O governador Wanderlei Barbosa participou da maior “motociata” da história política de Palmas, em mais um ato político da campanha à prefeita da deputada estadual Janad Valcari, do PL.
Por Edson Rodrigues
Wanderlei participou acompanhado do senador Eduardo Gomes, da senadora Dorinha Seabra, de deputados federais, estaduais, vereadores e candidatos a vereador, lideranças políticas, religiosas, classistas e apoiadores da candidatura de Janad. A motociata foi realizada entre os setores Taquari e o ginásio Ayrton Senna, em um percurso de cerca de 18 quilômetros que reuniu mias de 10 mil motocicletas.
A participação do governador Wanderlei Barbosa e de seus principais auxiliares nos atos de campanha de Janad Valcari, a partir de agora, serão bem mais frequentes. Aqueles que resolveram vestir a camisa da aliança entre o Republicanos e o PL, após o expediente administrativo e nos fins de semana estarão ativos e se dividindo entra as diversas atividades de campanha. Segundo Wanderlei Barbosa, a hora de vencer esta eleição é agora, já no primeiro turno, seguindo a tendência das pesquisas de intenção de voto.
CABO ELEITORAL DE PESO
Considerado a maior e mais forte liderança política do município de Palmas, com vários mandatos de vereador, deputado estadual, governador reeleito, com histórico político familiar de nunca um membro da família ter perdido uma eleição em Palmas, começando por seu pai, Fenelon Barbosa, primeiro prefeito da Capital, seu irmão, Marylon Barbosa, já com quatro mandatos consecutivos de vereador, e seu filho, Léo Barbosa, eleito o deputado estadual mais votado de Palmas.
A família Barbosa tem uma vasta folha de serviços prestados às famílias palmenses e à própria Capital. A saudosa Dona Maria Rosa, mãe de Wanderlei e ex-primeira-dama do município, ficou conhecida como mãe dos pobres, por facilitar, à época da construção da Capital, a aquisição de lotes, distribuir cestas básicas de construção, enxovais para as mães carentes, padrões de energia, hidrômetros, e cuidou, pessoalmente, da extensão da rede de água para Taquaruçu, que virou distrito para Palmas poder ser Capital.
Traduzindo, não só Wanderlei, mas toda a sua família tem prestígio político em Palmas. Com o Palácio Araguaia na retaguarda, a capacidade de transferência de votos de Wanderlei Barbosa, do alto dos seus quase 68% de popularidade, somando-se ao patrimônio político de sua família, canalizando tudo para a candidatura de Janad Valcari, pode ser a diferença que falta para que a eleição na Capital se resolva no primeiro turno.
OBRAS
E a retaguarda do Palácio Araguaia já está em plena ação. Wanderlei Barbosa já incluiu no Orçamento de 2025 quatro obras cruciais para os planos de desenvolvimento de Palmas, e já constam na LDO – Lei de Diretrizes Orçamentárias. As principais obras são a duplicação da ponte entre Palmas e Luzimangues, a construção do Hospital da Mulher e hospitais regionais e a construção de uma Escola de Tempo Integral no antigo CAIC do Aureny IV. Para isso, foram separados no Orçamento para o ano que vem cerca de 17 milhões de meio de reais.
Se observarmos a proximidade cada vez maior entra Wanderlei e Janad, essas obras serão um bom motivo para apostar na candidata apoiada pelo Palácio Araguaia.
Para bom entendedor...
Apresentador reagiu a provocações de candidato durante uma fase de perguntas. Marçal pediu para deixar debate
PorLis Cappi, Murillo Otavio
O candidato José Luiz Datena (PSDB) foi expulso do debate à prefeitura de São Paulo realizado pela TV Cultura neste domingo (15). A situação se deu após ele jogar uma cadeira contra Pablo Marçal (PRTB), algo inédito em uma situação de discussão de ideias entre candidatos. Veja o momento:
A transmissão do debate foi interrompida logo após o ato e, minutos depois, a expulsão de Datena foi confirmada. Marçal poderia continuar no debate, mas disse que não se sentia bem, e pediu para deixar o evento.
De acordo com a transmissão da TV Cultura, Marçal deixou o local andando e foi indagado sobre a decisão em não encerrar o debate. A assessoria do candidato informou que ele foi levado ao hospital Sírio Libanês e que avaliam a possibilidade de judicializar a medida.
Pouco antes da agressão, Marçal afirmou que Datena seria um "arregão", depois, provocou o apresentador afirmando que em outro debate ele tentou dar um tapa, mas que ele "não seria homem para fazer isso". Quando saiu do lugar, era possível ouvir outros candidatos gritando: "Datena, não".
"Ele [Datena] não sabe o que fala aqui. A gente quer saber: que horas você vai responder a pergunta. Você é um arregão. Você atravessou o debate esses dias dizendo que ia me dar um tapa. Você não é homem para fazer isso", disse. "Atravessou o debate esses dias para me dar um tapa e me falou que queria ter feito, você não é homem nem para fazer isso. Você não é homem", emendou Marçal antes de ser agredido.
Após a expulsão, Datena afirmou que a situação foi uma reação que não pôde ser contida. "Do mesmo jeito que eu choro com uma reação humana, essa foi uma reação humana que não pude conter". O apresentador ainda disse não ter analisado o movimento antes da decisão e que na hora se emocionou.
Discussão no início
Com espaço para perguntas entre os próprios candidatos no segundo bloco do debate, o maior destaque foi voltado à uma troca de farpas entre Marçal e Datena. O apresentador foi escolhido para fazer um questionamento ao coach, mas disse que não o faria. “Me reservo ao direito de não perguntar nada a Pablo Marçal, que até agora subverteu toda perspectiva desses debates”, declarou.
Marçal, que ainda manteve o direito de resposta, usou o tempo para relembrar uma acusação de assédio contra o apresentador. “Para você, queria perguntar, você pegou na vagina dela?”, indagou. Datena respondeu que a polícia e outras demais etapas de investigação o consideraram inocente e acusou o coach de situações de golpe financeiro contra um banco. Marçal negou.
Atualização de Marçal
Por meio de nota, a assessoria do candidato Marçal afirmou que ele está ferido e com suspeita de fraturas. "Pablo Marçal está ferido, com suspeita de fraturas na região torácica e muita dificuldade para respirar. Esperamos que as medidas judiciais cabíveis sejam tomadas", diz trecho do comunicado.
Em análise posterior feita pelo TV Cultura, jornalistas afirmaram que ele deixou o local caminhando, sem uso de ambulância, e que foi questionado pela opção em deixar o debate.
Briga antiga
Há duas semanas, Datena havia perdido a calma também em um debate ao ser provocado por Marçal -- o motivo da referência citada pelo coach durante a nova discussão.
Em 1º de setembro, o apresentador deixou o lugar no palco para próximo a Marçal, em uma situação que pareceria se tornar uma agressão física. Mas ele acabou voltando à posição após ser advertido e não cometeu ação contra o opositor.
Pesquisa divulgada nesta segunda mostra Nunes com 24%; Marçal e Boulos com 22% cada
Com Do R7
O prefeito de São Paulo Ricardo Nunes (MDB), o empresário Pablo Marçal (PRTB) e o deputado federal Guilherme Boulos (PSOL) aparecem tecnicamente empatados na corrida pela Prefeitura de São Paulo. Na pesquisa Real Time Big Data, divulgada nesta segunda-feira (16), Nunes tem 24% das intenções de voto, enquanto os outros dois têm 22% cada. Todos empatados dentro da margem de erro que é de três pontos percentuais.
O levantamento ouviu 1500 pessoas entre sexta (13) e sábado (14). O nível de confiança é de 95%. A pesquisa, encomendada pela Record, está registrada no TSE (Tribunal Superior Eleitoral) pelo número SP - 08428/2024.
Após os três primeiros, aparecem na pesquisa Tabata Amaral (PSB), com 9%; Datena, 6%; e Marina Helena (Novo), 3%. Nulos e brancos somam 6% e não quiserem ou não souberam responder, 7%.
Na pesquisa espontânea, quando não são apresentados os nomes dos candidatos, Marçal e Nunes aparecem empatados com 15% e Boulos com 14%.
Desde o primeiro levantamento, em 2 de julho, o candidato que mais cresceu foi Pablo Marçal. Na primeira pesquisa ele tinha 14% das intenções de voto e agora 22%. Mas na comparação com a pesquisa de 3 de setembro, Ricardo Nunes foi o que mais ganhou votos, saindo de 20% para 24%.
Boulos tinha 29% na primeira pesquisa, caiu para 20% na segunda e subiu para 22% agora.
Segundo turno
Na simulação de um segundo turno entre Marçal e Boulos, o candidato do PSOL tem uma leve vantagem com 39% das intenções de voto, enquanto o concorrente aparece com 38%. Nulos e Brancos são 11% e não quiserem ou não souberam responder, 12%.
Entre Marçal e Nunes, o atual prefeito venceria com 42% enquanto o empresário ficaria com 32%. Nulos e Brancos são 13% e não quiserem ou não souberam responder, 13%.
Já entre Nunes e Boulos, o atual prefeito também levaria vantagem com 47% e Boulos ficaria com 34%. Nulos e Brancos são 10% e não quiserem ou não souberam responder, 9%.
A pesquisa também quis saber em quem os eleitores não querem votar de jeito nenhum. O candidato que enfrenta a maior rejeição é Datena, com 55% dos entrevistados dizendo que não votariam nele de jeito nenhum.
Guilherme Boulos aparece com 51%, Pablo Marçal com 50% e Ricardo Nunes com 36%.
O levantamento também questionou o que os eleitores estão achando dos mandatos nas três esferas de governo. Ao todo, 53% dos entrevistados disseram aprovar a gestão do prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes e 43% desaprovam.
Sobre o governo de Tarcísio de Freitas (Republicanos), 56% aprovam e 37% desaprovam. Já sobre o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), a aprovação é de 44% e desaprovação de 49%.
REFLEXÃO DE DOMINGO
A falta de militância e de uma “bandeira” pra servir de rumo na campanha da federação formada pelos partidos PSDB, PC do B e PV, aliada à rejeição de quase 70% ao governo do presidente Lula apontada pelas pesquisas em Palmas, por conta da carestia da cesta básica, dos combustíveis da energia e da água, virou um verdadeiro desastre para os candidatos desses partidos, capitaneados por Júnior Geo, candidato a prefeito.
Por Edson Rodrigues
O PT há muito – ou desde sempre – foi um mero partido coadjuvante em Palmas, uma espécie de morto vivo que só existe no cenário político da Capital por conta da sua representação nacional. E a militância petista atua como tal, como uma espécie de zumbis dos filmes de terror, perambulando pelas ruas em busca de votos para Júnior Geo e aos 13 candidatos a vereador filiados nos partidos da federação, sendo que apenas seis deles são filiados ao PT.
Esses seis candidatos a vereador são fruto de uma busca desesperada entre os mais de 1.104 cargos federais de direção de órgãos ou de assessoramento em Palmas que, no espremer da moenda resultou em apenas 13, mesmo com a cota de 23 candidatos, incluindo aí as parcelas reservadas às candidaturas femininas e outras.
INHAME
O Partidos dos trabalhadores vem, há décadas, crescendo pra baixo, no Tocantins, feito inhame. Os atuais “líderes” do PT cometeram a pior injustiça política possível com os dois principais expoentes da legenda, Paulo Mourão, um dos homens públicos mais bem-preparados na política tocantinense, ex-prefeito de Porto Nacional e ex-deputado federal, que transferiu seu domicílio eleitoral para Palmas para construir uma frente suprapartidária e ser candidato a prefeito, mas foi sumariamente colocado no congelador pela cúpula nacional. Em Araguaína, o mesmo foi feito com o ex-deputado federal Célio Moura, fritada em fogo baixo, até que desistisse da candidatura.
Vale lembrar que o PT já teve Raul Filho como prefeito de Palmas, mas, hoje, ele se encontra no mesmo limbo dos demais componentes da sigla sem acesso às decisões de cúpula. Ou seja, o mesmo partido que já teve um prefeito de Capital no Tocantins, hoje se resume ao um prefeito em Dianópolis, eleito pelo seu brilho pessoal, e sem nenhum representante na Assembleia Legislativa ou no Congresso Nacional.
O resultado das eleições municipais em Palmas podem deixar o PT ainda menor, um partido literalmente falido e sem ambiente para chamar a atenção para si em qualquer movimentação política que surja.
“CONTAMINAÇÃO” DA CANDIDATURA DE JÚNIOR GEO
Júnior Geo continua sendo o mesmo deputado estadual combativo, capaz e respeitado, que lançou sua candidatura a prefeito de Palmas e foi conquistando apoios, até conseguir ser reconhecido pela “Mamis poderosa” Cinthia Ribeiro, como o candidato do Paço Municipal e do PSDB.
E o grande problema do candidato Júnior Geo foi precisar desse apadrinhamento da prefeita de Palmas e do seu esposo, deputado estadual Eduardo Mantoan. A continuar o que vem acontecendo, corre o risco de Geo sair dessa candidatura a prefeito menor do que entrou, pois não decide nada em sua campanha, não tem autonomia para agir e tudo o que se faz na campanha é decidido pelo casal Mantoan.
Segundo os principais analistas políticos de Palmas, esse derretimento da candidatura de Júnior Geo pode levar a federação a eleger apenas um candidato a vereador. E essa “contaminação” que desandou a candidatura de Júnior Geo, teve início, exatamente, no momento em que o PT entrou na aliança para elegê-lo, e o tiro está saindo pela culatra.
GESTÃO CINTHIA RIBEIRO
Na verdade, a gestão de Cinthia Ribeiro em Palmas tem muitas obras, a maioria, diga-se de passagem, oriundas de recursos carreados pelo senador Eduardo Gomes, recordista em liberação de recursos federais para o Tocantins, da senadora Dorinha Seabra, dos deputados federais Carlos Gaguim e Vicentinho Júnior, além dos empréstimos feitos pro Cinthia que serão 100% pagos pela próxima gestão.
Abastecida por tantos milhões de reais, Cinthia conseguiu passar os últimos quatro anos realizando obras com recursos direcionados por senadores dos quais ela se isolou politicamente à proporção que a sucessão municipal se aproximava.
Já os partidos “aliados” a Júnior Geo, até a semana passa, não haviam investido centavo sequer nem para Palmas, nem para a campanha, a não ser o próprio PSDB, presidido no estado por Cinthia Ribeiro, que é também presidente nacional do PSDB Mulher, que também não conseguiu muita coisa do Fundo Partidário – pouco mais de um milhão de reais vindos diretamente do PSDB nacional – o que, dividindo entre Júnior Geo e os candidatos a vereador pelo partido, é quase nada.
Já os candidatos dos demais partidos da federação estão se virando sabe-se lá como, enquanto os candidatos da principal adversária, Janad Valcari, do PL, do senador Eduardo Gomes terão, ao fim das contas, mais de 21 milhões e quatrocentos mil reais somando os repasses dos partidos que compõem a aliança.
Só os candidatos a vereador considerados fortes, da aliança de apoio à Janad estão recebendo de 250 a 500 mil reais. Os candidatos de partidos agregados ao PL, entre 50 e 100 mil reais, somando-se a isso a grande estrutura que a majoritária montou para a realização de eventos de pequeno a grande porte.
PSB DE CARLOS AMASTHAS
Enquanto isso, o PSB com mais ou menos 21 candidaturas à Câmara Municipal, dentre elas a do próprio presidente do partido, Carlos Amastha, ex-prefeito de Palmas e que até a 20 dias atrás era candidato prefeito e ligou o “desconfiômetro” e se contentou à uma candidatura a vereador, vem enfrentando uma hipotética onda de desistências entre os candidatos, por falta de infraestrutura partidária.
As próximas 72 horas serão cruciais para que essa situação se resolva ou para que tudo seja esclarecido. Ou, até mesmo, para que nada aconteça.
O Observatório Político de O Paralelo 13 vem mirando seus binóculos para o céu, à espera de uma bem provável revoada de candidatos a vereador para outros ninhos. Caso essa revoada aconteça, pode acontecer até de o PSB não conseguir fazer o quociente eleitoral – entre 6.200 a 7.000 votos – para o próprio Amastha ser eleito.
Aí, é caixão e vela preta.
Por Letícia Casado, Mateus Coutinho, Rafael Neves
A descoberta de um esquema de coleta de dados pessoais do ministro Alexandre de Moraes, do STF (Supremo Tribunal Federal), foi feita a partir de uma investigação sobre tentativa de suborno e ameaça de morte a uma delegada federal, Denisse Ribeiro, a partir de um email anônimo criptografado.
Ela comandou a Operação Acrônimo, deflagrada em 2015. Durante um desdobramento em 2016, a PF suspeitava de fraude em campanhas eleitorais e cumpriu busca e apreensão na construtora JHSF. Os agentes encontraram documentos que indicavam o pagamento de R$ 4 milhões entre 2010 e 2014 para um escritório de advocacia ligado a Moraes.
O caso foi arquivado, mas a investigação da PF sobre as ameaças a Moraes e a delegados identificou que um dos sócios da construtora teve seus dados devassados pelo menos duas vezes neste ano, pouco tempo antes de os emails com as informações sobre ele serem enviados à delegada.
As informações sobre o pagamento ao escritório são públicas e foram noticiadas na época. Em 2024, um email anônimo assinado por Tacitus usou esses dados para tentar subornar a delegada Denisse, em um esquema de exposição e intimidação de agentes federais que trabalham em investigações conduzidas por Moraes. A campanha contra os agentes foi organizada pelo blogueiro bolsonarista Allan dos Santos, foragido nos Estados Unidos desde 2020.
Em 7 de março de 2024, o blogueiro anunciou que pagaria U$ 5 milhões "para qualquer prova substancial do envolvimento de Moraes na Operação Acrônimo".
A situação vinha sendo monitorada pela inteligência da PF, que, no dia 18, instaurou inquérito para investigar o "Projeto Exposed", que visava expor os agentes federais. Em 12 de abril, a agência Lupa analisou um vídeo que circulava em redes sociais associando Moraes a fraudes em campanhas eleitorais — se tratava de uma notícia sobre o caso de 2016, sem o contexto.
Nesta semana, o UOL revelou detalhes de um esquema de intimidação de delegados federais que atuam em casos do ministro. A estratégia contou com o acesso irregular em massa de dados pessoais dos envolvidos.
A exposição dos agentes envolveu ameaças veladas na porta de casa, coação virtual e vazamento de fotos —incluindo de crianças—, entre outros. As informações constam de um relatório da Polícia Federal utilizado para embasar a decisão do ministro de suspender a plataforma X no Brasil, em agosto.
'Operação Spoiler' e ameaça de morte
Email com dados de empresário e de Alexandre de Moraes enviado à delegada da PF Imagem: Reprodução
Em 26 de março, Tacitus enviou o primeiro de cinco emails para Denisse apresentando o que seria a "Operação Spoiler". Sob o título "Alexandre de Moraes recebeu R$ 4 milhões da JHSF", Tacitus afirma que está "obtendo arquivos relacionados a isso" e que gostaria de contar com a colaboração da delegada.
No dia seguinte, Tacitus menciona a campanha do blogueiro, o pagamento de U$ 5 milhões e convida a delegada para trabalhar junto.
Já a terceira mensagem continha um gráfico com fotos da delegada, de Moraes e do empresário José Auriemo Neto, sócio da JHSF. Por causa dessas fotos, investigadores fizeram uma auditoria no Infoseg e descobriram que os três —Moraes, Denisse e Auriemo Neto— foram alvo de acessos irregular de dados pessoais por parte de servidores públicos.
"Importante registrar que as fotos, de todos os três, são oriundas da atual carteira nacional de habilitação - CNH. Considerando que as CNHs são de entes federados distintos (SP e DF), o mais provável é que as consultas a estas imagens tenham sido realizadas por meio do sistema Infoseg", informa o relatório da PF.
A partir do quarto email, Tacitus muda o tom e passa a fazer ameaças. Denisse relata o caso ao enviar o material para a coordenação da PF.
"A mencionada ameaça está consubstanciada na leitura do texto: após sugerir que o tempo está se esgotando ('tic-tac... tic-tac...') e expor a frase 'reze pelo melhor. Se prepare para o pior', o remetente atesta que a subscritora escolheu o caminho errado e faz uma associação de sua imagem com o militar nazista Adolf Eichman, que foi condenado à morte e executado", escreveu a delegada.
O último email chama Denisse de "vulgo Gestapo", a polícia secreta nazista de Adolf Hitler, e anexa a imagem de um carimbo do grupo alemão. Tacitus envia um recado: "A chapa está esquentando". Chamou a atenção da PF o fato de o remetente das mensagens ser um email da plataforma Proton Mail, um serviço de emails criptografados sediado na Suíça para garantir o sigilo das mensagens de ponta a ponta.
"Diante da utilização de tais dados, há a necessidade de expedição de Ofício Judicial à plataforma de apoio à aplicação da lei, visando a obtenção de eventuais registros vinculados à conta anônima utilizada para a prática da conduta", afirma o relatório da PF ao qual o UOL teve acesso. Nos autos do inquérito ao qual a reportagem teve acesso, não há nenhum registro de que o remetente do email tenha sido identificado.
Sistema de dados é restrito para investigações
O Infoseg é uma rede nacional que integra informações dos órgãos de Segurança Pública, Justiça e de Fiscalização do país e ao qual apenas agentes públicos da área têm acesso. O sistema, do Ministério da Justiça, reúne dados e informações a respeito de pessoas, veículos, armas, entre outras, que dão subsídio a investigações e ações de inteligência.
É uma ferramenta de uso reservado, com monitoramento contínuo das credenciais dos usuários. "A partir desse rastreamento, é possível identificar eventual uso indevido de acesso ao sistema", informa o Ministério da Justiça. "Quando há, por exemplo, movimentações consideradas atípicas, a equipe de segurança interna identifica o usuário e, imediatamente, bloqueia a conta. Ou seja, a entrada no Sinesp é barrada. Em seguida, as informações são encaminhadas à Polícia Federal."
O ministério informa que tem colaborado, desde o início, com a investigação da PF e que o acesso por profissionais de segurança pública habilitados a entrar na ferramenta é autorizado pelas instituições às quais estão vinculados. "Diante disso, como não há indícios de uso indevido do sistema pelas equipes do Sinesp Infoseg, não cabe investigação interna. A competência da apuração, portanto, é da Polícia Federal."
De acordo com especialistas ouvidos por Tilt, o acesso indiscriminado a essas informações poderia ser evitado com medidas de segurança, como "travas para consultas" e revisão de privilégios.
Para o codiretor da Data Privacy, ONG especializada na proteção de dados pessoais, Rafael Zanatta, o episódio revelado pelo UOL é preocupante por mostrar a falta de controles mais rigorosos para garantir a segurança das informações no Infoseg. "É uma revelação que assustou muitos especialistas da área e que expõe como as políticas públicas de digitalizar e integralizar as bases de dados foram feitas nos últimos anos sem se dar a devida atenção à segurança."
Para o especialista, o Ministério da Justiça poderia ser mais aberto a contribuições externas de especialistas e até propor um desafio para que profissionais de TI, por exemplo, identificassem falhas nos sistemas em troca de uma premiação.
A auditoria no sistema mostrou que os dados de Auriemo Neto foram consultados pelo login de 17 servidores desde 2021. Há indícios de atuação de robôs: um dos logins fez mais de 21 mil consultas no mesmo dia.
Em nota, a JHSF informou ter sido surpreendida "com a preocupante notícia de que os dados pessoais e confidenciais de José Auriemo Neto poderiam ter sido acessados e divulgados de forma ilegal. Confiamos nas autoridades e na apuração para que tudo seja esclarecido. Sem prejuízo, de eventuais medidas judiciais cabíveis".
A empresa afirma que valores mencionados sobre a relação com Moraes referem-se a honorários advocatícios por serviços prestados ao longo de anos, até 2013, e que mais de 50 bancas advocatícias prestam serviço para a JHSF.
Os dados da delegada foram acessados uma única vez em maio de 2023 por um servidor da PRF (Polícia Rodoviária Federal) no Acre. Segundo a PF, a consulta foi feita em um computador da corporação.
Ela foi a responsável originalmente pela condução do inquérito das fake news e milícias digitais, conduzido por Moraes e atacado por bolsonaristas. A delegada Denisse e o ministro Moraes não quiseram comentar o assunto.
Reportagem
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