto auditável e fazer críticas ao presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Luís Roberto Barroso, mesmo após conversa com o presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Luiz Fux, na semana passada, organizada para que os ânimos entre os Poderes fossem pacificados. Em ataque ao seu possível concorrente político nas eleições de 2022, Bolsonaro declarou que "as mesmas pessoas que tiraram Lula da cadeia e o tornaram elegível, vão contar os votos dentro do TSE de forma secreta".
Segundo o chefe do Executivo, suas declarações endereçadas ao presidente do TSE, feitas nas últimas semanas, não têm o objetivo de ofendê-lo, mas sim de "mostrar a realidade". "Acham que estou ofendendo o Barroso, estou mostrando a realidade", afirmou. "Barroso foi para dentro do Parlamento fazer reunião com parlamentares. Acabou a reunião e o que vários líderes partidários fizeram? Trocaram os deputados da comissão especial para votar contra o parecer do Felipe Barros, que é o relator da PEC do voto impresso, para não ter voto impresso", disse. De acordo com Bolsonaro, após o encontro, diversos parlamentares que eram a favor do voto impresso mudaram de opinião sobre o tema.
Ainda sobre o tema, o presidente voltou a afirmar que "eleições não auditáveis não é eleição, é fraude". Em conversa com apoiadores, Bolsonaro também ampliou os questionamentos sobre o uso de urna eletrônica e levantou a possibilidade de se ter fraudes nas eleições para deputado federal. Segundo o presidente, se for disputar a reeleição de 2022, ele entrega a faixa presidencial para "qualquer um", contanto que as eleições sejam limpas.
Registros telefônicos requisitados pela CPI da Covid mostram 135 chamadas entre abril do ano passado e junho deste ano. VTCLog teria sido beneficiada em contrato com ministério
Com Agência O Globo
A quebra do sigilo telefônico do ex-diretor de Logística do Ministério da Saúde revelou ele teve contato muito frequentes com uma empresa investigada pela CPI da Covid.
Os registros telefônicos de Roberto Dias requisitados pela CPI mostram 135 telefonemas entre ele e a diretora-executiva da VTCLog, Andréia Lima, que já foi convocada para depor na comissão.
Roberto Ferreira Dias é investigado pela CPI por supostamente ter pedido propina por meio de um intermediário a fim de fechar contrato de compra de vacinas da AstraZeneca. Ele nega.
A empresa VTCLog entrou na mira da comissão por supostamente ter sido beneficiada por Roberto Dias em um contrato com o Ministério da Saúde para armazenamento e transporte de medicamentos - inclusive vacinas.
Reportagem publicada nesta segunda-feira (19) pelo jornal "O Globo" mostrou que as ligações entre Roberto Dias e Andréia Lima ocorreram no período entre abril do ano passado e junho deste ano.
Roberto Dias, ex-diretor de Logística do Ministério da Saúde com o ex-ministro Luiz Henrique Mandetta e o epidemiologista Wanderson de Oliveira, hoje no governo de João Doria
Os registros não consideram as chamadas realizadas por aplicativos de mensagens eletrônicas, só pela linha de telefone.
Das 135 chamadas descobertas pela CPI, 129 partiram da linha de telefone celular utilizada pela executiva da VTCLog. Roberto Dias ligou seis vezes para Andréia Lima no período. Somadas, as ligações alcançaram quatro horas e 19 minutos.
O histórico de Roberto Dias mostra que algumas ocorreram em datas próximas aos dias em que a VTCLog e o ministério trocaram ofícios e debateram valores que a empresa alegava ter direito a receber.
O Jornal Nacional já mostrou detalhes desse contrato. A empresa e o Ministério da Saúde divergiam sobre como deveria ser a fórmula de cálculo da remuneração da VTCLog pelo serviço de receber e organizar medicamentos.
Na avaliação dos técnicos do ministério, o valor seria de R$ 1 milhão. Mas a empresa defendia que, pelo contrato, seriam R$ 57 milhões.
Apesar dos questionamentos da consultoria jurídica do ministério, Roberto Dias concordou com uma contraproposta da VTCLog, que sugeriu uma nova forma de cálculo.
O aditivo para aumentar o pagamento foi assinado por Roberto Dias em maio deste ano, por R$ 18 milhões, 60% a menos do que a empresa reivindicava inicialmente, mas 18 vezes o valor defendido pela área técnica do ministério.
A CPI da Covid quer saber agora o que Roberto Dias e Andréia Lima discutiam nesses telefonemas, inclusive nas conversas próximas à negociação desse aditivo.
Os senadores também querem analisar outros contratos da VTCLog com a pasta. Por isso, um dos sete núcleos temáticos criados pela comissão vai investigar especificamente os negócios entre a empresa e o ministério.
A senadora Eliziane Gama (Cidadania-MA) será uma das responsáveis por essa investigação.
"Essas informaçoes obtidas nos levarão a pedir as quebras dos sigilos bancário, fiscal, telefônico e telemático da VTCLog. São informações que nós precisamos aprofundar. Fica para a gente muito claro até o presente momento que o ex-diretor Roberto Dias é uma peça fundamental em torno do assunto VTCLog. E paira sobre ela, inclusive, denúncias aí desse pagamento de propina. A CPI está focada nisso, em ampliar de fato essa investigação", afirmou.
O vice-presidente da CPI da Covid, senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP), disse que estão chegando à comissão mais denúncias de pagamento de propina em contratos do Ministério da Saúde.
"Nós temos cada vez mais elementos que apontam que, enquanto os brasileiros precisavam de vacina, no Ministério da Saúde se montou um balcão pela propina. Isso tem elementos claros, fortes indícios no caso da VTCLog, o favorecimento que essa empresa fez e nos contratos superfaturados que essa empresa tinha, um esquema de propina que beneficiava agentes do Ministério da Saúde, notadamente o senhor Roberto Ferreira Dias, diretor do Departamento de Logística, e agentes políticos também. Um esquema de propina que se consolidava através de um pagamento mensal de vantagens", declarou.
A VTCLog se manifestou por meio de nota dizendo que considera as acusações "irresponsáveis" e que adotará medidas judiciais.
"A VTCLog repudia, com veemência, todos os fatos imputados a ela que tenham o condão de macular a sua imagem e reputação. Essas acusações são irresponsáveis e, quanto a todas elas, a empresa adotará todas as medidas judiciais cabíveis", diz o texto da nota.
Roberto Dias e o Ministério da Saúde não responderam ao contato.